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CAPÍTULO 3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS DA PESQUISA

3.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Lei de Crimes Ambientais que entrou em vigor em 1995 endurecendo as penas e trazendo novos fatos típicos para enquadramento de condutas criminosas não parece ter produzidos efeitos na redução dos índices de desmatamento. Mais de vinte anos após sua vigência, a Amazônia permanece sendo incendiada e devastada por pecuaristas, agricultores, grileiros e exploradores de madeira.

Acompanhando a legislação ambiental federal, a Polícia Civil do estado do Pará criou em 2006 uma unidade policial específica para combate a crimes ambientais, a Divisão Especializada em Meio Ambiente, que por se localizar na Capital, não consegue apurar a contento os desmatamentos que ocorrem nos 1.248.000 km² de seu território. Ao invés de direcionar esforços para as cidades do interior do estado, onde a degradação ambiental ocorre de forma mais intensa, a Polícia Civil atua mais onde menos se desmata.

Por meio do presente trabalho que objetivou avaliar a atuação da Polícia Civil do estado do Pará, diante dos índices de desmatamento nas áreas de maior degradação da flora, pôde-se concluir que as ações investigativas não estão coadunadas para com os locais mais devastados da floresta amazônica.

O primeiro artigo direcionou a análise para apresentar os crimes contra a flora registrados nos Municípios do estado do Pará onde mais foram registradas ocorrências de crime ambiental, no período de janeiro de 2018 a setembro de 2019, verificando se as investigações realizadas pela Polícia Civil ocorreram nos municípios recordistas em desmatamento, conforme dados do INPE.

Como resultado, apurou-se que Almeirim, Santana do Araguaia e Muaná tiveram mais registros de boletins de ocorrência policial de delitos contra a flora, apesar de não serem os que mais desmataram. Por outro lado, Altamira, São Félix do Xingu e Novo Progresso, apesar de estarem na lista dos principais desmatadores, apresentam baixa quantidade de apurações pela Polícia Civil dos ilícitos ambientais, demonstrando que os policiais lotados nesses municípios não são instruídos para o enfrentamento dos crimes que ocorrem em seus territórios e que são amplamente divulgados pela mídia e pelos órgãos oficiais como, por

exemplo, o INPE, que por meio do sistema de detecção do desmatamento em tempo real (DETER) disponibiliza relatórios de monitoramento diários após levantamento de indícios de alteração da cobertura florestal na Amazônia.

Além disso, a estratégia para combate desses crimes deveria ser otimizada por meio da realização de fiscalizações em pontos que permitem o escoamento da matéria prima como estradas e vicinais mais utilizadas e não em todos os pontos de desmate ilegal, considerando a impossibilidade de fiscalizar os diversos focos de desmatamento em todo território do estado do Pará.

Nesse sentido, é importante que se reforce a própria ação dos responsáveis pela fiscalização de rodovias, uma vez que a corrupção também fomenta o desmatamento. Foi esse justamente o tema do segundo artigo desse trabalho: apresentar os detalhes da investigação denominada Operação “Virtualis” deflagrada pela Polícia Civil do estado do Pará, que revelou esquema de corrupção realizado por servidores da SEFA para permitir o livre trânsito de caminhões de empresários do ramo madeireiro.

Nesse segundo estudo, que também teve por objetivo verificar se após a prisão dos investigados houve mudança nos índices de supressão vegetal, verificou-se uma redução de 20% da taxa de desmatamento no ano de 2017 no estado do Pará no ano subsequente à realização da operação policial, situação que não foi acompanhada pelo estado do Mato Grosso, utilizado como parâmetro de comparação, de acordo com os dados do INPE

O último artigo científico apresentou os índices de desmatamento dos estados que compõem a Amazônia Legal no período de 2008 a 2017 e identificou relação estatística significante entre a supressão vegetal nos Municípios recordistas e as variáveis estudadas: e quantidade de cabeças de gado e expansão territorial da área plantada de soja.

Considerando os resultados expostos nessa pesquisa, em especial evidenciando a contribuição significativa dos Municípios do interior do Pará para o processo de desmatamento é necessário que as políticas de segurança não se limitem a combater os crimes mais comumente sentidos pela sociedade como roubo, furto e homicídio, mas também os que, mesmo em longo prazo, afetam diretamente sua qualidade de vida como os contra a flora. Para isso a atuação das polícias locais deve ser reforçada para enfrentamento do desmatamento através de aumento de contingente, assim como estrutura adequada para

desenvolvimento de um trabalho especializado, como deve ser a apuração dos delitos ambientais.

O ideal seria a criação de sub-sedes da Divisão Especializada em Meio Ambiente em todas as sedes de Regiões Integradas de Segurança Pública que tiverem em sua composição municípios identificados como recordistas em desmatamento, ou seja, em Altamira, Itaituba, Tucuruí, Portel e São Félix do Xingu.

Aludida política não é novidade na estrutura atual da Polícia Civil do Pará, visto que o mesmo foi aplicado por meio da implantação nos Municípios sede de Região Integrada de Segurança Pública (RISP) de Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher para coibir a prática de violência doméstica, o que vem ocorrendo desde a promulgação da Lei Maria da Penha ocorrida em 2006. Por outro lado, as ações de comando e controle voltadas ao meio ambiente ainda parecem não ter acompanhado o crescimento do desmatamento no Pará, com índices alarmantes desde o início do monitoramento por satélite feito pelo INPE.

Esse contexto de não direcionamento das ações investigativas, assim como de ausência de órgão especializado da Polícia Civil nos locais de maior incidência de crimes contra a flora nos permite inferir que falta efetividade na atuação das forças policiais, que não pauta seu trabalho de acordo com os índices oficiais de desmatamento amplamente divulgados, o que confirma a hipótese aventada no início dessa pesquisa.