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5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1. Modelo de Jogo: Quatro momentos, uma identidade

5.1.2. Articulação de Sentido: A fluidez do «jogar»

De acordo com a “Periodização Táctica”, o processo tem como finalidade desenvolver uma determinada forma de jogar e portanto, defender atacar e transitar entre estes dois momentos. Desta forma, o desenvolvimento do «jogar» que irá distinguir a equipa exige a organização de comportamentos em momento defensivo, ofensivo, da transição ofensiva e da transição defensiva (Gomes, 2006).

Embora exista a possibilidade de distinguir estes vários momentos de jogo, eles sucedem-se incessantemente de forma não linear isto é, sem uma ordem determinada. Assim o jogo é constituído pelos diversos momentos que não se dissociam. Reforçando esta ideia, José Mourinho (cit. Oliveira, B. et al., 2006:192) afirma que “não consigo dizer se o mais importante é defender bem ou atacar bem, porque não consigo dissociar esses dois momentos.Acrescentando que “ a equipa é um todo e o seu funcionamento é feito num todo também” e por isso, “está demasiado interligado para eu conseguir fazer essa separação” (Gomes, 2006).

Neste sentido, a Organização da equipa nos vários momentos deve ser coerente ou seja, deve existir a já referida Articulação de Sentido. Convergindo para esta ideia, Guilherme Oliveira (anexo 1) enuncia um exemplo muito esclarecedor da interrelação entre os princípios defensivos e os ofensivos: “eu quero ter uma boa posse de bola, uma boa circulação de bola e para ter uma boa circulação de bola tenho de ter um jogo posicional muito bom. Por isso, os jogadores têm de estar bem colocados mesmo nos aspectos defensivos, para quando ganharem a posse de bola estarem nos sítios certos para a bola poder circular.” Neste contexto acrescenta: “ se eu tenho este princípio ofensivo de posse e circulação de bola e defendo homem a homem, faço marcações individuais, o que vai acontecer é que em muitos momentos, quando ganhar a posse de bola, os jogadores não vão estar colocados nos sítios certos para ter

uma boa posse de bola”. Neste caso, não existe uma relação adequada dos princípios de jogo desenvolvidos nestes momentos e por isso, esta articulação não é eficaz para o «jogar» que se deseja (Gomes, 2006).

Imaginemos, por exemplo, uma equipa de basquetebol que tem como grande princípio para o momento da transição ofensiva a exploração constante de situações de contra-ataque, e que explora a ocupação dos corredores laterais por parte dos extremos, para que estes progridam sem bola. Apostando numa marcação individual, o treinador de qualquer equipa terá inúmeras dificuldades em prever onde estarão os seus extremos no momento de recuperação da bola, o que certamente, irá dificultar a respectiva ocupação dos corredores laterais e por conseguinte a exploração constante da situação de contra-ataque no decorrer do próprio jogo. Assim, não se estabelece uma Articulação de Sentido entre os diversos princípios, sendo esta, uma articulação pouco eficaz para o “jogar” que pretendemos construir.

Concorrendo para este sentido, Vítor Frade (2003) reporta-se à Articulação de Sentido para dizer que os princípios defensivos, ofensivos, de transição defesa-ataque e ataque-defesa assentam numa lógica de funcionamento, o modelo de jogo. Assim, clarifica que os princípios de cada momento se articulam numa relação Específica. No entanto, a Especificidade que narramos não se limita à articulação dos princípios dos vários momentos do jogo ou seja, compreende igualmente a articulação dos princípios, sub- princípios e sub-princípios de sub-princípios de cada momento do jogo (Gomes, 2006).

