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Luz Sobre o Prāṇāyāma

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Academic year: 2021

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Luz Sobre o Prāṇāyāma

A Arte Ióguica da Respiração

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Sumário

Prefácio ... 3 Parte Um ... 8 Seção I ... 8 A Teoria do Prāṇāyāma ... 8 O que é Yoga? ... 9 Estágios da Yoga ... 13 Prāṇa e Prāṇāyāma... 21

Prāṇāyāma e o Sistema Respiratório ... 25

Nāḍīs e Chakras ... 36 Guru e Śiṣya ... 45 Alimentos... 48 Obstáculos e Ajudas ... 51 Os Efeitos do Prāṇāyāma ... 53 Seção II ... 56 A Arte do Prāṇāyāma ... 56 Dicas e Cuidados ... 57

A Arte de Sentar-se em Prāṇāyāma ... 65

A Arte de Preparar a Mente para o Prāṇāyāma ... 78

Mudrās e Bandhās ... 82

A Arte da Inalação (Pūraka) e da Exalação (Rechaka) ... 89

A Arte da Retenção (Kumbhaka) ... 94

Níveis de Sādhakas ... 102 Bīja Prāṇāyāma ... 105 Vṛtti Prāṇāyāma... 109 Seção III ... 113 As Técnicas do Prāṇāyāma ... 113 Ujjāyī Prāṇāyāma ... 114 Viloma Prāṇāyāma ... 129

Bhrāmarī, Mūrchhā e Plāvinī Prāṇāyāma ... 137

Prāṇāyāma Digital e a Arte de Colocar os Dedos no Nariz ... 139

Bhastrikā e Kapālabhāti Prāṇāyāma ... 151

Śītalī e Śītakārī Prāṇāyāma ... 157

Anuloma Prāṇāyāma... 161

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Sūrya Bhedana e Chandra Bhedana Prāṇāyāma ... 181

Nāḍī Śodhana Prāṇāyāma ... 187 Parte 2 ... 201 Liberdade e Beatitude ... 201 Dhyāna (Meditação) ... 202 Śavāsana (Relaxamento) ... 212 Cursos de Prāṇāyāma ... 224

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Prefácio

Meu primeiro livro, Luz sobre a Yoga, capturou as mentes e os corações de estudantes entusiastas e mudou até mesmo a vida de muitos que, à primeira vista, estavam curiosos em relação a essa nobre arte, ciência e filosofia. Espero que Luz no Prāṇāyāma também aumente o conhecimento deles.

Com respeito e reverência a Patanjali e os Iogues da Índia antiga que descobriram o Prāṇāyāma, compartilho com os companheiros homens e mulheres o néctar de sua simplicidade, clareza, sutileza, fineza e perfeição. No passado recente, durante minhas práticas, uma nova luz de consciência interior nasceu em mim, luz que eu não havia experienciado quando escrevi Luz sobre a Yoga. Meus amigos e pupilos me pressionaram para que eu colocasse as experiências, assim como meus ensinamentos orais no papel; por isso essa tentativa de explicar as observações sutis e as reflexões que fiz para ajudar os estudantes em suas buscas por refinamento e precisão.

Muitos eruditos ocidentais aceitaram a antiga concepção que o homem é uma trindade de corpo, mente e espírito. Várias técnicas de exercícios físicos, atléticos e esportes foram inventados para manter o homem e a mulher saudáveis. Eles foram projetados para suprir às necessidades do corpo (annamaya kośa) com seus ossos, ligamentos, músculos, tecidos, células e órgãos. Os estudiosos indianos chamaram essa disciplina de ‘conquista da matéria’. Isso eu expliquei completamente no meu livro Luz sobre a Yoga. Apenas recentemente os sábios ocidentais tornaram-se conscientes das técnicas desenvolvidas na Índia antiga para examinar os sistemas da respiração, da circulação sanguínea, digestão, assimilação, nutrição, as glândulas endócrinas e os nervos, as formas sutis que são coletivamente conhecidas como a Conquista da Força Vital (prāṇamaya kośa).

Yoga Vidyā é um sistema codificado que especifica oito fases para a auto-realização. Eles são: Yama, Niyama, Āsana, Prāṇāyāma, Pratyāhāra, Dhāraṇā, Dhyāna e Samādhi. Nesse livro a ênfase recai sobre o Prāṇāyāma, para manter

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os sistemas involuntários ou autônomos de controle do corpo humano em um estado equilibrado de saúde e perfeição.

Não há estudiosos, santos ou iogues em minha casa para me inspirar a absorver a Yoga. Quando criança fui afligido por muitas doenças, porém, assim quis o destino, isso me levou à Yoga em 1934 na esperança de reganhar minha saúde. Desde então ela tem sido minha forma de vida. Ela me ensinou a ser pontual e disciplinado apesar das provações que frequentemente perturbavam minhas práticas diárias, aprendizados e experiências.

No início, o Prāṇāyāma foi uma batalha. O excesso na prática diária de āsanas fazia meu corpo interior muitas vezes tremer em poucos minutos após o início do Prāṇāyāma. Toda manhã eu me levantava para praticar e era um esforço manter minha respiração e manter o ritmo. Eu persisti, dificilmente executando três ou quatro ciclos, até quando eu arquejava por ar. Eu descansava por alguns minutos e então tentava novamente até que fosse impossível continuar. Eu me perguntava por que não conseguia. Não encontrava resposta. Eu não tinha ninguém para me guiar. As falhas e os erros zombaram do meu corpo, mente e ser por vários anos, porém eu firmemente continuava a ampliar meus padrões. Hoje em dia eu ainda devoto diariamente uma hora ininterrupta ao Prāṇāyāma e penso que até mesmo isso é inadequado.

As palavras podem hipnotizar e atrair um leitor para uma prática religiosa (sādhana) e fazê-lo pensar que ele entende uma experiência espiritual. A leitura, entretanto, apenas o torna mais culto, enquanto a prática (sādhana) do que ele leu o traz mais próximo da verdade e da clareza. O fato é verdade e a claridade é pureza. A presente era é de avanço científico e novas palavras inundam os dicionários. Sendo um puro sādhaka e não um homem de palavras, acho difícil escolher os termos técnicos corretos para expressar tudo que eu gostaria de escrever. Posso apenas dar o meu inadequado melhor para apresentar aos meus leitores tudo que eu experienciei na minha prática da mais fina das artes.

O Prāṇāyāma é um tema vasto com potencialidades ilimitadas. É psicossomático pois explora o relacionamento íntimo entre o corpo e a mente. Pode parecer muito simples e fácil, mas no momento em que se senta para

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praticar, rapidamente percebe-se que é uma arte difícil. Suas sutilezas são pouco conhecidas e muito mais permanece a ser explorado. No passado, os escritores dos textos da Yoga lidaram mais com os efeitos do Prāṇāyāma do que com sua aplicação prática. Isso pode ser porque o Prāṇāyāma era amplamente praticado e a maioria das pessoas estava familiarizada com ele. As suas explicações de seus efeitos deram algumas ideias de suas experiências, que extrapolavam suas palavras.

Muitos dos movimentos no Prāṇāyāma são infinitamente sutis. Por exemplo, os movimentos deliberados e finos da pele em direções opostas parecem objetivamente impossíveis, mas é um processo desenvolvido na Yoga. Com o treinamento a pele pode ser movida dessa maneira, e isso desempenha um papel fundamental nas práticas de Prāṇāyāma. Por isso o Prāṇāyāma é, em vários aspectos, uma arte subjetiva. Quando essa habilidade é utilizada para a maximização do efeito, onde os movimentos da pele sincronizam com aqueles da inalação, exalação e retenção, o fluxo da energia (prāṇa) é harmonioso.

Os cientistas modernos verificaram a eficácia do conhecimento intuitivo dos iogues pela utilização de instrumentos eletrônicos. Os efeitos do Prāṇāyāma são inequívocos e não ilusórios. Estou confiante que, em um futuro não muito distante, o polo do conhecimento objetivo (ciência ou experimentação) e o outro do conhecimento subjetivo (arte ou participação) terão seus papéis na unificação do estudo do Prāṇāyāma e seus benefícios.

Devido ao desenvolvimento da tecnologia, a vida moderna tornou-se infinitamente competitiva, resultando em um aumento da tensão, tanto dos homens quanto das mulheres. É difícil manter uma vida equilibrada. As ansiedades e doenças que afetam os sistemas nervoso e circulatório multiplicaram-se. Em desespero, as pessoas tornaram-se viciadas em drogas psicodélicas, fumo e bebida ou sexo indiscriminado para encontrar alívio. Essas atividades permitem que uma pessoa esqueça de si mesma temporariamente, porém as causas permanecem não resolvidas e a doença retorna.

