• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III. EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO NO PERÍODO PÓS-INDEPENDÊNCIA

3. Educação e formação no período Pós-independência

3.5. A educação e formação durante a Segunda República (1992-2012)

3.5.2. O Sistema Nacional de Formação Profissional durante a 2ª República

3.5.3.1. Modalidades de formação profissional na LBSNFP

Constituem modalidades de formação profissional, nos termos do artigo 9. ° da LBSNFP: • a formação profissional inicial (adiante designada FPI);

• formação profissional contínua (adiante designada FPC).

Da formação profissional Inicial

Nos termos do artigo 9. ° da Lei de Bases do Sistema Nacional de Formação Profissional, a Formação Profissional Inicial visa a aquisição das capacidades indispensáveis para poder iniciar o exercício duma profissão e compreendia a formação profissional de base e a especialização profissional e coincidia, no quadro da reforma de 1978, com a formação profissional de base, quando não houvesse lugar a especialização. A FPI é o primeiro programa completo de formação que propicia a aquisição de um conjunto de capacidades e competências consideradas indispensáveis para o início duma profissão.

No âmbito da articulação do Sistema Nacional de Formação Profissional com o Ensino Técnico Profissional, a FPI pode ser equiparada com a formação profissional de base. Constitui FPI a formação profissional de base e a especialização profissional (Angola A. n., 1992). A formação profissional de base é definida nos termos dos artigos 36.° a 39.° da Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino (LBSEE), Lei nº 17/16, de 07 de Outubro, como o processo através do qual os jovens e adultos adquirem e desenvolvem conhecimentos gerais e técnicos, atitudes e práticas relacionadas diretamente com o exercício de uma profissão, com vista a melhor

108

integração dos indivíduos na vida profissional. A formação profissional de base é realizada nos centros de formação profissional, tutelados pelo Sistema Nacional de Formação Profissional, depois da conclusão com êxito da 6ª classe.

Relativamente ao grupo alvo, a FPI é dirigida aos trabalhadores sem ou com pouca qualificação profissional e pode ser de dois tipos: i. formação de curta duração (de 6 a 12 meses), dirigida a cidadãos adultos com idade superior a 17 anos; ii. aprendizagem de média longa duração (2 anos ou mais), dirigida aos jovens com idade entre os 14 e os 22 anos de idade e que possuam a 6ª classe (Angola, Unicef, & Unesco, 1993). Estas duas modalidades de formação inicial podem, nos termos da lei, conferir equivalência ao sistema escolar. Com efeito, os cursos básicos com equivalência ao sistema de educação são criados por decreto executivo conjunto dos Ministros da Educação e da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social. A formação inicial para adultos, nos termos do artigo 10. ° da LBSNFP, visa a ``aquisição de conhecimentos fundamentais, habilidades práticas, atitudes e formas de comportamento que constituem base indispensável para o exercício duma profissão ao grupo de profissões com vista à ocupação imediata de um posto de trabalho´´. O seu conteúdo programático e os pré-requisitos dos candidatos aos cursos são determinados, essencialmente, pelo posto de trabalho, suas caraterísticas e exigências profissionais. (Angola A. n., 1992). Com efeito, a organização curricular observa uma forte componente prática, em estreita articulação com conteúdos teóricos, materializados através de atividades laboratoriais, e ``uma componente complementar em higiene e segurança do trabalho, vida sindical e outros temas de natureza cívica, cultural e social que possam ser considerados relevantes´´ artigo 10. ° da LBSNFP.

Relativamente à formação inicial para jovens, designada aprendizagem, consiste num processo formativo que vincula a aprendizagem de uma profissão ao meio empresarial com a finalidade de assegurar o desenvolvimento de capacidades, habilidades e a aquisição dos conhecimentos necessários para o exercício de uma profissão qualificada. A aprendizagem é realizada em contexto de trabalho. Com efeito, nos termos do artigo 11. ° da LBSNFP,

Cabe à empresa um papel de relevo na aprendizagem justificada pelo potencial formativo constituído pelos profissionais qualificados que aí exercem a sua atividade e na circunstância de a aprendizagem ser feita, em grande medida, diretamente no local de trabalho.

O conteúdo da formação profissional inicial para jovens compreende duas componentes diferenciadas, designadamente, uma de formação específica, inscrita no quadro da prática do ofício em contexto de trabalho, em centros de formação da empresa, ou em centro de formação reconhecido pelo Instituto nacional de Formação Profissional e uma formação geral

109

complementar realizada nos centros de formação das empresas ou num dos centros certificados pelos pelo INAFOP. Com efeito, a aprendizagem pode assumir níveis diferentes de organização, conforme as exigências de cada profissão que respeita e o nível de exigência escolar do aprendiz (Angola A. n., 1992). Relativamente à certificação, no âmbito da formação inicial de jovens, inscrita na modalidade de aprendizagem profissional, ao aprendiz aprovado será passado pelo INAFOP (em articulação com o Ministério da Administração Pública Trabalho e segurança Social) um Certificado de Aptidão Profissional, para efeitos de emissão de carteira profissional.

