• Nenhum resultado encontrado

Pesquisas que tratam de escolhas contábeis, e especificamente as que trabalham com gerenciamento de resultados, como por exemplo, Perlingeiro (2009), Paulo (2007), Rodrigues (2006), Silveira (2006) testaram diversas variáveis, dentre as quais destacamos as relacionadas a níveis de governança corporativa, programas de bônus para administradores e impostos, sendo essas três últimas motivadas pelas questões levantadas por Watts e Zimmerman (1986), já discutidas anteriormente. A seguir, apresentamos uma breve descrição das variáveis que são testadas neste trabalho.

25

2.6.1 Níveis diferenciados de Governança Corporativa

Dado o problema de agência, a governança corporativa é definida de forma genérica, como mecanismos ou princípios que governam o processo decisório dentro de uma empresa (CARVALHO, 2002, p.19). Andrade et al (2007, p.138), afirmam que os processos e os objetivos de alta gestão que se observam nas corporações podem ser reunidos em quatro grupos: guardiã de direitos das partes com interesses em jogo nas empresas; sistema de relações pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas; estrutura de poder que se observa no interior das corporações e; sistema normativo que rege as relações internas e externas das companhias.

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), órgão criado no Brasil com a principal meta de contribuir para otimizar a governança corporativa nas empresas, apresenta a seguinte definição:

Governança Corporativa é o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários, Conselho de Administração, Diretoria e órgãos de controle. As boas práticas de Governança Corporativa convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para sua longevidade. (IBGC, 2009, p.19)

De acordo com Carvalho (2003), diante da importância de uma boa governança corporativa para o desenvolvimento do mercado de capitais, os mecanismos de adesão voluntária aparecem como uma alternativa mais factível, uma vez que normas legislativas para o aumento dos direitos dos minoritários sempre encontram sérios obstáculos políticos.

O Novo Mercado, criado em 2000 como um segmento especial de listagem no mercado principal da Bovespa é um exemplo desse tipo de mecanismo voluntário.

Inicialmente devido à magnitude das mudanças necessárias para adesão, principalmente no que tange a composição do capital das empresas, o Novo Mercado foi visto com grande receio por alguns emissores e intermediários. Santana (2008, p.11) afirma que para garantir que as companhias, principalmente já listadas, tivessem um caminho a percorrer em direção ao patamar de governança corporativa demandado pelos investidores, foram criados dois níveis intermediários entre o mercado tradicional da Bovespa e o Novo Mercado, os Níveis Diferenciados de Governança Corporativa 1 e 2 para que funcionem como degraus, facilitando a adaptação gradual das companhias já listadas nos casos em que a migração direta para o nível máximo não seja considerada viável.

Segundo Aguiar et al, (2004) buscou-se por meio do lançamento do Novo Mercado e dos Níveis Diferenciados de Governança Corporativa 1 e 2, dar maior transparência ao mercado de capitais como forma de atrair investidores e, por conseguinte, aumentar o volume de transações. A expectativa era de que empresas que se adaptassem às novas regras teriam melhores preços por suas ações e, como consequência, maior retorno sobre o patrimônio líquido, além de, ao longo do tempo terem custos de captação reduzidos.

Cardoso (2005) investigou se a intensidade dos accruals é diferente para empresas cujos níveis de governança corporativa é certificado pela Bovespa em comparação as que não são. O período analisado compreendeu observações entre 1997 e 2004. Os resultados sugerem que a diferença não é estatisticamente significante surgindo assim à necessidade de refletir sobre os incentivos e contra-incentivos exercidos sobre o mercado de capitais sobre os diferentes grupos de empresas, com relação às escolhas contábeis.

27

Em um estudo empírico com companhias abertas brasileiras no período entre 2003 e 2004, Ramos et al (2006) investigaram se “boas” práticas de governança corporativa minimizam o gerenciamento de resultados. Os resultados indicam que as empresas do novo mercado, níveis 1 e 2, apresentam uma menor variabilidade dos

accruals discricionários quando comparada àquelas que não aderiram aos

programas.

Silveira (2006) não verificou evidências, com uma amostra compreendendo o período de 1995 a 2004, de que companhias abertas listadas nos níveis 1 e 2 de governança corporativa na Bovespa, que remuneram seus administradores por meio de opções de ações, apresentam evidências de maiores níveis de gerenciamento de resultados.

