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Os Valadares Carneiro.

No documento ESPAÇOS E PODERES NA EUROPA URBANA MEDIEVAL (páginas 112-121)

Multiform signs of identity: the medieval urban elites family archives.

5. Os Valadares Carneiro.

O primeiro elemento da família documentado no ALB é Fernão de Valadares, escudeiro da casa real, escrivão dos contos76 e companheiro de D. João II numa

campanha militar em África77. Viveu na Rua Chã e foi casado com Brites de França,

filha de João Eanes Machucho e Maria de França, como mencionámos atrás. O filho de ambos, João de Valadares (m. 1542), foi moço de câmara do rei D. Manuel78 e mais tarde cavaleiro fidalgo da casa real79, exerceu vários cargos na

72 Veja-se mapa no final do artigo.

73 José Ferrão Afonso refere várias obras de enobrecimento destas ruas ocorridas durante os séculos

XV e XVI. AFONSO, José Ferrão – A rua das Flores no século XVI. Elementos para a história urbana do Porto Quinhentista. Porto: Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, 2000, pp. 70, 77.

74 Em que viviam alguns elementos da família França, como referimos atrás.

75 MELO, Arnaldo Sousa e RIBEIRO, Maria do Carmo – “Os construtores das cidades de Braga e

Porto (séculos XIV a XVI)”. In MELO, Arnaldo Sousa e RIBEIRO, Maria do Carmo (Coord.) – História da construção – os construtores. Braga: CITCEM, 2011, pp. 117-118 e bibliografia citada.

76 Desde 1486. BNP, ALB, Roma, pac. 58, n.º 001, cx. 58, doc. 1.

77 O mesmo dá conta as ordens régias de embarque de 5 de Maio de 1488 e de 1489. BNP, ALB, Roma,

pac. 58, n.º 001, cx. 58, fl. 555-557; BRITO, Pedro de – Patriciado urbano quinhentista..., p. 76.

78 ANTT, Chanc. D. João III, liv. 39, fl. 63v.

cidade do Porto, como o de escrivão80 e chanceler da correição de Entre-Douro-

-e-Minho81, escrivão de ver o peso82 e recebedor das sisas dos panos da cidade

do Porto83. Para além destes cargos públicos, foi ainda testamenteiro do seu

primo António Machucho. Casou com Ana de Azeredo (m. 1575), filha de Álvaro Rodrigues de Azeredo84 e de Constança Soares. Da propriedade urbana do casal

sabemos que João de Valadares trazia arrendada, entre os anos de 1526-154985, do

Hospital de Rocamador uma casa na Rua de Congostas, e que Ana de Azeredo residia, em 1575, na Rua das Flores, ano em que instituiu uma capela na Sé do Porto86.

O casal teve quatro filhos: o primogénito, Luís de Valadares, feitor em Achem em 154987 e falecido em África onde servia uma comenda88, casou com Vitória

Carneiro89, com a qual teve uma filha, Ana Carneira90; o secundogénito, Álvaro de

Valadares, vereador da câmara do Porto em 157791, tesoureiro da Bula de Cruzada

80 ADP, Convento de S. Francisco, Liv. 1, fl. 63v.

81 Cargo que exerceu após a morte de seu sogro, Álvaro de Azeredo, ocorrida cerca de 1515. ANTT,

Chanc. D. João III, liv. 39, fl. 63-63v, 64v.

82 ANTT, Chanc. D. João III, liv. 39, fl. 64. 83 ANTT, Chanc. D. João III, liv. 39, fl. 63v.

84 Escudeiro, chanceler e contador dos feitos e custas, inquiridor da correição da comarca de Entre-

-Douro-e-Minho, falecido entre 1508 e 1510, ano em que foi nomeado o seu genro João de Valadares nos mesmos cargos. ANTT, Chanc. D. João III, liv. 39, fl. 64v; COSTA, Adelaide Lopes Pereira Millan da – “Vereação” e “Vereadores”..., pp. 127-128

85 BNP, ALB, Roma, cx. 69, cap. 2.

86 O documento refere que nela residia com três criados e um cavalo. BNP, ALB, Roma, pac. 83, n.º 099,

cx. 83III, cap. 2.