Apenas o Prāṇāyāma fornece um alívio real para esses problemas. Esse não pode ser aprendido por argumentos e discussões, mas deve ser conquistado

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com paciência e esforço cuidadoso. Ele começa dando alívio aos que sofrem de enfermidades ordinárias como gripes comuns, dores de cabeça e desarmonia mental. O seu nadir é o elixir da vida.

Este livro tem duas partes. A primeira cobre três seções lidando com a teoria, a arte e as técnicas do Prāṇāyāma. A segunda parte, intitulada ‘Liberdade e Beatitude’ preocupa-se com a conquista da alma (ātma jaya). Ela lida com a meditação (dhyāna) e o relaxamento (śavāsana).

Na primeira parte, tentei integrar o Prāṇāyāma com todos os diferentes aspectos da Yoga. Prāṇāyāma é o elo de conexão entre o corpo e a alma dos seres humanos, e o eixo na roda da Yoga.

Tentei expor técnicas ocultas, para que o leitor possa tirar máximo benefício sem ser assediado pela dúvida e confusão. Incorporei tabelas analisando os diferentes estágios de importantes variedades de Prāṇāyāma. A tabela dá informação detalhada da metodologia para referência rápida. Elas também dão ao leitor alguma ideia do infinito número de permutações e combinações possíveis nessa nobre arte e ciência. Mesmo o sādhaka leigo pode praticar independentemente, sem medo de efeitos colaterais. A informação contida nas tabelas tornará os sādhakas cuidadosos e corajosos.

No apêndice introduzi cinco cursos, arranjando-os passo a passo para o praticante segui-los de acordo com sua capacidade. Cada um dos cursos pode ser estendido por semanas adicionais se o padrão fornecido não puder ser completado dentro do tempo estipulado. Apesar do Prāṇāyāma dever ser essencialmente aprendido aos pés de um guru (mestre), empenhei-me com toda a humildade para guiar o leitor – tanto o professor quanto o estudante – em um método seguro de aperfeiçoamento dessa arte.

Devo ficar feliz se minha obra ajudar as pessoas à atingirem a paz no corpo, estabilidade na mente e tranquilidade no ser. O Prāṇāyāma é um tema vasto. Uma vez que meu conhecimento na área tem suas limitações, devo dar boas-vindas às sugestões para incorporação nas edições futuras.

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O Yogachūdāmaṇi Upaniṣad diz que o Prāṇāyāma é um conhecimento exaltado (mahā vidyā). É uma estrada real para a prosperidade, liberdade e bem-aventurança.

Leia, releia e digira a Parte I desse livro antes de começar a prática. Sou muito grato a meu guruji Śri T. Krishnamacharya pelos seus tributos ao livro. Agradeço sinceramente ao Sr. Yehudi Menuhin por sua Introdução e ao Sr. R. R. Diwakar por seu Preâmbulo e suporte. Estou em dívida com meus filhos Geeta e Prashant e aos meus pupilos B. I. Taraporevala, M. T. Tijoriwala, S. N. Motivala, e Dr. B. Carruthers, MD, CM, FRCP, que cederam seus valorosos tempos na preparação da obra. A paciência deles ao editar e re-editar esse livro várias vezes deu a ele sua forma final. Agradeço a Kumari Srimathi Rao por digitar o texto inumeráveis vezes. Agradeço ao Sr. P. R. Shinde por tirar inumeráveis fotos para o livro.

Expresso minha sincera gratidão ao Sr. Gerald Yorke por suas sugestões construtivas e encorajamento. Se não fosse a sua orientação persistente, esse livro não viria à luz. Estou permanentemente em dívida com ele pelo cuidado que tomou na edição de todo o texto.

Agradeço a George Allen & Unwin Ltd por publicar e apresentar minha obra para o público mundial.

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Parte Um

Seção I

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9 Capítulo I

O que é Yoga?

1. Ninguém conhece o Uno absoluto atemporal, primevo, nem quando o mundo veio a existir. Deus e a natureza existiam antes dos seres humanos aparecerem, porém conforme estes desenvolveram-se eles cultivaram a si mesmos e começaram a realizar o seu próprio potencial. Através disso deu-se a civilização. As palavras evoluíram com isso, conceitos de Deus (Puruṣa) e natureza (prakṛti), religião (dharma) e Yoga desenvolveram-se.

2. Uma vez que é muito difícil definir esses conceitos, todos os seres humanos têm que interpretá-los de acordo com seu entendimento. Quando os homens caem na rede dos contentamentos mundanos, eles encontram-se separados de Deus e da natureza. Eles tornam-se presas das polaridades do prazer e dor, bem e mal, amor e ódio, o permanente e o transiente.

3. Presos nesses opostos, os seres humanos sentem a necessidade de uma divindade pessoal (Puruṣa), que é suprema, indiferente às aflições, intocável pelas ações e reações, e livre da experiência de alegria e angústia.

4. Isso leva o ser humano a buscar o mais alto ideal incarnado no Puruṣa perfeito ou Deus. Assim o Ser Eterno, que chamou de Īśvara, o Senhor, o guru de todos os gurus, torna-se o foco de sua atenção e de sua concentração e meditação. Nessa busca fundamental por alcançá-Lo, o homem inventou um código de conduta por meio do qual poderia viver em paz e harmonia com a natureza, seus semelhantes e consigo mesmo.

5. Ele aprendeu a distinguir entre o bem e o mal, a virtude e o vício, e o que era moral e imoral. Então surgiu um conceito abrangente da ação correta (dharma) ou a ciência do dever. O Dr. S. Radhakrishnan escreveu que ‘é o Dharma o que apoia, sustenta, suporta’ e guia a humanidade para viver uma vida superior independente de raça, casta, classe ou fé.

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6. O ser humano entendeu que deve manter o seu corpo saudável, forte e limpo, a fim de seguir o Dharma e de experienciar a divindade dentro de si mesmo. Os videntes indianos, em suas buscas pela luz destilaram à essência dos Vēdas nos Upaniṣads e Darśanas (espelhos de percepção espiritual). Os Darśanas ou escolas são: sāṃkhya, yoga, nyāya, vaīśeṣika, pūrva mīmāṁsa e uttara mīmāṁsa. 7. O Sāṃkhya diz que toda a criação ocorre como um produto de vinte e cinco elementos essenciais (tattvas) mas não reconhece o Criador (Īśvara). A Yoga reconhece o Criador. Nyāya enfatiza a lógica e preocupa-se primeiramente com as leis do pensamento, confiando na razão e na analogia. Ela aceita Deus como resultado da inferência. Vaīśeṣika acentua noções tais como espaço, tempo, causa e matéria, e é suplementar a nyāya. Essa, também, endossa a visão de Deus da Nyāya. Mīmāṁsa é dependente dos Vēdas e tem duas escolas - pūrva mīmāṁsa, que lida com o conceito geral da Deidade, porém realça a importância da ação (karma) e dos rituais; e uttara mīmāṁsa, que aceita Deus baseada nos Vēdas, mas coloca uma ênfase especial no conhecimento espiritual (jñāna). 8. Yoga é a união do si individual (jīvātma) com o Si Universal (Paramātma). A filosofia sāṃkhya é teorética enquanto a Yoga é prática. Sāṃkhya e Yoga combinadas dão uma exposição dinâmica do sistema do pensamento e da vida. O conhecimento sem ação e a ação sem conhecimento não ajudam os seres humanos. Eles devem estar combinados. Por isso o sāṃkhya e a Yoga vão juntas. 9. De acordo com a Yoga, Yājnavalkya Smṛti, o Criador (Brahmā) como Hiraṇyagarbha (o Feto Dourado) foi o proponente original do sistema da Yoga para a saúde do corpo, controle da mente e conquista da paz. O sistema foi primeiramente ordenado e escrito por Patanjali em seus Yoga Sūtras ou aforismos. Estes são diretivos em vez de discursivos, revelando os meios e o fim. Quando todas as oito disciplinas da Yoga são combinadas e praticadas, o iogue experiencia unidade com o Criador e perde sua identidade do corpo, mente e ego. Isso é a Yoga da integração (saṁyama).

10. Os Yoga Sūtras consistem de 195 aforismos divididos em quatro capítulos. O primeiro lida com a teoria da Yoga. Destina-se àqueles que já alcançaram uma mente estável e determina o que eles devem fazer para manter a estabilidade.

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O segundo capítulo sobre a arte da Yoga inicia o neófito em suas práticas. O terceiro ocupa-se com a disciplina interna e os poderes (siddhis) que ele ganha. O quarto e último capítulo lida com a emancipação ou liberdade das algemas desse mundo.

