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O artigo 109, do Código Penal, adotado como Critério para Fixação do Limite Máximo do Prazo Prescricional

3. A PRESCRITIBILIDADE DA SUSPENSÃO DO PROCESSO

3.4. O artigo 109, do Código Penal, adotado como Critério para Fixação do Limite Máximo do Prazo Prescricional

A questão relativa à fixação da limitação temporal da suspensão do prazo prescricional, prevista no artigo 366, do Código de Processo Penal, causou enorme debate doutrinário, pela simples razão do legislador ter fixado sua suspensão sem, contudo, esclarecer a respeito de seu prazo final.

Na lição de Jesus (2002, p. 71):

O legislador simplesmente determina que o decurso do tempo prescricional fica suspenso. Não limita o prazo. Sobre o tema, há várias correntes: 1-a Lei não fixou limite, de modo que o termo final do prazo suspensivo ocorre na data em que o réu comparecer em juízo, qualquer que seja o tempo decorrido; 2-deve ser considerado o máximo abstrato da pena privativa de liberdade cominada à infração penal; 3- leva-se em conta o mínimo abstrato da pena privativa de liberdade cominada; 4- tem-se em vista o limite máximo do prazo prescricional previsto em nossa legislação, que é de vinte anos (Código Penal, artigo 109, inciso I); 5-o limite temporal da suspensão é o mesmo da prescrição (Código Penal, artigo 109), em atenção ao mínimo abstrato da pena privativa de liberdade; 6-o limite extremo superior da suspensão da prescrição é o mesmo do artigo 109, do Código Penal, regulado pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada à infração penal; 7- o processo pode ficar suspenso até trinta anos, limite máximo do cumprimento da pena privativa de liberdade (Código Penal, artigo 75).

Para Jesus (2002, p. 72/73), “[...] o limite da suspensão do curso prescricional corresponde aos prazos do artigo 109, do Código Penal, considerando-se o máximo da pena privativa de liberdade imposta abstratamente”.

Complementa ainda Jesus (2002, p. 73) que: “[...] Nesse limite, recomeça a ser contado o lapso extintivo considerada a pena máxima abstrata, computando-se o tempo anterior à suspensão”.

Por fim, aduz Jesus (2002, p. 73) :

Os prazos do artigo 109, do Código Penal constituem-se em um critério justo, posto que, se o legislador entendeu adequados tais prazos para permitir a perda da punibilidade pela prescrição, da mesma forma devem ser apreciados como justos na disciplina da suspensão do prazo extintivo da pretensão punitiva.

48 Na lição de Capez (2001, p. 535):

É necessário buscar-se um período máximo, após o qual o processo continuaria suspenso, mas a prescrição voltaria a correr pelo tempo restante, sendo que esse período não pode ser o mesmo para todos os crimes por ofensa ao princípio da proporcionalidade. Desta forma,o período máximo de suspensão deve ser o da prescrição calculada com base no máximo cominado abstratamente para a espécie. Por esta razão, Capez (2001, p. 535/536) entende que: “[ ...] O limite da suspensão do curso prescricional corresponde aos prazos do artigo 109, do Código Penal, considerando-se o máximo da pena privativa de liberdade imposta abstratamente, crendo ser um critério justo”.

Capez (2001, p. 326) ainda argumenta que: “[...] Se para permitir a perda da punibilidade pela prescrição o legislador entendeu adequados os prazos do artigo 109, do Código Penal, da mesma forma devem eles ser utilizados como justos para a suspensão do prazo extintivo da pretensão punitiva”.

No entendimento de Machado (2000, p. 169):

Não se pode permitir que outro prazo que não o definido pelo artigo 109, do Código Penal para a figura penal imputada concretamente pela acusação regulamente a questão, pois, se assim não o for, tomando-se como exemplo as teorias que se norteiam pela aplicação da suspensão do prazo prescricional por 30 anos (artigo 75 do Código Penal) ou 20 anos (máximo do prazo prescricional permitido em Lei), consistiria em flagrante quebra das garantias processuais concedidas ao cidadão, agora reconhecendo que prazo prescricional muitas vezes superior e estranho à figura penal imputada ao autor seja reconhecido como idôneo para regular a questão, não havendo qualquer tipo de correlação entre o fato e o prazo, o que indiscutivelmente acarreta surpresa e prejuízo ao réu.

Para Mirabete (2000, p. 442), embora divergindo da opinião dos demais doutrinadores, admite que: “[...] A jurisprudência tende a fixar o prazo máximo da suspensão da prescrição pelo máximo da pena cominada à infração penal, como dispõe o artigo 109, do Código Penal”.

Nucci (2003, p. 552) também afirma que: “[...] Por ausência de previsão legal, tem prevalecido o entendimento de que a prescrição fica suspensa pelo prazo máximo em abstrato previsto para o delito, começando, depois, a correr normalmente”.

Como bem demonstrado, apesar da intensa polêmica levantada pelos doutrinadores e operadores do Direito, sobre quanto tempo pode ficar em suspenso o prazo prescricional previsto pelo artigo 366, do Código de Processo Penal, parece mais conveniente e justo, de acordo com o pensamento majoritário, que seja suspenso pelo máximo da pena privativa de

49 liberdade abstrata prevista, imposta ao crime em questão, com fulcro no artigo 109, do Estatuto Penal.

Salienta-se a premissa de que se a Constituição da República Federal expressou, taxativamente, que imprescritíveis são os crimes do artigo 5º, incisos XLII e XLIV, outros crimes, consoante a regra geral, devem sempre prescrever, pois se o Estado, em face do crime, perde, pelo decurso do tempo, a pretensão punitiva, não é lógico que diante da revelia a exerça indefinidamente.

Feita a digressão sobre o critério presente no artigo 109, do Código Penal, como o adotado, majoritariamente, para se fixar um prazo máximo para suspensão do prazo prescricional, chega-se na relevante questão sobre o que acontece quando se exaure esse prazo máximo.

Em se tratando a nova redação do artigo 366, do Código de Processo Penal, de mais uma causa de suspensividade, reinicia-se a contagem do prazo da prescrição, computando-se, todavia, o tempo transcorrido antes da ocorrência da causa suspensiva, permanecendo a suspensão do processo, até que o réu compareça ou nomeie Procurador para representá-lo.

Compartilhando da mesma opinião Jesus (2002, p. 73) afirma que:

Terminado o prazo da suspensão da prescrição, recomeça a correr, levando-se em conta o máximo abstrato da pena privativa de liberdade e o tempo anteriormente decorrido, permanecendo suspensa a ação penal.

Capez (2001, p. 536) não diverge: “[...] Nes se limite, recomeça a ser contado o lapso extintivo, considerada a pena máxima abstrata computando-se o tempo anterior à suspensão”. Para Nucci (2003, p. 552) não pode a prescrição ser suspensa indefinidamente, assim: “[...] Por ausência de previsão legal, tem prevalecido o entendimento de que a prescrição fica suspensa pelo prazo máximo em abstrato previsto para o delito, começando, depois, a correr normalmente.”

Por todo o exposto, observa-se que o entendimento a respeito do artigo 109, do Código Penal, como critério adotado para a fixação de um prazo final para a suspensão prescricional é majoritariamente compartilhado pelos mais renomados doutrinadores, não obstante, ainda persistirem diversos questionamentos sobre o tema, sobretudo em razão da elasticidade que permeia o Direito Penal assim como o Direito Processual e, porque não dizer, a perspicácia humana.

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