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Um “arquivo de arquivos”.

No documento ESPAÇOS E PODERES NA EUROPA URBANA MEDIEVAL (páginas 105-112)

Multiform signs of identity: the medieval urban elites family archives.

3. Um “arquivo de arquivos”.

Com foi dito acima, o ALB é constituído por milhares de documentos produzidos, conservados e tornados em “arquivo” por diversos grupos familiares, entre os séculos XIV e XX. Só através da sua inventariação sistemática pudemos identificar a documentação referente a um vasto conjunto de famílias pré-modernas pertencentes às elites de várias localidades portuguesas como Monção, Ponte de Lima, Guimarães, Lisboa e Porto, que até então conhecíamos de outros fundos depositados em arquivos nacionais, distritais, municipais. Estes não eram, no entanto, os documentos que foram produzidos e conservados pelos seus produtores ou destinatários e pelos seus familiares ao longo de séculos: os arquivos familiares. É precisamente sobre estes últimos que a arquivística e alguns historiadores têm vindo a chamar a atenção nos últimos anos, num movimento que é conhecido pelo tournant documentariste, sendo um dos seus principais percursores Joseph Morsel20. Esta nova perspectiva de olhar os arquivos tem sido aplicada, entre outras,

pelas historiografias francesa21, espanhola22 e pela portuguesa23, com o objectivo

de “estudar a produção informacional das instituições e a sua transformação em 18 Como os da Casa de Bragança, Condes de Povolide, Casa de Melo, entre tantos outros. PÁSCOA,

Marta – O códice 702. Um cartulário de D. Jaime de Bragança. S. l.: Fundação Casa de Bragança, 2015, pp. 53- -57; RODRIGUES, Abel; SILVA, Armando Malheiro da – “A criação das Gavetas na Casa de Mateus: um modelo iluminista de gestão da informação”. In ROSA, Maria de Lurdes (Org.) – Arquivos de Família, séculos XIII-XX..., pp. 614-617.

19 COELHO, Maria de Fátima – “O instituto vincular, sua decadência e morte: questões várias”.

Análise Social. Lisboa. Vol. XVI, Nº 61-62, (1980), pp. 111.

20 MORSEL, Joseph – “Du texte aux archives: le problème de la source”. Bulletin du Centre d’Études

Médiévales d’Auxerre. BUCEMA [Em linha]. Hors-série n.º 2, (2008), pp. 1-26.

21 Défendre ses droits, construire sa mémoire. Les chartriers seigneuriaux XIIIe-XXIe siècle. Actes du

Colloque International de Thouars (8-10 Juin 2006). Paris: Société de l’Histoire de France, 2010.

22 GARCÍA ASER, Rosario; LAFUENTE ÚRIEN, Aránzazu – Archivos Nobiliarios, cuadro de

clasificación. Sección Nobleza del Archivo Histórico Nacional. Madrid: Ministerio de Educación, Cultura y Deporte, 2000.

23 ROSA, Maria de Lurdes – “Problemáticas históricas e arquivísticas actuais para o estudo dos

arquivos de família portugueses (Épocas medieval e moderna)”. Revista de História da Sociedade e da Cultura. Coimbra. Vol. 9, (2009), pp. 9-42; SILVA, Armando Malheiro da – “Arquivos de Família e Pessoais. Bases teórico-metodológicas para uma abordagem científica”. Arquivos de Família e Pessoais: Seminário. Vila Real: APBAD, 1997, pp. 51-106.

documentos e arquivos, na História, tendo em conta a produção de informação social em contexto, a sua “documentalização”, as [...] “práticas arquivísticas” [...] complementando estes com informações reunidas em fontes diversas sobre aqueles aspetos; caracterizando historicamente as instituições e construindo modelos de cariz orgânico para o tratamento da documentação existente; analisando a forma como arquivavam e usavam a informação arquivada, e conferindo-lhe importância social; contextualizando estas práticas e interpretando o seu significado; seguindo todo o percurso da informação e compreendo as mutações a que o tempo a sujeitou”24, perspectiva de investigação que tem dado origem a diversos estudos25.

