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A Inclusão social pelo trabalho em Campinas: Um debate sobre o direito,

o desejo e a necessidade do acesso ao trabalho para pessoas com

transtornos mentais

Resumo: Esse texto sintetiza uma pesquisa de mestrado profissional que teve como objeto a inclusão social pelo trabalho dentro do contexto da Reforma Psiquiátrica. Tivemos como objetivo principal conhecer como comparecem as dimensões de direito, desejo e necessidade nas práticas de inclusão laboral de pessoas com transtornos mentais. Para isso, como campo de pesquisa, partimos da experiência das iniciativas de geração de renda do município de Campinas. Em nosso percurso metodológico, além de revisão bibliográfica, lançamos mão de uma abordagem qualitativa, utilizando como técnica de produção de dados a observação participante, complementada pela produção de diários de campo e a realização de grupos focais com usuários. A análise dos dados, a produção de resultados e escrita do texto se deu a partir da tecnologia da interpolação de olhares, que cruzou dados oriundos da pesquisa bibliográfica e de campo.

Palavras-chave: Trabalho; reabilitação psicossocial; inclusão social

Abstract: This text summarizes a professional master's degree research aimed at social inclusion through work within the context of psychiatric reform. The main objective was to comprehend the role of the dimensions of right, desire and need for labor inclusion

practices regarding people with mental disorders. To that end, as a research field, we start from the experience of income-generating initiatives in the city of Campinas. In our methodological approach, in addition to literature review, we used a qualitative approach, making use, as data production technique, of participant observation, followed by the production of field logs and carrying out focus groups with users. Data analysis, results production and writing of the text were carried out by the technique of viewpoint interpolation, crosschecking data from the literature and from the field

Introdução

Este estudo é resultado de uma investigação de mestrado profissional, que teve como objeto a inclusão social pelo trabalho, tendo realizado uma imersão nas experiências de pessoas com transtornos mentais que trabalham em oficinas protegidas em Campinas- SP. Os participantes dessa pesquisa são conhecidos por “oficineiros” e desenvolvem diversas atividades laborativas dentro dos equipamentos da saúde que integram a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Essa rede é a materialização de uma luta pela melhoria das condições de tratamento desses sujeitos e uma conquista advinda do movimento da luta antimanicomial e da Reforma Psiquiátrica.

No Brasil, desde 2004 a área técnica de Saúde Mental e a Secretaria Nacional de Economia Solidária estão articuladas em suas ações com intuito de fomentar iniciativas de geração de renda e trabalho em saúde mental (23). Atualmente essa parceria vem lutando para efetivar a legalidade das cooperativas sociais que são dirigidas a pessoas em situação de desvantagem social. Nesta especificidade, incluem-se egressos do sistema prisional, jovens, e outros grupos em desvantagem, incluindo as pessoas com transtorno mental. Apesar dos esforços do Programa Nacional de Apoio ao Associativismo e Cooperativismo Social, (PRONACOOP Social) o cooperativismo social não dispõe de um marco legal que permita seu pleno desenvolvimento. A atual lei 9.867/99 possui restrições que não permitem a formalização das iniciativas solidárias, que tem que enfrentar a informalidade ou a precariedade institucional (24,25).

Concomitantemente, as mudanças deflagradas pela implantação das estratégias de atenção psicossocial e da Reforma Psiquiátrica no Brasil vêm apresentando resultados significativos no tratamento e inclusão social das pessoas com transtornos mentais, seja por estratégias de desinstitucionalização e implementação de equipamentos substitutivos, seja pela produção de cidadania e outras respostas sociais à loucura. Parte importante dessas estratégias de contraposição às práticas manicomiais está voltada para iniciativas de geração de renda e oficinas de trabalho.

