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2.3 O Programa Minimalista

2.4.1 Aquisição de primeira língua (L1)

Raramente nos perguntamos ou nos preocupamos em saber como uma criança começa a falar. Além disso entendemos que todas as crianças, salvo algum problema patológico, vai desenvolver a linguagem.11 Retomando uma longa tradição de estudos e análises orientados para esse tema, Grolla (2014) parte da observação de que é surpreendente a facilidade e a rapidez com que a criança adquire sua língua materna, diante da complexidade das línguas naturais. De fato, por volta de 5 anos de idade, uma criança já domina toda a complexidade de uma língua. Diferentemente de aprender a andar de skate, por exemplo, em que é preciso instrução e é necessário dominar técnicas, a aquisição da língua natural ocorre sem qualquer esforço, treinamento e até mesmo sem input planejado ou organização de sentenças e de estruturas.

A aquisição da linguagem é praticamente involuntária, no sentido de que não decidimos na primeira infância que vamos aprender uma língua, como não decidimos que vamos andar ou que nosso coração vai bater. (GROLLA, 2014, p. 61) Universalidade da linguagem é o fato das crianças adquirem uma língua sem nenhum esforço ou instrução (CRAIN E LILLO-MARTIN, 1999 apud GROLLA, 2014). Mesmo que as línguas sejam diversas, o curso da aquisição é o mesmo para todas elas, independentemente das especificidades culturais que envolvem a relação com a criança na família e na sociedade, em todos esses casos as crianças vão adquirir a língua de sua comunidade. Essas considerações levam a outra característica, que é a uniformidade. Crianças com vivências em uma sociedade estratificada em classes, apesar das diferenças sociais que marcam claramente a variação linguística, ou seja, têm acesso a uma diversidade de inputs,adquirem, estruturalmente, a mesma língua. Outra questão a se verificar é que crianças vivendo em sociedades que utilizam mais de uma língua, aprendem as línguas faladas nessas comunidades. Segundo Grolla (2014,, p.62) “a aquisição da linguagem é uma função do input.” Independente da língua dos pais, a criança vai adquirir a língua a qual está exposta. Além de universal e uniforme, como já dito antes, o aprendizado da língua é rápido, o que leva mais tempo é o aprendizado das palavras, o que na verdade se dá por toda vida, assim como fazem os adultos.

Por fim, destacamos mais uma propriedade, que é a que se refere aos estágios de aquisição. Crianças em processo de aquisição apresentam padrões sequenciados idênticos. A

11 Esta seção baseia-se fortemente na obra de Grolla (2014), em que consta uma revisão dos principais conceitos

progressão se dá por estágios, mesmo que seja variável de uma criança para outra o tempo que levam para vencer cada etapa, o que importa dizer que não é a idade a melhor medida para verificar o desenvolvimento linguístico e sim os estágios.

Argumentamos neste capítulo sobre a hipótese inatista e sobre um programa genético comum a toda espécie humana, sobre um aparato linguístico que promove a aquisição. Isso implica entender que os dados primários – o input linguístico – “não são decisivos para a determinação das propriedades constitutivas da língua que a criança está aprendendo.” (GROLLA, 2016, p. 80). No entanto, o input desempenha um papel na aquisição. Para discutir essa questão, Grolla (2016) retoma Chomsky (1986) no que diz respeito à diferença entre os conceitos de Lingua-I (interna, intensional) e Língua-E (externa, extensional)12. Enquanto o primeiro se refere à competência, o segundo refere-se à performance. Conforme mencionado anteriormente, o objeto do estudo da gramática gerativa é a língua interna (Língua-I). No entanto, do ponto de vista da aquisição da L1, o input está relacionado à Língua-E, e não há relação estreita em como as estruturas que estão sendo computadas internamente.

Grolla (2016) apresenta uma metáfora usada por Chomsky para completar a reflexão sobre a importância do input e a conexão com a Língua-I. Chomsky diz que se alguém plantar uma margarida, ela vai necessitar de luz, água e nutrientes para se desenvolver; mas caso não receba o suficiente para se desenvolver ou que dê à margarida o tratamento que se deve dar a uma rosa, com o intuito de que,dessa semente germine rosas, o desenvolvimento esperado será fracassado. Primeiro porque geneticamente ela é programada para ser margarida e não rosa, e caso as condições sejam ruins e ela brote atrofiada, mesmo assim, ela será uma margarida. Logo, apenas a capacidade genética da criança não é suficiente para dar a ela as condições de desenvolvimento para seu potencial linguístico. O input nesse sentido é necessário.

Outra questão relacionada ao input é quando olhamos para as propriedades relacionada a Teoria de Princípios e Parâmetros. Como visto anteriormente, os princípios são

12 “O termo técnico intensional (com 's') aqui quer dizer que estamos falando da gramática, isto é, da

especificação de um conjunto de regras ou princípios que permitem gerar um conjunto de construções gramaticais (palavras derivadas, sentenças). Este termo se opõe ao termo extensional, que aqui faz referência às sentenças geradas pela língua-I. Para ficar mais claro o que esses termos querem dizer, vamos dar um exemplo de fora da Linguística. Um conjunto de números, por exemplo, pode ser definido extensionalmente, caso em que podemos listar todos os seus membros: {2, 4, 6, 8}. Esse mesmo conjunto, no entanto, pode ser definido intensionalmente, quando fornecemos a regra que dá todos os números pertencentes ao conjunto: "os números pares entre 2 e 8".” (GROLLA, 2016, p.80)

universais linguísticos, padrões de estruturais que ocorrem em todas as línguas. Por exemplo, todas as línguas possuem itens que denominamos verbos e outros que chamamos nomes. No entanto, consideramos variações entre as línguas observando as diferenças entre os parâmetros das línguas. Exemplificamos essa questão quando falamos sobre o parâmetro do sujeito nulo no inglês e no português anteriormente. O fato é que uma língua-E manifesta os meios para que os parâmetros sejam fixados pela criança no processo de aquisição da primeira língua. Para isso, a mente/cérebro da criança vai proceder às marcações do parâmetro da língua particular e os valores dos parâmetros são dados pelo input, ou seja, a informação precisa estar acessível nos dados para que a criança a observe e faça a marcação apropriada. Nessa perspectiva teórica, “a tarefa da criança adquirindo uma língua natural será de adquirir os itens lexicais da língua e fixar os valores dos parâmetros.” (GROLLA, 2016, p.89)