Partindo do corpus documental do ALB, procurámos traçar o percurso social das famílias nele presentes, o qual foi caracterizado, genericamente, por uma ascensão social progressiva, particularmente impulsionada pelo serviço à corte26

e a grandes casas senhoriais, como a dos Duques de Bragança e Viseu ou, ainda, aos orgãos de poder camarário27; por estabelecerem laços matrimoniais entre

elementos de famílias da mesma origem social28 ou da mesma área geográfica,

o que contribuiu para reforçar e alargar redes de poder; pelo investimento dos seus rendimentos na aquisição de património fundiário, quase sempre nas imediações dos seus locais de residência ou de implantação vincular, o que lhes ofereceu importantes acrescentos aos bens de raiz, engrossando a riqueza familiar, transmitida por via de dote ou herança29 e ainda, por terem adoptado o

24 ROSA, Maria de Lurdes – “Reconstruindo a produção, documentalização e conservação da

informação organizacional pré-moderna. Perspetivas teóricas recentes e proposta de percurso de investigação”. Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra. Coimbra. Vol. XXX, (2017), p. 550.

25 De entre os quais destacamos os trabalhos em Arquivística Histórica de NÓVOA, Rita Luís

Sampaio da – O Arquivo Gama Lobo Salema e a produção, gestão e usos dos arquivos de família nobre nos séculos XV-XVI. Lisboa: FCSH-UNL, 2016. Dissertação de Doutoramento em História – especialização em Arquivística Histórica, policopiada; e de SOUSA, Maria João d’Orey de Figueiredo Cabral da Câmara Andrade e – O Arquivo da Casa de Belmonte, séculos XV-XIX: Identidade, gestão e poder. Lisboa: FCSH-UNL, 2017. Dissertação de Doutoramento em História – especialização em Arquivística Histórica, policopiada.

26 Como Duarte Pacheco Pereira, ver: CARVALHO, Andreia Martins de; PINTO, Pedro – “Da caça

de Mondragón à guarda do Estreito de Gibraltar (1508-1513): Os guardiões da memória de Duarte Pacheco Pereira e a economia da mercê nos séculos XVI-XVII”. Anais de História de Além Mar. Lisboa. Vol. XIII, (2012), pp. 221-332.

27 Sobretudo na vereação da cidade. Sobre o papel dos vereadores veja-se: COSTA, Adelaide Lopes

Pereira Millan da – “Vereação” e “Vereadores”. O governo do Porto em finais do século XV. Porto: Câmara Municipal, 1993; MACHADO, Maria de Fátima – O central e o local. A vereação do Porto de D. Manuel a D. João III. Porto: Afrontamento, 2003.

28 Situação que encontra paralelo noutras famílias portuenses. RAU, Virgínia – “Os Brandões do

Porto. Uma fortuna do século XV”. Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Porto. Vol. XXII, fasc. 3-4 Set. Dez., (1959), pp. 654-684; BRITO, Pedro de – Patriciado urbano quinhentista: as famílias dominantes do Porto (1500-1580). Porto: Câmara Municipal e Arquivo Histórico, 1997.

29 A doação ou herança de uma propriedade era frequentemente acompanhada da documentação

com ela relacionada, como nos refere Pero Vaz da Praça, escudeiro em Monção, no seu testamento em 1500: “e Mando ao dito meu ireo e testamenteiro que depois que Eu faleçer da vida prezente que elle com Grimaneza Pereyra minha mulher, e com os juizes desta dita villa, e com dous ou tres homens bons, e com Françisco de pias Tabalião fação inventario de todas as escrituras que estão em minha caza, e as que

modelo reprodutivo vincular, na sequência da evolução e posterior consolidação da posição social adquirida.30 Este processo originou um crescimento do volume

documental (contratos de compra, venda, emprazamento e autos de posse de propriedade, assim como mercês, dotes ou contratos matrimoniais, instituição vincular, testamentária) o que levou à necessidade de criação de mecanismos de controle da informação, uma vez que os documentos eram utilizados como provas de posse, defesa de direitos, partilhas de bens, habilitação a heranças e morgadios, em suma, utilizados na gestão do património e da casa, pelo que era necessário acesso e recuperação facilitada dos mesmos.31 Assim, a partir do século XVI, a