O que define a opção por esse objeto é o interesse e a experiência profissional da autora nesse campo, que elege o município de Campinas como campo tanto por sua inserção na rede do município, como pela relevância histórica da referida rede na inserção social pelo trabalho. Recentemente o município de Campinas criou o programa municipal

de economia solidária e instituiu uma política municipal para esse fim, através da lei 152/2014 (26). Esta ação em direção à consolidação do cooperativismo é mais uma razão para selecionarmos o município de Campinas para a realização dessa pesquisa. Pensar na inclusão efetiva dessas pessoas através do trabalho é um passo maior para o alcance da cidadania, que concretamente tem encontrado entraves em razão da fragilidade das políticas públicas de emprego e renda que os assistam em nível nacional. Atualmente, o único meio para financiamento dessas iniciativas é a Portaria 132/2012 de janeiro de 2012, que depende da aprovação de projetos em editais e prevê o custeio de desenvolvimento das oficinas, nos valores de 15, 30 e 50 mil. Porém na prática como a verba é encaminhada às prefeituras, ocasionalmente, por obstáculos burocráticos ou desacordos na aplicação da verba ocorrem atrasos ou o não recebimento dos valores (27).

Além disso, as iniciativas de geração de renda em Campinas iniciam timidamente a experimentação da inclusão no social pelo trabalho com base na lei de cotas, que prevê que toda empresa com 100 ou mais funcionários deve destinar de 2% a 5% dos postos de trabalho a pessoas com alguma deficiência (4). Devido a rígidos critérios diagnósticos, essa formulação exclui a imensa maioria dos portadores de sofrimento psíquico (priorizando portadores de deficiências e não de doenças mentais). Entendemos que esta apresentação da lei exprime e reforça um estigma que, em sua significação social, denota ser impossível a uma pessoa com transtorno mental ocupar um posto de trabalho. Tendo esse contexto como pano de fundo, a decisão de discorrer sobre a inserção social pelo trabalho na perspectiva de oficineiros com transtornos mentais, para além de identificar fragilidades nesse processo, tem como enfoque produzir problematizações que nos permitam repensar, rever e questionar, quais processos de singularização seriam possíveis nesse cenário ao construirmos práticas de trabalho que se pretendam mais transversais, menos disciplinadoras, que reconheçam o sujeito em sua maneira de ser no mundo, tentando não tomar por referência o padrão de normatividade imposto, especialmente no que tange aos padrões de produtividade e trabalho.

Por compreendermos que contextos como o de Campinas, consubstanciam transformações relevantes podendo expressar as potências e dificuldades das iminentes mudanças nas práticas de inclusão pelo trabalho, gostaríamos de realizar uma discussão que julgamos ser anterior às práticas em si, que diz respeito a revisitarmos as razões de

defendermos o acesso ao trabalho. Nesse propósito queremos dar relevo a essa experiência com enfoque em três dimensões principais: a necessidade, o desejo e o direito.

Essas dimensões foram eleitas como categorias de análise a partir da experiência empírica da pesquisadora como trabalhadora da rede de atenção psicossocial de Campinas, onde identificamos que a necessidade pelo trabalho, bem como o direito e o desejo de trabalhar são categorias que expressam não apenas importantes movimentos dos usuários na relação com trabalho, como podem nortear processos emancipatórios, que contribuam para a construção de novas formas de subjetivação.

1. Contexto histórico: A interface entre o trabalho e a Saúde Mental

Tendo considerado a problemática apresentada anteriormente e antevendo nossa preocupação sobre como a saúde mental vem mediando a relação do sujeito com transtorno mental com o trabalho nos parece necessário iniciar esse debate a partir de um resgate histórico a fim de compreendermos não os fatos remotos, mas a história do presente.

Embora o trabalho e as atividades laborais possam ser importantes dispositivos para a atenção psicossocial e para a produção de cidadania das pessoas com transtornos mentais, é sabido que o modo como o trabalho foi incorporado nas práticas de tratamento variaram muito ao longo da história da psiquiatria e da Saúde mental.

As Casas de Força, o Hospital Geral, as Casas de Trabalho e as Colônias Agrícolas do século XVIII foram instituições que testemunharam o uso de um trabalho forçado, aplicado aos seus internos como ferramenta de repressão, punição e disciplinarização dos costumes, capaz de expiar a culpa. O uso do trabalho aqui tinha o sentido de regenerar a moral de mendigos, hereges e indigentes, adaptando-os à coerção generalizada ou a justificativas religiosas (28,29).

