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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.3 T RANSPARÊNCIA FINANCEIRA DOS PAÍSES MEMBROS DO MERCOSUL

2.3.1 Enquadramento legal e normativo da informação financeira no MERCOSUL

2.3.1.4 Uruguai

A criação dos governos locais no Uruguai é facto recente. Até o ano de 2008, não havia no país a figura dos governos locais, a qual era exercida cumulativamente pelos 19 departamentos (governos regionais). Em 13 de setembro de 2009 o Uruguai sancionou a Lei 18.567 (2009), que trata da descentralização política neste país. O artigo 1º desta lei determina que o governo local se denomina “município” e configura um terceiro nível de governo e de administração. No ano seguinte, através da Lei 18.653 (2010), foram criados 89 municípios (governos locais) no Uruguai.

O artigo 20º da Lei 18.567 (2009) estabelece que o governo departamental (governo regional) proverá os municípios com os recursos humanos e materiais necessários para que eles possam cumprir com suas obrigações, conforme o orçamento quinquenal e as modificações orçamentárias aprovadas pela Junta Departamental. Deste artigo é possível depreender que os governos locais nem sequer possuem funcionários próprios, estes compõe o corpo funcional do respetivo departamento.

É possível perceber, portanto, que a autonomia dos governos locais uruguaios é bastante limitada, facto que se evidencia no artigo 19º da Lei 18.567 (2009). Este artigo determina que o financiamento dos governos locais decorre de fundos que serão destinados pelo governo departamental e de recursos do Orçamento Nacional previstos no Fundo de Incentivo para a Gestão dos Municípios, que será criado a partir de recursos que não afetem aqueles atualmente destinados aos governos departamentais. Os governos locais uruguaios não possuem, portanto, receita própria, mas dependem exclusivamente do repasse de recursos de outros entes.

No que tange à prestação de contas desses municípios, a Lei 18.567 (2009) cita apenas a necessidade de realização de audiência pública anual para prestação de contas aos habitantes do município, no que se refere à gestão desenvolvida, aos compromissos assumidos e aos planos futuros. Essa lei não detalha como a prestação de contas deve ser apresentada, negligenciando aspetos importantes relacionados com a transparência, como por exemplo a definição das demonstrações financeiras que devem ser elaboradas pelos governos locais.

Em estudo sobre a divulgação da informação financeira governamental nos países do MERCOSUL, Caba Pérez e López Hernández (2003) afirmam que, através da análise da prestação de contas do governo central uruguaio no ano de 2000, é possível perceber que a informação financeira divulgada se resume unicamente à execução orçamental e à liquidez, negligenciando a divulgação, por exemplo, de um balanço patrimonial propriamente dito ou de uma demonstração dos resultados da entidade.

Não obstante a falta de transparência percebida por Caba Pérez e López Hernández (2003) no governo central uruguaio, há que se registar a existência de normas específicas que orientam a elaboração de informação financeira no setor público (incluindo os governos locais), como é o caso do Texto Ordenado de Contabilidade e Administração Financeira (TOCAF), que foi recentemente atualizado pela Lei 18.834 (2011) e pelo Decreto 150 (2012). O anexo II do TOCAF traz em seu Título IV, artigo 128º, a necessidade de prestação de contas por parte das entidades públicas ao Tribunal de Contas contendo a seguinte informação financeira: a) em matéria orçamental: os montantes de receitas e despesas estimados, suas alterações e os efetivamente executados; b) em matéria financeira: as entradas e saídas de recursos financeiros, classificados por financiamento e destino, correspondendo ou não à execução orçamental; c) em matéria patrimonial: o registo dos ativos e passivos, da dívida pública, dos bens patrimoniais entre outros.

Apesar das orientações e exigências legais trazidas no bojo do TOCAF, de acordo com Caba Pérez e López Hernández (2003), o governo central do Uruguai não chega a divulgar em sua Conta Geral praticamente nenhuma informação relacionada com a situação financeiro-patrimonial.

Há que se registrar a existência, no âmbito jurídico do Uruguai, da Lei 18.381 (2008), conhecida como Lei de Direito ao Acesso à Informação Pública. O artigo 5º desta lei estabelece que os órgãos públicos deverão divulgar de forma permanente, através dos seus respetivos websites, no mínimo, a seguinte informação financeira: a) informação sobre o orçamento aprovado; b) informação sobre a execução orçamental; c) resultados das auditorias realizadas pelos órgãos de controlo.

No entanto, os órgãos públicos sujeitos a esta lei parecem não a ter, de imediato, cumprido. Segundo o estudo realizado pelo Centro de Arquivos e Acesso à Informação

Pública, no primeiro ano de vigência da Lei 18.381 (2008), as respostas dos organismos públicos à obrigação de prestar informação aos cidadãos ainda foram muito pobres (CAInfo, 2011).

Para melhorar esse quadro, a Unidade de Acesso à Informação Pública (UAIP), órgão responsável pela promoção da transparência no governo uruguaio, ligado à Agência de Governo Eletrónico e Sociedade da Informação (AGESIC) e criado com base no artigo 19º da referida lei, por meio da Presidência da República, publicou o Decreto 484 (2009), o qual visa estimular os gestores públicos a cumprirem o que rege o artigo 5º da Lei de Acesso à Informação Pública, no sentido de realizarem uma autoavaliação nos seus respetivos websites, para verificar se esta ferramenta eletrónica está, de facto, permitindo o acesso do cidadão à informação pública.

Outra medida tomada pela Presidência da República uruguaia foi a publicação do Decreto 232 (2010), que regulamenta a Lei de Direito ao Acesso à Informação Pública. O artigo 38º estabelece as normas para criação dos websites governamentais e para a divulgação da informação pública através destes. Dentre a informação pública de divulgação obrigatória encontra-se a informação orçamental, devendo a entidade divulgar através do seu website o orçamento aprovado, execução orçamental, balanços e demais demonstrações financeiras e auditorias realizadas nessas demonstrações.

É possível perceber, portanto, que o governo uruguaio tem envidado esforços no sentido de aumentar a transparência dos órgãos do setor público, especialmente no que tange à utilização dos meios eletrónicos para a divulgação da informação de caráter público, que inclui a informação financeira.

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