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ARTE: INSPIRAÇÃO PARA A MODA

No documento Grazyella Cristina Oliveira de Aguiar (páginas 89-99)

1. IMAGINÁRIOS COMERCIAIS DE MODA

1.4 ARTE: INSPIRAÇÃO PARA A MODA

A moda e a arte dialogam entre si, interagem. Há um cruzamento de linguagem, um emaranhado de ideias que as aproximam. Possuem significados parecidos, são substantivos “parasitas”, precisam “parasitar-se” a uma mente criadora, para que a obra nasça. Assim como o artista atribui à sua obra cores, volume, linhas, o designer utiliza-se dos mesmos elementos em suas peças, coleções. Dá-se a mesma separação quando se atribui a funcionalidade das roupas com a falta dela na arte.

Todavia, a moda torna-se um divisor de água, quando se fala de prêt-à- porter, em relação à arte. Ali, as peças são feitas em série, tirando a unicidade e singularidade que só a arte transmite. Pode-se dizer que a alta-costura aproxima, e o prêt-à-porter distancia a moda da arte.

De acordo com Eco (1995, p.15), a arte está intrinsecamente ligada a todas as operações humanas. O autor define arte como sendo uma intuição do sentimento. Ainda, segundo Eco (1995, p.3), “Gautier afirmou um dia que a Arte deve ser o fim de si mesma, buscando realizar a beleza pura, sem se preocupar com a moralidade ou com a utilidade.”

Neste estudo, trabalha-se a partir da percepção de que a arte pode ser uma inspiração para a moda, de forma a buscar entender nas peças das coleções de Fraga a unicidade, a exclusividade, a pura beleza citada por Gautier; o trabalho de artesão, artístico, onde os sentimentos e pensamentos do criador, sejam esculpidos nas peças. A expressão codificada nas peças através da estética e materiais alternativos, dando-lhes aspecto de conceitual, permite-lhes

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várias perspectivas de leitura das peças, indo ao encontro da livre interpretação do leitor.

Quem cria deixa sua marca impressa em sua obra. Cria-se um estilo, como propõe Eco (1995, p.30):

O estilo é o ‘modo de formar’, pessoal, irrepetível, característico; a marca reconhecível que a pessoa deixa de si mesma na obra; e coincide com o modo como a obra é formada. A pessoa forma-se, portanto, na obra: compreender a obra é possuir a pessoa do criador feita objeto físico. A pessoa forma na obra “a sua experiência concreta”, a sua vida interior, a sua irrepetível espiritualidade, a sua reação pessoal ao ambiente histórico em que vive, os seus pensamentos costumes, sentimentos, ideais, crenças, aspirações. Sem que com isto se entenda [...] que o artista se narre a si mesmo na obra; ele manifesta-se nela, mostra-se nela como modo (ECO, 1995, p.30). Em uma exposição, em maio de 2003, na galeria do Hotel Lycra® (rua Oscar Freire, 1055- SP), do artista plástico cearense Leonilson (morto em 1993), este fala a respeito de seu trabalho42, esclarecendo como utilizava o vestuário como suporte ou linguagem da arte:

Há trabalhos que eu começo a fazer e que vão ficando malfeitos, malfeitos e aí eu penso: “não posso tentar fazer alta costura. Isso não é Balenciaga. Isso é meu trabalho”. Antes eu pensava que a costura tinha que ser perfeita. E até tentei, só que apanhei tanto. É diferente quando um estilista faz uma roupa e quando um artista a faz. São atitudes irmãs, mas bem diferentes.

Leonilson não foi o primeiro artista plástico a sincronizar a moda com a arte. No MASP, tem-se no acervo um vestido desenhado por Salvador Dalí. Lygia Clark e Hélio Oiticica, nos anos 60, criavam obras para serem vestidas. Nos 80, Leda Catunda também se utilizou dos códigos da indumentária para compor seus objetos. Esses são apenas alguns, dentre outros artistas como Flávio de Carvalho43, Joseph Beuys44, Louise Bourgeois45, os quais também inscrevem seus nomes no mesmo panorama.

Do outro lado da mesma via têm-se os estilistas que utilizaram a arte como fonte de inspiração para suas criações, como Yves Saint-Lauret que em 1965,

42Disponível em: <http://mixbrasil.uol.com.br/cultura/panorama/leonilson/leonilson.shl>. Acesso em: 05.maio.2012.

