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8 A RGAMASSAS DE CAL AÉREA COM COMPONENTES POZOLÂNICOS

4.3 Argamassas com base em cal aérea e comportamento hidráulico

4.3.2 Argamassas bastardas de cal aérea e ligante hidráulico

Teutonico et al [617] analisaram argamassas bastardas de cais hidráulica e aérea comparativamente a argamassas só de cal aérea e só de cal hidráulica, tendo verificado que a permeabilidade ao vapor de argamassas de cal hidráulica é inferior às de cal aérea em pasta e que os valores mais baixos estão relacionados com as cais de maior hidraulicidade. A adição de fracção significativa de cal em pasta à cal hidráulica (como ligantes) altera as características da argamassa, aumentando a permeabilidade ao vapor mas diminuindo a resistência à compressão aos 60 dias e piorando a resistência à cristalização de sais.

Forster [238], que analisou também argamassas bastardas de cais hidráulica e aérea, refere que é importante tomar em conta o efeito de diluição que ocorre quando se misturam estes dois tipos de cais numa argamassa, considerando que, para efeitos práticos, estas argamassas devem ser classificadas como fracamente hidráulicas. Provavelmente atingem cerca de 40% da resistência da cal hidráulica utilizada mas geralmente são mais duráveis que misturas de ligantes hidráulicos com resistência semelhante e que é importante garantir uma boa dispersão das partículas de cal hidráulica na mistura.

As argamassas bastardas de cimento e cal aérea apresentam, relativamente às argamassas só de cal aérea, uma menor trabalhabilidade, deformação na rotura e porosidade [666].

4. Análise de argamassas 121 Em função da proveniência da cal viva e do seu processamento em obra, Carvalho e Veiga [112] analisaram três diferentes argamassas bastardas de cimento, cal viva em pó e areia de rio, com traço volumétrico de 1:2:16 - 2 medidas de cal viva em pó de produção artesanal (Beringel) ou de cal viva micronizada de produção industrial (Alcanede), previamente misturadas com 16 medidas de areia e quatro de água, com antecedência mínima de 24 horas relativamente à amassadura ou cal viva de Alcanede preparada em pasta com antecedência não inferior a 24 horas. Entre as argamassas analisadas ressaltaram a maior homogeneidade de características da pasta de cal e areia obtida com a cal industrial; entre os diferentes modos de preparação, ressaltou a obtenção de argamassas bastardas com melhores características realizadas a partir de cal viva previamente apagada com areia molhada, comparativamente à argamassa obtida a partir de cal em pasta extinta só com água.

Relativamente à dosagem, Teutonico et al [616] analisaram argamassas bastardas de cimento e cal aérea, tendo concluído que a adição de pequenas quantidades de cimento à cal (em dosagens de cimento inferiores a 1:3:12 de cimento, cal aérea e areia) é prejudicial para a durabilidade das argamassas, por resultarem argamassas demasiado friáveis. Dosagens superiores de cimento (traços volumétricos 1:2:9 ou 1:1.6 de cimento, cal aérea e areia) melhoram a resistência e a durabilidade da argamassa propriamente dita, mas podem ser inaceitáveis em termos de compatibilidade com os suportes (módulo de elasticidade, resistência à tracção, permeabilidade ao vapor, introdução de sais solúveis), resultando em argamassas que mais tarde ou mais cedo viriam a danificar o suporte sobre o qual eram aplicadas.

Com efeito, Veiga [677] analisou uma argamassa bastarda com teor de cimento idêntico ao de cal aérea, com traço volumétrico 1:1:6 com areia exclusivamente de rio e verificou que esta apresenta resistências mecânicas demasiado elevadas mas que as restantes características analisadas encontram-se dentro de limites que considera aceitáveis para edifícios antigos. A análise da argamassa bastarda com traço volumétrico de 1:3:12 de cimento branco, cal aérea e areia siliciosa, de menor teor em cimento, já apresentou características mecânicas que considera adequadas.

No que se refere à aderência, Reda e Shrive [522] analisaram argamassas de cimento, cal aérea e areia, aditivadas com cinzas volantes, tendo identificado um incremento da aderência quando esta adição era realizada. Em provetes de alvenaria de tijolo sujeitos a cura seca verificaram o desenvolvimento de etringite na interface entre a argamassa e o tijolo e que esta etringite não era identificada em provetes sujeitos a cura húmida (que tinham um maior incremento nos valores da aderência), especialmente para adições mais elevadas de cinzas volantes. Nestes casos identificaram cristais CSH e uma quantidade significativa de cinzas volantes livres na interface

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argamassa/tijolo. Nos provetes sujeitos a cura húmida estas cinzas livres já não se visualizaram na observação realizada aos 180 dias.