11. A palavra ‘Yoga’ é derivada da raiz Sânscrita ‘yuj’ que significa atar, unir, ligar, atrelar, direcionar e concentrar a atenção a fim de usá-la para a meditação. Yoga, portanto, é a arte que traz uma mente incoerente e dispersa para um estado reflexivo e coerente. É a comunhão da alma humana com a Divindade. 12. Na herança da natureza para o homem estão as três características ou qualidades (guṇas), nomeadamente, iluminação (sattva), ação (rajas) e inércia (tamas). Fixo na roda do tempo (kālachakra: kāla = tempo, chakra = roda), como um vaso na roda do oleiro (kulālachakra), o homem é moldado e remoldado de acordo com a ordem predominante dessas três características fundamentais combinadas.

13. O ser humano é dotado de mente (manas), intelecto (buddhi) e ego (ahaṁkāra), coletivamente conhecido como consciência (chitta), que é a fonte do pensamento, entendimento e ação. Conforme a roda da vida gira, a consciência experiencia as cinco misérias da ignorância (avidyā), egoísmo (asmitā), apego (rāga), aversão (dveṣa) e amor pela vida (abhiniveśa). Estas, por seu turno, deixam chitta em cinco estados diferentes que podem ser embotada (mūḍha), oscilante (kṣipta), parcialmente estável (vikṣipta), atenção unidirecional (ekāgra) e controlada (niruddha). Chitta é como o fogo, abastecida pelos desejos (vāsanas), sem os quais o fogo morre. Chitta no estado puro torna-se uma fonte de iluminação.

14. Patanjali desenvolveu oito estágios no caminho da realização, os quais trataremos no próximo capítulo. Chitta em um estado de embotamento é purificada através de yama, niyama e āsana através dos quais a mente é incitada à atividade. Āsana e Prāṇāyāma trazem à mente oscilante a um estado de alguma estabilidade. As disciplinas do prāṇāyāma e Pratyāhāra tornam a citta atenta e focam a sua energia. É então restringida a esse estado por dhyāna e samādhi. Conforme há um progresso, os estágios superiores da Yoga tornam-se

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predominantes, porém os estágios precedentes, que estabelecem a fundação, não devem ser ignorados ou negligenciados.

15. Antes de explorar o desconhecido ‘Ātmā’, o sādhaka tem que aprender sobre seu próprio corpo, mente, intelecto e ego. Quando ele conhece o ‘saber’ em sua totalidade, este funde-se no ‘desconhecido’, como os rios fundem-se com o mar. Nesse momento ele experiencia o maior estado de alegria (ānanda).

16. Primeiramente a Yoga lida com a saúde, força e a conquista do corpo. Em segundo lugar ela levanta o véu da diferença entre o corpo e a mente. Em último lugar, ela conduz o sādhaka à paz e à pureza imaculada.

17. A Yoga ensina sistematicamente o ser humano a buscar pela divindade dentro de si mesmo com minúcia e eficiência. Ele desembaraça-se do corpo externo ao si interior. Ele procede do corpo aos nervos, e dos nervos aos sentidos. Dos sentidos ele entra na mente, que controla as emoções. Da mente penetra no intelecto, que guia a razão. Do intelecto, o seu caminho conduz à vontade e dali à consciência (chitta). O último estágio é da consciência ao Si, seu próprio ser (Ātmā).

18. Assim, a Yoga conduz o sādhaka da ignorância ao conhecimento, da escuridão à luz e da morte à imortalidade.

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13 Capítulo 2

Estágios da Yoga

1. São oito os estágios da Yoga: yama, niyama, āsana, prāṇāyāma, pratyāhāra, dhāraṇā, dhyāna e samādhi. Eles são todos integrados, porém, por conveniência, eles são tratados como componentes independentes.

2. Uma árvore tem raiz, tronco, galhos, folhas, casca, seiva, flores e frutos. Cada um desses componentes tem uma identidade separada, porém cada componente não pode por si só tornar-se uma árvore. É o mesmo com a Yoga. Assim como todas as partes combinadas tornam-se uma árvore, também os oito estágios reunidos formam a Yoga. Os princípios universais de Yama são as raízes e as disciplinas individuais de Niyama formam o tronco. Os āsanas são como os vários galhos espalhados em diferentes direções. O prāṇāyāma, que areja o corpo com energia, é como as folhas que arejam a árvore inteira. O pratyāhāra previne a energia dos sentidos de fluir para fora, assim como a casca protege a árvore da decomposição. Dhāraṇā é a seiva da árvore que mantém o corpo e o intelecto firmes. Dhyāna é a flor amadurecendo na fruta do samādhi. Assim como a fruta é o desenvolvimento maior da árvore, a realização do verdadeiro si de alguém (ātma-darśana) é a culminação da prática da Yoga.

3. Através dos oito estágios da Yoga o sādhaka desenvolve entendimento de seu próprio si. Ele procede passo a passo do conhecido – seu corpo – ao desconhecido. Ele procede do envelope externo do corpo – a pele – à mente. Da mente (manas), ele vai até o intelecto (buddhi), a vontade (saṁkalpa), a consciência discriminativa (viveka-khyāti ou prajñā), consciência (sad-asad-viveka) e finalmente o Si (Ātmā).

Yama

4. Yama é um nome coletivo para mandamentos morais universais. Esses mandamentos são eternos, independentes de classe, tempo e local. Esses grandes votos (mahāvratas) são violência (ahimsā), verdade (satya),

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roubar (asteya), continência (brahmacharya) e cobiça (aparigraha). A não-violência é a abstinência do infligir qualquer tipo de injúria, seja física ou mental, em pensamento ou ação. Quando o ódio e a animosidade são abandonados, um amor que abarca a tudo permanece. O iogue é implacavelmente verdadeiro e honesto consigo mesmo, e qualquer coisa que pensa ou fala torna-se verdade. Ele controla seus desejos e reduz suas necessidades, de modo que ele se torna mais rico sem roubar e as coisas vêm até ele sem que ele as peça. A continência (brahmacharya) é prescrita em todas as questões relacionadas ao sexo, tanto na imaginação quanto de fato. Essa disciplina traz em seu rastro a virilidade e a habilidade de ver à divindade em todas as formas sem o despertar sexual. Não se deve desejar as cosas que não são necessárias para manter a vida, pois o desejo é seguido pela avareza que leva à angústia se alguém não consegue ter o que deseja. Quando o desejo multiplica, a conduta correta é destruída.

Niyama

5. Niyamas são as regras de autopurificação, nomeadamente, pureza (śaucha), contentamento (santoṣa), austeridade (tapas), estudo das escrituras (svādhyāya) e submissão ao Senhor de todas as nossas ações (Īśvara praṇidhāna). O iogue sabe que seu corpo e sentidos são suscetíveis aos desejos, que prejudicam à mente, então ele observa esses princípios. A pureza é de dois tipos, interna e externa, e ambas devem ser cultivadas. Esta significa pureza de comportamento e hábitos, limpeza da pessoa e dos arredores. Aquela é a erradicação dos seis males, a saber, a paixão (kāma), raiva (krodha), ambição (lobha), obsessão (moha), orgulho (mada), malícia e inveja (mātsarya). Essa erradicação é alcançada ao ocupar a mente com pensamentos bons e construtivos, que conduzem à divindade. O contentamento reduz os desejos, torna alguém entusiasmado e fornece estabilidade à mente. A austeridade capacita uma pessoa à disciplina do corpo e a suportar provações e adversidades, direcionando assim a mente rumo ao Si interior. O estudo aqui é a educação de si mesmo pela busca da verdade e da auto-realização. Finalmente, é a submissão de todas as nossas ações ao Senhor e o cumprir da Sua vontade inteiramente.

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Assim os niyamas são as virtudes que acalmam a mente perturbada, conduzindo à paz tanto no interior quanto nos arredores do sādhaka.

Āsanas

6. Antes de lidarmos com os āsanas é essencial conhecer sobre puruṣa e prakṛti. Puruṣa (literalmente ‘pessoa’) é o princípio psíquico universal, que apesar de incapaz de realizar qualquer ação por si mesmo, anima e vitaliza à natureza (prakṛti ou o produtor), o princípio físico universal, que, através de suas três qualidade e poderes evolucionários (guṇas) produz o intelecto (buddhi) e a mente (manas).