No final do século XVIII esses valores que justificavam o uso do trabalho forçado foram se transformando. O corolário histórico do arranjo capitalista do mundo ocidental se encontra no rompimento do humanismo com a perspectiva estritamente religiosa, fazendo surgir uma nova alternativa. A partir de então, a ciência passou a figurar como ideologia. O modo de produção social se estruturou de tal forma que a sociedade então passa a ver o trabalho como algo fundamental, que organizava as formas de sociabilidade. O tratamento Moral surge nesse contexto, justificando o enclausuramento e a

obrigação ao trabalho (29). Nesse contexto, a qualidade de ciência configurava o trabalho enquanto um recurso terapêutico-moral, fazendo com que se tornasse uma resposta científica da medicina para tratamento das doenças mentais. Seguindo a lógica de raciocínio da época, buscava-se uma aproximação com a organização social, com a compreensão de que se aproximar da normalidade seria aproximar-se da cura.

Em nome desse argumento da cura, se operavam as mesmas ações disciplinadoras de antes, mas agora de maneira mais sutil e 'humanizada’. O enclausuramento da loucura no arcabouço da enfermidade mental apaziguava qualquer crítica sobre as mesmas ações coercitivas que desta vez se reproduziam no manicômio sobre os doentes mentais (30). O trabalho era entendido também como instrumento de ocupação e utilizado para evitar a ociosidade, bem como para manter a subsistência das instituições manicomiais. Esses processos tinham como justificativa a busca pelo 'restabelecimento' dos internos às condições de retornar à sociedade de forma produtiva; com isso a capacidade ou não de se trabalhar, foi se tornando parâmetro do normal: quanto maior a aptidão para o trabalho, mais perto da cura e da normalidade (29). Do mesmo modo, a incapacidade para o mercado formal de trabalho foi gradativamente compondo-se como um critério diagnóstico.

O questionamento a esse processo surgiu junto com diferentes movimentos de democratização em diferentes países, movimentos que se organizavam contra Políticas ditatoriais e repressivas. Um exemplo importante para a Reforma Psiquiátrica Brasileira foi a Desistitucionalização Italiana. A proposta da psiquiatria democrática era que além da extinção do manicômio seria necessário repensar e transformar a maneira como a sociedade e o saber psiquiátrico pensavam, lidavam e cuidavam da loucura. Tratava-se de se colocar a doença entre parênteses para enfim voltar o olhar para o sujeito da experiência. Com isso, inverteu-se a proposição da psiquiatria que se ocupava da doença mental e definiu-se uma concepção de tratamento onde, mais importante que a eliminação dos sintomas, que a cura, era o processo de invenção da saúde e a reprodução social do presente. Emerge dessa concepção a possibilidade de invenção de um sujeito, que antes tinha sua subjetividade, sua dignidade humana anulada pela instituição total (31). O paradigma da desinstitucionalização terminou por extrapolar as discussões da psiquiatria e, ao questionar

as bases sociais da exclusão ofereceu uma crítica (e sugestões alternativas) à exploração da sociedade capitalista (32).

A experiência italiana serviu de base para experiências brasileiras, também no que concerne à inserção no trabalho. Sarraceno aponta que as cooperativas de trabalho eram a chave de todo esse processo. Para ele o trabalho era a “articulação do campo dos interesses, das necessidades, dos desejos” (33). À diferença de que no Brasil as primeiras discussões foram pautadas pelo movimento antimanicomial, o que fez com que hoje toda inclusão social de pessoas com transtornos mentais, salvo é claro, das iniciativas pessoais de cada um, se realize em equipamentos vinculados à Saúde (34).