fundação de morgadios levou a que o descendente nomeado para os herdar, enriquecer e gerir tivesse particular atenção na preservação da documentação (e logo à partida dos documentos (re)fundacionais de morgadios, originais ou cópias) pelo que a elaboração de inventários constituiu uma etapa fundamental na estruturação das famílias das elites iniciada no referido século com a “criação dos institutos vinculares e sobretudo no contexto político saído da Restauração –, e que contribui de forma determinante para a consolidação do conceito de Casa que começou a emergir em Setecentos”32. Verificamos, por isso, que a produção de

registos escritos e a sua arquivagem constituíram uma prática comum às famílias aqui em estudo, conscientes do seu valor probatório, administrativo33 mas também

pertençerem aquelles que eu feito tenho algumas Duaçoens de meus bens lhas emtreguem para sua goarda e outras que a mi pertencerem goardara o ditto meu ireo e testamenteiro”. ALB, ALB, Enc., cx. 32, cap. 2.

30 Numa fase inicial, a herança foi distribuída pela totalidade dos membros do grupo familiar, não

distinguindo filhos primogénitos de secundogénitos, a partir do momento em que a posição social das famílias adquiriu certa dimensão, estas passaram a valorizar a transmissão do património em torno de um só sucessor. CUNHA, Mafalda Soares da e MONTEIRO, Nuno Gonçalo – “Aristocracia, poder e família em Portugal, séculos XV-XVIII”. In CUNHA, Mafalda Soares da; HERNÁNDEZ FRANCO, Juan (Org.) – Sociedade, família e poder na Península Ibérica. Elementos para uma História Comparativa. Lisboa: Edições Colibri / CIDEHUS, Universidade de Évora / Universidade de Múrcia, 2010, p. 65; MONTEIRO, Nuno Gonçalo – “Trajectórias sociais e formas familiares: o modelo de sucessão vincular”. In JIMÉNEZ, Francisco Chácon; FRANCO, Juan Hernandez (Eds.) – Familia, poderosos y oligarquías. Murcia: Universidad de Murcia, 2001, pp. 19, 33.

31 ROSA, Maria de Lurdes – “Os espelhos e os seus outros lados. Inventários e gestão da informação

documental do Viscondado de Vila Nova de Cerveira/ Marquesado de Ponte de Lima e família Brito- -Nogueira, séculos XV-XIX”. In ROSA, Maria de Lurdes (Org.) – Arquivos de Família, séculos XIII-XX..., pp. 580-582; BORJA DE AGUINAGALDE, Francisco – Archivos de Familia y Archivos domésticos Treinta años de experiencias. [s. l.]: Edição de autor, 2013, p. 27; DE VIVO, Filippo – “Ordering the archive in early modern Venice (1400-1650)”. Archival Science. [Em linha]. Vol. 10, n.º 3, (2010), pp. 231-248; GÓMEZ VOZMEDIANO, Miguel F. – “Archivos nobiliarios españoles: pasado, presente y ¿futuro? Tipología documental e investigación modernista”. In ANDÚJAR CASTILLO, F.; DÍAZ LÓPEZ, J. P. (Coord.) – Los señoríos en la Andalucía Moderna. El Marquesado de los Vélez. [Almería]: Instituto de Estudos Almerienses, 2007, p. 137; HEAD, Randolph C. – “Mirroring Governance: Archives, Inventories and Political Knowledge in Early Modern Switzerland and Europe”. Archival Science. [Em linha]. Vol. 7, n.º 4, (2007), p. 320.

32 RODRIGUES, Abel; SILVA, Armando Malheiro da – “A criação das Gavetas...”, p. 614.

33 Como o livro de contas que Pantaleão Carneiro deu aos filhos órfãos de sua irmã Brites Carneira

ou outro de apontamento de foros, datados de 1535-1543. BNP, ALB, Enc., pac. 17, mç. 94, cx. 17A, cap. 1; Roma, pac. 82, n.º 095 (5-8), cx. 82III, cap. 6, doc. 12.

de memória34, constituindo um sinal identitário das elites, assim como o são a

onomástica e a heráldica35, ou a tumulária36.

Tendo em linha de conta as premissas acima elencadas, de entre as várias famílias representadas no acervo, destacámos três pertencentes à elite portuense: as famílias Machucho, Valadares Carneiro e Delgado (Fig. 1).