87 ANTT, Chanc. D. João III, liv. 55, fl. 169.

88 Em 18 de Abril de 1553, Luís de Valadares encontrava-se em Ceuta onde faleceu num confronto

entre mouros e as tropas de D. Pedro de Meneses, capitão da cidade, também nele falecido. O documento indica erradamente a mulher de Luís como Isabel Carneira, que se encontrava grávida e que o casal tinha já uma filha. Colocava-se a hipótese de que a criança a nascer, se fosse do sexo masculino, receberia os ofícios que o seu pai detinha (chanceler, escrivão e promotor de justiça, inquiridor, contador e distribuidor da comarca e correição da cidade do Porto), nascendo menina, os cargos seriam concedidos ao marido da filha mais velha do casal, já então nascida. No ALB não temos qualquer referência a Isabel Carneira como mulher de Luís de Valadares, o qual casara em 1551 com Vitória Carneiro. O testamento de Ana de Azeredo, de 1575 refere que este fora para África, deixando a sua mulher Vitória com uma filha, e que esta tinha mandado vir da aldeia uma ama e uma moça de serviço, que estiveram na casa da sogra, por 1500 reais durante ano e meio. A dívida não foi paga a Ana de Azeredo, pelo que esta indica no seu testamento que a dívida tem de vir a colação dos bens. BNP, ALB, Roma, pac. 83, n.º 099, cx. 83III, cap. 2; ANTT, Chanc. D. João III, liv. 56, fl. 207.

89 Filha de Francisco da Rua, feitor na Flandres em 1529-1532 e de Isabel Carneira, filha de Vasco

Carneiro, o moço. LEITE, António Pedro de Sousa – “Francisco da Rua, feitor de Portugal em Flandres”. Armas e Troféus. Lisboa. III série, t. VI, n.º 2 (1977), pp. 170-176; BRITO, Pedro de – Patriciado urbano quinhentista..., pp. 34-37 e quadro Carneiros I.

90 Ana Carneira foi dotada do morgadio “do Paço de Valadares” aquando do seu casamento com

Francisco de Sousa de Almeida, a cuja família foi parar o morgadio. BRITO, Pedro de – Patriciado urbano quinhentista..., pp. 76-77.

em 157892, cavaleiro da Ordem de Cristo, com tença93, provedor da Misericórdia

do Porto em 158594, juiz da dízima do pescado95, procurador nas cortes em 158196;

Brites de Azeredo, solteira, instituidora de um vínculo97 e Inês de Azeredo, freira

no convento de Santa Clara98.

Álvaro de Valadares casou com Antónia Carneira, filha de Pantaleão Carneiro e Filipa Moreira, de que falaremos adiante. Tiveram por filhos João de Valadares Carneiro (m. 163699), o primeiro a usar o duplo apelido; Pantaleão Carneiro, que

seguiu vida religiosa100; Fernão de Valadares Carneiro, escudeiro101; e quatro filhas,

todas freiras, duas no convento de Santa Clara (Beatriz e Bernarda)102 e as outras

(Ana e Maria) no de S. Bento de Ave Maria103. O casal fez testamento em 1597, e

através dele sabemos que possuíam casas na Rua das Flores, Praça da Ribeira, Rua do Buraco da Lada, Rua dos Mercadores, uma loja na travessa do Colégio Velho e umas casas na Travessa do Hospital na Rua de Cimo de Vila104.

O primogénito do casal, João de Valadares Carneiro, foi juiz das dízimas do duque de Bragança105, assim como administrador da capela instituída por sua avó

paterna, Ana de Azeredo, e da capela instituída por sua prima Maria Carneiro106.