43Por exemplo a obra “New look de verão”, 1956 44Como exemplo a obra “Felt Suit”, 1970.

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em sua coleção, inspira-se nos quadros de Mondrian; Paco Rabanne, conhecido como “o metalúrgico”, criou um vestido feito de placa de alumínio e outro de placas de ouro, no final dos anos 60. No Brasil, atualmente, o estilista Jum Nakao utiliza a arte como fonte de inspiração para suas coleções, como sua coleção feita de papel, a qual chocou a plateia quando, ao final do desfile, as peças foram rasgadas. De forma semelhante, o estilista pernambucano Geová Rodrigues, mais conhecido em Nova York, onde reside e possui seu ateliê, cria suas obras a partir de materiais têxteis descartáveis.

A arte utilizada na moda foi denominada de Wearable art, ou arte vestível, ou, ainda, arte usável. Por meio do processo artístico, o estilista ou artista faz artigos de moda exclusivos, como obras de arte, em que há unicidade e singularidade; em que não há preocupação com a fabricação em série. Ainda assim, o intuito dos adeptos do wearable art é exatamente o oposto.

De acordo com Müller (2000, p.38), “[...] essa relação arte/moda chegou ao que parece ser sua expressão máxima com a organização da Bienal da Moda de Florença”.

O prêt-à-porter é uma moda facilmente reconhecida como roupas fabricadas em série. Destina-se a todas as pessoas que gostam do estilo lançado pelas coleções de diferentes estações da moda, lançadas pelas empresas da área. Neste seguimento, não há a preocupação com a exclusividade, ao contrário, há a possibilidade do consumidor encontrar tantas pessoas trajando indumentária similares, que olhar o outro é quase olhar-se no espelho. Ronaldo Fraga não é um estilista deste tipo de moda. Nas coleções de Fraga, cada peça é um personagem da trama, cuidadosamente escrita para aquele desfile.

Kalil (2007, p. 7), no artigo “Mulheres Fictícias”, presente no livro “Coleção Moda Brasileira”, de Ronaldo Fraga, declara que “Um desfile de Ronaldo Fraga é esperado com a mesma ansiedade com que se antecipa um espetáculo teatral ou de dança de um grupo do qual se é seguidor fiel e encantado”. E é, talvez, nesses seguidores que se possa encontrar parte do sentido da sedução e do frenesi que as roupas do estilista provocam. Segundo Garcia (2002, p.7), os seguidores fieis e encantados de Fraga são, em sua maioria, formados por “[...] artistas plásticos, músicos, publicitários, jornalistas, atores e outros profissionais liberais ligados às artes e às mídias”.

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As coleções do estilista, normalmente, são artesanais, exclusivas, únicas. Em cada peça há um pouco de Ronaldo Fraga que, se não está encarnado na etiqueta, está costurado na roupa. O consumidor que veste Fraga, veste também muito da identidade do estilista. Compartilha, por certo, ideias, ideais, gostos, histórias. Está buscando imprimir uma marca única, não apenas naquilo que faz ou diz, mas também naquilo que veste. E, nesse sentido, as roupas do estilista aproximam a moda da arte, como afirma o próprio Ronaldo “A moda artesanal é o nosso futuro e é a nossa identidade. O mundo hoje olha para isso, e está atento ao nosso país principalmente por causa dos traços de arte na criação, essa é a nossa principal identidade” 46.

Fraga cria coleções e instalações conceituais que possuem um caráter híbrido de arte/moda, criando um forte discurso social e cultural dentro e fora das passarelas. Partindo-se desse entendimento, pode-se perceber, como defende Souza (2005), que há uma relação intrínseca entre moda e arte, concepção que a própria autora pode melhor esclarecer:

É a moda uma arte? Como chamar de arte um fenômeno sensível às mais leves transformações do gosto, intimamente ligado às elites do dinheiro? [...] entretanto como qualquer artista, o criador de moda inscreve-se dentro do mundo das formas. E, portanto dentro da arte. As unidades básicas da moda são, como vemos, as mesmas das demais artes do espaço, e por isso é possível que, independente da vida efêmera e dos objetivos mais imediatos, se liguem de alguma maneira às correntes estéticas de seu tempo. Principalmente à arquitetura e à pintura. (SOUZA, 2005, p. 21)

Mesmo tratando-se de fabricação em cadeia, para Cidreira (2005), o prêt- à-porter, contrariando o que se poderia supor, já que democratizou a moda, fortaleceu os vínculos entre moda e arte. O lançamento de produções em série dispensou ações de corte, costura e ajuste das peças nas medidas do cliente, afastando o costureiro do papel de artesão e liberando-o dessas tarefas para tornar-se “criador de moda”, terminologia oficial que passa a ser adotada a partir de 1973 pela Chambre Syndicale de la couture parisiense.