A presente pesquisa verificou se empresas com níveis de governança corporativa diferenciada: Novo Mercado, Níveis 1 e 2, apresentam comportamento semelhante na escolha contábil exercida sobre o saldo remanescente do diferido no balanço de 2008. A expectativa é que esse grupo de empresas tenha maior incentivo a facilitar a comparabilidade entre seus números contábeis com o de empresas internacionais, optando pela baixa do saldo do diferido, e assim, reduzindo as divergências de tratamento contábil.

2.6.2 Participação de administradores nos lucros.

Conforme discutido, autores como Watts e Zimmerman (1986, p. 208) assim como Hendriksen et al (2009, p. 143) afirmam que administradores recompensados com base nos resultados, possuem elevado incentivo claro para aumentar esse

número contábil, seja manipulando as regras de cálculo ou ainda escolhendo as regras que lhes favoreçam.

No caso específico da baixa do saldo do diferido, não há impacto imediato no lucro contábil do exercício de 2008, uma vez que qualquer que seja a opção, baixar contra lucros ou prejuízos acumulados, ajustando ao patrimônio líquido ou manter até o final da amortização não transita pelas contas de resultado. A diferença está no impacto positivo que o resultado sofrerá nos exercícios seguintes, uma vez que a amortização do saldo diferido, para empresas que baixaram diretamente no patrimônio líquido não continuará existindo. Dessa forma, espera-se que empresas que remuneram seus administradores com base no lucro contábil, sejam incentivadas a efetuar a baixa do saldo do diferido, aumentando assim o resultados dos períodos seguintes onde ocorreria a amortização.

2.6.3 Emissora ou não de American Depositary Receipt (ADR)

Lopes e Tukamoto (2007) estudaram o gerenciamento de resultados comparando companhias abertas brasileiras emissoras de ADR‟s e não emissoras de ADR‟s. Os resultados encontrados pelos autores não apresentaram médias estatisticamente significantes que indicasse diferenças no nível de “gerenciamento” de resultados entre demonstrações de companhias emissoras de ADR‟s e das companhias não emissoras de ADR‟s.

Silveira et al (2004) afirmam que a submissão a estruturas regulatórias necessárias a adequação às práticas de governança corporativa exigidas pela

Securities and Exchange Commission (SEC) para o lançamento de títulos de

29

da empresa. Considerando que tais empresas possuem suas demonstrações publicadas em BRGAAP e, com o lançamento de ADR, publicadas também em USGAAP, a comparação entre os resultados fica mais evidente, semelhante ao caso já citado da Daimler-Benz no lançamento de ADR. Assim, como o grupo diferido inexiste nas normas americanas, empresas emissoras de ADR‟s seriam incentivadas a baixar o saldo desse grupo, fazendo com que o tratamento contábil seja o mesmo (não reconhecido como ativo) independente da norma contábil de cada país.

2.6.4 Auditoria

Almeida et al (2007) investigaram a relação entre empresas de capital aberto auditadas pelas consideradas BigFour (Deloitte Touche Tohmatsu, Ernst & Young, KPMG e PricewaterhouseCoopers) e demais empresas de auditoria possuem diferença significante nos accruals discricionários das firmas auditadas. Os resultados encontrados sugerem que empresas auditada pelas BigFour possuem menor grau de accruals discricionários em relação as demais, sugerindo a capacidade para mitigar práticas de earnings management.

Azevedo e Costa (2008) verificaram o efeito da mudança da firma de auditoria no gerenciamento de resultados das companhias abertas brasileiras. Os resultados do trabalho sugerem que não é possível afirmar que sempre que exista troca da firma de auditoria há necessariamente redução no nível de gerenciamento de resultados nas empresas brasileiras. Com tudo, Azevedo (2007) verificou evidências estatisticamente significantes de que a troca da firma de auditoria diminuiu o nível de gerenciamento de resultados das empresas brasileiras.