Casou por duas vezes, primeiro com Maria Soares107, de quem teve três filhos:

92 Talvez por essa razão recebeu, em 1587, de Catarina, moça solteira, filha de Gonçalo Anes, tanoeiro,

moradora em Mourilhe, uma carta de quitação do dinheiro que seu irmão Bastião Nogueira havia entregue a Álvaro de Valadares antes de ir na jornada com D. Sebastião. BNP, ALB, Roma, pac. 58, n.º 001, cx. 58, fl. 572; pac. 110, n.º 174, cx. 110, cap. 3.

93 Tença de padrão anual de 20.000 reais e hábito da Ordem de Cristo, de 29 de Agosto de 1581.

AMARAL, Luís Carlos e SILVA, Maria João Oliveira e (Org.) – Pergaminhos de uma colecção particular. Porto: CITCEM, Afrontamento, 2016, pp. 49-52; BNP, ALB, Roma, pac. 58, n.º 001, cx. 58, fl. 567.

94 BNP, ALB, Roma, pac. 74, n.º 061, cx. 74, cap. 5.

95 Em 1572 e 1584. BNP, ALB, Roma, pac. 58, n.º 001, cx. 58, fl. 573; pac. 86, n.º 105, cx. 86A, cap. 3. 96 BNP, ALB, Roma, pac. 58, n.º 001, cx. 58, fl. 595.

97 BNP, ALB, Enc., pac. 26, n.º 009, cx. 26, cap. 9.

98 BNP, ALB, Roma, pac. 83, n.º 099, cx. 83III, cap. 2; BRITO, Pedro de – Patriciado urbano

quinhentista..., p. 76.

99 BNP, ALB, ANTT, cx. 19, doc. 17.

100 BRITO, Pedro de – Patriciado urbano quinhentista..., p. 77.

101 Embarcou para a Índia em 1597 na nau S. João, tinha apenas 18 anos. REGO, Rogério de Figueiroa

– “Soldados da Índia séc. XVI – Notícias genealógicas e biográficas”. Ethnos, revista do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia. Lisboa. Vol. II, (1942), p. 161.

102 BNP, ALB, ANTT, cx. 19, doc. 1248.

103 BRITO, Pedro de – Patriciado urbano quinhentista..., p. 77. 104 BNP, ALB, Roma, cx. 59, doc. 35, fl. 473-568.

105 BNP, ALB, Roma, pac. 58, n.º 001, cx. 58, fl. 598; pac. 81, n.º 091, cx. 81A, cap. 3. 106 Veja-se nota 128, adiante. BRITO, Pedro de – Patriciado urbano quinhentista..., p. 76.

107 Filha do licenciado Francisco Soares e Brites Mendes de Vasconcelos, sobrinha do mestre-escola

na Sé do Porto Manuel Soares. BNP, ALB, Roma, pac. 60, n.º 006, cx. 60, fl. 344 a 349; pac. 74, n.º 061, cx. 74, cap. 5; pac. 81, n.º 091, cx. 81A, cap. 4.

Álvaro, Manuel108 e Beatriz de Azeredo, freira em Santa Clara109 e em segundas

núpcias com Catarina Pereira, de quem teve Luís de Valadares Carneiro110.

Foi pelos casamentos de Luís e Álvaro de Valadares que os Valadares se ligaram à família em torno da qual se gerou o maior número de ligações matrimoniais entre as famílias com maior importância social do Porto nos finais do século XV-XVI, os Carneiro. No caso do ALB, consideramos esta família a partir de Gil Carneiro, cavaleiro111, filho de João Carneiro, vereador do Porto

em 1442112, e casado com Leonor Anes Machucho, como foi atrás mencionado.

O casal, que residia na Rua Formosa, teve seis filhos: o primogénito, Diogo Pires Carneiro (m. 1515113), Afonso Carneiro, Martim Carneiro, João Pires Carneiro,

Gomes Carneiro e Isabel Carneiro114.

