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3. REVISÃO DA LITERATURA

3.5. Organização; uma condição imprescindível para sobreviver

3.5.2. Modelo de Jogo: A organização da equipa

“(…) o Processo de Treino é qualquer coisa que visa o ensino de. Ora, se eu não tiver um modelo de… o que é que eu posso ensinar?” (Frade, 2008:XV)

Frade (1985) reconhece que toda a acção do jogo contém incerteza e por isso é necessário realizar estratégias de comportamento, apresentando-se estas, como a arte de agir em condições aleatórias e adversas. Através desta ideia o autor evidencia a importância da criação de um modelo de princípios de

acção para construir uma determinada forma de jogar. Neste sentido, a construção de um atractor estranho que permita determinar um padrão que identifique as diversas equipas, apresenta-se de carácter imprescindível, ou seja, torna-se fundamental dotar o sistema complexo de organização.

Desta forma, pretendemos conceder à equipa, uma dinâmica que resulte das interacções dos seus elementos, por outras palavras, um Modelo de Jogo. A sua existência torna-se assim a base fundamentadora de tudo e a sua aprendizagem constitui-se como algo de relevância inquestionável (Campos, 2007). No mesmo sentido Guilherme Oliveira (2004), afirma que o Modelo de Jogo é um aspecto fundamental de todo o processo de treino devido ao facto de ser este que orienta e direcciona tudo aquilo que é realizado durante as sessões de treino, evidenciando mesmo que na sua ausência o processo de treino deixaria de fazer sentido, ou seja, é este que irá balizar toda a aprendizagem. Concluímos então, que a presença de um MODELO DE JOGO num processo de treino específico, se apresenta de importância capital, visto ser este que irá regular o desenvolvimento de todo o processo.

No mesmo sentido Araújo (2008) defende que a existência e visão clara sobre o Modelo de Jogo são condições essenciais para se prepararem equipas poderosas. Na ausência de um modelo, o treino poderá ser adjectivado de abstracto (Gomes 2008,in Oliveira, 2008), sendo que Frade (2008:XV) completa afirmando “(…) o Processo de Treino é qualquer coisa que visa o ensino de. Ora, se eu não tiver um modelo de… o que é que eu posso ensinar?

Assim sendo, este conceito de Modelo define-se num projecto que se vai desenvolvendo ao longo do processo, através do qual se cria um conjunto de valores e princípios que conferem uma determinada lógica aos factos do jogo. De acordo com este raciocínio o Modelo de Jogo, afigura-se como a forma que se quer jogar, definindo-se na ideia de jogo que o treinador objectiva para a sua equipa e se vai desenvolvendo ao longo do processo de treino. Assim podemos

entendê-la como uma conjectura que vai configurar as interacções individuais e colectivas da equipa (Gomes, 2006), ou por outras palavras, é um corpo de ideias acerca de como queremos que o jogo seja praticado (Oliveira & Graça, 1998).

Qualquer que seja o modelo de jogo criado, este será sempre constituído por princípios, sub-princípios e sub-sub-princípios para cada um dos 4 momentos do jogo (Campos, 2007). Desta forma, a organização de jogo da equipa deve também ela ser uma “inteireza inquebrantável”, sendo que também aqui o “todo será superior à soma das partes” quando estas são consideradas isoladas umas das outras (Amieiro, 2005), no fundo pretende-se a existência de uma “Articulação de Sentido” entre os diversos e em todos os momentos.

Assim, a ideia que o treinador tem para a equipa passa pela Organização Colectiva nos vários momentos do jogo (Gomes, 2006), ou seja, o treinador apresenta um conjunto de ideias relativas ao jogar que pretende para a equipa e para os jogadores (Guilherme Oliveira, anexo 1), e é através do entendimento que estes apresentem deste conjunto de ideias que, irão emergir determinados padrões de comportamento. Neste sentido, o Modelo de Jogo promove uma determinada cultura organizacional, ou seja, um conjunto de princípios que são partilhados pelos jogadores e treinador no sentido de desenvolverem, em conjunto, uma determinada forma de jogar (Gomes, 2006), assim, a identidade de uma equipa não é mais do que a afirmação com regularidade da organização que preconiza (Amieiro, 2005).