No Brasil, a inclusão social pelo trabalho é parte das estratégias da atenção psicossocial e se sustenta no referencial da Reabilitação Psicossocial (33), à medida que pretende incentivar a inclusão social dos sujeitos, o ganho de autonomia, o desempenho de papéis sociais atribuídos a cada faixa etária e o exercício da cidadania como a diversificação das ações de cuidado em saúde mental. Com o fechamento dos hospitais psiquiátricos, e o fim da captura totalizante do sujeito surge a necessidade da subsistência. No campo da saúde, essa necessidade (que é estrutural, intersetorial) vem sendo enfrentada com a criação de espaços de trabalho regidos pela ética da economia solidária, que é caracterizada, por três elementos indissociáveis: a sua natureza econômica, como atividade produtiva ligada a produção e reprodução dos meios da vida; a sua natureza coletiva, que remete ao laço social e político da relação entre os associados e finalmente sua natureza autogestionária (25). Esse movimento não é somente pelo reconhecimento dos direitos de cidadania, mas também para a possibilidade de colocá-los em prática e de maneira progressiva em direção à afirmação de um sujeito mais autônomo e participativo na dinâmica social (29).

Contribuindo para essa movimentação, vários autores produziram conhecimento sustentando que o trabalho é ferramenta de emancipação social (29), com a potência de produzir outra condição existencial para pessoas com transtornos mentais. (35). Estamos de acordo que o trabalho no campo da inclusão social pode ser um dispositivo de produção de vida, no entanto, se a crítica à instituição total não se restringiu a desmontagem do modelo manicomial, mas, principalmente se ocupou da reconstrução e transformação do sujeito institucionalizado, queremos problematizar alguns dos efeitos

produzidos a partir da tentativa de construção desse novo sujeito que, às vezes trabalha onde se trata ou se trata onde trabalha.

Analisaremos essa peculiaridade brasileira, a partir da experiência de Campinas, onde a inclusão social pelo trabalho de todas as pessoas portadoras de transtornos mentais, opera em sincronia com a rede de atenção psicossocial do município. Isso inclui uma gama de serviços destinados a dar suporte aos cidadãos que sofrem de transtorno mental grave. Nesse município, a inclusão pelo trabalho é desenvolvida em dois serviços específicos de inclusão social pelo trabalho, o NOT (Núcleo de Oficinas de Trabalho) e a Casa das Oficinas, além de outros serviços de saúde, como CECOS, CAPS. Esses equipamentos contam com a articulação de um fórum, conhecido como Fórum Gera Renda, um espaço de interlocução, organizado por representação, com a finalidade de fomentar a construção de uma rede que execute ações dentro da lógica da economia solidária, apoiando-se mutuamente.

A experiência do NOT tem 23 anos de existência, oferecendo inserção em um trabalho autogestionário, na lógica da economia solidária. Atualmente conta com quinze oficinas e atende a mais de trezentos usuários da rede. As oficinas Agrícola, Culinária, Papel Artesanal, Nutrição, Vitral artesanal, Construção Civil, Parceria, Gráfica, Ladrilho Hidráulico, Mosaico, Marcenaria, Serralheria, Eventos, Costura e Pintura reambientaram os espaços onde antes funcionavam as enfermarias e o necrotério do então Sanatório Dr. Cândido Ferreira. O atual “Serviço de Saúde Cândido Ferreira” (SSCF) é um complexo de equipamentos da rede municipal de saúde mental.

O NOT se organiza juridicamente como uma associação, na qual o hospital e a Associação Cornélia Vlieg compõem uma parceria que atua na legitimação da iniciativa. Atualmente, compondo com a experiência do NOT, temos a Casa das oficinas, que se divide em dois espaços de trabalho (a Casa do Artesanato e a Casa da Culinária). A Casa das Oficinas se define como um serviço de inclusão social pelo trabalho e geração de renda em saúde mental, está em funcionamento desde 2005. Na Casa da Culinária acontece a Oficina Sabor da Vida que produz e comercializa salgados, bolos, doces, cafés da manhã, lanches e coquetéis em uma parceria com o Ceco Tear das Artes, que comercializa pastéis num espaço cedido pela prefeitura.

A Casa do Artesanato e o Armazém das oficinas são os espaços onde se comercializam os produtos dessas oficinas, além da participação em feiras e eventos. Em todos esses serviços acontecem “rodas” semanalmente: o espaço de reunião com oficineiros, e onde se pode avaliar o andamento do trabalho, os sentidos de estar ali etc.

