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Na pesquisa de campo8 ao município, constatou-se, por meio de entrevistas, que a cultura tradicional de Paraty é a caiçara. Entretanto, com o desenvolvimento turístico, muitos indivíduos naturais de outros lugares do Brasil foram morar na cidade com o intuito de gerar renda, dedicando-se a atividades ligadas ao setor. Com isso, atualmente é possível encontrar em Paraty uma grande diversidade cultural, que pode ser observada por meio dos restaurantes, estilos das pousadas e, é claro, no artesanato local.

Dentre os principais itens do artesanato local encontrados nas lojas de souvenir, podemos destacar aqueles feitos com papier marché9, a partir do qual os artesãos fazem principalmente balões coloridos; a cestaria, que é pertencente aos indígenas residentes na região e também à comunidade do Quilombo Campinho da Independência, situado na cidade; a cerâmica, cuja técnica foi herdada do município de Cunha; e o artesanato feito em madeira, que são encontrados na forma de barquinhos, canoas ou remos.

Figura 2: Artesanatos encontrados em Paraty – Papier Marché, gesso e cestaria Fonte: Arquivo pessoal

8 Pesquisa de campo realizada no período de 21/12/2012 a 23/12/2012. Os nomes dos entrevistados aqui

citados são reais e sua utilização neste trabalho foi autorizada pelos próprios.

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“Material moldável, fabricado basicamente de polpa de papel e substâncias aglutinantes. Torna-se duro e resistente ao secar e é passível de ser polido depois de pintado [...].” (MOUTINHO, 1999, p.285)

Além desses, também é possível encontrar diversos outros tipos de peças de artesanato, como quadros com pinturas representativas do lugar, costuras e bordados ou as feitas em gesso, representando a arquitetura do centro histórico da cidade. Os indígenas também confeccionam bijuterias feitas com sementes e/ou penas de animais. É importante lembrar que os souvenires industrializados também são muito constantes entre os produtos vendidos nas lojas de souvenir.

A maioria desse artesanato citado, ainda que seja produzido na cidade, não possui uma ligação direta com a memória e com a cultura de Paraty. Muitos deles são o reflexo de modismos que alcançam diversas regiões brasileiras. Com isso, muitos artesãos são influenciados por essa globalização que nossa sociedade atual vive e acabam confeccionando peças de artesanato sem um valor cultural significativo agregado, necessariamente.

A cestaria é um tipo de artesanato que divide opiniões em relação ao seu pertencimento à identidade local de Paraty. Produzido tanto pelos índios Guaranis, residentes na Vila de Paraty-Mirim, quanto pela comunidade quilombola, residentes na região de Campinho, muitos moradores locais a consideram como um artesanato local, mas não tradicional10.

A isso se deve o fato de os indígenas não serem originais de Paraty e sim terem sido levados pelo Estado para a cidade em tempos recentes, pois haviam sido expulsos de suas terras. Já em relação à comunidade quilombola, a alegação é o fato de eles estarem instalados na cidade desde o século XIX e terem desenvolvido, ao longo do tempo, uma cultura própria.

Com isso, os barquinhos de madeira, citados anteriormente, são considerados pela comunidade local como os únicos artefatos vendidos como souvenir que realmente representam a cultura local. Para eles, os barquinhos carregam a identidade e a memória de Paraty por serem feitos muito antes de o turismo existir na cidade. A confecção desse tipo de artesanato já ocorria há muitos

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Observou-se durante a pesquisa de campo que os artesãos de Paraty fazem uma distinção entre o artesanato local e o artesanato tradicional. O primeiro seria aquele que é confeccionado na cidade, por artesãos que residem lá, independente do tipo de artesanato. Já o tradicional, seria o artesanato realmente típico da cidade, que existia antes do turismo, e retrata a verdadeira identidade local.

anos, configurando uma tradição entre os caiçaras, uma vez que eram os brinquedos dados pelos pescadores a seus filhos.

