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3.7 M ONOPÓLIO P ETROLÍFERO B RASILEIRO

3.7.2 O D ESENVOLVIMENTO DA P ETROBRAS

Instaurada a Ditadura Militar em 1964, deu-se início o grande período em que as empresas estatais foram usadas pelo governo como atores em políticas macroeconômicas. Obviamente a Petrobras não teve papel diferente.

Apesar do ainda baixo desempenho na pesquisa e produção de petróleo, a Petrobras sempre teve o respaldo e o apoio dos militares em sua atividade devido o papel estratégico de sua atuação. Porém, como a produção de petróleo ainda se encontrava limitada na década de 60, o Estado redirecionou o foco da estatal para o refino e infraestrutura de transporte e posteriormente a fez a atuar no comércio exterior de petróleo e derivados. Logo, a exploração deu espaço a essas outras atividades. A expansão das atividades da empresa não parou por aí. Em 1967 foi criada a primeira de muitas subsidiárias15 com o objetivo de desenvolver a indústria petroquímica nacional. (PINTO JR & TOLMASQUIM, 2012, citado por BARÇANTE, 2013).

Nos anos seguintes a Petrobras prosseguiu optando pelas atividades mais lucrativas, como o refino, ao contrário daquelas mais arriscadas como o setor de exploração e produção. O Estado, em seu papel como agente desenvolvimentista, deveria estimular a atividade exploratória da empresa, dado o seu importante papel, ao invés de se acomodar com pequenas reservas. Um dos pontos mais delicados da relação governo-estatal justamente é a dificuldade de alinhar os objetivos empresariais com os objetivos governamentais. Nesse caso notamos claramente como a Petrobras é usada em uma política macroeconômica que opta pelo mais cômodo e, consequentemente, aos poucos desvincula a empresa de seu objetivo fundamental. Como não havia agente regulador, o Estado, por meio do presidente e diretores da estatal, deveria exigir ou então analisar outros meios para não retardar o desenvolvimento da indústria de exploração e produção de petróleo no país.

Essa postura ideal de um Estado desenvolvimentista só veio ocorrer anos mais tarde com o Primeiro Choque do Petróleo em 1973. Nessa época o Brasil sofria com o desequilíbrio externo e a baixa industrialização de bens intermediários, e como tinha grande dependência de petróleo estrangeiro, o aumento do preço do barril foi um grande baque

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Foram criadas diversas subsidiárias, entre elas: Petrobras Internacional S.A (Braspetro) e Petrobras Comercio Internacional S.A (Interbras) para pesquisar, explorar e gerenciar o comércio internacional de petróleo, Petrobras Fertilizantes S.A (Petrofertil) e Petromisa, responsáveis pela área de fertilizantes.

para a economia nacional. A política de substituição de importações ganhou fôlego com o II PND, que também alavancou a indústria petrolífera, já que o plano também visava diminuir a dependência externa de petróleo. Como a exploração onshore não havia mostrado resultados satisfatórios, a exploração offshore seria a próxima tentativa de superar a crise do petróleo no país. (BARÇANTE, 2013).

Apesar de um início desanimador, no dia 23 de novembro de 1974 foi descoberto o primeiro campo produtor offshore do país, o campo de Garoupa com 100 milhões de barris. A partir daí diversos outros campos foram descobertos, como Pargo, Bagre, Badejo e Namorado. Os resultados positivos deram novo ânimo a Petrobras que agora enfrentava novos desafios. Até então a exploração era feita em águas com lâminas d’água de até 200 metros. Para que a Petrobras continuasse com o sucesso de suas descobertas era necessário investir no desenvolvimento de novas tecnologias exploratórias que nem existiam em companhias internacionais. (SOUZA, 1997, citado por BARÇANTE 2013).

Com o Segundo Choque do Petróleo em 1979 ficou clara a necessidade do Brasil de reduzir ainda mais a importação de petróleo. A fim de definir novas fronteiras e rotas tecnológicas a Petrobras investiu em pesquisa e tecnologia para conquistar a exploração de petróleo em águas profundas. Como resultado, em 1984 foi descoberto o campo gigante de Albacora a 300 metros de profundidade com volume recuperável de 634 milhões de barris. Ainda em 1986 foram descobertos o campo de Marlim, o maior campo brasileiro com reservas superiores a 500 milhões de barris a 853 metros sobre água, o campo de Albacora Leste (800 a 2.000 metros de profundidade) e no ano seguinte os campos de Marlim Leste (1.100 a 1.900 metros de profundidade) e Marlim Sul (850 a 2.450 metros de profundidade). (BARÇANTE, 2013).

Nesse meio tempo, o Brasil enfrentava o processo de redemocratização do país e o início de um novo cenário para a indústria do petróleo. A nova Constituição de 1988 estabeleceu:

Art. 177. Constituem monopólio da União:

I - a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos;

II - a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro;

III - a importação e exportação dos produtos e derivados básicos resultantes das atividades previstas nos incisos anteriores;

IV - o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos de petróleo produzidos no País, bem assim o transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e gás natural de qualquer origem;

V - a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios e minerais nucleares e seus derivados.