4. Os Machucho.

Considerámos a família Machucho a partir do casamento de João Geraldes Machucho, contador da cidade do Porto durante o reinado de D. João I37, com

Leonor Vasques (m. 142338). Em 1401, João Geraldes escambou com a câmara do

Porto um pedaço de terra fora da porta do Olival para que nele fosse construído uma praça e uma rua39. Em troca a câmara deu-lhe um serrado junto ao olival40,

para que nele pudesse fazer umas casas. Tendo tomado posse do terreno, João Geraldes pediu ao tabelião que lhe desse um “estromento” desse contrato41, o qual

34 São vários os autores que chamam a atenção para a importância da conservação organizada

dos documentos na formação e imposição sociológica dos grupos sociais. MORSEL, Joseph – “En guise d’introduction: les chartriers entre ‘retour aux sources’ et déconstruction des objets historiens”. Défendre ses Droits, Construire sa Mémoire. Les Chartriers Seigneuriaux XIIIe-XXIe siècle. Actes du Colloque International

de Thouars (8-10 Juin 2006). Paris: Société de l’Histoire de France, 2010, pp. 17-18; MORSEL, Joseph – “Sociogenèse d’un patriciat: La culture de l’écrit et la construction du social à Nuremberg vers 1500”. Histoire Urbaine. Paris. Vol. 35, (Décembre 2012), pp. 83-106; NAVARRO BONILLA, Diego – La imagen del archivo. Representación y funciones en España (siglos XVI y XVII). Gijón: Trea, 2003, pp. 62-64; COELHO, Maria Helena da Cruz – “A escrita no mundo urbano”. História (São Paulo). São Paulo, Vol. 34, Nº 1, (2015), p. 27.

35 Vejam-se: SOUSA, Bernardo Vasconcelos e – “Identidade e auto-representação da nobreza medieval

portuguesa (séculos XIII-XV). In Actas do 3º Congresso Internacional Casa Nobre – Um património para o futuro. Arcos de Valdevez: Município de Arcos de Valdevez, 2013, pp. 27-33; MORSEL, Joseph – “En guise d’introduction: les chartriers…”, p. 22. No que se refere à heráldica, Miguel Metelo de Seixas afirma que as manifestações heráldicas, como os arquivos, serviram “cada qual a seu modo, como instrumentos de construção, renovação, confirmação e manutenção da identidade e da memória pessoal e familiar”. SEIXAS, Miguel Metelo de – “A heráldica e os arquivos de família: formas de conservação e gestão da memória”. In ROSA, Maria de Lurdes (Org.) – Arquivos de Família, séculos XIII-XX..., p. 456.

36 A título de exemplo podemos referir os vários os elementos da família Carneiro sepultados na Sé

do Porto, na Igreja de S. Francisco e na Misericórdia da mesma cidade. ROSAS, Lúcia Maria Cardoso – “A fundação de capelas no Convento de S. Francisco do Porto: devoção e memória”, in Os Franciscanos no mundo português. III. O legado franciscano. Actas do VI seminário internacional Luso-Brasileiro (Ponte de Lima, 4 a 6 de outubro de 2012). Porto: CEPESE, 2013, pp. 464-465.

37 BRITO, Pedro de – Patriciado urbano quinhentista..., p. 80.

38 João Geraldes foi ainda casado com Inês Sanches (fl. 1401) e Isabel Vasques (fl. 1431). BNP, ALB,

Enc., cx. 42, cap. 6; Roma, pac. 83, n.º 099, cx. 83III, cap. 1, doc. 3; Roma, cx. 104, cap. 4; “Vereações”. Anos de 1401-1449. Porto: Câmara Municipal do Porto, 1980, p. 59.

39 BNP, ALB, Enc., cx. 42, cap. 6. O documento refere que o mesmo terreno esteve prometido a Mestre

Moisés para servir de cemitério a judeus. O contrato de escambo vem referido na acta de vereação de 10 de Dezembro de 1401. “Vereações”. Anos de 1401-1449…, pp. 58-61.

