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CAPÍTULO 2 – ARTIGOS CIENTÍFICOS

2.1 ARTIGO CIENTÍFICO 1

Crimes ambientais no Estado do Pará e os índices de desmatamento:

diagnóstico dos registros de crimes contra a flora nos municípios que mais

desmatam

1

Juliana T. C. Rosário

Mestranda em Segurança Pública (UFPA). Belém – Pará – Brasil. e-mail: dpcjuliana@gmail.com.

José G. Carvalho Júnior

Doutor em Engenharia Elétrica (UFPA) e professor da UFPA. Belém-Pará-Brasil. e-mail: gracildo@ufpa.br

Joyce G. Souza

Acadêmica de Enfermagem (UFPA) e bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC (UFPA). Belém-Pará-Brasil. e-mail: joycegama7060@gmail.com

Resumo: A defesa do meio ambiente tem assumido cada vez mais a pauta das discussões

políticas, porquanto tem se mostrado efetivamente vital combater o delito ambiental para garantir a sobrevivência humana. O presente trabalho objetivou apresentar os Municípios com maior quantidade de registros de boletins de ocorrência policial envolvendo crimes contra a flora, no período de janeiro de 2018 a setembro de 2019 e suas respectivas taxas de desmatamento para verificar se a atuação da Polícia Civil do Estado do Pará está direcionada aos municípios elencados pelo INPE como grandes desmatadores. Para análise dos dados, utilizou-se a técnica de estatística descritiva de dados. Verificou-se que os municípios de Almeirim, Santana do Araguaia e Muaná foram os que mais registraram ocorrências de crimes contra a flora, mas não os que mais desmataram no período. Com relação aos municípios que mais desmataram – Altamira, São Félix do Xingu e Novo Progresso – identificou-se uma insuficiente atuação da Polícia Civil, eis que foram realizadas poucas investigações policiais. Concluiu-se que as ações investigativas e de combate ao crime ambiental da Polícia Civil do Estado do Pará não são direcionadas para os municípios que mais degradam a vegetação.

Palavras-chave: Delito ambiental. Cidades paraenses. Polícia Civil.

1 Artigo será submetido à Revista Biological Conservation, qualis A1 da Capes, após defesa e correção final (Normas, anexas).

1. Introdução

A apuração de ilícitos ambientais, em especial dos crimes contra a flora, tem ganhado cada vez maior destaque no âmbito da Polícia Civil e dos órgãos administrativos ambientais com vistas ao enfrentamento do desmatamento, cujos dados de monitoramento por satélite vem sendo registrados e divulgados anualmente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), órgão integrante do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação. Desde o ano de 1988, quando o INPE iniciou a interpretação das imagens monitoradas por satélite foram detectados 428.721km² de área desmatada em toda Amazônia Legal (INPE, 2019).

O desmatamento significativo da Floresta Amazônica vem ocorrendo a partir da década de 60 e de forma mais acelerada nos anos 70 com a implementação de projetos desenvolvimentistas do governo federal voltados a integrar a Amazônia ao restante do país e, em especial, ao Nordeste (COSTA et al., 2015) para conter o fluxo migratório para os estados das regiões Sul e Sudeste, levando à exploração dos recursos naturais por meio do garimpo e extração de madeira (BECKER, 2005; ESCADA et al., 2005).

Desde então 20% de mata nativa da Amazônia foi retirada (INPE, 2019), mesmo com a implementação de diversas estratégias de combate pelo Governo Federal, como, por exemplo, o lançamento do Plano de Ação para Prevenção e Controle de Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM) em 2004 que levou à redução de 25% da taxa de desmatamento no ano subsequente (INPE, 2019) e a realização de operações conjuntas entre órgãos policiais e de fiscalização ambiental como a Arco de Fogo deflagrada em 2008 pela Polícia Federal e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) (SILVA et al., 2011).

Diante desse contexto, é inegável a importância, não só no aumento no rigor da fiscalização (BRITO; BARRETO, 2006) para desestimular e prevenir a prática do crime ambiental com a consequente aplicação da lei de forma eficaz, exigindo também a reparação do dano ambiental, cuja inaplicabilidade torna a prática do ilícito penal mais rentável (SUÁREZ, 2008).

Foi com essa finalidade que o Governo Federal criou o PPCDAM no ano de 2004, elaborado por um Grupo Permanente de Trabalho Interministerial, composto por 13 ministérios. Segundo Mello e Artaxo (2017) o PPCDAM tem como um de seus subgrupos de trabalho o monitoramento, controle e implementação de ações com influência direta na redução das taxas de desmatamento no período de 2005 a 2013. Como consequência, as áreas

desmatadas continuaram a diminuir no ano de 2014, mas voltaram a aumentar no período mais recente de 2015 a 2017 (INPE, 2019).

Como consequência dessa devastação ambiental grande quantidade de impactos é gerada, tais como a perda de biodiversidade e da sociodiversidade – que seria a eliminação de culturas tradicionais como índios e seringueiros –; prejuízo à ciclagem da água; aumento de liberação de gás carbônico e outros gases de efeito estufa na atmosfera; e a diminuição de uso sustentável das florestas que seria possível por meio da exploração de planos de manejos (FEARNSIDE, 1997).

A Lei Complementar Nº 140/2011 trouxe importante reflexo na eficácia da ação fiscalizatória e, por outro lado, evidenciou a necessidade dos órgãos ambientais estaduais reforçarem sua estrutura, tendo em vista a maior amplitude da sua competência fiscalizatória no combate ao desmatamento se comparado ao IBAMA, ente federal, porquanto disciplinou que cabe ao Ente licenciador exercer a fiscalização. Sendo dos Estados a competência para autorização das explorações florestais por meio de planos de manejo sustentáveis, a fiscalização também recai para si (SCHMITT; SCARDUA, 2015).

Paralelo às ações desempenhadas pelos órgãos administrativos, Brasil (2016) afirma que se afigura extremamente importante reforçar as ações policiais para que a lógica coercitiva seja implementada também na esfera criminal e reflita nos índices de desmatamento.

Analisando a relação entre as prisões efetuadas no bojo de investigações policiais investigações e a redução de desmatamento no Estado do Pará, foi identificada uma diminuição de 38,08% no ano de 2015, em relação ao ano anterior, concluindo-se que as ações de comando e controle têm potencial para alterar positivamente a realidade de constante degradação ambiental (BRASIL, 2016).