46Ronaldo Fraga discute identidade Fashion no Bahia Moda Design. Disponível em: <http://blogdalilia.com/ronaldo-fraga-discute-identidade-fashion-no-bahia-moda-design/>. Acesso em: 21 fev. 2014.

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Talvez, tenha-se aí a aproximação da moda como arte, uma vez que até então era vista apenas como algo funcional que servia para cobrir o corpo e não como objeto contemplativo. O estilista e professor Sérgio de Loof diz não ver diferença entre a moda e as artes consagradas, e que a singularidade da moda está na utilização de linhas e agulhas. O autor afirma: “Vejo um Dior e um Dali e me sinto diante de coisas que se equivalem”. Relacionando as duas áreas, acrescenta: “[...] pintores existem muitos, mas como Dali poucos. Na moda acontece o mesmo: existem milhões de estilistas, mas poucos que criem peças como obras de arte” (LOOF, 2000, p. 129).

Pode-se pensar nos dois campos apresentados por Loof, com características bem próximas: Dali, utilizando-se de tela, pinceis e tinta, criava formas inusitadas da natureza, dignas de contemplação; Dior, utilizando-se de tecidos, agulhas e fios, criava peças capazes de evidenciar as formas orgânicas já existentes na natureza, transformando a fusão de corpo e roupa num só objeto de contemplação.

A possibilidade de estreitar os laços entre moda e arte parece vir da congruência existente entre ambas. Congruência capaz de gerar um casamento e seus rituais, como apresenta Remaury (1997, p. 59) “[...] a lua de mel entre arte e moda é um fenômeno internacionalmente celebrado, comentado, cada um encontrando sua parcela na cerimônia, a moda ganhando ares de nobreza suplementares e a arte conquistando o estatuto de uma dinâmica efêmera”.

Utilizando-se do exemplo trazido por Loof, percebe-se que Ronaldo Fraga é um daqueles poucos estilistas que se aproximam da arte. Entretanto, é preciso esclarecer que ele, Fraga, não considera a moda uma arte em si. É ele mesmo quem, ao ser questionado se moda é arte47, esclarece a questão sob seu ponto de vista, respondendo:

Não, não. Da mesma forma que o cinema também não o é, da mesma forma que as artes plásticas também não o são. Quando você pensa sobre o que foi lançado de cinema nos últimos 30 anos no Brasil, e o que vai ser considerado cinema-arte, é pouquíssimo, quase nada. A mesma coisa é com a moda, mas eu não tenho a menor dúvida de que moda é cultura [...] Agora a moda ser entendida como arte vai

47 Entrevista feita pela autora com o Estilista Ronaldo Fraga, na fábrica dele, em Belo Horizonte – Minas Gerais, em 05.nov.2014.

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depender. Vai ser [arte] nesse ou naquele estilista, nessa ou naquela coleção.

Esse entendimento é essencial para o estudo que se está fazendo, porque não se está defendendo a ideia de que moda é arte por si mesma, mas a de que, concordando com Fraga e Loof, há alguns estilistas que conseguem, em algumas coleções, aproximar a moda da arte, imprimindo, ali, o belo, tal qual descreve Baudelaire (2010, p. 14)48 ao apreciar uma série de gravuras de moda: “A ideia que o homem tem do belo imprime-se em todo o seu arranjo, amarrota ou alinha o seu traje, suaviza ou enrijece o seu gesto, e chega a impregnar, sutilmente, ao final, os traços de seu rosto”.