2. Percurso metodológico

Para a realização da pesquisa, reconhecemos que as particularidades do objeto em questão nesse estudo requereu uma abordagem de natureza qualitativa e seguindo esse preceito, optamos por uma pesquisa com um caráter participativo e interventivo.

Definimos como campo de pesquisa uma seleção de três oficinas dentre o já o citado conjunto de iniciativas de geração de renda, além da assembleia do NOT, ambas atividades desenvolvidas pela rede de atenção psicossocial do município de Campinas-SP. Definimos que para a produção de dados tomaríamos a pesquisa bibliográfica, observação participante e confecção de diário de campo, além de grupos focais (GF) com oficineiros.

Anteriormente à produção efetiva da pesquisa, seu projeto e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foram aprovados pela Comissão de Ética da UNICAMP e da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas.

A pesquisa bibliográfica teve como base de dados o SCIELO, LILACS e BVS e catálogos on-line de universidades, além da análise de documentos institucionais.

Foram realizadas duas rodadas de GF com oficineiros, partindo de uma seleção aleatória. Foram áudio-gravados e posteriormente transcritos para análise e produção dos resultados da pesquisa.

O processo de observação participante passou por sete das vinte e duas oficinas existentes no município, redigindo o diário de campo entre setembro de 2013 e fevereiro de 2014.

Com a observação participante e a produção dos diários de campo buscou-se apreender a dinâmica de relações, o encontro entre trabalhadores e oficineiros ante a tarefa institucional da inclusão social pelo trabalho, entender como se dava esse arranjo institucional no cotidiano por meio do registro de enunciados, práticas, estranhamentos e impressões. Buscando uma sistematização para as reflexões da pesquisa, encontramos no

diário de campo uma ferramenta capaz de prolongar a transitoriedade da experiência em campo (6,17).

Tendo definido as ferramentas de produção de dados, elegemos para análise de dados e produção de resultados a tecnologia de ‘interpolação de olhares’ que propõe um intercruzamento dos dispositivos de pesquisa, conforme interesse de composição de uma escrita comprometida com a produção de conhecimento científico, realizando um engendramento entre os modos de produção de dados e não um encadeamento linear, nem síntese (21,22).

Nessa perspectiva, analisar o material produzido a partir dos grupos focais, dos diários de campo e da revisão bibliográfica e da observação participante é dar passagem e visibilidade aos enunciados, às produções teóricas e práticas, às narrativas de diferentes protagonistas desse processo e participantes da pesquisa, entremeados com as possíveis leituras e contribuições do pesquisador.

3. Resultados e Discussão

Numa pesquisa qualitativa a produção e análise dos dados, bem como a descrição dos resultados e sua discussão, são processos que estão o tempo todo em relação, por isso, optamos por sistematizar os dados produzidos e analisados a partir de três dimensões, conforme descrito anteriormente: a necessidade, o direito e o desejo.

A divisão dessas dimensões se apresentará aqui separadamente, apenas para fins didáticos, visto que no processo de pesquisa, nas práticas de trabalho e na atenção em saúde mental essas dimensões se entrecruzam e estão em relação o tempo todo.

3.1. Necessidade

No conjunto das três dimensões que nos propomos a investigar, a dimensão da necessidade, foi a certamente mais explorada pelos oficineiros e a que ganhou maior relevância nos grupos focais. E dentre os autores que revisamos a fim de dialogar com a expressão que a dimensão da necessidade se mostrava em campo, seguramente foi Agnes Heller (36) quem nos trouxe mais inquietações, sensibilizando-nos à percepção de como poderiam se manifestar as necessidades dos oficineiros dentro do recorte dessa pesquisa.

Agner Heller (36), problematiza o conceito de necessidade partindo da construção marxista, embora posteriormente ela rompa com essa narrativa. Para ela a necessidade é uma categoria social: enquanto animal político, homens e mulheres teriam necessidades que se diferenciam em três aspectos:

1. A necessidade enquanto tal, que se relaciona com os aspectos mandatórios do biológico e do social, em sua dimensão inseparável do ser;

2. A relação subjetivo-psicológica do indivíduo que anuncia sua necessidade, em seu

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