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Os artefactos são uma presença frequente nas imagens RM sendo necessário identificá-los. É importante ter conhecimento da sua origem de forma a poder minimizá-los. Alguns artefactos podem ser eliminados, outros apenas minimizados alterando e corrigindo alguns parâmetros. Os artefactos podem ser agrupados em função da sua origem. Assim, podem resultar de: (1) Perturbações do campo magnético, (2) Artefactos de RF e relacionados com os gradientes, (3) Movimento e Fluxo, (4) Processamento e mapeamento e ainda relacionados com outras causas. No âmbito deste trabalho abordaremos aqueles que no contexto dos estudos relacionados com a produção de fala poderão ser mais frequentes ou que condicionem a qualidade de imagem.

4.6.1 Artefactos de susceptibilidade magnética

A susceptibilidade magnética (χ) representa a capacidade de uma substância se magnetizar na presença de um campo magnético. Os tecidos apresentam diferentes graus de magnetização dando origem a diferenças na frequência de precessão (Hashemi & Bradley, 1997; Caseiro Alves, 1998). Os artefactos de susceptibilidade magnética ocorrem como consequência de variações microscópicas na Intensidade de campo magnético na interface de substâncias com diferente susceptibilidade magnética (interfaces ar/tecido e tecido/gordura como, por exemplo, no pulmão, na naso-faringe, seios face, base crânio etc). Podem ocorrer também quando há objectos ferromagnéticos dentro de materiais diamagnéticos (p.e. alguns implantes, corpos estranhos). Surgem também em áreas de hemorragia recente, devido à concentração local elevada de hemoglobina podendo nestes casos contribuir para o diagnóstico da hemorragia. Quando se utilizam altas concentrações de contrastes superparamagnéticos (a ingestão de óxidos de ferro como agentes de contraste oral) pode também existir perturbação do campo magnético local, dando origem a artefactos. Os objectos ferromagnéticos têm uma susceptibilidade magnética muito elevada e a consequência para a imagem traduz-se pelo aparecimento de áreas muito brilhantes e áreas escuras (vazio de sinal), com distorção espacial das estruturas anatómicas circunvizinhas, com degradação da imagem (Hashemi & Bradley, 1997; Ester & Burdette, 2001).

Estes artefactos são mais acentuados em sequências com TE muito elevado e nas sequências EG, uma vez que a reversão do gradiente não compensa a diferença de fase na interface das estruturas. Este artefacto poderá, nos estudos de produção de fala mostrar-se bastante condicionante na medida em que a escolha dos informantes estará dependente do tipo de material presente nos tratamentos dentários. Se nas sequências mais frequentemente utilizadas para os

estudos estáticos (por exemplo, SE, TSE) estes artefactos são mínimos, já nas sequências de aquisição mais rápida para obtenção de imagens em tempo real (geralmente EG) podem ser de uma ordem de grandeza que não permita a visualização das estruturas em estudo, e em particular de alguns articuladores cujos movimentos têm que ser observados.

4.6.2 Aliasing ou Wrap around (2D e 3D)

É possível reconstruir um sinal contínuo a partir de um determinado número discreto de amostras. O número de amostras mínimo ou frequência de amostragem é determinado pelo Teorema de

Nyquist. Segundo este teorema, a frequência mínima de amostragem, não deverá ser inferior a

pelo menos o dobro da frequência mais alta contida no sinal (Elster & Burdette, 2001; Hashemi & Bradley, 1997; Liang & Lauterbur, 2000).Se esta frequência de amostragem, não for respeitada dará origem a um artefacto denominado de aliasing de frequência e ocorre ao longo desta direcção. Nos equipamentos mais recentes dificilmente é perceptível uma vez que se utilizam técnicas de sobre-amostragem (oversampling) e filtros passa-banda (Elster & Burdette, 2001).

O artefacto de aliasing na prática diária é mais frequente e sério ao longo da direcção de codificação da fase e resulta da selecção de um FOV, na direcção da fase, que é mais pequeno do que as estruturas que se querem estudar. Em termos físicos, o artefacto resulta do facto de ser necessário um determinado número de ciclos de fase para cada passo de codificação da fase, para abarcar o FOV seleccionado. Para o primeiro passo de codificação existem desvios de fase entre 0º e 360º, ao longo do FOV. Qualquer estrutura anatómica que esteja fora do FOV, apresenta um desvio de fase menor que 0º, ou superior a 360º. Se, por exemplo, tiver um desvio de fase entre os 361º e 450º e, como todas as frequências com significado, foram definidas entre 0º e 360º, um desvio de fase de 361º corresponderá a uma posição espacial de 1º, e um desvio de 450º corresponderá a 450º-360º, ou seja, 90º. Desta maneira, a parte anatómica adjacente aos bordos do campo de visão é projectada (“enrolada”) do outro lado da imagem (Elster & Burdette, 2001; Hashemi & Bradley, 1997).

Figura 4. 17 - Artefacto de aliasing (2D FT) na direcção da fase onde se observa o nariz

A correcção deste artefacto passa por aumentar o FOV na direcção de codificação da fase (diminui a resolução espacial) ou oversampling (aumentar Ny) às custas do aumento do tempo de aquisição, trocar a direcção da fase com a frequência se possível, utilização de bandas de saturação exteriores ao FOV ou quando adequado, utilizar antenas de superfície.

Aliasing 3D

Nas aquisições em volume (3D FT) também pode ocorrer aliasing ao longo da direcção de codificação da fase (na direcção do slab). O artefacto ocorre entre cortes na periferia da partição 3D, geralmente com sobreposição dos primeiros com os últimos cortes do volume. Para minimizar este artefacto, tem que se seleccionar um FOV um pouco maior do que a dimensão das estruturas a observar nessa direcção. Para manter a resolução espacial, com o aumento do FOV é necessário aumentar os passos de codificação da fase o que se reflecte num aumento nem sempre desejado do TA (Elster & Burdette, 2001; Hashemi & Bradley, 1997).

Na Figura 4. 18, pode observar-se o artefacto entre os cortes periféricos de um volume adquirido no âmbito deste estudo, no falante PAA.

Figura 4. 18 - Artefacto de “enrolamento” numa aquisição 3D - observa-se sobreposição dos

últimos cortes do volume obtido, sobre os primeiros (Falante PAA).

4.6.3 Slice overlap

Semelhante ao artefacto de excitação cruzada12. Resulta numa perda de sinal quando se efectuam múltiplas ranges de cortes, com diferentes orientações. A perda de sinal atravessa a imagem horizontalmente, sendo mais pronunciada na parte posterior. Nos estudos de produção de fala aparece com frequência quando se efectuam, na mesma aquisição cortes axiais, coronais e coronais oblíquos (cortes perpendiculares ao tracto vocal) para obtenção das áreas transversais.

12

O artefacto de excitação cruzada resulta do facto dos pulsos de excitação não serem perfeitamente rectangulares, no domínio espacial, conduzindo a uma sobreposição espectral a nível dos cortes adjacentes. Para minimizar este artefacto deve-se utilizar um pequeno intervalo entre os cortes.