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A Arte de Preparar a Mente para o Prāṇāyāma

No documento Luz Sobre o Prāṇāyāma (páginas 79-83)

Quando a respiração está estável ou instável, da mesma maneira está a mente, e com ela o iogue. Assim, a respiração precisa ser controlada. Haṭha Yoga Pradīpikā Cap. 11. 2. 1. Diz-se que a árvore da vida tem suas raízes acima e seus galhos abaixo, da mesma forma é com o ser humano, pois o seu sistema nervoso tem suas raízes em seu cérebro. O cordão espinhal descendo através da coluna espinhal, enquanto os nervos descem do cérebro pelo cordão espinhal e ramificam-se ao longo do corpo.

2. A arte de sentar-se em prāṇāyāma é explicada em detalhes no Cap. 11, que lida com a preparação mental que o sādhaka precisa para a prática do prāṇāyāma.

3. As artérias, veias e nervos são canais (nāḍīs) de circulação e distribuição de energia ao longo do corpo. O corpo é treinado pela prática de āsanas, que mantém os canais livres de obstrução para o fluxo de prāṇa. A energia não se propaga pelo corpo se os nāḍīs estão bloqueados pelas impurezas. Se os nervos estão emaranhados, é impossível permanecer estável, e se a estabilidade não pode ser alcançada a prática de prāṇāyāma não é possível. Se os nāḍīs estão desequilibrados, a verdadeira natureza de um ser e a essência das coisas não podem ser descobertas.

4. A prática de āsanas fortalece o sistema nervoso e a prática de śavāsana suaviza os nervos desordenados. Se os nervos colapsam, a mente também colapsará. Se os nervos estão tensos, a mente também estará tensa. A menos que a mente esteja relaxada, silenciosa e receptiva, o prāṇāyāma não poderá ser praticado. 5. Em sua busca por paz o mundo moderno tornou-se interessado no benefício da meditação e na antiga arte do prāṇāyāma. Ambas as disciplinas são

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fascinantes à primeira vista, mas conforme o tempo passa é notório que elas não são apenas muito difíceis de aprender, mas também muito tediosas e repetitivas, porque o progresso é muito lento. Por um lado, a prática de āsanas é fascinante e totalmente absorvente, conforme a inteligência está focada e revigorada em várias partes do corpo. Isso cria um sentimento de satisfação. No prāṇāyāma a atenção está inicialmente nas duas narinas, nas passagens sinusais, tórax, coluna e diafragma. Dessa forma a inteligência não pode ser desviada para outras partes do corpo. Assim o prāṇāyāma não pode se tornar absorvente até que o corpo e a mente sejam treinados para receber o fluxo da respiração; meses ou anos podem passar sem muito progresso, entretanto, pelos esforços sinceros e inabaláveis, a mente do sādhaka se torna receptiva ao fluxo de ar regulado. Então ele começa a experimentar a beleza e a fragrância dos prāṇāyāmas, e depois de anos de prática ele apreciará a sua sutileza.

6. Para a prática de prāṇāyāma há duas coisas essenciais, uma coluna estável (achala) e uma mente silenciosa (sthira) mas alerta. Tenha em mente, entretanto, que aqueles que praticam retroversões excessivamente podem ter uma coluna elástica, mas esta não permanece muito tempo estável; outros, que praticam muitos alongamentos à frente, podem ter uma coluna estável, mas não uma mente silenciosa e alerta. Nas retroversões, os pulmões são alongados, ao passo que estes não se expandem nas flexões à frente. O sādhaka tem que encontrar um equilíbrio entre as duas, para que a coluna permaneça estável e a mente permaneça alerta e inabalável.

7. A prática de prāṇāyāma não deve ser mecânica. O cérebro e a mente devem se manter alertas, para corrigir e ajudar a posição do corpo e o fluxo da respiração de momento a momento. Não é possível praticar prāṇāyāma pela força de vontade; assim, não deve haver uma ordem sistemática. Uma completa receptividade da mente e do intelecto são essenciais.

8. No prāṇāyāma o relacionamento entre chitta (mente, intelecto e ego) e a respiração é como a de uma mãe e seu filho. Chitta é a mãe e prāṇa é o filho. Assim como a mãe acalenta o seu filho com amor, cuidado e sacrifício, chitta deve acalentar o prāṇa.

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9. A respiração é como um rio turbulento, que, quando aproveitado por barragens e canais, proverá energia abundante. O prāṇāyāma ensinará ao sādhaka como aproveitar a energia da respiração para fornecer vitalidade e vigor.

10. Entretanto, o Haṭha Yoga Pradīpikā (Cap. 2, 16-17) avisa: como um treinador doma um leão, um elefante ou um tigre vagarosamente, da mesma maneira o sādhaka deve adquirir o controle sobre sua respiração gradualmente, pois, de outra maneira, esta irá destruí-lo. Pela prática adequada de prāṇāyāma, todas as doenças são curadas ou controladas. A prática incorreta, entretanto, dá origem a todos os tipos de doenças respiratórias como tosses, asma, dores na cabeça, olhos e ouvidos.

11. A estabilidade da mente e da respiração interagem e tornam o intelecto estável também. Quando este não oscila, o corpo se torna forte e o sādhaka é preenchido com coragem.

12. A mente (manas) é a governante dos órgãos dos sentidos (indriyas), assim como a respiração é a governante da mente. O som da respiração é seu governante e quando esse som é mantido uniformemente o sistema nervoso aquieta-se. Então a respiração flui suavemente, preparando o sādhaka para a meditação.

13. Os olhos têm um papel predominante na prática de āsanas, e os ouvidos no prāṇāyāma. Ao estar-se totalmente atento e utilizar-se dos próprios olhos, uma pessoa aprende āsanas e o equilíbrio adequado nas posturas. Esses podem ser dominados pela vontade e os membros podem se tornar subservientes. O prāṇāyāma, entretanto, não pode ser executado dessa forma. Durante a sua prática os olhos são mantidos fechados e a mente concentrada no som da respiração; enquanto os ouvidos ouvem o ritmo, o fluxo e as nuances da respiração são reguladas, diminuídas e suavizadas.

14. Há uma variedade infindável de āsanas, por causa do número de diferentes posturas e movimentos e a atenção altera-se durante a prática. No prāṇāyāma há monotonia. As razões são: primeiro, o sādhaka tem que praticar em apenas uma posição; segundo, ele tem que manter um som contínuo e inabalável na

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respiração. É como a prática de escalas musicais antes do aprendizado de melodia e harmonia.

15. Enquanto pratica āsanas, o movimento parte do corpo conhecido grosseiro e vai até o corpo sutil desconhecido. No prāṇāyāma o movimento parte da respiração sutil e vai até o corpo grosseiro externo.

16. Assim como as cinzas e a fumaça obscurecem um pedaço de madeira queimando em combustão lenta, as impurezas do corpo e da mente cobrem a alma do sādhaka. Assim como a brisa limpa as cinzas e a fumaça, e a madeira continua a queimar, da mesma maneira a centelha divina no sādhaka resplandece quando, pela prática de prāṇāyāma, a sua mente se tornou livre das impurezas e adequada para a meditação.

82 Capítulo 13

No documento Luz Sobre o Prāṇāyāma (páginas 79-83)