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8 A RGAMASSAS DE CAL AÉREA COM COMPONENTES POZOLÂNICOS

5.1 Considerações gerais

Apesar de actualmente existirem diversas normas e recomendações para a caracterização de argamassas, principalmente a nível europeu, raramente as necessidades que levaram ao seu estabelecimento correspondem aquelas que habitualmente estão associadas aos estudos na área das argamassas para aplicação na conservação do património edificado. Quase todas as referências existentes neste domínio adequam-se mais à caracterização de pedra natural ou a argamassas com base em outros ligantes (hidráulicos, como é o caso do cimento), que não a cal aérea.

Paralelamente, por limitações laboratoriais, por vezes houve a necessidade de recorrer ao equipamento existente e não ao preconizado em normalização actual (caso, por exemplo, dos moldes para provetes e cápsulas de ensaio para determinação da permeabilidade ao vapor de água). Embora, sempre que possível, as referências normativas existentes tenham servido de suporte à definição e estabelecimento dos métodos usados, seguiram-se as fichas de ensaio [632 a 653] desenvolvidas na Secção de Materiais e Tecnologias da Construção do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa (SMTC/DEC/FCT/UNL), especificamente definidas para análise deste tipo de argamassas.

Pelos motivos expostos optou-se por apresentar a descrição de todos os métodos e procedimentos de ensaio utilizados e seguidos neste trabalho.

Como metodologia genérica, procedeu-se à determinação da baridade de todos os materiais para a execução das argamassas (de um modo geral, produtos secos, excepto no caso das cais em pasta). Efectuou-se a análise granulométrica da areia e a determinação dos seus volume de vazios e massa volúmica. Relativamente aos ligantes, procedeu-se à determinação da sua massa volúmica, da curva granulométrica e da superfície específica, à sua análise por microscopia electrónica de varrimento (SEM), à caracterização mineralógica por difracção de raios X (XRD) e à determinação da reactividade pozolânica (estes três últimos, no caso dos componentes pozolânicos) e à análise térmica gravimétrica de pozolanas artificiais sujeitas a tratamento térmico. Procedeu-se ainda à análise química dos ligantes e componentes pozolânicos (determinação da presença de óxidos, perda ao fogo e resíduo insolúvel).

Registam-se no quadro 5.1 o tipo de determinações efectuadas sobre as matérias-primas, seguindo a ordem pela qual foram realizadas.

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Quadro 5.1 - Ensaios sobre as matérias-primas

Componentes pozolânicos Areia rio Ligantes

s/ trat.térmico c/ trat.térmico

Baridade • • • •

Granul.peneiração • Volume vazios areia • Massa volúm. areia •

Granul.por laser • • • Sup.específica • • • Massa volum.ligantes • • • Caract.química • • • Análises térmicas • XRD • • SEM • • Pozolanicidade • •

Com cada argamassa fresca procedeu-se à determinação da consistência por espalhamento e da retenção de água. Para a obtenção de corpos de prova para os ensaios, realizaram-se nove provetes prismáticos de dimensões 40 x 40 x 160 (mm3), efectuou-se o revestimento de um tijolo

e moldaram-se, em média, três provetes circulares com 95 mm de diâmetro e 10 mm de espessura.

O tijolo revestido com a argamassa numa das faces foi utilizado para a realização do ensaio de aderência por arrancamento. Os provetes circulares foram utilizados para a determinação da permeabilidade ao vapor de água. Três dos provetes prismáticos realizados com cada argamassa foram utilizados na realização de ensaios mecânicos (módulo de elasticidade dinâmico, resistência à tracção por flexão e resistência à compressão) e ainda para a determinação da profundidade de carbonatação (nas secções de corte resultantes da flexão e da compressão) e da massa volúmica aparente e porosidade aberta. Outros três provetes prismáticos, após sujeitos a ensaio de flexão para obtenção de seis metades, foram utilizados para a determinação da absorção de água por capilaridade e para ensaios de resistência aos cloretos e à acção de sulfatos. Os ensaios levados a cabo com os seis provetes referidos foram realizados genericamente aos 60 dias de idade dos provetes. Os restantes três provetes prismáticos realizados com cada argamassa foram utilizados para a determinação da retracção linear ocorrida a partir das 24 ou das 48 horas após a moldagem e até aos 90 dias de idade. Após a finalização do ensaio da retracção linear (aos três meses de idade dos provetes, altura em que esta estava há muito estabilizada em todos os provetes), procedeu-se a nova determinação das características mecânicas (módulo de elasticidade, resistência à tracção por flexão e à compressão), profundidade de carbonatação e, em alguns casos, resistência aos cloretos, de modo a poderem comparar-se as características apresentadas a idade mais avançada das argamassas, com as inicialmente determinadas aos dois meses.

5. Descrição de procedimentos e metodologias de ensaio 135 Todo o manuseamento das matérias-primas e das argamassas teve de ser efectuado com protecções adequadas, com vista a evitar o contacto com os olhos, com a pele e a aspiração de poeiras.

Algumas amostras dos provetes de argamassa (após a realização dos ensaios de compressão), foram reduzidas a pó para determinação da libertação de sais solúveis; algumas amostras de provetes (de um dos traços utilizados) foram preparadas para serem analisadas por SEM e por termogravimetria, para determinação dos compostos formados em cada argamassa.

Regista-se no quadro 5.2 a sequência de ensaios sobre argamassas a que foram genericamente submetidos os provetes prismáticos (designados por P), os provetes de aderência (identificados por A) e os provetes para determinação da permeabilidade ao vapor de água (referenciados como V).

Quadro 5.2 - Sequência de ensaios sobre argamassas

Determ. P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 A1 A2 A3 A4 A5 V1 V2 V3 Retr. linear • • • Aderência • • • • • E 60d • • • Rt 60d • • • Rc 60d • • • • • • Carb.60d • • • • • MVap+Pab • • • • • • Sais + Ca++SEM E prev • • • Rt prev • • • Capilaridade • • • • • • R.Sulf • • • R.Cloret.60d • • • E 90d • • • Rt 90d • • • Rc 90d • • Carb.90d • • • • Rc 180d • • Carb.180d • • • • R.Cloret.180d • • Perm.vapor • • •

E – módulo de elasticidade dinâmico; Rt – resistência à tracção por flexão; E prev, Rt prev – idem realizada alguns dias antes da data; Rc - - resistência à compressão; carb. – carbonatação; Mvap+Pab – massa volúmica aparente e porosidade aberta; Sais + Ca++ - condutividade

para determinação de sais solúveis libertados e concentração em ião cálcio; SEM – microscopia electrónica de varrimento para identificação do desenvolvimento de compostos; R.Sulf – resistência aos sulfatos; R.Cloret – resistência aos cloretos

Todas as determinações foram desenvolvidas e interpretadas pela autora, nas instalações laboratoriais da Secção de Materiais e Tecnologias da Construção do Departamento de Engenharia Civil (FCT/UNL), excepto nos casos assinalados.

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