Diogo Carneiro foi criado da duquesa D. Isabel de Viseu, serviu o duque de Bragança, D. Fernando, “desde moço”115 até se casar com Maria Vieira, filha do

mercador Lopo Vieira116, ocupou vários cargos na governação da cidade117. No que

se refere a propriedade urbana, sabemos que no ano de 1528 Maria Vieira residia na Rua dos Mercadores118.

O casal teve oito filhos, sendo o primogénito Martim Carneiro119, seguindo-se

Pantaleão Carneiro, cavaleiro da casa de Bragança120, escrivão da câmara em 1548121,

108 Foi numa armada do general D. António de Alarcão, contra a vontade do pai, tendo levado 96 mil

reais, uma abotoadura e um trecelim de ouro. BNP, ALB, ANTT, cx. 19, doc. 17.

109 BNP, ALB, ANTT, cx. 19, doc. 17.

110 Casado com Ana do Amaral, filha de João Soares do Amaral e de Sebastiana Vieira, e bisneta de

Baltasar Delgado, a qual trará à família diversos bens vinculados, nomeadamente os de Roque Tavares do Amaral (escrivão da câmara do Bispo de Coimbra, D. João Soares), seu avô paterno e de Gaspar Monteiro (procurador de João de Valadares Carneiro) seu avô materno. Fundou uma capela na Sé do Porto que ostentava o seu brasão (um xadrez com dois carneiros) e um letreiro: “Aqui jaz Luís de Valadares Carneiro, fidalgo da casa de S. Majestade, cavaleiro comendador da Ordem de Cristo, ano de 1681”. A família continuou com a descendência deste: o se filho João Valadares Carneiro, casado com Margarida Machado da Silva Sotomaior, terá uma filha, Mariana Luísa de Valadares, que casará com Francisco Furtado de Mendonça Meneses. O filho destes, João Manuel de Meneses, casará com Maria Rosa Meneses e serão os avós de Miguel Pereira Forjaz, Conde da Feira em 1820. BNP, ALB, Enc., pac. 1, n.º 059, cx. 1, cap. 6; Roma, pac. 81, n.º 091, cx. 81A, cap. 3; BRITO, Pedro de – Patriciado urbano quinhentista..., p. 209.

111 Encontra-se sepultado em S. Francisco junto ao altar dos reis. FREITAS, Eugénio Andrea da

Cunha e – “Diogo Lourenço e Gil Carneiro – a propósito da antiga casa n.1 da Rua Escura”. O Tripeiro. Porto. Ano II, n.º 7, (1946), p. 155.

112 BRITO, Pedro de – Patriciado urbano quinhentista..., p. 35. 113 BNP, ALB, Roma, cx. 81A, cap. 1, doc. 2.

114 BRITO, Pedro de – Patriciado urbano quinhentista..., quadro Carneiros III. 115 BNP, ALB, Roma, pac. 60, n.º 007, cx. 60A, doc. 2, fl. 22-37.

116 COSTA, Adelaide Lopes Pereira Millan da – “Vereação” e “Vereadores”..., p. 159. 117 COSTA, Adelaide Lopes Pereira Millan da – “Vereação” e “Vereadores”..., p. 131. 118 BNP, ALB, Enc., pac. 42, mç. 95, cx. 42B, cap. 4.

119 À data de morte de seu pai tinha 27 anos. BNP, ALB, Roma, cx. 81A, cap. 1, doc. 2. 120 BNP, ALB, Enc., pac. 44, mç. 137, cx. 44A, cap. 2.