Atualmente, grande parte da produção desse artesanato tradicional comercializado no centro da cidade, vem de uma região de Paraty denominada Saco do Mamanguá, onde existe uma vila de pescadores. Segundo Mauro11, proprietário de uma loja de souvenir localizada no Centro Histórico da cidade, atualmente a confecção e venda desse artesanato representa a maior fonte de renda dessas famílias.

A venda desses barcos de madeira para os turistas foi amadurecendo ao longo do tempo, quando os próprios turistas passaram a se interessar pelos objetos feitos pelos caiçaras. Atualmente existem, inclusive, muitas encomendas feitas durante todo o ano diretamente no Atelier da Terra, a loja do Mauro, para os barcos, canoas e remos produzidos pelas famílias de pescadores.

Então, a pesca deixou de ser a atividade principal dessas famílias, dando lugar ao artesanato. A rede dos pescadores só é lançada ao mar para complementar a renda dessas famílias nos períodos de baixa temporada do turismo. Apesar disso, Mauro relata que, para que o produto chegue até os turistas, é necessário que o transporte seja feito via barco, devido ao difícil acesso ao Saco do Mamanguá, o que acaba encarecendo o produto frente aos objetos produzidos nas proximidades do centro.

Figura 3: Barquinho de madeira produzido por famílias de pescadores Fonte: Arquivo pessoal

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O reconhecimento desse artesanato é muito forte na cidade. Mauro conta que recebe muitos grupos de turistas levados por guias locais até sua loja, pois muitos demonstram interesse em comprar um produto que realmente carregue a alma de Paraty, que represente a peculiaridade do povo paratiense.

Mauro, assim como a grande maioria dos proprietários das lojas de souvenir de Paraty, não nasceu na cidade. Entretanto, como poucos, consegue enxergar a importância da manutenção dessa cultura artesanal para as futuras gerações. Por isso, emprega em seu empreendimento, jovens que tenham o interesse de aprender as técnicas artesanais de confecção, acabamento e pintura dos barcos.

Figura 4: Barco artesanal sendo finalizado no Atelier da Terra Fonte: Arquivo pessoal

Além desses, também devemos destacar as famosas aguardentes produzidas na cidade. As cachaças artesanais são típicas da cidade de Paraty, fazem parte da história econômica do município devido à grande quantidade de engenhos de

aguardente existentes nos séculos passados. Todos os anos a cidade recebe uma grande quantidade de turistas para o chamado Festival da Pinga, um dos maiores eventos da cidade, onde são expostas as cachaças produzidas nas fazendas da região.

As cachaças artesanais podem ser encontradas durante todo o ano em lojas específicas de bebidas e em algumas outras lojas de souvenir localizadas no Centro Histórico. Juntamente com as cachaças, também podemos encontrar alguns doces caseiros produzidos nas mesmas fazendas.

Figura 5: Cachaças produzidas em Paraty Fonte: Arquivo Pessoal

Outro artesanato um pouco menos comum de se ver na cidade, mas que julgamos importante mencionar aqui são as joias artesanais. Tivemos a oportunidade de entrevistar Edmilson Gonçalves, um artesão de origem mineira que confecciona esse tipo de produto e tem como principais clientes os turistas de Paraty. Para ele, esse tipo de artesanato reflete a história da cidade e também representa a identidade do povo paratiense, uma vez que Paraty teve grande importância no Ciclo do Ouro, estando sua cultura bastante ligada à das cidades mineiras devido à Estrada Real.

Figura 6: Colar confeccionado pelo artesão Edmilson

Fonte: site do artesão – www.edmisongonçalves.com.br, em dezembro de 2012

Diante de tanta variedade do artesanato existente na cidade, e da relevância que o comércio configura para os paratienses, é importante que façamos um levantamento de como a homogeneização desse tipo de produto pode e vem afetando a comunidade local de Paraty. Assim, podemos relacionar o referencial teórico com um exemplo prático desse fato, que ocorre não somente em Paraty, mas em muitos destinos turísticos do Brasil e do mundo.

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