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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.3 T RANSPARÊNCIA FINANCEIRA DOS PAÍSES MEMBROS DO MERCOSUL

2.3.1 Enquadramento legal e normativo da informação financeira no MERCOSUL

2.3.1.1 Argentina

Na Argentina, os governos locais, da mesma forma que qualquer outra entidade do setor público, estão obrigados a manter um sistema de contabilidade pública, cujos objetivos apontam principalmente para o controlo da execução do orçamento e das contas públicas (Yardin e Demonte, 2005).

Ao nível de governo central, a Lei 24.156 (1992) aborda normas de administração financeira e dos sistemas de controlo do setor público nacional. De forma complementar, o Decreto 1.361 (1994) e a Resolução 1.397 (1993), modificada pela Resolução 473 (1996), e o anexo XI da Disposição 20 (1999) estabelecem a necessidade de se produzir as seguintes demonstrações financeiras para apreciação da Auditoria Geral da Nação: a) demonstração de execução do orçamento de receitas e despesas; b) balanço de somas e saldos; c) demonstração das receitas e despesas correntes; d) demonstração das origens e aplicações de recursos; e) balanço geral, que integre o património líquido dos entes descentralizados e empresas estatais; f) demonstração de investimentos e financiamentos.

No entanto, essas normas são voltadas para a administração financeira do governo central argentino, não abrangendo, portanto, os sistemas contabilísticos dos governos locais. Dessa forma, passamos a analisar a legislação pertinente aos governos locais.

A Constituição da Nação Argentina, publicada através da Lei 24.430 (1994) ordena, no seu artigo 123º, que cada Província (governo regional) estabeleça a sua própria Constituição, de forma a assegurar a autonomia institucional, administrativa económica e financeira dos governos locais3.

Essa autonomia municipal permite que os governos locais criem as chamadas Cartas Orgânicas, que funcionam como uma Constituição a nível local. Dessa forma, cada Província estabelece as condições para que o governo local possa criar a sua Carta Orgânica. Normalmente essas regras estão ligadas à quantidade de habitantes ou de eleitores em cada governo local (Andrea, 2007). Os governos locais que não se enquadram nessas condições são regidos pela Lei Orgânica Municipal, criada pela respetiva Província.

As Cartas Orgânicas dos governos locais estabelecem as regras gerais para a prestação de contas dos governos locais e definem a obrigatoriedade da prestação de contas ser submetida ao Tribunal de Contas Municipal, que é o órgão de controlo e fiscalização. Os regimes de contabilidade e as demonstrações contabilísticas que devem compor a prestação de contas são definidos pelos governos locais em norma hierarquicamente inferior, as chamadas Ordenanças Municipais4.

Citamos, como exemplo, a Carta Orgânica do governo local de Santa Fé de la Vera Cruz5 (1933), que estabelece que as regras contabilísticas para o controlo patrimonial e financeiro do governo local serão estabelecidas através de Ordenanças e deverão compreender: a) contabilidade patrimonial, que estabelecerá todas as variações patrimoniais produzidas em cada exercício; b) contabilidade financeira, que estabelecerá o movimento de receitas e despesas de cada exercício.

Conforme determinação da referida Carta Orgânica, o governo local de Santa Fé de la Vera Cruz estabeleceu, através da Ordenança 10.610 (2000), no seu artigo 71º, que a prestação de contas a ser enviada ao Tribunal de Contas deverá conter, no mínimo: a) demonstração de execução do orçamento da administração municipal no encerramento do exercício, evidenciando informação sobre alteração, desempenho e resultado orçamental;

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Na Argentina, os governos locais podem ser classificados como municípios, comunas, comissões municipais, de fomento e juntas de governo, de acordo com as normas emanadas por cada província (governo regional) (Andrea, 2007).

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Ordenanças Municipais são portarias que estabelecem normas e regulamentos para o funcionamento do governo local. 5

b) demonstração de investimentos e financiamentos; c) demonstração da dívida pública, destacando as dívidas interna, externa, direta e indireta; d) balanço geral, que evidencie o património líquido; e) demonstração das origens e aplicações de recursos; f) relatório sobre a gestão financeira consolidada que destaque os resultados operacionais económicos e financeiros; g) relatório sobre o cumprimento de metas e objetivos previstos no orçamento.

Dessa forma, apesar de não existir, na Argentina, uma norma nacional que abranja todos os governos locais no que tange à elaboração das demonstrações financeiras obrigatórias, é possível notar que, geralmente, as Ordenanças de contabilidade elaboradas pelos governos locais tendem a seguir diretrizes semelhantes no que se refere aos sistemas de contabilidade, respeitando as peculiaridades de cada governo local.

Subsidiariamente às Ordenanças de contabilidade, alguns Tribunais de Contas argentinos têm emitido resoluções no sentido de exigir dos governos locais a prestação de contas anual, estabelecendo a informação financeira mínima que deverá estar contida. O Tribunal de Contas da Província de Jujuy, por exemplo, determina no artigo 39º da Resolução 3.490 (2004) que a prestação de contas anual dos governos locais sob a sua jurisdição contenha diversas informações de caráter orçamental e contabilístico, designadamente, lei orçamental do exercício, demonstração da execução do orçamento de receitas e de despesas, variação do endividamento público, detalhe dos subsídios recebidos de outros entes públicos.

No que se refere à divulgação da informação financeira através da Internet, há que se registar a existência, na Argentina, da Lei 25.917 (2004), conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa lei é de atendimento obrigatório para o governo central e para os governos regionais (províncias). A adoção por parte dos governos locais é facultativa, tendo em vista que seu artigo 33º determina que “cada província convidará seus governos locais a aderirem a esta norma”. Em seu artigo 7º, esta lei estabelece a necessidade de divulgação, através do website oficial, da seguinte informação financeira: a) orçamento anual aprovado e projeções do orçamento plurianual; b) informação trimestral da execução orçamental, tanto em base de acréscimo quanto em base de caixa; c) informação trimestral da dívida pública, incluída a dívida flutuante e os programas bilaterais de financiamento.

Não há na Argentina uma lei de acesso à informação pública que exija a publicação, via Internet, de informação financeira por parte dos governos locais. O Poder Executivo Nacional publicou o Decreto 1.172 (2003) que estabelece normas de acesso à informação pública, mas que só exige a publicação via Internet do Boletim Oficial da República Argentina, das atas de audiências públicas e das atas de reunião dos entes reguladores.

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