Puruṣa e prakṛti agindo juntos incitam o mundo material à atividade. Ambos são ilimitados, sem começo nem fim. Prakṛti consiste de cinco elementos grosseiros (pancha mahābhūtas) a saber, terra (pṛthvi), água (ap), fogo (tejas), ar (vāyu) e éter (ākāśa). As cinco contrapartes desses (tanmātras) são cheiro (gandha), sabor (rasa), forma (rūpa), toque (sparśa) e som (śabda). Esses elementos grosseiros e suas contrapartes combinam-se com as três qualidades e os poderes evolucionários (guṇas) de prakṛti, a saber, iluminação (sattva), atividade (rajas) e dormência (tamas) para formar o intelecto cósmico (mahat). O ego (ahaṁkara), o intelecto (buddhi) e a mente (manas) formam a consciência (chitta), a contraparte individual de mahat. Mahat é a origem primária não evoluída da natureza ou princípio produtivo de onde todo o fenômeno do mundo material desenvolve-se. Existem cinco órgãos da percepção (jñānendriyas) – ouvidos, nariz, língua, olhos e pele – e cinco sentidos da ação (karmeñdriyas) – pernas, braços, fala, órgãos excretores e reprodutivos. Prakṛti, os cinco elementos grosseiros, suas cinco contrapartes sutis, o ego, intelecto e mente, os cinco órgãos da percepção, os cinco órgãos da ação e puruṣa formam os vinte e cinco elementos básicos (tattvas) da filosofia sāṁkhya. Um jarro não pode ser feito sem um oleiro, nem uma casa sem um pedreiro. A criação não ocorre sem puruṣa, a Força Primeva, entrando em contato com os tattvas. Toda a existência gira em torno de puruṣa e prakṛti.

7. A vida é uma combinação do corpo, os órgãos da percepção e ação, mente, intelecto, ego e alma. A mente age como uma ponte entre o corpo e a alma. A

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mente é imperceptível e intangível. O si cumpre as suas aspirações e prazeres através da mente atuando como um espelho e o corpo como um instrumento de deleite e realização.

8. De acordo com o sistema Indiano de medicina (Āyurveda) o corpo é feito de sete elementos constituintes (dhātus) e três humores (doṣas). Os sete elementos são assim chamados porque eles sustentam o corpo. Eles são o quilo (rasa), sangue (rakta), carne (māṁsa), gordura (medas), ossos (asthi), medula (majjā) e sêmen (śukra). Esses mantêm o corpo imune de infecções e doenças.

9. O quilo é formado pela ação dos sucos gástricos sobre o alimento. O sangue produz carne e remoça o corpo inteiro. A carne protege os ossos e produz gordura. A gordura lubrifica e traz firmeza ao corpo. Os ossos sustentam o corpo e produzem medula. A medula dá força e produz sêmen. O sêmen não apenas procria, mas, de acordo com os textos antigos, em seu estado sutil flui ao longo do corpo sutil na forma de certa energia vital.

10. Os três humores (doṣas) de vento (vāta), bile (pitta) e fleuma (ślesma), quando igualmente equilibrados fornecem saúde perfeita. O desequilíbrio deles traz doenças. A energia sutil ou vital chamada vento incita à respiração, movimento, ação, excreção e procriação. Ela coordenada as funções das diferentes partes do corpo e das faculdades humanas. A bile cria sede e fome. Ela digere o alimento e o converte em sangue, mantendo a temperatura do corpo constante. A fleuma lubrifica as juntas e músculos e ajuda a curar ferimentos. Mala é a matéria residual, sólida, líquida ou gasosa. Ao menos que ela seja excretada, as doenças ocorrem, perturbando o equilíbrio dos três humores. Os Kośas

11. De acordo com a filosofia Vedanta existem três estruturas ou tipos de corpo (śarīra) encapsulando a alma. Eles consistem de cinco camadas (kośas) inter-penetrantes e interdependentes.

Os três śarīras são: (a) sthūla, a estrutura grosseira ou a camada anatômica, (b) sūkṣma, a estrutura sutil, consistindo das camadas fisiológica a

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psicológica e a intelectual, e (c) kāraṇa, chamada de estrutura casual – a camada espiritual.

A sthūla śarīra é a camada da nutrição (annamaya kośa).

As camadas fisiológica (prāṇamaya), psicológica (manomaya) e a intelectual (vijñānamaya) formam o corpo sutil (sūkṣma śarīra).

A prāṇamaya kośa inclui os sistemas respiratórios, circulatórios, digestório, nervoso, endócrino, excretório e genital. A manomaya kośa afeta às funções da consciência, sentimento e motivação não derivada da experiência subjetiva. Vijñānamaya kośa afeta o processo intelectual de raciocínio e julgamento provenientes da experiência subjetiva.

A kāraṇa śarīra é a camada da alegria (ānandamaya kośa). A experiência de estar-se consciente desta é sentida pelo sādhaka quando ele acorda depois de um sono profundamente revigorante e quando ele está totalmente absorvido no objeto da sua meditação.

A pele envolve todas as camadas e corpos. Ela deve ser firme e sensível ao mais leve movimento. Todas as camadas entremesclam-se em seus diferentes níveis da pele ao Si.

Objetivos na Vida (Puruṣārthas)

12. Os seres humanos têm quatro metas em suas vidas; dharma, artha, kāma e mokṣa. Dharma é dever. Sem isso e disciplina ética, a realização espiritual é impossível.

Artha é a aquisição de riqueza para a independência e para as atividades mais elevadas na vida. Ela não pode fornecer felicidade duradoura; entretanto, um corpo pobremente alimentado é um chão fértil para preocupações e doenças. Kāma significa os prazeres da vida, que dependem amplamente de um corpo saudável. Como o Kaṭhopaniṣad diz, o ‘si’ não pode ser experienciado por um fraco.

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Mokṣa é liberação. O ser iluminado entende que o poder, o prazer, a riqueza e o conhecimento passam e não trazem liberdade. Ele tenta elevar-se acima de suas qualidades sátvicas, rajásticas e tamásicas e então escapar do domínio dos guṇās.

13. O corpo é a moradia de Brahman. Ele desempenha um papel vital na consecução das metas quádruplas da vida. Os sábios entendiam que apesar do corpo desgastar-se ele serve como um instrumento para alcançar à realização e, como tal, tem de ser mantido em boas condições.

14. Os āsanas purificam o corpo e a mente e têm efeitos preventivos e curativos. Eles são inumeráveis, solícitos às várias necessidades dos sistemas muscular, digestório, circulatório, glandular, nervoso e dos outros sistemas do corpo.

Eles causam mudanças em todos os níveis, do físico ao espiritual. A saúde é o equilíbrio delicado do corpo, mente e espírito. Ao praticar āsanas as deficiências físicas e as distrações mentais do sādhaka desaparecem e os portais do espírito são abertos.

Āsanas trazem saúde, beleza, força, firmeza, leveza, claridade de fala e expressão, tranquilidade dos nervos e uma disposição feliz. A sua prática deve ser comparada com o crescimento de uma mangueira. Se a árvore cresce segura e saudável a sua essência será encontrada em seus frutos. Da mesma forma, a essência destilada da prática dos āsanas é o despertar espiritual do sādhaka. Ele está livre de todas as dualidades.

Āsanas

15. Há uma concepção popular errônea que ambos os āsanas e o prāṇāyāma devem ser praticados juntos no momento que a Yoga-sādhanā começa. É da experiência do autor que se um iniciante presta atenção à perfeição das posturas, ele não pode concentrar-se na respiração. Ele perde equilíbrio e a profundidade dos āsanas. Alcançe firmeza (sthiratā) e calmaria (achalatā) nos āsanas antes de introduzir as técnicas de respiração rítmicas. A amplitude dos movimentos corporais varia de postura a postura. Quanto menor a amplitude do movimento, menor será o espaço nos pulmões e o padrão respiratório será menor. Quando

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maior a amplitude do movimento corporal nos āsanas, maior será a capacidade pulmonar e mais profundo o padrão respiratório. Quando o prāṇāyāma e os āsanas são feitos conjuntamente, perceba que a postura perfeita não é perturbada. Até que as posturas estejam perfeitas, não tente o prāṇāyāma. Uma pessoa logo percebe que quando os āsanas são bem executados, a respiração prāṇāyāmica automaticamente ocorre.

Prāṇāyāma

16. Prāṇāyāma é uma prolongação consciente da inalação, retenção e exalação. Inalação é o ato de receber a energia primeva na forma de respiração e retenção é quando a respiração é suspensa a fim de saborear essa energia. Na exalação todos os pensamentos e emoções são esvaziadas com a respiração: então, enquanto os pulmões estão vazios, a pessoa submete a energia individual, ‘Eu’, à energia primeva, o Ātmā.

A prática de Prāṇāyāma desenvolve uma mente constante, uma forte força de vontade e um julgamento sensato.

Pratyāhāra

17. Essa é uma disciplina para trazer a mente e os sentidos sob controle. A mente exerce um papel duplo. Por um lado, ela busca gratificar os sentidos, e por outro, unir-se com o Si. Pratyāhāra aquieta os sentidos e os atrai para o interior, conduzindo o aspirante ao Divino.