121 VASCONCELOS, Emília Albertina Sá Pereira de – Vereações na Câmara do Porto no ano de 1548.

Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2001, Dissertação de Mestrado em História Medieval, policopiada apresentada à p. 37.

juiz dos direitos reais e das dízimas do pescado no Porto122, e guarda mor da saúde

em 1551123. Este casou, cerca de 1529, com Filipa Moreira124. Do seu património

imobiliário, sabemos que em 1528 habitava uma casa na Rua dos Mercadores (que a sua mãe lhe havia dotado com reserva de usufruto, casa que era foreira à conezia do Abade de Paranhos125), que no mesmo ano emprazou umas casas com eixido

que havia comprado na Rua Chã126, e que tinha umas casas na Ribeira, que sua

mulher trouxera em dote127. Dos restantes sete irmãos de Pantaleão Carneiro, serão

as irmãs que irão estabelecer casamentos com elementos de diversas famílias das elites do Porto: Inês Carneira com Francisco de Figueiroa128, Leonor Carneira com

João Álvares de Pamplona129, Beatriz Carneira com Fernão Soares de Albergaria130,

Isabel Carneira com João Álvares Riscado, Maria Carneira, com Diogo Garcez131.

Do vasto património imobiliário da família132, para além de propriedade

urbana nas ruas que a família Machucho também ocupou (Congostas, Chã, Ribeira), destacamos a sua implantação na, então, recente rua das Flores, rasgada por ordem de D. Manuel no início do século XVI, rua mais larga e rectilínea e tornada zona enobrecida da cidade, onde vão habitar as elites urbanas133.

122 BNP, ALB, Roma, pac. 58, n.º 001, cx. 58, fl. 694.

123 SOARES, Edite Rute dos Santos Bentos – O concelho portuense em 1551. Porto: Faculdade de

Letras da Universidade do Porto, 2001, Dissertação de Mestrado em História Medieval, policopiada, p. 86.

124 Em 1537 estava casado com Leonor Fajoa. BNP, ALB, Enc., pac. 42, mç. 1, cx. 42, cap. 2; pac. 44,

mç. 137, cx. 44 A, cap. 2.

125 BNP, ALB, Enc., pac. 42, mç. 95, cx. 42B, cap. 4. 126 BNP, ALB, Roma, cx. 70, cap. 3.

127 BNP, ALB, Enc., cx. 42, cap. 2.

128 Procurador da cidade em 1534, o casal teve vários filhos, entre os quais: Ana Carneiro, instituidora

de morgadio em conjunto com sua mãe, em 1592 e Cristóvão de Figueiroa, aio de D. João I, duque de Bragança, faleceu solteiro em 1574. BNP, ALB, Enc., pac. 1, mç. 59, cx. 1 , cap. 4; Roma, cx. 58A, doc. 44, fl. 293-295; BRITO, Pedro de – Patriciado urbano quinhentista..., p. 104.

129 João Álvares Pamplona, vereador em 1537, filho de João Álvares e de Maria Vaz Pamplona

(instituidores de uma capela na igreja de S. Domingos do Porto em 1525), irmão de Gonçalo Álvares Pamplona, procurador da cidade do Porto em 1513 e neto de Álvaro Afonso Dinis, vereador no Porto em 1428. Casou com Leonor Carneiro, da qual teve cinco filhos: Gaspar Pamplona, vereador nos anos de 1559, 1566 e 1576; Baltazar Carneiro; Beatriz Carneiro Pamplona; Maria Carneiro, instituidora em 1542 de uma capela com o vínculo de sua terça de umas casas que seu pai fizera na Rua dos Mercadores (que deixou em sucessão a seu irmão Gaspar, e por morte deste foi entregue a João de Valadares Carneiro, seu primo, em 1580) e uma outra filha (de identidade desconhecida) casada com Jorge Pires de Altaro. BNP, ALB, Enc, pac. 1, mç. 59, cx. 1, cap. 5; GAYO, Manuel Felgueiras – Nobiliário de Famílias de Portugal. t. XXII. Braga: Edição de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Araújo Affonso, 1940, pp. 76-77; MORAIS, Cristóvão Alão de – Pedatura Lusitana (Nobiliário de famílias de Portugal). Tomo III, Vol. I, Porto: Livraria Fernando Machado, 1945, pp. 52-55.