40 “junto ao muro que vai da rua direita da judiaria para o muro junto ao campo”. BNP, ALB, Enc.,

cx. 42, cap. 6.

se encontra no ALB. Anos mais tarde sabemos que o contador do rei, então já viúvo de Leonor Vasques, sua segunda mulher, tinha uma casa na Rua de Congostas, foreira à albergaria de Rocamador42. A casa pertencera a Leonor e ao seu primeiro

marido, o mercador João Sousa, o qual, por sua vez, a tinha comprado ao Mosteiro de Vairão em 138943. Entre 1403 e 1421 a casa esteve emprazada a Afonso Eanes,

cambador44. Nesta época confrontava com o hospital de Martim de Barcelos,

42 Sobre a propriedade urbana deste hospital, veja-se DUARTE, Luís Miguel – “Para o estudo do

mercado imobiliário do Porto: o Tombo do Hospital de Rocamador de 1498”. In RIBEIRO, Maria do Carmo e MELO, Arnaldo Sousa (Coord.) – Evolução da paisagem urbana. Transformação morfológica dos tecidos históricos. Braga: CITCEM e IEM, 2014, pp. 167-182.

43 O casal estava casado em 1403 – BNP, ALB, Roma, pac. 83, n.º 099, cx. 83III, cap. 1, doc. 2. 44 BNP, ALB, Roma, pac. 83, n.º 099, cx. 83III, cap. 1, doc. 4.

com eixido de Vasco de Cubas , com rua pública e com casa de Diogo Gomes, o qual toma o seu emprazamento em 143145. Nessa data as confrontações referem a

albergaria do Salvador, a viela que ia para a mesma, a rua pública por diante e por trás o rio da vila.

João Geraldes e Leonor Vasques tiveram três filhos46: Senhorinha Anes (m.

145347), casada com João Gonçalves, alcaide pequeno do Porto48; Leonor Anes,

casada com Gil Carneiro49 e João Anes Machucho, casado com Maria de França.

Do património imobiliário de Senhorinha Anes, viúva à data de sua morte, sabemos que foi partilhado entre os seus irmãos e que era constituído por um casal em Josim, lugar da freguesia de Guifães, e no Porto por uma casa na Rua Chã50 e

uma cavalariça na Cividade51.

De Leonor Anes e Gil Carneiro falaremos mais adiante quando analisarmos a família Carneiro. Quanto a João Eanes Machucho, mercador e escudeiro do Infante D. Pedro 52, selador dos panos da Alfândega do Porto53, residia em 1474, com sua

mulher, Maria de França54, na Rua Chã, rua onde tinha mais umas casas55. Para

além destas, possuía outras na Rua da Porta do Olival, campo e rossio no Olival, junto à Judiaria, na Praça e Rua de S. Miguel, das quais fez carta de partilhas em 1460 com a Câmara do Porto56 e ainda uma casa na Rua de Congostas, das quais

45 BNP, ALB, Roma, pac. 83, n.º 099, cx. 83III, cap. 1, doc. 3.

46 Segundo Pedro de Brito o casal João Geraldes e Leonor Vasques teve ainda uma outra filha, Inês

Anes, que casou com João Afonso, o qual herdou o cargo de contador do rei como dote. BRITO, Pedro de – Patriciado urbano quinhentista..., p. 80.

47 BNP, ALB, Enc., cx. 1, cap. 3 e cx. 51B, cap. 1 (duas cópias em pergaminho). 48 BNP, ALB, Roma, pac. 70, n.º 049, cx. 70A, cap. 3.

49 Ver adiante a biografia da família Carneiro.

50 A Rua Chã, também conhecida por Rua Chã das Eiras, ficava entre a Porta da Vandoma da primitiva

cerca e a Rua de Cimo de Vila. SILVA, Francisco Ribeiro da – O Porto e o seu termo (1580-1640). Os homens, as instituições e o poder. Porto: Câmara Municipal, 1988, vol. I, p. 84.

51 BNP, ALB, Enc., cx. 1, cap. 3 e cx. 51B, cap. 1.

52 COSTA, Adelaide Lopes Pereira Millan da – “Vereação” e “Vereadores”..., pp. 143-144. 53 BNP, ALB, Roma, cx. 70, cap. 3.