Dhāraṇa, Dhyāna e Samādhi

18. Dhāraṇa é a concentração em um ponto único, ou atenção total no que se está fazendo, a mente mantida imóvel e imperturbável. Ela estimula a consciência interior para integrar a inteligência sempre fluida e libera todas as tensões. Quando continua por um longo tempo ela se torna meditação (dhyāna), um estado indescritível que tem que ser experienciado para ser entendido.

19. Quando o estado de dhyāna é mantido por um longo tempo sem interrupção ela funde-se em samādhi, onde o sādhaka perde sua identidade individual no objeto da meditação.

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20. Em samādhi o sādhaka perde a consciência do seu corpo, respiração, mente, inteligência e ego. Ele vive no espaço infinito. Nesse estado, sua sabedoria e pureza, combinadas com simplicidade e humildade, resplandecem. Não apenas está iluminado, mas também ilumina todos aqueles que vêm a ele em busca da verdade.

21. Yama, Niyama, Āsana e Prāṇāyāma são partes essenciais da Yoga da ação (karma). Elas mantêm o corpo e a mente saudáveis para realizarmos todos os atos que agrada a Deus. Prāṇāyāma, Pratyāhāra e Dhāraṇa são partes da Yoga do conhecimento (jñāna). Dhyāna e Samādhi ajudam o sādhaka a combinar seu corpo, mente e inteligência no oceano do Si. Isso é Yoga da devoção ou amor (bhakti).

22. Esses três córregos de jñāna, karma e bhakti fluem até o rio da Yoga e perdem suas identidades. Assim apenas o caminho da Yoga leva todos os tipos de sādhakas, do embotado (mūḍha) ao controlado (niruddha), rumo à liberdade e à beatitude.

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21 Capítulo 3

Prāṇa e Prāṇāyāma

1. É difícil explicar Prāṇa, assim como o é explicar Deus. Prāṇa é a energia que permeia o universo em todos os níveis. É energia física, mental, intelectual, sexual, espiritual e cósmica. Todas as energias vibrantes são prāṇa. Todas as energias físicas tais como o calor, luz, gravidade, magnetismo e eletricidade também são prāṇa. É a energia oculta ou potencial em todos os seres, liberada em extensão máxima em tempos de perigo. É o primeiro movente de toda atividade. É energia que cria, protege e destrói. Vigor, poder, vitalidade, vida e espírito são todos formas de prāṇas.

2. De acordo com os Upaniṣads, prāṇa é o princípio da vida e da consciência. É equiparada com o Si real (Ātmā). Prāṇa é a respiração da vida de todos os seres do universo. Eles nascem e vivem através do prāṇa e quando morrem os seus alentos individuais dissolvem-se no alento cósmico. Prāṇa é o eixo da Roda da Vida. Tudo está estabilizado nele. Ele permeia o sol que dá a vida, as nuvens, os ventos (vāyus), a terra (pṛthvi), e todas as formas de matéria. É o ser (sat) e não-ser (asat). É a fonte de todo conhecimento. É a Personalidade Cósmica (o puruṣa) da filosofia Saṁkhya. Portanto o Yogi toma refúgio no prāṇa.

3. Prāṇa é usualmente traduzido como respiração, apesar de essa ser apenas uma de suas várias manifestações no corpo humano. Se a respiração para, a vida também para. Os antigos sábios Indianos sabiam que todas as funções do corpo são executadas pelos cinco tipos de energias vitais (prāṇa-vāyus). Esses são conhecidos como prāṇa (aqui o termo genérico é usado para designar o particular), apāna, samāna, udāna e vyāna. Eles são aspectos específicos de uma força vital cósmica (vento vital), o princípio primevo da existência em todos os seres. Deus é único, mas os sábios O designaram com vários nomes, e assim também o é com o prāṇa.

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4. O prāṇa se move na região torácica e controla a respiração. Ele absorve a energia atmosférica vital. Apāna se move no baixo abdômen e controla a eliminação da urina, sêmen e fezes. Samāna atiça os fogos gástricos, ajudando à digestão e mantendo o funcionamento harmonioso dos órgãos abdominais. Samāna integra todo o corpo humano grosseiro. Udāna, agindo através da garganta (a faringe e a laringe), controla as cordas vocais e o influxo de ar e alimento. Vyāna permeia todo o corpo, distribuindo a energia derivada do alimento e da respiração através das artérias, veias e nervos.

5 No prāṇāyāma o prāṇa-vāyu é ativado pela inspiração e o apāna-vāyu pela expiração. Udāna eleva a energia da coluna inferior para o cérebro. Vyāna é essencial para as funções do prāṇa e apāna porque é o meio de transferência da energia de um para o outro.

6. Existem também cinco divisões subsidiárias conhecidas como upaprāṇas ou upavāyus, nomeadamente, nāga, kūrma, kṛkara, devadatta e dhanaṁjaya. Nāga alivia a pressão do abdômen através do arroto. Kūrma controla o movimento das pálpebras, para prevenir que matéria estranha entre nos olhos; também controla o tamanho da íris, regulando assim a intensidade da luz para a visão. Kṛkara previne que as substâncias passem através das cavidades nasais até a garganta, ao provocar o espirro ou tosse. Devadatta causa bocejos e induz o sono. Dhanaṁjaya produz fleuma, alimenta e permanece no corpo mesmo depois da morte e, às vezes, infla um cadáver.

7. De acordo com o Āyurveda, vāta, que é um dos três humores (doṣa), é outro nome para prāṇa. O Charaka Saṁhitā explica as funções de vāta da mesma maneira que os textos da Yoga explicam prāṇa. A única expressão perceptível do funcionamento de prāṇa é sentido nos movimentos dos pulmões ativados pela energia interna, causando a respiração.

Chitta e Prāṇa

8. Chitta e prāṇa estão em constante associação. Onde há chitta o prāṇa está concentrado, e onde há prāṇa a chitta está concentrada. A chitta é como um veículo propelido por duas forças poderosas, prāṇa e vāsanā (desejos). Ela se

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move na direção da força mais poderosa. Como uma bola ricocheteia quando bate no chão, assim também o sādhaka é arremessado de acordo como o movimento de prāṇa e chitta. Se a respiração (prāṇa) prevalece, então os desejos são controlados, os sentidos são mantidos em guarda e a mente é aquietada. Se a força do desejo prevalece, a respiração torna-se desigual e a mente agita-se. 9. No terceiro capítulo do Haṭha Yoga Pradīpikā, Swātmārāma declara que na medida em que a respiração e o prāṇa estejam tranquilos, chitta mantém-se constante e não pode haver liberação de sêmen (śukra). No momento certo o vigor aumentado do sādhaka é sublimado para propósitos mais altos e nobres. Ele então alcança o estado de ūrdhva-retas (ūrdhva = ascendente; retas = sêmen), aquele que sublimou sua energia sexual e sua chitta para combinar-se na pura consciência.

Prāṇāyāma

10. ‘Prāṇa’ significa alento, respiração, vida, vitalidade, energia ou força. Quando utilizado no plural denota certas respirações vitais ou correntes de energia (prāṇa-vāyus). ‘Āyāma’ significa estender, extensão, expansão, comprimento, largura, regulação, prolongação, contenção ou controle. ‘Prāṇāyāma’ significa, assim, a prolongação da respiração e sua contenção. O Śiva Saṁhita o chama vāyu sādhana (vāyu = respiração; sādhana = prática, busca). Patanjali em seus Yoga Sūtras (Cap. 2, Sūtras 49-51) descreve o prāṇāyāma como a inspiração e a expiração controladas em uma postura firmemente estabelecida.

11. Prāṇāyāma é uma arte e tem técnicas para fazer os órgãos respiratórios moverem-se e expandirem-se intencional, rítmica e intensivamente. Ele consiste de um fluxo longo, sustentável e sutil de inalação (pūraka), exalação (rechaka) e retenção da respiração (kumbhaka). Pūraka estimula o sistema; rechaka expulsa o ar viciado e as toxinas; kumbhaka distribui a energia ao longo do corpo. Os movimentos incluem expansão horizontal (dairghya), ascensão vertical (āroha) e extensão circunferencial (viśālata) dos pulmões e da caixa torácica. Os processos e técnicas do prāṇāyāma são explicados nos capítulos subsequentes.

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Essa respiração disciplinada ajuda a mente a concentrar-se e permite que o sādhaka alcance uma saúde robusta e longevidade.

12. Prāṇāyāma não é apenas a respiração habitual automática para manter o corpo e a alma juntos. Pela inspiração abundante de oxigênio através de suas técnicas disciplinadas, mudanças químicas sutis ocorrem no corpo do sādhaka. A prática de āsanas remove as obstruções que impedem o fluxo do prāṇa e a prática de prāṇāyāma regula aquele fluxo de prāṇa ao longo do corpo. Ele também regula todos os pensamentos do sādhaka, desejos e ações, dando estabilidade e a tremenda força de vontade necessária para se tornar mestre de si mesmo.

