SAÚDE
Considerando a complexidade do tema modelo assistencial, o referencial teórico proposto nesta pesquisa, visa proporcionar uma reflexão crítica sobre os aspectos que influenciam ou determinam o modelo assistencial em saúde.
Neste processo de reflexão, foi necessária a articulação entre diferentes diretrizes inseridas em políticas de saúde e princípios, visando ampliar o entendimento desta temática e refletir sobre possibilidades de construção de um novo modelo assistencial em saúde. Apresenta-se a
seguir uma síntese acerca de um modelo assistencial construído
no contexto da ESF, denominado nesta pesquisa, “em defesa da
vida, da saúde e da segurança”. Para tal, foram articuladas as
diretrizes da ESF e da Política Nacional de Promoção da
Saúde, no contexto do SUS, bem como o princípio de defesa de
vida de Campos, o conceito de saúde da VIII Conferência
Nacional de Saúde, o novo conceito proposto pela OMS, Safety
Promotion e as discussões da Antropologia da Saúde.
MODELO BIOMÉDICO NOVO MODELO ASSISTENCIAL (EM
CONSTRUÇÃO NA ESF) Foco no indivíduo, corpo e
doença
Foco na família, grupos e comunidades
queixas Respeito às questões culturais, crenças, valores, hábitos, estilo de vida, dentre outros. Respeito às questões culturais
Organização do serviço de acordo com a demanda espontânea
Planejamento das ações assistenciais com base na vigilância em saúde, conhecendo o perfil epidemiológico, sócio demográfico da população adscrita
Oferta organizada/programada de serviços de saúde
Organização do trabalho, com base em reuniões de equipes e avaliação do trabalho
Interdisciplinaridade
Utilização do conhecimento da Biologia, Anatomia e Fisiologia
Conhecimento do processo saúde-doença Conhecimento do processo de viver humano e seus multideterminantes
Valorização de aspectos do viver definidos no conceito de saúde da VIII CNS (Meio ambiente, trabalho, meio social, renda, alimentação, lazer, segurança)
Resgate dos princípios do SUS, como a integralidade da atenção, universalidade, equidade, resolutividade e participação social. Riscos e vulnerabilidade
Defesa da vida/Responsabilização
Promoção da Segurança – Safety Promotion/Safety Comunnities
Conhecimento da antropologia da saúde, para o entendimento da perspectiva do usuário
Promoção da educação em saúde
Práticas assistenciais com base nas diretrizes de políticas de saúde com novas proposições para o modelo assistencial como a Estratégia Saúde da Família (ESF) e a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS)
Utilização da Especialização e tecnologia
Integralidade da assistência
Formação profissional com base no relatório Flexner
Formação profissional somado a capacitação no serviço, quanto às diretrizes da ESF, conhecimentos de epidemiologia, território e planejamento
Ações curativas Consulta médica Medicalização
Promoção de espaços mais seguros e saudáveis. Participação do município para a promoção de Cidades Saudáveis
Prevenção da violência, do uso de drogas, tabaco e álcool
Incentivo à preservação do meio ambiente Orientações para redução de riscos e
vulnerabilidade
Promoção de hábitos saudáveis, de alimentação, atividades físicas e de qualidade de vida
Promoção da Saúde Promoção da Segurança
Destaque no profissional
médico
Valorização do sistema
profissional: unidade de saúde, hospital, clínicas
Equipes de saúde Interdisciplinaridade
Organização do serviço com a participação popular
Valorização nas práticas assistenciais de outros Sub sistemas: popular e informal
Assistência no domicílio
Relações individuais,
impessoais, técnicas e com
pouca valorização da
humanização
Vínculo, acolhimento e humanização Auxílio ao cuidado familiar
Quadro 1 – A construção de um modelo assistencial em saúde com base na defesa da vida, da saúde e da segurança.
Este “novo modelo”, descrito no quadro anterior, representa as diversas dimensões à serem consideradas para se refletir sobre modelo assistencial. As abordagens propostas no quadro, foram apreendidas em diferentes bases teóricas constituindo um corpo teórico explicativo sobre modelo assistencial.
Este corpo teórico será necessário para orientar a compreensão das expressões dos usuários do sistema de saúde, no contexto da ESF, sobre as práticas assistenciais.
5 PERCURSO METODOLÓGICO
Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, que foi desenvolvida com usuários dos serviços de cinco equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), de dois municípios da Região Sul do Brasil. Visou identificar nos relatos desses usuários, sobre as práticas assistenciais em saúde desenvolvidas pelas equipes da ESF, àquelas que se aproximavam ou distanciavam do novo modelo assistencial em saúde desenhado pelas diretrizes da estratégia, da PNPS e da defesa da vida, da saúde e da segurança.
Estudos de natureza qualitativa, de acordo com Leopardi et al (2002) procuram compreender os fenômenos sensóro-perceptivos de apreensão do real pelos sujeitos, utilizando-se uma ampla diversidade de abordagens. O estudo qualitativo requer como atitudes fundamentais a abertura, a flexibilidade, a capacidade de observação e de interação com o grupo de investigadores e com os atores sociais envolvidos (MINAYO, 1993).
Para Polit & Hungler (2002, p. 270) os “pesquisadores qualitativos coletam e analisam materiais pouco estruturados e narrativos que propiciam campo livre ao rico potencial das percepções e subjetividade dos seres humanos”. O desenho desta pesquisa requer uma abordagem metodológica que permita captar as expressões dos sujeitos do cuidado, ou seja, os usuários dos serviços de saúde, dialogando os dados obtidos com o referencial teórico que foi proposto para sustentar esta investigação.