130 Pela partilha, em 1536, dos bens do casal entre os seus filhos, sabemos que residiam na Rua dos

Mercadores e que possuíam “um pano de armar velho com figuras”. BNP, ALB, Roma, cx. 60A, doc. 4, fl. 69-80.

131 Boticário na cidade, instituíram uma capela em S. Francisco no ano de 1542. BNP, ALB, Enc,

pac. 44, n.º 137, cx. 44A, cap. 1; Roma, pac. 81, n.º 091, cx. 81A, cap. 1, doc. 2.

132 Veja-se mapa no final do artigo.

133 AFONSO, José Ferrão – A rua das Flores no século XVI..., p. 119; DUARTE, Luís Miguel e AMARAL,

Luís Carlos – “Os homens que pagaram a Rua Nova. Fiscalidade, sociedade e organização territorial do Porto quatrocentista”. Revista de História. Porto. Vol. VI, (1985), pp. 7-96; OLIVEIRA, J. M. Pereira de – O espaço

Em súmula, alguns elementos masculinos pertencentes à família Valadares estiveram ligados às casas de Bragança e Viseu, tendo-se implantado no Porto, onde ocuparam cargos na vereação da cidade. Os mesmos consorciaram-se matrimonialmente, em finais do século XV com a acima referida família Machucho e na segunda metade do século XVI com elementos da família Carneiro, a qual por sua vez já se encontrava ligada aos Machucho desde meados do século anterior. Verificamos assim que as alianças matrimoniais estabelecidas pelos Valadares e Carneiro tiveram um caracter endogâmico e que constituíram uma forma de manutenção de poder e não dispersão da fortuna familiar alcançada num evidente processo de ascensão social. Por outro lado, e como notou Pedro de Brito134, a

família Carneiro foi a que gerou o maior número de ligações matrimoniais entre as famílias com maior importância social do Porto nos finais do século XV-XVI, cidade onde os seus membros desempenharam vários cargos concelhios, o que lhes proporcionou grande influência a nível social e económico. Valadares, Carneiros e Machuchos estão ainda unidas pelo facto de vários dos seus elementos terem instituído vínculos em diversos mosteiros da cidade, os quais foram transmitidos aos familiares, nomeando testamenteiros entre as famílias, o que demonstra uma clara percepção de preservação da memória familiar.

6. Os Delgado.

No que se refere a esta família, a primeira notícia no ALB refere-se ao testamento de Margarida Afonso realizado em 1532135, casada com Egas Vaz, cidadão do Porto,

mercador, morador na Rua Chã, que desempenhou vários cargos camarários136.

Através do seu testamento sabemos que teve pelo menos uma filha, casada com João Delgado137, fidalgo da casa do infante D. Fernando138, que foram os pais de

Baltasar Delgado (fl. 1526-1592139), João de Sousa (m. 1536), mercador140 e Pedro de

Sousa (m. 1533141), a quem Margarida Vaz, avó dos mesmos, deixou um legado142.

urbano do Porto. Condições naturais e desenvolvimento. 1 vol. Coimbra: Centro de Estudos Geográficos, 1973, pp. 243-245.

134 BRITO, Pedro de – Patriciado urbano quinhentista..., p. 36.

135 Egas Vaz é o segundo marido de Margarida Afonso. BNP, ALB, Roma, pac. 58, n.º 002, cx. 58A. 136 COSTA, Adelaide Lopes Pereira Millan da – “Vereação” e “Vereadores”..., p. 134.

137 BNP, ALB, Roma, pac. 58, n.º 002, cx. 58A.

138 Filho de D. Manuel I. Para além do serviço a este rei e a seu sucessor em Safim, serviu às ordens do

Duque de Bragança na tomada de Azamor, com o Duque de Linhares, D. António de Noronha, em Mamora, no ano de 1515. BNP, ALB, Roma, pac. 58, n.º 001; cx. 58, fl. 669, 671-676.