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25 Capítulo 4

Prāṇāyāma e o Sistema Respiratório

‘Enquanto houver alento no corpo, há vida. Quando o alento parte, a vida também parte. Portanto, regule o alento.’ (Haṭha Yoga Pradīpikā – Cap. 2: Ś.3.) 1. Durante a inalação normal, uma pessoa mediana toma cerca de 500 centímetros cúbicos de ar; durante a inalação profunda a inalação de ar é cerca de seis vezes maior, correspondendo a quase 3000 centímetros cúbicos. As capacidades dos indivíduos variam de acordo com suas constituições. A prática do prāṇāyāma aumenta a capacidade pulmonar do sādhaka e permite que os pulmões alcancem uma ótima ventilação.

2. O segundo capítulo do Haṭha Yoga Pradīpikā trata do prāṇāyāma. Os primeiros três versos declaram: ‘Estando firmemente estabelecido na prática de āsanas, com seus sentidos sob controle, o iogue deve praticar o prāṇāyāma tal como ensinado pelo seu Guru, observando uma dieta moderada e nutritiva. Quando a respiração é irregular, a mente oscila; quando a respiração é estável, também o é a mente. Para alcançar estabilidade, o iogue deve refrear sua respiração. Enquanto houver alento no corpo, há vida. Quando o alento parte, a vida também parte. Portanto, regule o alento.’

3. A prática de prāṇāyāma ajuda a limpar os nāḍīs, que são órgãos tubulares do corpo sutil através dos quais a energia flui. Há vários milhares de nāḍīs no corpo e muitos deles iniciam-se nas áreas do coração e do umbigo. O prāṇāyāma mantém os nāḍīs em uma condição saudável e previne seu declínio. Isso, por seu turno, ocasiona mudanças na atitude mental do sādhaka. A razão para isso é que no prāṇāyāma a respiração começa na base do diafragma em ambos os lados do corpo perto da cintura pélvica. Assim sendo, o diafragma torácico e os músculos respiratórios acessórios do pescoço são relaxados. Isso por sua vez ajuda a relaxar os músculos faciais. Quando os músculos faciais relaxam, eles perdem o

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controle sobre os órgãos da percepção, nomeadamente, os olhos, ouvidos, nariz, língua e pele, diminuindo assim a tensão no cérebro. Quando a tensão ali é diminuída, o sādhaka alcança concentração, equanimidade e serenidade.

Por que tantos Prāṇāyāmas?

4. Numerosos āsanas desenvolveram-se para exercitar várias partes da anatomia – músculos, nervos, órgãos e glândulas – para que todo o organismo trabalhe de maneira saudável e harmoniosa. Os ambientes humanos, suas constituições, temperamentos e estados de saúde e mente variam, e diferentes āsanas ajudam em diferentes situações para aliviar as dores humanas e desenvolver harmonia. Muitos tipos de Prāṇāyāmas foram inventados e desenvolvidos para cumprir os requisitos físicos, mentais, intelectuais e espirituais do sādhaka sob condições oscilantes.

Quatro Estágios do Prāṇāyāma

5. O Śiva Saṁhitā discute os quatro estágios (avasthā) do prāṇāyāma em seu terceiro capítulo. Eles são: (a) o começo (ārambha), (b) esforço intencional (ghaṭa), (c) conhecimento íntimo (parichaya) e (d) consumação (niṣpatti). 6. No estágio ārambha, o interesse do sādhaka no prāṇāyāma desperta. No início ele é impetuoso e, por causa de seu esforço e a velocidade que quer os resultados, seu corpo treme e ele transpira. Quando pela perseverança ele continua a sua prática, os tremores e a transpiração cessam e o sādhaka alcança o segundo estágio de ghaṭāvasthā. Ghaṭa quer dizer um vaso d’água. O corpo é comparado com um vaso. Como um vaso de barro não cozido, o corpo desgasta. Cozinhe-o no fogo do prāṇāyāma para ganhar estabilidade. Nesse estágio os cinco kośas e os três śārīras são integrados. Depois dessa integração o sādhaka alcança o parichayāvasthā, onde ele obtém conhecimento íntimo das práticas do prāṇāyāma e de si próprio. Através desse conhecimento ele controla as suas qualidades (guṇas) e percebe as causas de suas ações (karma). A partir do terceiro estágio, o sādhaka prossegue rumo a niṣpatti avasthā, o estágio final de consumação. Os seus esforços amadureceram, as sementes do seu karma queimaram-se. Ele cruzou as barreiras dos guṇas e tornou-se um guṇātīta. Ele

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tornou-se um jīvanmukta – uma pessoa que é emancipada (mukta) em vida (jīvana) pelo conhecimento do Espírito Supremo. Ele experienciou o estado de êxtase (ānanda).

Sistema Respiratório

7. Para capacitar o leitor a ter uma figura clara de como o prāṇāyāma beneficia o corpo, é essencial ter alguma ideia do sistema respiratório. Discutiremos isso abaixo.

8. É conhecido que as necessidades energéticas básicas do corpo humano são atendidas predominantemente pelo oxigênio mais a glicose. Aquele ajuda no processo de eliminação pela oxidação da matéria residual, enquanto a glicose, juntamente com o oxigênio, nutre as células do corpo no fluxo da respiração. 9. O propósito do prāṇāyāma é o de fazer o sistema respiratório funcionar em seu melhor. Isso automaticamente melhora o sistema circulatório, sem o qual os processos de digestão e eliminação sofreriam. As toxinas podem acumular-se, as doenças espalharem-se através do corpo e uma saúde precária tornar-se habitual.

10. O sistema respiratório é o portal para a purificação do corpo, mente e intelecto. A chave para isso é o prāṇāyāma.

11. A respiração é essencial para a sustentação de todas as formas da vida animal, de uma ameba unicelular ao ser humano. É possível viver sem alimento ou água por alguns dias, mas quando a respiração cessa também cessa a vida. No Chāndogyopaniṣad diz-se: ‘Assim como os aros estão presos ao eixo da roda, da mesma maneira com o sopro dessa vida, tudo está preso. A vida move-se com a respiração da vida, que dá à vida a uma criatura viva. A vida a respira no pai de alguém, [...] na mãe, [...] no irmão, [...] irmã, professor, [...] ao Brahman [...] Certamente, aquele que vê, conhece e entende isso torna-se o falante excelente.’ (S. Radhakrishnan: Os Upaniṣads Principais, VII, 15, 1-4.)

12. O Kuaṣitaki Upaniṣad diz ‘Pode-se viver desprovido de discurso, pois vemos os estúpidos; desprovido de visão, pois vemos os cegos; da audição, pois vemos

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os surdos; sem mente, pois vemos os infantis; pode-se viver sem braços e pernas, pois assim vemos. Porém é apenas o espírito da respiração, o si inteligente que agarra esse corpo e o faz levantar. Isso é o tudo que obtém-se no espírito da respiração. Aquilo que é o espírito da respiração, também o é o si inteligente. Aquilo que é o si inteligente, também o é o espírito da respiração, pois juntos eles vivem nesse corpo e juntos saem dele.’ (S. Radhakrishnan: Os Upaniṣads Principais, III, 3.)

13. A respiração começa com a vida independente fora da mãe e termina quando a vida cessa. Quando a criança ainda está no útero o seu oxigênio é suprido através do sangue da mãe, e os seus pulmões não precisam funcionar. Quando há o nascimento, a primeira respiração da vida inicia ao comando do cérebro. 14. Durante a maior parte da vida, a profundidade e ritmo da respiração são autorregulados através do sistema nervoso, para suprir de uma maneira regulada e controlada o oxigênio fresco que é constantemente necessário pelas células e para dispensar o dióxido de carbono nelas acumulado.

15. A maioria de nós assume que porque a respiração é usualmente automática, ela está para além do nosso controle ativo. Isso não é verdade. No prāṇāyāma, pelo treinamento árduo dos pulmões e do sistema nervoso, a respiração pode tornar-se mais eficiente pela alteração de seu ritmo, profundidade e qualidade. A capacidade pulmonar dos grandes atletas, escaladores e iogues é muito maior que das pessoas ordinárias, permitindo-os a realização de feitos extraordinários. Uma melhor respiração significa uma vida melhor e mais saudável.

16. O ato de respirar é tão organizado que os pulmões são normalmente inflados dezesseis a dezoito vezes em um minuto. O ar fresco contendo o vivificante oxigênio é sugado até eles e os gases contendo dióxido de carbono dos tecidos do corpo são enviados em contrapartida pelas passagens respiratórias. A inflação rítmica dos suaves alvéolos dos foles dos pulmões semelhantes aos favos de mel é mantida pelos movimentos da caixa torácica e do diafragma. Este, por sua vez, é dirigido ou alimentado pelos impulsos enviados pelo centro respiratório no cérebro aos músculos relevantes através dos nervos. Deste modo o cérebro é o

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instigador através do qual a respiração e as três funções do pensamento, vontade e consciência são reguladas.

