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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.3 T RANSPARÊNCIA FINANCEIRA DOS PAÍSES MEMBROS DO MERCOSUL

2.3.1 Enquadramento legal e normativo da informação financeira no MERCOSUL

2.3.1.5 Venezuela

A Constituição da República Bolivariana da Venezuela (2009) estabelece no artigo 141º que a administração pública se fundamenta, entre outros, nos princípios da transparência, da prestação de contas e da responsabilidade no exercício da função pública.

Tais princípios são evidenciados, também, na chamada Lei Orgânica do Poder Público Municipal (2010), que rege o funcionamento dos governos locais venezuelanos. Esta lei, que substituiu a antiga Lei Orgânica do Regime Municipal (1989), determina, no

artigo 127º, que a administração da Fazenda Pública Municipal é exercida com base, entre outros, nos princípios da transparência, da prestação de contas, da responsabilidade e do equilíbrio fiscal.

No que se refere à prestação de contas dos governos locais, o artigo 237º da Lei Orgânica do Poder Público Municipal (2010) determina que, anualmente, será elaborado pelo governo local a prestação de contas e o balanço da execução orçamental, que será enviado ao órgão controlador. A partir da leitura dos artigos 100º, 101º e 107º desta lei, bem como do artigo 176º da Constituição da República Bolivariana da Venezuela (2009), podemos observar que o controlo e a fiscalização das contas públicas dos governos locais são exercidos pela Controladoria Geral da República, em parceria com as Contadorias Municipais10. O artigo 107º, por exemplo, estabelece que a Controladoria Municipal deverá enviar anualmente à Controladoria Geral da República a prestação de contas do governo local, contendo relatório da gestão administrativa, demonstração das receitas e despesas do exercício, demonstrações de execução do orçamento, balanços contabilísticos com seus respetivos anexos e inventário anual atualizado dos bens patrimoniais.

O artigo 243º da Lei Orgânica do Poder Público Municipal (2010) estabelece, ainda, que os governos locais se submetem às normas gerais de contabilidade pública, assim como às normas e instruções sobre os sistemas e procedimentos de contabilidade ditados pelo Escritório Nacional de Contabilidade Pública11, com o objetivo de lograr uma estrutura contabilística uniforme ao nível nacional. Esse mesmo mandamento está previsto no artigo 127º da Lei Orgânica da Administração Financeira do Setor Público (2013)12.

A Lei Orgânica da Administração Financeira do Setor Público (2013) define, através do artigo 122º, que o sistema de contabilidade pública dos governos locais deve produzir as demonstrações financeiras básicas de um sistema contabilístico que mostre os ativos, passivos, património líquido, receitas e despesas. Além disso, o governo local deve

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Para exercer o controlo e a fiscalização dos governos locais, a Lei Orgânica do Poder Público Municipal (2010) confere às Controladorias Municipais o gozo de autonomia orgânica, funcional e administrativa.

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O Escritório Nacional de Contabilidade Pública (cuja sigla em língua espanhola é ONCOP) é um órgão do Sistema de Contabilidade Pública, criado com base no artigo 126º da Lei Orgânica da Administração Financeira do Setor Público (2013) e voltado à administração do sistema de contabilidade, à emissão de normas contabilísticas e à promoção da transparência do setor público da Venezuela.

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Publicada, inicialmente, na Gazeta Oficial 37.606, de 09 de janeiro de 2003, a Lei Orgânica da Administração Financeira do Setor Público (2013) foi atualizada em 2013, através de publicação na Gazeta Oficial 40.311, em 9 de dezembro de 2013.

apresentar a informação contabilística, as demonstrações financeiras e os documentos de apoio ordenados de forma a facilitar o exercício do controlo e da auditoria.

O Escritório Nacional de Contabilidade Pública, que é o órgão responsável pela emissão das normas contabilísticas para o setor público da Venezuela, publicou a Providência Administrativa 11-001 (2011), que institui a Norma Técnica de Contabilidade sobre a apresentação das demonstrações financeiras dos entes públicos.

O artigo 4º desta norma técnica estabelece que os governos locais deverão elaborar as seguintes demonstrações financeiras no final do exercício: a) demonstração da situação financeira, contendo ativo circulante e não circulante, passivo circulante e não circulante e património; b) demonstração do resultado financeiro, contendo receitas, despesas e resultados do exercício; c) demonstração das mutações das contas do património, contendo resultados do exercício, resultados acumulados, capital fiscal ou capital institucional, transferências de capital, doações de capital e aportes de capital recebidos; d) demonstração do fluxo de caixa, contendo movimentos de caixa e seus equivalentes, nas atividades operacionais, de investimentos e de financiamentos; e) demonstração das contas de investimentos e financiamentos, contendo contas correntes (integradas pelas receitas e despesas correntes), contas de capital (integradas pelas receitas e despesas de capital) e contas financeiras (integradas pelas fontes de financiamentos e as aplicações financeiras); f) notas explicativas, visando detalhar, ampliar ou definir claramente o conteúdo das contas (forma jurídica, descrição da natureza das operações, referência à legislação que rege suas operações, políticas contabilísticas adotadas, bases de mensuração utilizadas e demais informação que não esteja presente nas demonstrações financeiras, mas que sejam relevantes para a compreensão de algumas delas.

Além da elaboração dessas demonstrações financeiras, o Decreto 3.776 (2005), que institui o Regulamento 1 da Lei Orgânica da Administração Financeira do Setor Público, estabelece a obrigatoriedade dos governos locais apresentarem ao órgão de controlo, no final do exercício, diversas informações relativas à execução do orçamento, que incluem: a) plano plurianual do orçamento (para um período de 3 anos); b) lei orçamental aprovada; c) orçamentos de receitas e fontes financeiras; d) orçamentos de despesas e de aplicações financeiras, detalhadas por funções; e) indicadores de desempenho relacionados com as

metas e com os objetivos definidos; f) demonstração de execução do orçamento de receitas e de despesas.

Vale ressaltar que não há, no âmbito jurídico venezuelano, uma lei nacional de acesso à informação pública que exija a divulgação da informação financeira através da Internet. Recentemente, foi publicada a Lei de Infogoverno (2013), a qual estabelece algumas normas relativas ao acesso à informação pública por meios eletrónicos, no entanto, não estabelece normas sobre a divulgação da informação financeira através da Internet.

Alguns governos locais publicaram, isoladamente, através de Ordenanças Municipais, normas de acesso à informação pública, que incluem a obrigatoriedade de publicação de informação pública através dos respetivos websites oficiais. Citamos como exemplo a Ordenanza Municipal sobre Transparência e Acesso à Informação (2009), do governo local de Chacao13, que estabelece, no artigo 12º, a obrigatoriedade de publicar e manter atualizado, através da Internet, toda a informação que pela sua natureza contribua para a transparência e a prestação de contas sobre a utilização dos recursos públicos e a gestão municipal, contendo a seguinte informação financeira: a) informação sobre o orçamento anual; b) orçamento projetado para o exercício seguinte; c) execução do orçamento atual; d) mecanismos de prestação de contas, tais como metas, informes de gestão e indicadores de desempenho.

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