139 BNP, ALB, Roma, pac. 58, n.º 002, cx. 58A, fl. 411-416; pac. 60, n.º 007, cx. 60A, fl. 685. 140 Faleceu na ilha das Flores, cerca de 1536. BNP, ALB, Roma, pac. 60, n.º 007, cx. 60A.

141 Residia na ilha das Flores, onde faleceu, cerca de 1533. BNP, ALB, Enc., pac. 1, mç. 59, cx. 1, cap. 7. 142 BNP, ALB, Roma, pac. 60, n.º 007, cx. 60A, fl. 700-707.

Baltasar Delgado, cidadão do Porto, bacharel e advogado e morador na Rua das Flores, foi confrade e tesoureiro na Misericórdia do Porto em 1575-1576 e seu provedor em 1581-1582143. Cerca de 1526144 casou com Isabel Eanes de Brito

(fl. 1569-1576145), com a qual teve vários filhos: o primogénito, Baltasar Delgado,

o moço146; António Delgado, jesuíta no Colégio do Espírito Santo em 1578147; Ana

Delgado, que casou com Roque Tavares do Amaral em 1569148; Maria Delgado

(fl. 1552-1553) e Laura Delgado (fl. 1552-1553), freiras em S. Bento do Porto149;

Joana Delgado (fl. 1563), freira em Santa Clara150; Isabel Delgado. Teve ainda um

outro filho, Gaspar Delgado, que pelo testamento do pai de 1592, sabemos que havia cerca de 36 anos que tinha ido para as Índias de Castela e nunca mais deu notícias151. O casal possuía propriedade rural na ilha Terceira152 e no continente

várias propriedades urbanas no Porto, nomeadamente na Rua de Congostas153,

na Rua das Flores154, na Rua da Reboleira155 e na Rua da Biquinha156. Após a

morte de Baltasar Delgado, ocorrida a 22 de Setembro de 1592157, algumas destas

propriedades urbanas foram transmitidas em legado testamentário ao seu filho 143 Serviu ainda o rei em Mazagão e Tânger. BNP, ALB, ANTT, pac. 29, cx. 1, doc. 1252; Roma, pac.

58, n.º 001, cx. 58, fl. 671-676; BASTO, A. de Magalhães – História da Santa Casa da Misericórdia..., vol. I, p. 404, 415, 420-422.

144 BNP, ALB, Roma, pac. 60, n.º 006, cx. 60, fl. 253-256. 145 BNP, ALB, Roma, pac. 58, n.º 002, cx. 58A, fl. 408-410.

146 Baltasar Delgado (fl. 1598-1607) serviu o rei nas armadas das ilhas, desempenhou o cargo de

almotacé no ano de 1554 e de procurador da cidade em 1553. Casou com Susana Soares, filha de Cristóvão Gonçalves Peixoto e Mécia Vaz Soares. No Porto o casal possuía várias casas nas ruas da Fonte da Ourina, junto à Porta do Olival, nas Congostas, para além de possuírem outras propriedades fora da cidade: um prazo em Boelhe, um couto em Entre-os-Rios, o casal do Outeiro e um casal em Fânzeres. BNP, ALB, Enc., pac. 1, mç. 59, cx. 1, cap. 7; pac. 26, cx. 26A, cap. 1; pac. 42, mç. 95, cx. 42B, cap. 4; Roma, pac. 58, n.º 001, cx. 58, fl. 671-676; pac. 58, n.º 002, cx. 58A, fl. 402-407; pac. 70, n.º 048, cx. 70, cap. 4; pac. 83, n.º 099, cx. 83 III, cap. 2; pac. 108, n.º 169, cx. 108, cap. 3. BRITO, Pedro de – Patriciado urbano quinhentista..., p. 206; MORAIS, Cristóvão Alão de – Pedatura Lusitana..., t. III, v. I, p. 363.

No documento ESPAÇOS E PODERES NA EUROPA URBANA MEDIEVAL (páginas 112-121)

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