Na sequência das ações de formação, em 2008, com vista a balizar a criação de cursos, a organização curricular e o modo de avaliação dos alunos, foi publicado o Decreto Executivo nº 69/08, de 22 de Maio, designado Regulamento Sobre Organização Curricular, Criação de Cursos, Avaliação dos Alunos e Certificação na Formação Profissional Básica, com equivalência ao sistema de educação. Este diploma legal estabelece, igualmente, as regras de certificação destes cursos, adotando o sistema de dupla certificação: os alunos que concluem o curso com aproveitamento recebem um diploma de fim de estudos, bem como um certificado de habilitações, que permitem o prosseguimento de estudos e um diploma de qualificação profissional para o ingresso ao mercado de trabalho. Salienta-se, a este respeito, que as condições de avaliação do ensino médio técnico e profissional são tratadas em diploma próprio, máxime, o Estatuto Orgânico do Ensino Técnico Profissional aprovado pelo Decreto nº 90/04, de 3 de Dezembro. Relativamente à organização curricular, os critérios a observar para a criação de cursos, as modalidades de avaliação, o tipo de certificação, o Decreto Executivo nº 69/08, de 22 de Maio, nos termos do artigo 5. ° estabelece os princípios gerais de organização de cursos da formação profissional básica. No final da 9ª classe o aluno deve obter aprovação em todas as unidades curriculares e realizar uma Prova de Aptidão Profissional Técnica (PAT). Durante os três anos de formação (7ª, 8ª e 9ª classes) o aluno estuda entre duas a quatro unidades curriculares no âmbito da componente de formação geral ou sociocultural, que compreende as disciplinas de Língua Portuguesa, Inglês ou Francês (opcionais) e Ciências Integradas, unidade curricular integradora ou transversal, com conteúdos de história, sociologia e biologia; duas a três unidades curriculares sobre a componente de formação específica ou científica, constituída por unidades curriculares ligadas a área de formação, articulando a formação técnica à formação tecnológica; e quatro a cinco unidades curriculares no quadro da componente de formação técnica, tecnológica e prática ou artística, que deverá articular a formação em contexto de trabalho, ou o ensino experimental, a decorrer em laboratórios e oficinas. Deve ser dada maior visibilidade e relevância às disciplinas de informática e tecnologia de informação e comunicação

110

(Angola G. d., 2008). Os cursos de formação profissional básica são os que constam no artigo 10. ° do referido Decreto Executivo e compreendem sete áreas:

• Área da administração e serviços: composto por dois cursos, nomeadamente, o curso de auxiliar de contabilidade e o curso de assistente de secretariado; • Área da agricultura, pescas e indústrias alimentares: integra os cursos de auxiliar

de agricultura, auxiliar de recursos florestais, auxiliar de pecuária e auxiliar de mecanização agrícola;

• Área de construção civil: enquadram-se nesta área os cursos de auxiliar de construção civil/canalizador, auxiliar de construção civil/carpinteiro, auxiliar de construção civil/pedreiro e auxiliar de construção civil/pintor;

• Área de eletricidade, eletrónica e telecomunicações: composto pelos cursos de eletricista de edificações, eletricista de baixa tensão e assistente de eletricista e eletrónica;

• Área da informática: com apenas um curso, o curso de operador de informática; • Área de mecânica: integram nesta área os cursos de mecânico-auto, mecânico-

industrial, serralheiro mecânico e mecânico de frio;

• Área de química: composto por um curso, o curso de preparador de laboratório. Estes cursos correspondem às mesmas áreas de especialização do ensino médio técnico e superior. Os estudantes que terminam os cursos nas áreas acima descritas podem prosseguir a formação e respetiva área de especialização no nível subsequente ou ingressar ao mercado de trabalho.

Da formação Profissional contínua

Nos termos do artigo 12. °, número 1, constitui formação profissional contínua

todos os processos formativos organizados subsequentes à formação profissional inicial com vista a permitir uma adaptação às transformações tecnológicas e técnicas, favorecer a promoção social dos indivíduos, bem como permitir a sua contribuição para o desenvolvimento cultural, económico e social.

A formação profissional contínua compreende três tipos principais: o aperfeiçoamento profissional, a reconversão profissional e a reciclagem profissional. O primeiro tipo, o aperfeiçoamento profissional, visa a melhoria de capacidades práticas, atitudes e formas de comportamento em relação ao trabalho, no âmbito do exercício da profissão. O segundo, a reconversão profissional, tem a finalidade de possibilitar uma qualificação diferente da já possuída, para o exercício de uma nova atividade profissional. Trata-se de uma clara mobilidade

111

profissional horizontal, que permite ao trabalhador o exercício de outra função que não seja aquela em que está inserido. Por último, a reciclagem profissional objetiva proporcionar a atualização ou aquisição de novos conhecimentos, capacidades práticas, atitudes e formas de comportamento dentro da mesma profissão com vista a permitir ao trabalhador adaptar-se às transformações tecnológicas e técnicas (Angola A. n., 1992). As ações de formação profissional contínua ou ``formação permanente, são em geral da competência das empresas e de organismos diversos´´ (Angola, Unicef, & Unesco, 1993, p. 109).

Relativamente aos cursos oferecidos, o número 10 do artigo 12. ° estipula que é da responsabilidade do Instituto Nacional de Formação Profissional, através de um serviço especializado (Unidade Formação para a Empresa), apoiar as empresas na identificação de necessidades de formação e outros serviços conexos, por meio de diagnósticos de necessidades de formação. O diagnóstico de necessidades de formação é a primeira fase do ciclo formativo e, consiste na deteção de carências a nível individual ou coletivo referentes a conhecimentos, capacidades, habilidades e comportamentos, com vista a elaborar um plano de formação com a definição de objetivos, estratégias e identificação dos critérios relevantes para a avaliação dos resultados.

Relativamente à regulação das atividades de formação só mesmo em 1998, foi estabelecido o quadro legal que se estipula as condições para a realização das ações formativas, tanto no âmbito da administração pública como no quadro do setor privado, com a entrada em vigor do Despacho nº 16/98, de 3 de Julho. Este instrumento administrativo prevê o Enquadramento dos Centros de Formação Profissional e estabelece as regras gerais para abertura, propriedade, gestão, obrigações, etc. dos Centros de Formação Profissional. Relativamente à avaliação dos cursos de formação profissional contínua, este diploma remete a responsabilidade para o Instituto Nacional de Formação Profissional.