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Aquisição de produtividade e qualidade no estágio

Ao longo do período de estágio foi notável a melhoria das competências tradutivas, incluindo as competências necessárias para exercer a profissão de prestador de serviços linguísticos segundo o programa “European Master’s in Translation”:

 Competência linguística;  Competência temática;  Competência tecnológica;

 Competência de pesquisa de informação;  Competência intercultural;

 Competência de prestação de serviços tradutivos.

No entanto, como o tema do presente trabalho académico é a qualidade e a produtividade na prestação de serviços linguísticos, concentramo-nos nestas duas competências.

Em primeiro lugar, o aumento da produtividade foi considerável, como se pode observar com a diminuição do número de minutos dispensados na tradução de 10.000 palavras no gráfico abaixo:

Gráfico 6 – Número de minutos mensais dispensado para a tradução de 10.000 palavras

abril0 maio junho julho

200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 1690 1504 1358 1152

Minutos por 10.000 palavras

Neste gráfico apenas são contabilizadas as palavras traduzidas e não as revistas, uma vez que o número de trabalhos de revisão foi reduzido. Contudo, é possível verificar que o tempo (n.º de minutos) gasto na tradução de 10.000 palavras teve uma tendência a diminuir. De abril a julho, houve uma diminuição de mais de 500 minutos por 10.000 palavras, que pode ser justificada pela adequação aos tipos de trabalhos realizados e às ferramentas utilizadas para a tradução.

Gráfico 7 – Média de palavras diárias traduzidas por mês

abril maio junho julho

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 1041 1884 1062 1061 Número de palavras

Por outro lado, neste gráfico é possível ver a média de palavras diárias traduzidas mensalmente. A linha demonstra uma quebra, uma vez que a partir do mês de junho começaram a realizar-se mais frequentemente trabalhos que não de tradução e que não foram contabilizados através de palavras. Além disso, a carga de trabalho diária variava substancialmente. Estas condições explicam o facto de o número de palavras traduzidas não cumprir o número habitual de um tradutor, que corresponde a cerca de 2500 palavras diárias.

Em segundo lugar, o nível de qualidade aumentou, ainda que dependesse do tipo de trabalho, área científica abordada, cliente, instruções, volume de trabalho diário, entre outros fatores condicionantes. O gráfico abaixo apresenta o desenvolvimento do nível de qualidade, através da diminuição do número de erros.

Gráfico 8 – Número aproximado de erros por mês

abril0 maio junho julho

10 20 30 40 50 60 70 80 74 49 29 24 Número de erros

Para o cálculo acima, foi escolhido um trabalho de tradução de qualquer área especializada e com uma dimensão média de 500 palavras. O trabalho escolhido correspondia ao trabalho realizado a meio de cada mês, com exceção de julho, em que foi escolhido o último trabalho. A linha apresenta uma tendência de redução na ocorrência de revisões a erros. Como referido para a produtividade, a adequação aos tipos de trabalhos realizados também permitiu esta diminuição.

Em suma, os gráficos apresentados nesta secção demonstram que houve um aumento notável da produtividade, ainda que seja observável que o aumento da experiência resultou na realização de mais trabalhos que não de tradução. Já a nível da qualidade, houve um aumento, embora a constante adequação a diferentes tipos de texto e estilos de escrita (como terminologia e fraseologia) resultasse numa variação do nível de qualidade de acordo com o tipo de trabalho executado. Consequentemente, a qualidade é algo que depende da experiência, assim como comprovado com o nível de produtividade.

Conclusão

Há uma tendência em colocar os tradutores no papel de peritos em tecnologia. De facto, o trabalho realizado pelos prestadores de serviços linguísticos está a sofrer uma transformação baseada no aumento de trabalhos de revisão, edição e pós-edição de resultados de sistemas de tradução automática e de memórias de tradução.