§ 1º O monopólio previsto neste artigo inclui os riscos e resultados decorrentes das atividades nele mencionadas, sendo vedado à União ceder ou conceder qualquer tipo de participação, em espécie ou em valor, na exploração de jazidas de petróleo ou gás natural, ressalvado o disposto no art. 20, § 1º

§ 2º A lei disporá sobre o transporte e a utilização de materiais radioativos no território nacional.

No que tange a propriedade do solo, o Art. 176 definiu:

Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra.

§ 1º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais a que se refere o caput deste artigo somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa brasileira de capital nacional, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas.

§ 2º É assegurada participação ao proprietário do solo nos resultados da lavra, na forma e no valor que dispuser a lei.

§ 3º A autorização de pesquisa será sempre por prazo determinado, e as autorizações e concessões previstas neste artigo não poderão ser cedidas ou transferidas, total ou parcialmente, sem prévia anuência do poder concedente.

§ 4º Não dependerá de autorização ou concessão o aproveitamento do potencial de energia renovável de capacidade reduzida.

Enquanto isso a Petrobras investia cada vez mais em novas tecnologias para conquistar a exploração de petróleo em águas profundas. A descoberta dos campos de Albacora e Marlim havia sido apenas um passo. Para isso, a Petrobras lançou o PROCAP – Programa de Capacitação para Produção em Águas Profundas (1986-1991). O programa tinha como objetivo desenvolver tecnologia para a produção de petróleo em águas de 400 a 1.000 metros de profundidade visando atender, principalmente, esses campos recém- descobertos. O PROCAP realizou convênios com várias indústrias, empresas de engenharia, centros de tecnologia e universidades em todo o país e companhias internacionais obtendo o sucesso mais que esperado, tornando a Petrobras reconhecida internacionalmente pelo seu pioneirismo tecnológico em 1991 ao ganhar o primeiro lugar da Offshore Technology Conference. Motivada pelo sucesso do programa, a Petrobras lançou em 1993 o PROCAP-2.000 com o objetivo de desenvolver tecnologia de produção em águas de até 2.000 metros de profundidade na Bacia de Campos. (CAETANO FILHO, 2003, citado por BARÇANTE, 2013).

Após investir mais de 29 bilhões de dólares entre os anos de 1975 e 1994, a Petrobras detinha reservas comprovadas de 6.424 milhões de barris, sendo 84% dessas reservas localizadas no mar. Em 1981, a Petrobras gastava cerca de US$ 10 bilhões com importação de derivados de petróleo. Em 1989 esse valor tinha sido reduzido para US$ 3 bilhões. (BARÇANTE, 2013).

Porém, diferente da Petrobras que passava por uma ótima fase, a economia brasileira sofria uma forte crise que vinha se arrastando desde a década de 1970 e que debilitava o crescimento do país. Muitos desses problemas eram relacionados ao pesado déficit orçamentário causado pela má gestão das empresas estatais e pelos diversos planos monetários que não surtiam o efeito desejado. As reformas liberais que ocorriam em todo o mundo pareciam a solução ideal para alavancar não só a indústria, mas também a economia nacional. Como já citado no capítulo anterior, o Programa Nacional de Desestatização foi a medida necessária para pagar parte da dívida externa, diminuir os gastos públicos, redirecionar a economia brasileira para a economia mundial e modernizar o parque industrial nacional. Desse modo começaram-se as discussões sobre os rumos do monopólio da União no setor de óleo e gás no Brasil.

Em 1991, durante o governo Collor, empresas como a Petromisa e a Interbras, subsidiárias da Petrobras, foram dissolvidas, demonstrando o interesse do Estado em iniciar pouco a pouco a abertura do setor do petróleo. No ano seguinte, a Petroquisa, outra subsidiária da Petrobras foi incluída no PND. (CAMPOS, 2007, citado por BARÇANTE, 2013).

Nesse tempo a Petrobras já era uma potência no setor capaz de competir de igual para igual com outras multinacionais. Um dos principais objetivos da criação do monopólio natural já havia sido alcançado. Sem mencionar as diversas melhoras que a abertura de mercado e a competição propiciariam para o setor, como a modernização de tecnologia e processos, aumento da qualidade de serviços, possibilidade de parcerias com outras empresas, entre tantas outras já discutidas anteriormente.

Os novos objetivos, entre eles atingir a autossuficiência, demonstravam a necessidade da quebra do monopólio para que não só a Petrobras fosse responsável pelos investimentos necessários para tal. A Petrobras, por si só, não era capaz de arcar com os altos custos de determinadas atividades e por isso necessitava de capital privado para

expansão de seus negócios. A essa altura o monopólio estatal era tido como um limitador do desenvolvimento econômico. (BARÇANTE, 2013).