17. A ciclo respiratório consistem em três partes: inalação, exalação e retenção. A inalação é uma expansão ativa do tórax pela qual os pulmões são preenchidos de ar fresco. A exalação é um recuo normal e passivo da parede elástica do tórax por meio do qual o ar antigo é exalado e os pulmões são esvaziados. A retenção é uma pausa no final de cada inalação e exalação. Essas três formam um ciclo de respiração. A respiração afeta o ritmo cardíaco. Durante a retenção prolongada da respiração, uma diminuição da frequência cardíaca é observada, o que assegura um descanso maior ao músculo cardíaco.

18. A respiração pode ser classificada em quatro tipos:

(a) Respiração alta ou clavicular, onde os músculos relevantes no pescoço ativam principalmente a parte superior dos pulmões.

(b) Intercostal ou respiração mediana, onde apenas as partes centrais dos pulmões são ativadas.

(c) Respiração baixa ou diafragmática, onde as porções inferiores dos pulmões são principalmente ativadas, enquanto as partes superiores e centrais permanecem menos ativas.

(d) Na respiração total ou prāṇāyāmica, ambos os pulmões são utilizados em suas capacidades máximas.

Na inspiração prāṇāyāmica, a contração diafragmática é retardada até depois da contração consciente dos músculos da parede abdominal anterior e lateral. Esses músculos são conectados diagonalmente com a caixa torácica acima e a pélvis abaixo. Essa ação abaixa e estabiliza o diafragma em forma de cúpula que se origina na margem inferior da costela; ela empurra para cima os órgãos abdominais e aumenta a capacidade do tórax. Isso prepara o diafragma para uma contração subsequente de extensão e eficiência máximas ao reduzir a atração centrípeta. Isso minimiza a interferência com a próxima ação da sequência, a elevação, ascensão e expansão da caixa torácica inferior. Isso é

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realizado pela atração vertical do diafragma seguido da ativação sequencial dos músculos intercostais para permitir o pleno movimento, semelhante ao do compasso, das costelas flutuantes, movimento similar ao da alça de um balde das costelas individuais, elevação e expansão circunferencial plenas da caixa torácica como um todo a partir de sua origem na coluna. Finalmente os mais altos músculos intercostais conectando as costelas superiores, o esterno e as clavículas ao pescoço e crânio são contraídos, permitindo que a parte superior dos pulmões seja preenchida. Então a já expandida cavidade torácica expande-se ainda mais à frente, acima e lateralmente.

19. Essa série de movimentos do abdômen, da parede do tórax e do pescoço, na qual cada passo da sequência prepara o terreno para o próximo, resulta do preenchimento máximo dos pulmões, a fim de criar espaço para que o ar admitido alcance todos os cantos de cada pulmão.

20. O sādhaka deve primeiro direcionar sua consciência corporal especificamente e inteligentemente na parede abdominal anterior e inferior logo acima da pélvis. Para realizar isso, ele tem que mover a parede abdominal inferior em direção à coluna e contra o diafragma, como se massageando da pele aos músculos e dos músculos aos órgãos internos. Esse sentido de contração ativa consciente está associado com os movimentos visíveis da parede abdominal da superfície da pele às suas camadas mais profundas e pode ser direcionado à vontade. Depois disso, direcione a sua atenção na expansão das regiões laterais e posteriores do tórax. Eleve a parede do tórax inferior simultaneamente expandindo a parede superior do peito com sua pele e músculos. O diafragma gradual e suavemente retoma a sua forma de domo conforme começa a relaxar ao longo do final da inspiração. Durante a exalação o domo move-se novamente para cima. Ele é ativo no início da expiração para encorajar um início suave e lento ao recuo elástico dos pulmões.

21. O oxigênio fresco que é sugado difunde-se entre os minúsculos sacos (os sacos alveolares) que formam a unidade básica dos pulmões. As membranas ao redor desses alvéolos conduzem esse oxigênio para a corrente sanguínea e então o dióxido de carbono do sangue até o ar dos pulmões para o seu descarte através

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da exalação. O sangue com oxigênio fresco é carregado pelas artérias do lado esquerdo do coração para as células de todo canto e recanto do corpo, reabastecendo assim os seus estoques de oxigênio que possibilita à vida. Os produtos restantes (principalmente dióxido de carbono) jogados fora por cada alvéolo são então levados pela corrente de sangue venoso do lado direito do coração até os pulmões para descarte. O coração bombeia esse sangue através do corpo em uma taxa média de setenta vezes por minutos. Por isso que para respirarmos adequadamente precisamos da suave coordenação de todas as partes relevantes do corpo, a casa de controle ou poder (o sistema nervoso), dos foles (os pulmões), a bomba (o coração) e o encanamento (as artérias e veias), além do motor motriz das costelas e do diafragma.

O Tórax

22. O tórax é uma caixa formada pelas costelas na qual os pulmões e o coração estão localizados. Sua forma é de um cone truncado, estreito no topo e ampliando-se abaixo. O topo é fechado pelos músculos do pescoço anexados às clavículas. O tubo de vento (traqueia) passa através dele em seu caminho da garganta até os pulmões. Esse cone truncado é levemente achatado da frente para trás. Sua superfície óssea inclui a parte torácica da coluna vertebral na linha média das costas e o peitoral na frente. Ele tem doze pares de costelas achatadas que se curvam sobre o intervalo entre a coluna atrás e o esterno na frente para formar pontes semicirculares de cada lado. Os espaços entre as colunas são preenchidos pelos músculos intercostais internos e externos. Existe, ademais, músculos conectando a décima-segunda costela à pélvis e a primeira à coluna cervical. Existem onze pares de músculos ao todo. A expansão e contração do tórax são controladas por esses músculos e o diafragma. A área torácica dorsal é como uma metade de uma folha de bananeira, a coluna sendo o talo, as costelas igualmente espaçadas sendo as veias e o cóccix o final mais fino da folha (Gravura 1 & 2).

Os Pulmões e a Árvore Brônquica

23. Os pulmões direito e esquerdo diferem de forma e capacidade. Na maioria de nós a maior parte do coração, que é quase do tamanho de um punho, está

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do lado esquerdo. Consequentemente, este pulmão é menor. Ele é dividido em dois lobos, um sobre o outro, enquanto que o pulmão direito tem três lobos. (Fig. 5)

24. Os pulmões são cobertos por uma membrana chamada de pleura e devido a sua forma expandem um pouco como a câmara de uma bola de futebol americano.

25. O domo da parte direita do diafragma é mais alto do que da parte esquerda. Abaixo dele está o fígado, o maior órgão abdominal sólido, menos compressível e depressível do que o estômago e o baço que estão abaixo da parte esquerda do diafragma. Na inalação total, quando tenta encher os pulmões, a maioria das pessoas conseguem sentir uma maior resistência abaixo do lado direito do diafragma, onde está o fígado, quando a atenção delas é levada para a área. A fim de equalizar o enchimento de ambos os pulmões a partir da base e dos lados, um esforço especial e a atenção deve ser dirigida aos movimentos diafragmáticos e da parede do tórax do lado direito.

26. O sistema brônquico, conectando a traqueia e os alvéolos, está na caixa torácica. Ele é similar a uma árvore invertida com suas raízes no esôfago, enquanto os galhos espalham-se abaixo em direção ao diafragma e as paredes laterais da cavidade torácica.

27. A traqueia na garganta é um tubo de quase dez centímetro de comprimento e menos de 2.5 centímetros de largura, que se ramifica em dois brônquios primários, um para cada pulmão. Ambos ramificam-se em numerosas passagens de ar diminutas chamadas bronquíolos. Ao final de cada um desses bronquíolos estão os alvéolos, os pequenos sacos de ar aglomerados como cachos de uvas, em torno de 300 milhões revestindo cada pulmão, sua superfície cobrindo cerca de 67 a 83 metros quadrados – 40 a 50 vezes a superfície da pele humana. 28. Esses alvéolos são pequenas câmaras com múltiplas bolsas com um revestimento incompleto de células. O intervalo entre as células (o espaço intersticial) é preenchido com fluido. Em torno da parede externa do alvéolo encontram-se minúsculos vasos sanguíneos (os capilares). A troca de gases

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ocorre entre o alvéolo e as células vermelhas de sangue e o plasma via fluido no alvéolo ou no espaço intersticial.

29. A ar no alvéolo contém mais oxigênio e menos dióxido de carbono do que o sangue que passa através dos capilares nos pulmões. Durante a troca de oxigênio e dióxido de carbono, as moléculas de oxigênio difundem-se para dentro e as de dióxido de carbono para fora do sangue.

