• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III. EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO NO PERÍODO PÓS-INDEPENDÊNCIA

3. Educação e formação no período Pós-independência

3.10. Articulação entre o SNFP e o SETP

No quadro da articulação do Sistema Nacional de Formação Profissional com o Subsistema de Ensino Técnico-Profissional, enquanto forma intermédia de formação profissional inicial e contínua, só em Dezembro de 2004 foram dados os primeiros passos para o efeito. O Estatuto Orgânico deste subsistema foi criado através do Decreto nº 90/04, de 3 de Dezembro, três (3) anos depois da entrada em vigor da Lei 13/01, de 31 de Dezembro, Lei de Bases do Sistema de Educação. A alínea c), número 1 do artigo 10. ° consagrava dentro da estrutura do sistema nacional de educação, o subsistema técnico-profissional ao lado do subsistema de formação de professores, num sentido de articulação, mais ou menos marginal, com o Sistema Nacional de Formação Profissional. Salienta-se, nesta perspetiva, o disposto no

126

número 3 do referido artigo, no sentido de uma clara remissão ao Sistema Nacional de formação Profissional, ao preceituar que:

No domínio da formação de quadros para os vários sectores económicos e sociais do país, sob a responsabilidade dos subsistemas do ensino técnico-profissional e da formação de professores, a formação média, técnica e normal, corresponde ao 2º ciclo do ensino secundário, com a duração de mais um ano dedicado a profissionalização, num determinado ramo com carácter terminal.

Este articulado é de importante interpretação, uma vez que chama atenção no sentido de articular o sistema nacional de formação profissional com os subsistemas técnico profissional e o de formação de professores. Com efeito, o subsistema de ensino técnico-profissional é definido, nos termos do artigo 2. ° do Estatuto do subsistema técnico-profissional, como a `` base da preparação técnica e profissional dos jovens e trabalhadores começando, para o efeito, após o ensino geral de base´´.

Em 2008, foi criado um grupo de trabalho para estabelecer as Linhas de Coordenação dos Subsistemas de Formação Profissional e do Ensino Técnico-Profissional, através do Despacho nº 3/08, de 5 Maio, cujo regulamento para o seu funcionamento foi estabelecido pelo Despacho nº 9/08, de 20 de Novembro. Esta Comissão era coordenada pelo Vice-Ministro da Administração Pública, Emprego e Segurança Social e integrava os Vice-Ministros do Planeamento, da Administração do Território, Reinserção Social e da Educação.

Dentre as atribuições desta comissão constava a adoção de medidas de coordenação e de articulação institucional para estabelecer as linhas de coordenação dos subsistemas da formação profissional e do ensino técnico-profissional, propor ao Governo, um conjunto de políticas e programas de gestão dos subsistemas, de modo a garantir maior articulação e complementaridade e, por fim, definir o papel profissional de saída dos formandos. Porém, como a maior parte dos grupos de trabalho criados em Angola, a comissão ficou muito politizada. Apesar de o despacho ter referido, nos termos do número 3 que `` os membros da comissão poderão solicitar, sempre que necessária, a colaboração de outros técnicos dos vários setores dos diferentes organismos do Estado e de associações profissionais´´, não há no grupo de trabalho nenhum especialista na matéria, nem se procurou envolver instituições sociais especializadas em questões de formação e políticas de emprego (como Universidades, Centros de investigação, organizações sindicais, grupos de empresas, etc.). Em 2009, foi criada uma comissão do Projeto de Dupla Certificação, por meio do Despacho Conjunto nº 9/09, de 28 de Janeiro, entre o Ministério da Educação e o Ministério da Indústria, com vista a incorporar disciplinas do ensino geral no currículo dos cursos profissionais oferecidos pelos centros de

127

formação profissional tutelados pelo Ministério da Indústria, cuja tarefa principal era elaborar os planos de estudos, programas e materiais inerentes ao Projeto de Dupla Certificação, com os mesmos objetivos dos plasmados no Despacho nº 3/08, de 5 Maio. Esta comissão acaba por ser mais técnica e mais bem estruturada se comparada com a anterior, integrando especialistas do Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento da Educação (INIDE), responsáveis dos centros de formação e técnicos de Departamentos de Recursos Humanos dos dois ministérios. Todavia, não foram tidas em conta as organizações profissionais ligadas aos vários segmentos da indústria. É nestes termos que se entende ser particularmente importante a intervenção dos os grupos profissionais e das empresas na definição do modelo a seguir na educação para o trabalho, adotando uma perspetiva que situe as políticas de formação profissional em si, como objeto de análise, visando-se conhecê-las criticamente e a partir da precisão do seu campo, entendido este como estrutura de relações entre orientações, agentes, ações e resultados.

Nos termos do artigo 19º da Lei nº 17/16, de 7 de Outubro, atual Lei de Bases do Sistema de Educação e ensino, ``a articulação entre os conhecimentos e competências garantidos pelos diferentes subsistemas de ensino e o sistema nacional de qualificação é objeto de regulamentação em diploma próprio´´. Com efeito, o Decreto Executivo nº 69/08, de 22 de Maio, é o quadro normativo que aprova o regulamento sobre a organização curricular, criação de cursos, avaliação dos alunos e certificação da formação profissional No entanto, o seu objeto e âmbito visam somente a regulação de cursos de formação profissional básica ou inicial com equivalência ao sistema de educação. Salvo melhor opinião, não se consegue reconhecer na ordem jurídica angolana uma regulamentação da avaliação da formação profissional contínua. Todavia, da mesma forma que se faz sempre que há uma lacuna na ordem jurídica, os agentes da educação e formação fazem uma integração da lacuna através da transposição dos modelos de avaliação do sistema de educação com as devidas adaptações às particularidades de cada curso.

128

Conclusões

As políticas públicas de educação e formação constituem-se num dos segmentos mais importantes da ação pública do Estado, que concorre para a realização do homem, e que se espera centrada na sua vocação natural de promoção contínua do interesse público. É sobre estes dois pressupostos, realização do homem e interesse público, que gravitam todas as atividades e iniciativas educativas dos atores sociais. Neste contexto, constituiu preocupação principal deste trabalho compreender como está organizada e estruturada a política pública de educação e formação profissional inicial e contínua em Angola, através de análise da extensa documentação sobre o assunto. Com efeito, para ir ao encontro deste propósito definiram-se dois objetivos de pesquisa, nomeadamente, identificar as principais estruturas e órgãos responsáveis pela formulação e materialização da política pública de formação profissional inicial e contínua reconhecidas em documentos oficiais e; identificar e descrever as lógicas de ação das políticas públicas de educação e formação profissional inicial e contínua com base nos instrumentos normativos. Por outro lado, partindo da questão de pesquisa, foram definidos dois eixos de análise, mormente, estruturas e órgãos e lógicas subjacentes às políticas públicas de educação e formação. Na sequência, cada eixo resultou num conjunto de questões que serão respondidas, agora, na conclusão.

Ao longo deste trabalho de investigação, recolheram-se documentos sobre a trajetória das políticas educativas, de forma a identificar e descrever os órgãos e as lógicas da ação das políticas públicas de educação e formação profissional inicial e contínua. Por sua vez, os elementos obtidos pela análise da documentação disponível foram sistematizados e analisados em torno de quatro questões especificas, as quais possibilitaram apreender um conjunto de ideias que se considera estruturante por representar a problematização central deste estudo.