O Belo, para Baudelaire (2010, p. 17), “[...] é feito de um elemento eterno, invariável, cuja quantidade é muito difícil de ser determinada, e de um elemento relativo, circunstancial, que será – como preferirem: um a cada vez ou todos ao mesmo tempo – a época, a moda, a moral, a paixão”. Para o autor, esses dois elementos – o eterno e o relativo – são fundamentais para a existência da beleza, a ponto de que se o segundo elemento não estiver presente, o belo não insurgirá. Sem o elemento circunstancial, o belo é imperceptível e até indigerível. Ao se tomar a moda como elemento relativo, ela seria “[...] como que a envoltura deleitável, provocante, apetitosa do divino manjar; seria a possibilidade de fazer emergir o belo” (idem, ibidem, 2010, p.17).

Assim, moda e arte podem se cruzar ao utilizarem uma linguagem comum, capaz de exteriorizar, pela comunicação, a beleza misteriosa de que são portadoras, a essência, o sagrado. Ou, como diz Baudelaire (2010, p. 35), “Trata- se [...] de liberar, no histórico da moda, o que ela pode conter de poético, de extrair o eterno do transitório”. Tarefa difícil, perseguida por poucos estilistas. Entre a cópia do produto lançado por outro profissional e a criação do próprio produto há uma longa distância. Neste segundo segmento, podem ser encontrados estilistas de moda autoral. O capítulo 2 tratará deste assunto.

Parece que se pode afirmar que a moda interage com a arte. Elas possuem suas divergências, mas juntas elas formam um bom par, uma boa combinação para novas criações, como se pode perceber na figura 11, uma

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criação de Jum Nakao, exposta no Museu de Arte Contemporânea de Tóquio (MOT) em 2008:

Figura 11: Exposição do estilista Jum Nakao – “Quando vidas se tornam formas”, 2008

Fonte: http://www.jumnakao.com/portfolios/quando-vidas-se-tornam-formas/

A wearable art foi construída pelo estilista, como pode ser notada na imagem acima, com sacolas de lixo. Conforme o portfólio da exposição, disponibilizado no site do estilista49, primeiramente o vestido confeccionado com sacola de lixo foi produzido para compor um editorial de moda realizado em um aterro sanitário do Rio de Janeiro. Posteriormente, o vestido foi reproduzido para compor a exposição “Quando vidas se tornam formas: diálogo com o futuro/ Brasil-Japão” apresentada no Museu de Arte Contemporânea de Tóquio e no Museu de Arte Moderna de São Paulo, representando a criatividade brasileira, em comemoração ao Centenário da Imigração Japonesa no Brasil.

Da mesma forma que Jum Nakao, Ronaldo Fraga utiliza-se da linguagem da arte para se expressar. Ele também apresentou uma instalação, no MOT e no Man, junto com Jum. Foi um dos 21 artistas brasileiros selecionados para representar a cultura nacional para expor seu trabalho em Tóquio e em São Paulo.

Outro exemplo foi a exposição que Ronaldo criou, em 2010, intitulada “Rio São Francisco navegado por Ronaldo Fraga”, em que o estilista buscou chamar a atenção dos visitantes da mostra para questões importantes como o desastre

49Disponível em: <http://www.jumnakao.com/portfolios/quando-vidas-se-tornam-formas/>. Acesso em: 26.fev.2014.

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ambiental que ocorre em alguns trechos do Rio São Francisco, dentre eles a salinização das águas alterando fauna e flora, o descarte desenfreado do lixo nas margens, a preocupação com a preservação da cultura dos que vivem no entorno do rio, os vilarejos e cidades que sumiram e outras que podem desaparecer ao serem alagadas, a preocupação com o ecossistema que, em grande escala, está sendo afetado, assim como o desmatamento de uma grande área da região ao modificar o percurso natural do rio. Igualmente, o que originou a sua pesquisa foi a discussão da transposição do rio, em 2007, ano em que foi iniciado o projeto50 de transposição de parte das águas do rio denominado como "Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional". Nesse mesmo ano, Ronaldo começa a fazer suas pesquisas para desenvolver a sua coleção de verão 2009, “São Francisco”, apresentada no São Paulo Fashion Week em junho de 2008. Em entrevista para a repórter Clara Caldeira (2011), Ronaldo comenta que o que o motivou a montar a exposição foi a sua memória afetiva, foi o seu pai que contava histórias sobre o rio São Francisco. Ele contava histórias para ninar que narravam algumas lendas do rio, e quando lhe perguntavam qual era o lugar mais lindo desse Brasil, seu pai respondia que era qualquer lugar que se localizasse às margens do Rio São Francisco. O rio fazia parte de suas lembranças, de suas memórias, de seu imaginário e, embora o pai tenha morrido quando Ronaldo tinha 11 anos, o rio continuava presente em sua vida, por isso o estilista decidiu conhecer melhor o percurso do rio, ainda, “natural”, o que originou em um material riquíssimo sobre o tema e, posteriormente, transformado em coleção e exposição, uma verdadeira transposição do rio traduzido para diferentes linguagens. Ainda, na entrevista, Ronaldo argumenta que a exposição, além de representar a cultura popular ribeirinha, ela pode ter um cunho político: “Falar do rio São Francisco também seria uma postura política [...] o que eu chamo atenção é esse desastre

