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CAPÍTULO 2 – ARTIGOS CIENTÍFICOS

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1. Boletins de ocorrência policial registrados

Segundo informações fornecidas pelo SIAC, de janeiro de 2018 a setembro de 2019, foram registrados 420 boletins de ocorrência policial de crimes contra flora, dos quais apenas 151 foram transformados em procedimentos policiais (PARÁ, 2019).

A Figura 01 apresenta os dez municípios paraenses com maior quantidade de BOP, dos quais assumem as primeiras posições Almeirim, Santana do Araguaia e Muaná. Apesar de Almeirim ter sido recordista na quantidade de reportes de crimes contra a flora, apenas foram instauradas 2 investigações criminais para responsabilização dos autores desses crimes, ou seja, somente 6% das denúncias formalizadas foram apuradas em detrimento da impunidade de possíveis 94% criminosos e danos ambientais incalculáveis (PARÁ, 2019).

Com relação à quantidade de registros por tipo de procedimento policial instaurado, foi possível verificar a superioridade de TCO confeccionados, que representaram 64% das investigações (PARÁ, 2019).

A Figura 022 apresenta o quantitativo de registros por espécie de crime contra a flora permitindo inferir que houve mais formalizações da ocorrência do crime previsto no artigo Nº 39 da referida lei que reprime o corte de árvores em floresta considerada de preservação permanente, quando o agente não possuir permissão da autoridade competente, ou seja, no caso da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS) não ter aprovado a exploração de projeto de manejo florestal sustentável (PARÁ, 2019).

Além disso, o delito do artigo Nº 46 – usualmente conhecido por transporte e armazenamento ilegal de madeira – representou apenas 13% dos crimes contra a flora registrados em relação aos 420 BOP (PARÁ, 2019), resultado que diverge do estudo de Rosário et al. (2020) acerca do desmatamento na Amazônia, que identificou mais de 50% dos crimes apurados como sendo de transporte ou armazenamento ilegal de madeira no período pesquisado.

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Para melhor compreensão dos resultados da Figura 02 é necessário conhecer a definição legal dos crimes previstos na Lei Nº 9.605/98 citados: Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção (...) Art. 38-A. Destruir ou danificar vegetação primária ou secundária, em estágio avançado ou médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção. (...). Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da autoridade competente. (...).Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de que trata o art. 27 do Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de sua localização. (...). Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta. (...). Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação permanente, sem prévia autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais. (...). Art. 45. Cortar ou transformar em carvão madeira de lei, assim classificada por ato do Poder Público, para fins industriais, energéticos ou para qualquer outra exploração, econômica ou não, em desacordo com as determinações legais.(...).Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor, outorgada pela autoridade competente, e sem munir-se da via que deverá acompanhar o produto até final beneficiamento.(...).Art. 50. Destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora de dunas, protetora de mangues, objeto de especial preservação.(...).Art. 50-A. Desmatar, explorar economicamente ou degradar floresta, plantada ou nativa, em terras de domínio público ou devolutas, sem autorização do órgão competente.(...).Art. 51. Comercializar motosserra ou utilizá-la em florestas e nas demais formas de vegetação, sem licença ou registro da autoridade competente (BRASIL, 1998).

Por outro lado, chama atenção na Figura 2 o elevado número de registros dos casos do crime de incêndio em mata ou floresta previsto no artigo Nº 41 (57 BOP) em relação ao noticiado na pesquisa de Rosário et al. (2020), onde apenas 10 registros foram noticiados num período de 24 meses.

3.2. Índices de desmatamento

A Figura 4 apresenta os dez municípios do estado do Pará que mais desmataram no ano de 2018 e Altamira encabeça o ranking com 435,1km² desmatados, situação que não é incomum visto que desde 2011, com exceção do ano de 2017, em que São Félix do Xingu desmatou mais do que todos os demais municípios paraenses, vem sendo o município recordista na extração ilegal de vegetação (INPE, 2019).

3.3. Ocorrências policiais versus desmatamento

Os dez municípios que mais apresentaram registros policiais e suas respectivas quantidades de investigações e taxas de desmatamento no período de janeiro de 2018 a setembro de 2019 constam na Tabela 01.

Analisando o mapa dos municípios paraenses com mais registros de boletins de ocorrência policial, por quantidade de investigações policiais e área desmatada no período de janeiro de 2018 a setembro de 2019 (Tabela 1, Fig. 3) e o mapa dos municípios que mais desmataram (Tabela 2, Fig. 4) infere-se que a apuração de crimes contra a flora não vem sendo realizada nas cidades com maiores índices de desmatamento, onde efetivamente mais deveriam ser adotadas diligências para prisão de infratores da lei ambiental (PARÁ, 2019).

O caso que mais destoa é o observado em Altamira que mesmo com 435,1km² (Tabela 2, Fig. 4) de sua área desmatada – situação que lhe coloca como município recordista em supressão vegetal no estado do Pará – teve apenas duas investigações realizadas (uma referente ao crime de incêndio e outra de transporte ilegal de madeira). É de se concluir, portanto, que as ações investigativas da Polícia Civil do Pará não estão voltadas aos municípios que efetivamente estão degradando a flora da Amazônia Legal no estado (PARÁ, 2019).

A disposição dos dados relativos aos municípios que mais desmataram em 2018 e sua respectiva atuação policial (Tabela 2, Fig. 4) permitiu inferir a ausência de correlação entre as variáveis estudadas, uma vez que apenas Novo Progresso consta nas duas listas, ou seja, como

Município que mais registrou BOP e também mais apurou o crime contra a flora.