A Coluna

30. A coluna deve ser mantida firme como o tronco de uma árvore. O cordão espinhal está protegido por trinta e três vértebras. As sete vértebras no pescoço são chamadas cervicais. Abaixo delas estão as doze dorsais ou vértebras torácicas, que são conectadas com as costelas, formando uma caixa protetora dos pulmões e do coração. As dez costelas superiores de ambos os lados estão unidas à frente no lado interior do esterno, porém as duas costelas flutuantes abaixo não estão. As costelas flutuantes são assim chamadas porque elas não estão ancoradas no esterno. Abaixo das dorsais estão as vértebras lombares e ainda mais abaixo o sacro e o cóccix, ambos formados por vértebras fundidas. A mais baixa vértebra coccígea enrola-se para a frente.

O Esterno

31. O esterno tem três partes. Na respiração, o topo e a parte mais baixa devem ser mantidos perpendiculares ao chão. Utilize-o para atuar como um suporte para elevar as costelas laterais como a alça de um balde e criando, portanto, mais espaço através da expansão dos pulmões para os lados e para a frente.

32. Os pulmões abrem-se lateralmente e espaço para a expansão é criado com a ajuda dos músculos intercostais. Mantenha os músculos intercostais interiores das costas firmes. Se a pele das costas não coordena com os músculos intercostais a respiração se torna superficial, reduzindo o influxo de oxigênio, causando fraqueza física e falta de resistência corporal.

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33. Como um percussionista aperta a pele de seu tambor para alcançar a ressonância e o violinista ajusta suas cordas para obter clareza do som, o iogue ajusta e alonga a pele de seu tronco para criar uma resposta máxima dos músculos intercostais para ajudar o processo respiratório quando pratica o prāṇāyāma.

34. As costelas flutuantes, não estando fixas à frente no esterno expandem-se como as duas pernas de um compasso para criar mais espaço no tórax. Lateralmente, as espessas costelas medianas podem expandir-se lateralmente, desse modo ampliando e elevando à caixa torácica. Isso não afeta as costelas superiores. Preencher os limites superiores dos pulmões requer treino e atenção. Aprenda a usar os músculos intercostais interiores mais elevados e a parte superior do esterno. Expanda a caixa torácica da estrutura interna para a externa, pois isso irá alongar os músculos intercostais.

O Diafragma

35. O diafragma é uma grande partição muscular que separa à cavidade torácica da abdominal. Ancorado em toda a circunferência da caixa torácica inferior, ele está anexado nas costas às vértebras lombares, nas laterais das seis costelas inferiores e a frente à cartilagem na forma de uma adaga do esterno. Acima dele estão o coração e os pulmões e abaixo dele o fígado na direita e o estômago e o baço na esquerda.

Músculos Acessórios

36. Os músculos acessórios da garganta, tronco, coluna e abdômen são os acessórios utilizados na respiração, que é ordinariamente controlada pelo diafragma. Para além dos músculos já descritos, os do pescoço, especialmente o esternocleidomastoideo e o escaleno, também atuam. Eles contribuem muito pouco na respiração silenciosa, porém se tornam ativos quando a taxa ou profundidade é aumentada e rígidos quando a respiração é retida. A utilização dos músculos respiratórios acessórios varia de um indivíduo para outro. Também varia de tempo em tempo na mesma pessoa, dependendo de quão poderosa ela se esforça em sua respiração e quão eficiente e tensamente.

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37. Todos nós respiramos, mas quantos de nós o faz corretamente, com atenção? Má postura, um tórax com má formação ou afundado, obesidade, desordens emocionais, vários problemas pulmonares, tabagismo e a utilização irregular dos músculos respiratórios, levam à respiração imprópria, abaixo da capacidade. Estamos conscientes do desconforto e deficiência que então surgem. Muitas mudanças sutis ocorrem em nosso corpo como um resultado da respiração pobre e da má postura, levando à respiração pesada, função pulmonar inadequada e agravamento de doença cardíaca. O prāṇāyāma pode também ajudar a prevenir essas desordens e ajudar a examiná-las ou curá-las, para que possamos viver plenamente e bem.

38. Assim como a luz irradia a partir do disco do sol, da mesma maneira o ar espalha-se através dos pulmões. Mova o tórax para cima e para fora. Se a pele sobre o centro do esterno pode mover-se verticalmente para cima e para baixo e ela pode expandir-se para um lado e para o outro de maneira circunferencial, isso mostra que os pulmões estão sendo preenchidos até as suas capacidades máximas.

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36 Capítulo 5

Nāḍīs e Chakras

1. A palavra nāḍī é derivada de nād significando uma haste oca, som, vibração e ressonância. Nāḍīs são tubos, dutos ou canais que carregam ar, água, sangue, nutrientes e outras substâncias ao longo do corpo. Eles são nossas artérias, veias, capilares, bronquíolos e assim por diante. Em nossos assim chamados corpos sutis ou espirituais, que não podem ser pesados ou mensurados, eles são canais das energias cósmicas, vitais, seminais entre outras, assim como das sensações, consciência e da aura espiritual. Eles são chamados por diferentes nomes de acordo com suas funções. Nāḍikās são pequenos nāḍīs e nādīchakras são gânglios e plexos em todos os três corpos – o grosseiro, o sutil e o causal. Os corpos sutis ou causais ainda não são reconhecidos pelos cientistas ou pela profissão médica.

2. Diz-se no Varāhopaniṣad (V, 54/5) que os nāḍīs penetram o corpo das solas dos pés até a coroa da cabeça. Neles há prāṇa, o alento da vida e nesta vida habita Ātmā, que é a morada de Śakti, criadora dos mundos animados e inanimados.

3. Todos os nāḍīs originam-se de um centro ou de outro, do kandasthāna – um pouco abaixo do umbigo – ou do coração. Apesar dos textos da Yoga concordarem em relação ao ponto de início deles, eles variam sobre onde alguns terminam.

Nāḍīs que Se Originam Abaixo do Umbigo

4. Quatro dedos acima do ânus e dos órgãos genitais e logo abaixo do umbigo, há um bulbo no formato de ovo chamado kanda. A partir dele diz-se que 72.000 nāḍīs empalham-se ao longo do corpo, cada um ramificando-se em outros 72.000. Eles se movem em todas as direções e têm inúmeras saídas e funções.

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5. O Śīva Saṁhitā menciona 350.000 nāḍīs, dos quais catorze são declarados importantes. Esses e poucos outros são listados com suas funções na tabela abaixo. Os três que são mais vitais são suṣumṇā, iḍā e pingalā.

6. O suṣumṇā, que percorre através do centro da coluna, separa-se na raiz e termina na coroa da cabeça no lótus de mil pétalas (sahasrāra), que é a sede do fogo (agni). O Varāhopaniṣad (V, 29, 30) o descreve como flamejante e brilhante (jvalanti), e como sendo encarnado (nādarūpinī). Ele é também chamado de o ‘Suporte do Universo’ (Viśvadhāriṇī: viśva = universo, dhāriṇī = suporte), o brahmanāḍī e a abertura de Brahma (Brahmarandhra). Ele é iluminação (sattva). Ele provê deleite ao sādhaka quando o prāṇa o adentra e engole o tempo. Nāḍīs que Se Originam no Coração

7. De acordo com o Kaṭhopaniṣad (VI 16, 17) e o Praśnopaniṣad (III, 6), o Ātmā, que se diz ser do tamanho de um dedão, habita no interior do coração, onde cento e um nāḍīs propagam-se. No Chāndogyopaniṣad (III, 12, 4) diz-se que assim como a cobertura externa do ser humano é o corpo físico, seu núcleo interior (ḥrdayam) é o coração (VIII 3.3), onde habita o Ātmā. É também chamado antarātma (alma, coração ou mente). Antaḥkaraṇa (a fonte do pensamento, sentimento e consciência) e chidātmā (a faculdade do raciocínio e a consciência).

8. Aqui o coração representa tanto o físico quanto o espiritual. Todos os alentos vitais ou ventos (vāyus) estão estabilizados ali e não vão para além dele. É ali que o prāṇa estimula as ações e ativa a inteligência (prajña). A inteligência se torna a fonte do pensamento, imaginação e vontade. Quando a mente está controlada e o intelecto e o coração estão unidos, o si é revelado. (Śvetāśvataropaniṣad IV 17.)

9. De cada um desses 101 nāḍīs emanam cem nāḍīs mais sutis, cada um ramificando-se em outros 72.000. Se há harmonia entre os cinco ventos (vāyus) (nomeadamente, prāṇa, apāna, udāna, vyāna e samāna) e esses nāḍīs, então o corpo se torna um céu na terra; porém se há desarmonia ele se torna um solo para doenças.

Referências

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