Por outro lado, os prestadores de serviços linguísticos estão a tornar-se redundantes, porque corrigem e, assim, melhoram a qualidade das máquinas? A resposta parece ser “não”, uma vez que, como salienta Christian (2011, como referido em O’Brien, 2012, pp. 119–120) “Context, cohesion, coherence, and perception were earlier identified as areas where humans still outperform machines in text-based tasks”. Beesley (1986, como referido em Taravella & Villeneuve, 2013, p. 64) partilha a mesma opinião, dizendo que o que falta aos sistemas de apoio à tradução são “the needs, attitudes and sensitivities of human translators”. Assim, é essencial que o tradutor coopere e critique o que lhe é apresentado pelas máquinas, tornando-se o proprietário destas, e não o seu dependente, para aumentar o seu nível de produção e qualidade aquando da prestação de serviços linguísticos.

Além disso, a confiança na tecnologia está a criar um paradigma na tradução: ética profissional ou fidelidade ao cliente? Se os prestadores de serviços linguísticos seguirem a terminologia e a fraseologia do cliente e aceitarem as entradas pouco corretas da TA, estão a diminuir a qualidade na tradução, mas aumentam a produtividade. Para que a profissão de prestador de serviços linguísticos seja entendida pelo público em geral, principalmente pelos clientes que recorrem a estes serviços, os profissionais devem consciencializar o público de que as máquinas nem sempre conseguem substituir os tradutores e que precisam de ser supervisionadas e corrigidas para que o trabalho produzido seja entregue com qualidade. O mundo da tradução é ainda um mundo um pouco desconhecido ao público geral e os profissionais têm de ser os responsáveis em dar visibilidade à profissão e em expor as suas condições laborais no mercado de trabalho atual.

Não obstante o que foi dito anteriormente, o prestador de serviços linguísticos também tem de desenvolver formas de cumprir prazos mais reduzidos, mantendo um nível elevado de qualidade. Uma dessas formas é utilizar as ferramentas de apoio à tradução

descritas no presente trabalho, mas também, tendo em conta o estágio curricular, é possível perceber que ambas a qualidade e a produtividade foram desenvolvidas por haver uma maior consciencialização dos erros cometidos, de escrita, de tradução ou de revisão e edição de resultados de MTs e sistemas de TA, e das áreas especializadas em que há mais dificuldade. Talvez esta consciencialização possa ajudar os tradutores a realizarem mais rapidamente o seu trabalho, mantendo um nível elevado de qualidade. Além disso através da experiência no estágio, foi possível perceber que as competências de produtividade e qualidade têm uma tendência para serem desenvolvidas, mas este desenvolvimento depende da adequação ao cliente, ao tipo de trabalho, ao tipo de texto e à área especializada a ser tratada, assim como às condições do prestador de serviços linguísticos para realizar o seu trabalho.

O mestrado em que foi realizado o presente relatório de estágio não apresenta aos tradutores em formação todas as condições do prestador de serviços linguísticos no mercado de trabalho. Quando se depara com o mundo laboral da prestação de serviços linguísticos, o tradutor recém-formado vê-se incapaz de fazer face a alguns obstáculos que lhe são apresentados, como, por exemplo, a tradução de diferentes áreas científicas, tipos de texto e tipos de trabalho, como revisões ou trabalhos de QA. O tema da confidencialidade na tradução é também muito importante, porque o prestador de serviços linguísticos é completamente responsável pelas informações dos projetos em que trabalha, e este deveria ser um tema um pouco mais abordado. No entanto, esta formação contínua também depende do futuro tradutor que deve ter mais interesse em se atualizar quanto à profissão de prestador de serviços linguísticos e formar-se de forma autónoma, consultando livros e artigos e participando em eventos no âmbito da prestação de serviços linguísticos.

Em suma, os prestadores de serviços linguísticos devem preparar-se de forma autónoma para o mercado de trabalho atual, mas também é da responsabilidade dos locais de formação de futuros tradutores dar mais importância a outras competências na prestação de serviços linguísticos, incluindo as competências de qualidade e produtividade:

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