5.1.2.1. A articulação dos Princípios, sub-princípios e sub-princípios de sub- princípios no desenvolvimento da Especificidade

Guilherme Oliveira relata que a interacção dos princípios é capital para a qualidade do «jogar» e por isso, acrescenta que a articulação entre os sub- princípios e os sub-sub-princípios é também primordial. No entanto, menciona que muitas vezes as dificuldades destas interacções não são muito evidentes obrigando que o treinador esteja atento a esta dinâmica. Neste sentido, afirma que muitas vezes estes sub-princípios de sub-princípios têm de ser “reformulados em função daquilo que se pretende treinar para que os comportamentos passem a ser mais proveitosos entre esses jogadores da equipa” (Gomes, 2006).

Dentro desta lógica, Vítor Frade (2003) menciona que o grande dilema da operacionalização se descobre na articulação entre os princípios, sub- princípios e sub-sub-princípios. Para além disso, acrescenta que o facto de o treinador colocar maior ou menor ênfase num ou noutro princípio, numa ou noutra articulação entre princípios ou sub-princípios faz com que a evolução do processo seja exclusiva ou seja, única. (Gomes, 2006).

Concorrendo para esta ideia, Guilherme Oliveira refere-se ao trabalho do cozinheiro, que com os mesmos ingredientes é capaz de produzir sabores distintos devido á forma como os confecciona. Através desta analogia, ilustra que isso também acontece no desenvolvimento do jogo pelo modo como “os princípios se interrelacionam: mais um, menos um, mais este, menos aquele, dar mais importância a um e menos importância a outro. Isto faz com que o jogo assuma manifestações consideravelmente diferentes” (Gomes, 2006).

Podemos enquanto treinadores, conceber uma ideia de jogo em que a articulação entre o momento de organização defensiva e transição defesa- ataque se torna prioritário, isto é, pretendo por exemplo, ter constantemente uma pressão no portador da bola da equipa adversária e promover interacções

que permitam regularmente criar situações de contra-ataque. Desta forma, embora eu tenha princípios para todos os momentos do jogo, estes irão merecer um maior grau de importância na construção do «jogar» que cada treinador pretende. Assim, a evolução de cada «jogar» resulta do desenvolvimento da equipa e dos problemas que apresenta levando o treinador a dar maior ou menor importância a determinados princípios, em detrimento de outros. Neste seguimento, imaginemos uma equipa que num jogo cria muitas situações de finalização, mas apresenta uma eficácia reduzida. Perante este problema, o treinador terá de dar maior importância ao sub-princípio da finalização sobretudo nos movimentos e no posicionamento dos diversos jogadores. No entanto num outro momento, a equipa poderá apresentar dificuldades em ocupar correctamente os espaços após a perda da bola, impedindo, por exemplo, que a defesa zona a campo inteiro se possa executar e que dessa forma facultemos diversas situações de finalização em vantagem numérica ao nosso adversário. Neste caso, o treinador procura incidir sobre o princípio da transição defensiva, ao nível dos comportamentos dos homens da primeira linha de pressão, de modo a corrigir este aspecto que afectou o rendimento da equipa.

Através destes exemplos, compreendemos que o desenvolvimento do «jogar» tem origem na importância que o treinador dá aos princípios ou sub- princípios ou à articulação de sub-sub-princípios que identifica como essenciais para a qualidade do jogo. Assim, a operacionalização impõe uma colossal sensibilidade e entendimento do «jogar» que se aspira, para desta forma, recair mais neste ou naquele aspecto em detrimento de outros. Estas opções fazem a diferença porque se diante de um problema de finalização, o treinador delibera não incidir sobre este sub-princípio e inquieta-se com outros, então dirige o desenvolvimento do processo para um sentido discrepante de um treinador que coloca ênfase nesta contrariedade e pretende corrigi-la. Desta forma, o propósito elementar do treino passa por conceber uma determinada forma de

«jogar» isto é, desenvolver os princípios de jogo dos vários momentos através de exercícios Específicos, no sentido da equipa alcançar os comportamentos que se ambiciona. Concluímos assim, que o exercício desempenha um papel fulcral no desenvolvimento da Especificidade (Gomes, 2006).

5.2. A construção de bacias de atracção: Quando o treinador é um