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3. REVISÃO DA LITERATURA

3.5. Organização; uma condição imprescindível para sobreviver

3.5.1. Autopoiese: A organização da vida

“ Desde as formas de vida mais arcaicas e mais simples até as formas contemporâneas, mais intrincadas e mais complexas, a vida tem-se desdobrado numa dança contínua sem jamais

quebrar o padrão básico das suas redes autopoiéticas.” (Capra, 2000:178)

Apresenta-se de carácter fundamental a existência de uma organização que vise coordenar a vida e a evolução dos sistemas complexos, como por exemplo uma equipa. É nosso objectivo evidenciar, utilizando mais uma vez o exemplo da Vida, em que consiste e como se organizam os sistemas vivos, para podermos evidenciar a importância da criação de um modelo de jogo. Assim, iremos explicitar o conceito de autopoiese, que se apresenta como

fundamental para percepcionarmos a importância da organização na estrutura viva.

Neste sentido, dois biólogos chilenos, Maturana e Varela, no ano de 1974 definiram por autopoiese, o padrão de organização que caracterizava os sistemas vivos. Auto, naturalmente, significa a “si mesmo” e refere-se à autonomia dos sistemas auto-organizadores, e poiese, significa “criação”, “construção”. Portanto, autopoiese significa “autocriação”. A autopoiese comporta-se então, como um padrão geral de organização comum a todos os sistemas vivos, qualquer que seja a natureza dos seus componentes. Neste sentido Varela e Maturana enfatizam que a organização do sistema é independente das propriedades dos seus componentes, de modo que uma dada organização pode ser incorporada de muitas maneiras diferentes por muitos tipos diferentes de componentes (Capra, 2000). O que defendemos prende-se com o facto de que mesmo com a alteração dos jogadores, o padrão organizacional da equipa, no nível Macro, se deverá manter inalterado. Só assim poderemos assumir determinada identidade para a nossa equipa.

A intuição fundamental da autopoiese é que esta totalidade, esta unidade emergente, este sistema complexo tem também um efeito “descendente”, que vai coagir os elementos e os processos elementares. Não é unicamente a matéria que faz emergir a vida, é também a vida que vai condicionar a matéria (Varela, 2002). Analogamente não será apenas o jogador a criar a equipa e a sua organização, ou seja, o jogador será também influenciado e reorganizar-se-á, através da actuação que a equipa e o seu modelo de jogo exercerá sobre ele. “O global vai condicionar os agentes locais e, ao mesmo tempo, os agentes locais são os únicos responsáveis pela emergência da totalidade” (Varela, 2002:141).

Assim sendo a autopoiese trata-se de uma rede de processos de produção nos quais a função de cada componente consiste em participar na produção ou na transformação de outros componentes do sistema. Deste

modo, toda a rede produz-se a si mesma, ou seja, ela é produzida pelos seus componentes e, por sua vez, produz esses mesmos elementos. No fundo, como explicam Maturana e Varela, num sistema vivo o produto da sua operação é a sua própria organização (Capra, 2000). Pretende-se já exibir que a organização, tal como outra qualquer cultura, desenvolve-se nos dois sentidos, isto é, ela é construída pelo jogador e ao mesmo tempo constrói o próprio.

Neste sentido afirmamos que, um sistema vivo é determinado de diferentes maneiras pelo seu padrão de organização e pela sua estrutura. O padrão de organização, como já referimos, define a identidade do próprio sistema, sendo que a estrutura formada por uma sucessão de mudanças estruturais autónomas. A estrutura é por isso organização, sendo que da sua interacção emerge o comportamento do sistema (Capra, 2000).

Assim, a equipa tem de se reger por coordenadas gerais conferidas pelo seu padrão organizacional, o que permite que os jogadores (que constituem a estrutura) possam decidir ao nível do detalhe e tenham liberdade para o fazer dentro de um espectro de opções. Pretendemos assim evidenciar que a criatividade, a novidade, é uma propriedade chave dos sistemas complexos, facto fulcral que lhe permitirá evoluir e se complexificar. Importa assim referir que a característica principal de um sistema autopoiético está no facto de que ele passa por contínuas mudanças de estrutura enquanto preserva o seu padrão de organização (Capra, 2000). Ou seja, apesar de todas as condicionantes de um sistema caótico como o Jogo, pretende-se que o sistema complexo preserve sempre o seu padrão comportamental, comportando-se como um sistema autopoiético.

A aplicação do conceito de autopoiese é extensível aos sistemas sociais (Gaiteiro, 2006), sendo pertinente a sua utilização no contexto de uma equipa de basquetebol, percebendo quer a importância desta adquirir um padrão de organização que a identifique e se preserve na incerteza que é o Jogo, mas

também que permita a emergência da criatividade e a incorpore no sentido de tornar a própria equipa mais adaptada às dificuldades do(s) meio(s), ou seja, o adquirir de uma organização criativa.

Com base nestes pressupostos, um determinado modelo de jogo (padrão de organização da equipa), deve ser entendido como um sistema auto-organizado (temática que trataremos num próximo ponto) e autopoiético, algo aberto e dinâmico. Ou seja, deve contemplar a mudança, sendo que esta se comporta como um aspecto determinante para o emergir da criatividade dentro do sistema, que estando subjacente a um determinado padrão (uma organização), permite ao jogar de cada equipa evoluir para níveis de complexidade mais elevados, sem perda da sua identidade (Maciel, 2008).

Pretendemos assim, ao longo do próximo ponto, evidenciar a importância da criação de um padrão de organização para a equipa. Assim a criação de um modelo de jogo, permitirá à equipa desenvolver um atractor estranho, isto é, um padrão de comportamentos que se mantenha, face às incertezas e contingências inerentes ao próprio sistema caótico que é o Jogo, sabendo que um sistema sem organização resulta numa agregação aleatória de acontecimentos sobre os quais os jogadores e treinadores têm maiores dificuldades em interagir (Garganta & Cunha e Silva, 2000).