54 Maria de França era irmã de João de França, morador na Rua Nova, picheleiro, mercador e escudeiro

do rei, o qual desempenhou vários cargos na vereação do Porto entre 1460 e 1488. Eram filhos de Mestre Janim Berim, judeu, picheleiro, vereador entre os anos de 1429-1459 e de Maria Anes, sua segunda mulher (fora casado em primeiras núpcias com Catarina Rodrigues, filha de Mestre Rogel, sapateiro). Arquivo Histórico Municipal do Porto, Pergaminhos, liv. IV, doc. 2 e 57; COSTA, Adelaide Lopes Pereira Millan da – “Vereação” e “Vereadores”..., p. 148; COSTA, Adelaide Lopes Pereira Millan da – Projecção espacial de domínios das relações de poder ao burgo portuense (1385-1502). Lisboa: Universidade Aberta, 1999, Tese em Ciências Sociais e Humanas, policopiada, p. 672; DUARTE, Luís Miguel – Justiça e criminalidade no Portugal medievo 1459-1481. Vol. 1. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 1993. Dissertação de Doutoramento em História da Idade Média, policopiada, p. 219; MELO, Arnaldo Rui Azevedo de Sousa – Trabalho e Produção em Portugal na Idade Média: O Porto, c. 1320 – c. 1415. Braga: Universidade do Minho, 2009. Tese de Doutoramento em História – Área de Conhecimento Idade Média, policopiada, vol. I, p. 261, vol. II, pp. 160-161; SANTOS, Maria Helena Pizarro Paula – A rua nova do Porto (1395-1520): sociedade, construção e urbanismo. Porto: Faculdade de Letras do Porto, 2010. Dissertação em História Medieval e do Renascimento, pp. 120, 123, 124, 125.

55 BNP, ALB, Roma, cx. 70, cap. 3. 56 BNP, ALB, Enc., cx. 42, cap. 6.

fez emprazamento em 1469. Ao casal pertenciam ainda umas casas na Ribeira do Porto, na Rua da Lada, ao pé da mancebia57, que foram emprazadas por Maria de

França em 1494. O casal teve quatro filhos: Brites Anes de França, casada com Fernão de Valadares, Isabel de França58; João de Barros59 e Pero Anes Machucho60,

chantre da Sé do Porto61.

Pelo casamento de sua filha, Brites Anes de França, com Fernão de Valadares, ocorrido cerca de 1480, João Anes Machucho dotou-a com umas casas (de herança) nas Aldas62 e outras foreiras ao Hospital de Rocamador e que se situavam na Rua

das Congostas, nas quais residia, em 1484, João de França, soqueiro63. As casas da

Rua das Congostas partiam com a rua do hospital, como se recolhe de uma carta de emprazamento que Fernão de Valadares fez das mesmas em 149064. Este casal teve

por filho João de Valadares, casado com Ana de Azeredo, como veremos adiante. Pero Anes Machucho teve dois filhos: Helena de Araújo65e António Machucho

(fl. 1504-1538), desembargador da Casa da Suplicação66 e abade de S. Tiago de

Piães67, instituidor de uma capela na Misericórdia do Porto68 e nela sepultado69,

que irá dotar com o seu património: um terço de umas casas onde residia, na Rua Chã70, e uma propriedade em Massarelos, para a qual nomeou por testamenteiro

o seu primo João de Valadares71.

57 BNP, ALB, Enc., pac, 42, mç. 1, cx. 42, cap. 2.

58 Mãe de Maria Nunes, casada com o escudeiro Rui Gramacho e de Florência Dias, freira em Santa

Clara do Porto. BNP, ALB, Roma, cx. 70, doc. 8; BRITO, Pedro de – Patriciado urbano quinhentista..., p. 80.

59 Pai de Filipa de Barros (casada com Paio Correia, escudeiro fidalgo do Marquês de Vila Real) e

de Briolanja Barros (casada com o bacharel Diogo Gonçalves, por sua vez pais de João de Barros, autor da obra “Espelho de casados”). BNP, ALB, Roma, cx. 70, doc. 8; BRITO, Pedro de – Patriciado urbano quinhentista..., pp. 80-81; SILVA, Innocencio Francisco da – Diccionario Bibliographico Portuguez. Vol. X, Lisboa: 1883, p. 189.

60 Pedro de Brito refere um outro Pedro Eanes Machucho, chanceler da correição de Entre-Douro-e-

-Minho, casado com Constança de Azeredo, filha de Álvaro Rodrigues de Azeredo, escudeiro e juiz no Porto em 1464. Estes tiveram uma filha, Inês de Azeredo, casada com Diogo Homem Carneiro e um filho

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