50 O projeto iniciado em 2007 está previsto para ser finalizado em 2015 e prevê, para o desvio das águas do rio, a construção de aproximadamente 700 km, de canais artificiais, construídos com concreto. “O Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional é um empreendimento do Governo Federal, sob a responsabilidade do Ministério da Integração Nacional. Tem objetivo de assegurar oferta de água para 12 milhões de habitantes de 390 municípios do Agreste e do Sertão dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte”. Mais informações referentes ao projeto, disponível em:<http://www.integracao.gov.br/pt/web/guest/o-que-e-o-projeto>. Acesso em: 27.fev.2014.

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ambiental [...] ele só é menor, se comparado ao desastre cultural, porque é uma cultura. Essa cultura ribeirinha se esvaindo”. (FRAGA in CALDEIRA, 2011)

A exposição possui um site51, o qual descreve o processo de inspiração e construção dos 13 diferentes ambientes inusitados, interativos e impactantes que foram construídos por uma ONG, como a entrada da exposição com o ambiente “O Chico morre no mar”, um cenário feito com materiais descartados que acabam sendo jogados no rio, como garrafa pet, utilizadas para a construção de peixes que foram pendurados no teto e canudinhos plásticos colados na parede. Ao fundo, uma projeção de um vídeo gravado por Ronaldo Fraga no barco a vapor Benjamin Guimarães, explicando um pouco da exposição e da inspiração. Outro ambiente marcante é “A voz do Chico”, em que vestidos suspensos estampados com diferentes carrancas emitem o “som do Chico” representado pelo poema “Águas e Mágoas do Rio São Francisco” de Drummond, na voz de Maria Bethânia. O ambiente considerado mais emocionante, descrito no site da exposição, foi “Cidades submersas”, representando as cidades que foram alagadas, composto por casas de barro em escala reduzida, envolvidas por água. Ao fundo é projetado um documentário produzido pelo ator Wagner Moura, falando sobre a cidade em que nasceu, Rodelas, ao norte da Bahia, alagada para a construção da barragem da hidrelétrica de Itaparica. A figura 12 mostra o ambiente “O gosto que o Chico tem”, referenciando os mercados com seus cheiros, gostos e cores:

51Disponível em: <http://saofranciscoronaldofraga.com.br/>. Acessado em: Acessado em: 26.fev.2014

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Figura 12: Ambiente “O gosto que o Chico tem” da exposição “Rio São Francisco navegado por Ronaldo Fraga”, 2010

Fonte: saofranciscoronaldofraga.com.br

A exposição “Rio São Francisco navegado por Ronaldo Fraga” representa um marco na área de moda, pois foi o primeiro projeto de moda incentivado pela Lei Rouanet, o que concebeu pela primeira vez a área, o título de instrumento cultural do país. A análise da coleção inspirada no Rio São Francisco se encontra no item 6.7 da tese

No dia 26 de agosto de 2014, Fraga lançou a exposição “Recosturando Portinari”, na Casa Fiat de Cultura, por Ronaldo, em Belo Horizonte. A exposição conta com as peças da coleção de verão 2014/2015, “O caderno secreto de Candido Portinari”, inspiradas no artista e apresentadas no São Paulo Fashion Week, em abril; deste ano. A mostra, também, conta com um vídeo que fala do processo de restauração do quadro Civilização Mineira (1959), pintado por Portinari. Esta obra foi uma das inspirações utilizadas por Fraga para desenvolver as peças da coleção. A análise desta coleção se encontra no item 7.9 da tese. A exposição está prevista para ficar até o dia 26 de outubro na Casa Fiat de Cultura52.

52Informações sobre a exposição disponível em: < http://www.casafiat.com.br/?p=893>. Acesso em: 30.ago.2014.

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