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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.3 T RANSPARÊNCIA FINANCEIRA DOS PAÍSES MEMBROS DO MERCOSUL

2.3.1 Enquadramento legal e normativo da informação financeira no MERCOSUL

2.3.1.2 Brasil

O Brasil dispõe de uma lei de alcance nacional de administração financeira que abrange tanto o governo central, quanto os governos regionais e os governos locais. Trata-se da Lei 4.320 (1964), conhecida como Lei geral da administração financeira para a elaboração e controlo dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

O título IX dessa lei expressa que os serviços de contabilidade devem permitir o acompanhamento da execução orçamental, o conhecimento da composição patrimonial, a determinação dos custos dos serviços industriais, o levantamento dos balanços gerais e a análise e a interpretação dos resultados económicos e financeiros.

Dessa forma, o capítulo IV do título IX dessa lei, atualizado pela Portaria 438 (2012) da Secretaria do Tesouro Nacional, determina que os resultados gerais do exercício serão demonstrados pelos entes federados6 – que inclui os governos locais – através do Balanço Patrimonial, Balanço Orçamentário, Balanço Financeiro e Demonstração das Variações Patrimoniais.

Adicionalmente, a Secretaria do Tesouro Nacional, através da Portaria 437 (2012), aprovou a 5ª edição do Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público, que visa padronizar os procedimentos contabilísticos ao nível nacional, permitindo a consolidação das demonstrações financeiras nos três níveis de governo (central, regionais e locais). Segundo a Parte V deste manual, os governos locais devem elaborar anualmente as seguintes demonstrações financeiras: a) balanço orçamentário; b) balanço financeiro; c)

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No Brasil, segundo o artigo 1º da Constituição Federal (1988), os entes federados são constituídos pela União (governo central), pelos Estados (governos regionais), pelo Distrito Federal (sede do governo federal) e pelos Municípios (governos locais).

demonstração das variações patrimoniais; d) balanço patrimonial; e) demonstração dos fluxos de caixa; f) demonstração das mutações no património líquido; g) notas explicativas às demonstrações financeiras.

O Brasil também sancionou a Lei Complementar 101 (2000), conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal, que estabelece regras para a transparência da gestão fiscal. Essa lei estabelece a necessidade de publicação, inclusive por meios eletrónicos de acesso público, por parte dos entes federados, do Relatório Resumido da Execução Orçamental (RREO), seus anexos e sua versão simplificada e do Relatório da Gestão Fiscal (RGF), com seus anexos e sua versão simplificada. Tais relatórios abrangem a publicação da seguinte informação financeira: a) balanço orçamentário, detalhando as receitas classificadas por fonte e as despesas classificadas por grupo de natureza; b) demonstração da execução das receitas e despesas por função e categoria económica; c) demonstração da dívida mobiliária; e) demonstração das receitas e despesas previdenciárias; f) demonstração de resultados nominais e primários; g) demonstração dos juros pagos; h) demonstração das disponibilidades de caixa e dos restos a pagar; i) demonstração das variações do património líquido, evidenciando as alienações de ativos; j) demonstração do total de despesas com pessoal.

Além disso, a Lei Complementar 101 (2000) estabelece a necessidade de publicação, inclusive por meios eletrónicos de amplo acesso público, dos pareceres prévios emitidos pelos Tribunais de Contas em relação à prestação de contas anual.

A Lei Complementar 131 (2009), que trouxe alterações na Lei de Responsabilidade Fiscal, também estabelece a obrigatoriedade dos governos locais divulgarem informação financeira através da Internet, nomeadamente informação sobre a execução orçamental e financeira, a serem disponibilizadas em tempo real.

De forma a complementar a Lei de Responsabilidade Fiscal, a Presidência da República publicou o Decreto 7.185 (2010), que aborda aspetos relacionados à transparência da gestão fiscal. O artigo 6º deste decreto estabelece que os entes públicos deverão permitir a integração da informação financeira por eles gerada com meio eletrónico que possibilite amplo acesso público, de forma a assegurar à sociedade o acesso

à informação sobre a execução orçamental e financeira, as quais serão disponibilizadas por cada ente da federação (que inclui os governos locais).

Dessa forma, o legislador brasileiro preocupou-se com a transparência eletrónica, incluindo nas normas específicas sobre responsabilidade fiscal, a necessidade de divulgação da informação financeira através da Internet por parte dos entes federados (governo central, governos regionais e governos locais).

Além da Lei de Responsabilidade Fiscal, a Lei 9.755 (1998), revela, novamente, uma preocupação legislativa com a transparência eletrónica. Essa lei dispõe sobre a criação pelo Tribunal de Contas da União de um website com o título “Contas Públicas”, com o objetivo de divulgar através da Internet a seguinte informação financeira dos entes federados: a) o montante dos tributos arrecadados; b) relatórios resumidos da execução orçamental; c) balanço consolidado das contas, baseado em dados orçamentários; d) orçamentos aprovados do exercício; e) resumos dos instrumentos de contratos e seus aditivos; f) relações mensais de todas as compras realizadas.

Recentemente, foi sancionada no Brasil a Lei 12.527 (2011), conhecida como Lei de Acesso à Informação Pública. O artigo 8º desta lei estabelece que é dever dos órgãos e entidades públicas promover a divulgação em local de fácil acesso, no âmbito de suas competências, de informação de interesse coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas.

O parágrafo 2º do artigo 8º da Lei 12.527 (2011) determina que os órgãos e entidades públicas deverão utilizar todos os meios e instrumentos legítimos de que dispuserem, sendo obrigatória a divulgação dessa informação de interesse coletivo ou geral em websites oficiais na Internet. É interessante que esta lei aborda questões importantes, como a navegabilidade e a acessibilidade dos websites oficiais. O parágrafo 3º do referido artigo 8º determina que os websites oficiais deverão atender aos seguintes requisitos: a) conter ferramenta de pesquisa de conteúdo que permita o acesso à informação de forma objetiva, transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão; b) possibilitar a gravação de relatórios em diversos formatos eletrónicos, inclusive abertos e não proprietários, tais como planilhas e texto, de modo a facilitar a análise das informações; c) possibilitar o acesso automatizado por sistemas externos em formatos abertos, estruturados e legíveis por

máquina; d) divulgar em detalhes os formatos utilizados para estruturação da informação; e) garantir a autenticidade e a integridade das informações disponíveis para acesso; f) manter atualizadas as informações disponíveis para acesso; g) indicar local e instruções que permitam ao interessado comunicar-se, por via eletrónica ou telefónica, com o órgão ou entidade detentora do website; h) adotar as medidas necessárias para garantir a acessibilidade de conteúdo para pessoas portadoras de deficiência. No entanto, o parágrafo 4º do referido artigo 8º dispensou da obrigatoriedade de divulgação da informação através da Internet os governos locais brasileiros com população de até 10.000 habitantes7.

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