Desta forma, trata-se de desenvolver um jogar Específico e não um jogar qualquer (Gomes, 2006), não existindo um MODELO DE JOGO global porque cada treinador tem as suas ideias e portanto, determinados objectivos comportamentais para a equipa (Guilherme Oliveira, anexo 1). Para além disso, a forma como os princípios de jogo, são interpretados e concretizados pelos jogadores condicionam o desenvolvimento do próprio modelo, ou seja, torna-se

fundamental evidenciar que as características dos jogadores são determinantes na concretização desses mesmos princípios (Gomes, 2006). Defendendo esta ideia está Tavares da Silva (2008), treinador adjunto da equipa da Física (2007/2008), que militava na Proliga, quando afirma: “Quero deixar claro que apesar de me identificar com o modelo de jogo praticado pela Física, com outra equipa (outros jogadores) e noutro quadro competitivo, poderia tomar opções diferentes”.

Concluindo, os princípios adquirem uma determinada configuração em função das particularidades que envolvem a equipa, o que torna singular a evolução do processo (Gomes, 2006), ou seja, o seu desenvolvimento depende da forma como os jogadores e por conseguinte a equipa os assimilam e concretizam. Assim o modelo é qualquer coisa que não está terminada, ou seja, vai sendo construída, e nesse sentido vai-se alterando fundamentalmente ao nível da dimensão mais micro (do detalhe) porque aquilo que menos muda são os pilares do modelo, os grandes princípios, o plano macro. Portanto é imprescindível modelar, configurar uma lógica à volta da qual o processo vai acontecer (Frade, 2008), compreendendo que só num processo de treino Específico a tomada de decisão poderá ser optimizada.

3.5.2.1. Princípios de acção; um princípio, infinitas possibilidades

“Os princípios são bases comuns para que os jogadores “falem” a mesma língua, permitindo exprimir-se num estilo diferente” (Franz cit. Por Castelo, 1994, cit. por Campos,

2007:21)

Os princípios de acção são as referências (intencionais) do treinador para resolver os problemas do jogo e por isso, expressam-se no comportamento dos jogadores (Gomes, 2006). Procurando definir este conceito Guilherme Oliveira (anexo 1) refere-nos que “o princípio é o início de um

comportamento que um treinador quer que a equipa assuma em termos colectivos e os jogadores em termos individuais” ou seja, “o início de qualquer coisa” (Gomes, 2007:10). Deste modo, os princípios de jogo potenciam determinados comportamentos.

No mesmo sentido, poderemos definir princípio de jogo como sendo as referências de acção, ou referências comportamentais, que levam a que os jogadores joguem em equipa. São eles que fazem aparecer com regularidade a coordenação colectiva, vulgo entrosamento. São eles que dão organização à equipa (Oliveira, B. et. al., 2006), ou seja, são os padrões de comportamento tácticos colectivos, inter-sectoriais, sectoriais e individuais que se pretende que a equipa e os jogadores evidenciem nos diferentes momentos do jogo (Oliveira, G., 2008).

Clarifiquemos esta ideia, tomando por exemplo a forma como duas equipas defendem quando perdem a posse de bola. Perante a necessidade de evitar que a outra equipa marque cesto, um dos treinadores aposta numa defesa individual a campo inteiro, onde cada jogador marca o seu logo após a perda da posse de bola. Enquanto isso, outro treinador opta por uma zona press a campo inteiro, onde cada jogador ocupa uma determinada zona aquando da passagem para o momento defensivo. Desta forma, os treinadores promovem duas formas distintas de resolver um problema do jogo, e por isso os princípios de acção são diferentes. Assim, os princípios de acção permitem ao treinador desenvolver determinadas regularidades comportamentais dos jogadores, organizando as suas relações e interacções, nunca esquecendo que um princípio não pode ser um mecanismo mecânico (Gomes, 2007).

Deste modo a Organização do jogar ou seja, os princípios, fazem com que os factos do jogo se desenvolvam num determinado universo de possibilidades. Assim, a equipa adquire uma identidade própria, comportando um conceito de Especificidade subjacente aos princípios de jogo referidos. Neste sentido, Guilherme Oliveira (anexo 1) afirma que só assim este conceito

de Especificidade adquire uma expressão concreta, pois contempla as funções e interacções que os jogadores desempenham na dinâmica colectiva (Gomes, 2006). Pretendemos afirmar que, um jogador que desempenha a função de base com sucesso numa equipa pode ao mudar de equipa perder a qualidade que o caracteriza. Se mudarmos os princípios, mudamos certamente as interacções da equipa e por conseguinte mudamos os próprios jogadores.