Com a afirmação de que os escândalos contábeis ocorridos no mercado internacional ocasionaram uma crescente valorização das práticas de governança corporativa, destacando entre elas o fortalecimento do papel do Conselho de Administração e a reformulação dos serviços das empresas de auditoria independente, Martinez (2008) investigou como as características do Conselho de Administração e da firma de auditoria independente estão correlacionadas com a propensão para a prática de earnings management no Brasil. Os resultados encontrados pelo autor indicaram uma maior permissividade das empresas de auditoria nacionais à prática de earnings management, em relação as de origem internacional.

Identificando fatores internos e externos à empresa que influenciam a prática do gerenciamento de resultados inibindo-o ou estimulando-o, Lopes e Tukamoto (2007) apresentaram em quadro que a qualidade da auditoria inibe essa prática.

A qualidade da auditoria, representada pelo tamanho e a especialização da empresa de auditoria (participação do auditor na indústria e a participação da indústria na carteira de clientes do auditor), quesitos que convergem para as chamadas BigFour, atuam como fator inibidor do gerenciamento.

Espera-se nesta pesquisa que o comportamento das empresas auditadas pelas consideradas BigFour, seja diferente do comportamento de empresas auditadas pelas demais firmas de auditoria.

2.6.5 Tamanho do diferido

Watts e Zimmerman (1986) afirmam que a evidenciação das informações nas grandes empresas, causadas por sua visibilidade, podem resultar em custos políticos potenciais. Altos lucros, por exemplo, podem chamar desfavorável atenção de órgãos reguladores, entidades de classe, imprensa, entre outros.

31

Neste trabalho, considera-se a variável tamanho do diferido medido pela divisão do saldo passível de escolha contábil dividido pelo ativo total da empresa, pois entendeu-se que dependendo de sua expressividade, a escolha contábil adotada traria maiores impactos nos números contábeis. Devido ao impacto da escolha, espera-se que quanto maior o saldo maior o incentivo para que as empresas optassem por mantê-lo até o final da amortização.

2.6.6 Reavaliação de Bens do Ativo Imobilizado

Outra alteração importante introduzida com a implantação da Lei 11.638/2007 foi a eliminação da reavaliação espontânea de bens. O tratamento contábil dado ao saldo da reserva de reavaliação, conforme o pronunciamento técnico CPC 13, é semelhante ao tratamento dado ao saldo do ativo diferido.

A pesquisa realizada por Schvirck et al (2008) buscou identificar o perfil econômico das empresas que fazem reavaliação de ativos e de empresas que não adotam tal prática. A conclusão do autor é que empresas que não fazem reavaliação possuem melhores indicadores econômico-financeiros do que empresas que fazem reavaliação do seu ativo imobilizado. Os resultados da pesquisa de Schvirck (2006) sobre as práticas da reavaliação no Brasil apontam para indícios do uso especulativo da reavaliação, em situações onde a empresa beneficia-se com o procedimento.

Uma vez que empresas que reavaliam o seu ativo imobilizado o fazem de forma a aumentar o valor desse grupo, espera-se que empresas que adotam tal prática optem por manter o saldo do ativo diferido. Para efeito de amostragem foram

selecionadas as empresas que possuíam saldo na conta de reserva de reavaliação no ano imediatamente anterior (2007).

2.6.7 Endividamento

A proporção entre o uso de capital de terceiros e o uso de capital próprio na estrutura de financiamento é dada por uma série de fatores internos e externos à empresa. Silva (2008), analisou as determinantes e as consequências econômicas das escolhas das práticas contábeis sob a ótica da hipótese dos Covenants Contratuais. Os resultados sugerem que não existem evidências significativas de mudanças de práticas voluntárias oportunistas para evitar a violação dos covenants contábeis e que os administradores adotam ações reais que impactam o fluxo de caixa da companhia.

Watts e Zimmerman (1986) definem a hipótese de endividamento no sentido que, quanto maior o nível de endividamento (divida/patrimônio líquido) da companhia, maior a probabilidade do administrador fazer escolhas contábeis que transfiram resultados de períodos futuros para o período corrente.

Espera-se, de modo geral, que quanto maior a relação de endividamento (dívida/patrimônio líquido) menor a possibilidade da escolha contábil por baixar o saldo restante do ativo diferido. Essa escolha faria com que o indicador de endividamento apresentasse um resultado pior se comparado ao obtido com a escolha de manter o diferido até o final da amortização.

Documentos relacionados