Van Hees et al [663] analisaram uma mesma argamassa com traço volumétrico 1:4:12 de cimento, cal aérea hidratada e areia, com adição de pequena quantidade de escórias de alto forno, aplicada como argamassa de assentamento ou de refechamento de juntas da alvenaria (condições de aplicação diferentes – entre tijolos ou com face em contacto com o ar). Obtiveram uma maior porosidade para a argamassa de refechamento de juntas, relativamente à argamassa de assentamento. Analisaram por NMR provetes de alvenaria de tijolo poroso com a mesma argamassa aplicada de forma contínua em assentamento e refechamento de juntas (considerada como padrão) e com aplicação desfasada no tempo da argamassa de assentamento e no refechamento das juntas (extracção da porção externa e aplicação diferida de argamassa). Após 63 ciclos de ensaio de gelo/degelo verificaram que a argamassa padrão se apresentava em bom estado, enquanto na aplicação diferida tinha ocorrido perda de aderência da argamassa das juntas, com tendência para destacamento. A análise por NMR efectuada a provetes de alvenaria submetidos a imersão por 2 horas e secagem unidireccional a 20ºC de temperatura e 50% de humidade relativa mostraram diferenças de comportamento entre a argamassa aplicada de forma contínua (assentamento e refechamento simultâneo) comparativamente à aplicada separadamente, embora com a mesma composição, que apresentava prolongamento do período de secagem, mantendo a argamassa de assentamento molhada durante mais tempo, com maior propensão para a ocorrência de danos por acção do gelo. Pela análise da porosidade concluíram que as propriedades obtidas com a mesma argamassa podem ser diferentes devido a distintos teores em água utilizados na preparação das argamassas e a diferentes localizações de aplicação e condições de cura (entre tijolos ou com contacto com o ar). Após ensaio de gelo/degelo constataram que se criou uma interface entre a mesma argamassa aplicada em alturas distintas, que pode funcionar como uma barreira ao transporte da água (e que esta interface pode ser reforçada por deficiências de qualidade de execução). Consideram que a deterioração por acção do gelo pode ser resultado do desenvolvimento de cristais de água no estado sólido no seio da argamassa, formados em poros grosseiros que contactam com poros de menor dimensão, pelo que a existência de vazios na interface entre as argamassas pode aumentar o risco de danos. A desagregação da espessura superficial da argamassa de assentamento pode ser devida ao desenvolvimento de cristais de gelo na interface entre as argamassas, uma vez que a água congela mais facilmente num espaço grande que num poro pequeno.

Com base em resultados já referidos pelos mesmos investigadores quando se utilizam argamassas inadequadas para fechamento de juntas e nos obtidos com aplicações da mesma argamassa em

4. Análise de argamassas 123 períodos diferidos, parece preferível, sempre que possível, não proceder de todo ao refechamento diferido dessas juntas.

A fim de analisarem argamassas tradicionais comparativamente a produtos pré-doseados, Groot et al [275] estabeleceram que as argamassas de materiais tradicionais sem adjuvantes fossem aplicadas numa só camada, utilizando areia de granulometria entre 0,5 e 1 mm, com ligante “não muito forte” e relação ligante/agregado “não muito alta”, que a cor fosse introduzida na mistura para não haver necessidade de pintura e que existisse bom contacto com o substrato sobre o qual a argamassa fosse aplicada. Pretendiam que as argamassas permitissem a penetração dos sais, que os seus poros tivessem espaço para a cristalização ocorrer no material, que fosse facilitada a escovagem de eflorescências que ocorressem à superfície e que, com o tempo, fosse aceitável a perda de algum material junto à superfície. Os traços volumétricos utilizados foram 1:4:24 (~1:5 de ligante : agregado) e 1:4:10 (1:2 de ligante : agregado) de cimento, cal (aérea) e areia. Estas argamassas foram aplicadas sobre dois tipos de suportes de características de porosidade e absorção muito distintas: um tijolo (de porometria fina) e um tipo de bloco de pedra (de porometria elevada). Os provetes foram submetidos a ensaio de cristalização de sais, avaliando-se o aparecimento de eflorescências na superfície da argamassa em função do tempo. As diferenças obtidas com a mesma argamassa aplicada sobre suportes diferentes foram muito mais significativas que as apresentadas entre argamassas distintas, aplicadas sobre o mesmo suporte. A argamassa aplicada sobre o suporte de porometria fina resultou com porometria mais elevada que a mesma argamassa aplicada sobre o suporte de porometria elevada. O suporte constituído pela rocha apresentou, desde logo, o aparecimento de muitas mais eflorescências que o suporte de tijolo. Com efeito, verificou-se uma secagem mais rápida deste suporte que a respectiva argamassa, comparativamente ao suporte de tijolo, que secou mais devagar que a argamassa. Os investigadores justificam esta situação devido aos pequenos poros do suporte de tijolo apresentarem uma pressão capilar mais alta (variando inversamente à dimensão do raio do poro), dificultando a secagem. Por seu lado, a argamassa mais forte em ligante apresentou mais rápida e maior quantidade de eflorescências que a argamassa com menor teor em ligante.

Realizaram também análise por ressonância magnética nuclear (NMR). Consideram que as diferenças na secagem podem relacionar-se com diferenças na estrutura porosa da argamassa e dos suportes, pelo que um comportamento eficiente do revestimento só será obtido se existir uma boa combinação da sua microestrutura com a do suporte sobre o qual são aplicadas as argamassas, para o que será essencial o conhecimento das características relativas à porosidade e à porometria. Admitem que as diferenças de porometria entre argamassa diferentes são menos significativas que entre suportes distintos, pelo que as diferenças no movimento da água (com

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sais) devem ser principalmente atribuídas aos suportes. Deste modo, os requisitos a exigir às argamassas devem estar muito dependentes das características desses suportes.

Em termos da durabilidade das argamassas à acção de sais solúveis e ataque por ácidos, Lambropoulos et al [393] analisaram o efeito da adição de hidróxido de bário [Ba(OH)2] nas características de argamassas de cimento, cal aérea e areia. A adição de Ba(OH)2 nas argamassas produziu a formação de sulfato de bário, que é menos solúvel que o sulfato de cálcio, o que é vantajoso face ao ataque por ácidos, especialmente por SOx (muito frequentes em áreas industriais e centros urbanos), o que contribuiu para a melhoria da durabilidade das argamassas.