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Com a privatização maciça dos serviços públicos, o Estado adquiriu um novo papel na sociedade a partir de 1995. O governo deixou de atuar diretamente na garantia dos serviços públicos e passou a intervir no desenvolvimento desses por meio de um esquema de regulação das empresas privadas. Assim, o Estado manteve seu papel

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desenvolvimentista uma vez que as empresas privadas trabalhariam sob condições, prazos e investimentos previamente acordados. (ARAÚJO, 2005).

As empresas remanescentes, por exemplo a Embraer e a Petrobas, por terem se tornado empresas mistas, tiveram seu papel estratégico realçado, tanto na economia, quanto na integração com empresas privadas do setor. Uma vez realizada a privatização, principalmente no setor de infraestrutura, ficou clara a importância da interação entre elas e o poder público para desenvolver a economia nacional. (ARAÚJO, 2005).

As parcerias público-privadas (PPP) se baseiam na percepção de que alguns investimentos não podem ser mantidos apenas pelo Estado ou apenas pelo mercado. Especialmente investimentos em infraestrutura que exigem longos prazos de maturação e uma combinação de diversos interesses de diferentes atores. Ademais, o setor privado necessita de um bom equilíbrio macroeconômico e estabilidade institucional para poder realizar investimentos com poucos riscos e incertezas. O ambiente regulatório, que para o Estado é a forma de continuar ativo no planejamento estratégico, se adequado, é o instrumento que determina as regras a serem seguidas pelos agentes privados nos mercados de serviços públicos, o que possibilita uma perspectiva de investimentos em longo prazo. (ARAÚJO, 2005).

Para que a PPP funcione, a iniciativa privada é parceira na oferta de serviços públicos e cobra do governo segurança, tanto econômica quanto institucional, para que suas ações alcancem com eficácia suas metas e objetivos. (ARAÚJO, 2005). Pereira (1997) aponta que:

Para delimitar com clareza as funções do Estado é preciso, a partir do conceito de Estado, distinguir três áreas de atuação: (a) as atividades exclusivas do Estado; (b) os serviços sociais e científicos do Estado; e (c) a produção de bens e serviços para o mercado. Por outro lado é conveniente distinguir, em cada uma dessas áreas, quais são as atividades principais (core activities) e quais as auxiliares ou de apoio.

Se pensarmos que as atividades principais do Estado são aquelas definidas constitucionalmente, como a administração da justiça, a segurança nacional, o poder de legislar e tributar, a garantia da moeda, a formulação de políticas econômicas e sociais e outras atividades conferidas pelo seu poder legítimo; todas as outras deveriam ser compartilhadas ou transferidas para o setor privado. Porém essa concepção extremamente

liberal gera diversas discussões sobre o papel do Estado na garantia de serviços básicos como a saúde e educação. (ARAÚJO, 2005).

De acordo com Pereira (1997), qualquer outra atividade que não seja exclusiva do Estado deve ser delegada ao setor privado, por meio de terceirização ou privatização. Entidades públicas não estatais, por exemplo, ficariam responsáveis por serviços como saúde e educação. A terceirização transferiria ao setor privado atividades não essenciais ao Estado, como a limpeza e vigilância do patrimônio público, serviços técnicos e informática para funcionamento da burocracia estatal, entre outros. E por fim, a privatização seria a transferência da produção de bens e serviços para o mercado. (ARAÚJO, 2005).

Em geral os modelos de PPP envolvem um consórcio entre participantes para administrar uma concessão. Esses participantes são divididos basicamente em três categorias – os sócios controladores, os sócios minoritários e os patrocinadores – e cada uma delas tem diferentes interesses no projeto que reflete suas ações no mesmo. (ARAÚJO, 2005).

Entretanto, seja qual for a modalidade escolhida para gerir uma empresa, é necessário articular diversos recursos para realizar o serviço, dentre os quais o mais importante é focar numa administração centrada que saiba seus desafios e objetivos, e principalmente, seus riscos.

A partir da distinção realizada entre os modelos de gestão pública e privada e das evidências que demonstram, em tese, a afinidade entre a privatização e o sistema capitalista, devemos analisar se a privatização, por si só, garante o funcionamento eficiente do mercado.

Boardman & Vining (1989), Barbosa (1997) e Oliveira & Lustosa (2005)12 constataram em seus estudos que empreendimentos privados apresentam maior desempenho operacional e/ou financeiro em relação a empreendimentos públicos, o que os tornam mais rentáveis em termos econômicos. A explicação se dá a variável que estamos discutindo desde o início do trabalho: o objetivo único da empresa de aumentar sua lucratividade.

Entretanto, esse tipo de levantamento é bastante complexo, principalmente pela dificuldade de isolar a privatização de demais fatores como, por exemplo, a estrutura de mercado e o nível de atividade econômica. A análise básica da comparação entre o antes e o depois da privatização de uma empresa se mostra muito limitada por superestimar o papel da privatização e negligenciar outras forças no ambiente econômico. Ainda mais em razão de que os programas de privatização geralmente são realizados com o auxílio de políticas orientadas para o mercado, como desregulamentação e abertura comercial, que certamente influenciam positivamente as atividades empresariais. Logo, a melhora nos indicadores de desempenho não pode ser atribuída apenas à privatização. (OLIVEIRA, 1998).

A partir do estudo de diferentes processos de privatização em países como Inglaterra, México e Argentina, Tandon (1994) sugeriu que, em estruturas monopólicas, o desempenho de empresas públicas pode ser aproximadamente igual ao das empresas privadas ou privatizadas. Dessa forma, pode-se supor que o maior condicionante da eficiência seria um ambiente concorrencial e não, necessariamente, a privatização. (OLIVEIRA, 1998).

Entretanto, não podemos omitir a relação e o fortalecimento mútuo entre privatização, concorrência e eficiência. Porque se por um lado a privatização tende a incentivar as relações de mercado ao contrário de empresas estatais sujeitas a pressões

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Os autores compararam dados econômicos financeiros de empresas antes e após o processo de privatização em condições de competição igualitária.

políticas, por outro, ambientes concorrenciais propiciam um melhor desempenho por parte das empresas privadas. Logo, entende-se que quanto melhor for o sistema de defesa da concorrência, maior será o desempenho das empresas que a ele estão submetidas. (OLIVEIRA, 1998).