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A Pop Art não foi um movimento coerente. Assim, cada artista explorava à sua maneira as imagens midiáticas e os produtos de consumo de massa. Alguns produziam colagens de imagens advindas de revistas ou anúncios publicitários, enquanto outros utilizavam técnicas de serigrafia, pintura ou escultura a fim de representar objetos de consumo. Os primeiros artistas a trabalhar com a nova estética foram os ingleses, mas os norte-americanos deram grande repercussão ao movimento. (BATISTA, 2020)

Richard Hamilton (1922–2011) participava do Grupo Independente, que havia se formado em Londres para discutir arte contemporânea na década de 1920.

54 O interesse comum entre os integrantes do grupo era a cultura de massa e a sua reprodutibilidade (FARTHING, 2011). Hamilton elaborou uma colagem com o título O que é que torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes? (Figura 3), consagrando-se como um dos artistas pioneiros de um novo modo de pensar as contaminações entre arte erudita e cultura de massa.

A obra de Hamilton é referência para o surgimento da Pop Art. Nela, o artista utiliza colagens de revistas americanas para produzir um lar totalmente vinculado aos novos ideais pop, que focavam na representação de uma arte jovem e sexy que fosse descartável. Na imagem, um fisiculturista segura um pirulito vermelho de dimensão colossal numa sala repleta de utensílios ultramodernos; uma mulher nua aparenta estar sentada no sofá numa pose sexy, enquanto outra vestida faz a limpeza do ambiente; por trás da televisão, há quadros dependurados na parede, e um deles refere-se a um recorte de história em quadrinhos. Além disso, a translucidez da janela da sala permite a visualização de um ambiente moderno, repleto de propagandas nas fachadas dos estabelecimentos. (BATISTA, 2020)

55 Hamilton ilustrou como a intimidade do lar das pessoas estava sendo reconfigurada a partir da invasão das imagens midiáticas de consumo. A transformação não se dava apenas nos objetos de consumo, mas no próprio corpo dos sujeitos, que precisavam ser magros e ter músculos definidos, símbolos de sensualidade e sexualidade. Em Swingeing London III, Richard Hamilton continuou revelando o seu interesse pela dimensão doméstica. A obra retrata a prisão de Mick Jagger e de Robert Fraser devido às drogas. Hamilton utilizou uma fotografia jornalística como base para a pintura. (BATISTA, 2020)

O uso da arte como forma de expor uma realidade comum à sociedade de consumo não esteve presente apenas nos trabalhos de Hamilton, pois outros artistas também utilizaram a Pop Art de modo crítico. Além de Richard Hamilton, os artistas ingleses Derek Boshier (1937), David Hockney (1937), Patrick Caulfield (1936–2005) e Peter Blake (1932) tiveram grande destaque. Entretanto, foi nos Estados Unidos que essa corrente ganhou força e deu origem aos artistas mais reconhecidos do período: Tom Wesselmann (1931–2004), Jasper Johns (1930), Robert Rauschenberg (1925–2008), Andy Warhol, Roy Lichtenstein e Claes Oldenburg (1929). (BATISTA, 2020)

Andy Warhol foi o artista símbolo da Pop Art. Ele contestava os valores expressivos da arte, trabalhando com imagens massificadas por meio de uma técnica impessoal, a serigrafia. As suas obras eram feitas numa espécie de linha de produção que repetia diversas vezes a mesma imagem, omitindo o gesto artístico da pincelada tão valorizada na arte moderna, principalmente no Expressionismo Abstrato. (BATISTA, 2020)

Warhol [...] procurou eliminar de sua obra os valores artísticos tradicionais. Em seu estúdio de Nova York, provocativamente batizado de “A Fábrica”, ele se propôs a produzir imagens por meio de processos impessoais (como a serigrafia), proclamando que elas não tinham nenhum valor, salvo o monetário no inflacionado mercado da arte (FARTHING, 2011, p. 487).

No estúdio A Fábrica, o artista contava com a ajuda de assistentes para dar conta da produção em série de imagens, num processo muito similar à linha de produção fabril. Entretanto, mesmo produzindo as suas obras em larga escala, Warhol fazia questão de definir onde colocar cada cor e de deixar erros no processo

56 de impressão, para conferir à imagem certa singularidade. De acordo com Archer (2012), o processo de anonimato buscado por artistas como Lichtenstein e Warhol era uma teatralização, pois eles mantinham certa singularidade em seus trabalhos. Warhol costumava utilizar imagens de pessoas famosas da época e reproduzi-las repetidas vezes, com pequenas alterações. As fotografias de Marilyn Monroe e Elvis Presley eram referências para Warhol, que os representava como produtos de consumo ao utilizar uma técnica mecânica para copiar as suas imagens repetidamente. Warhol mostrava os artistas como produtos de massa que poderiam ser consumidos e tornava as suas imagens atraentes por meio do uso de cores vivas, aplicadas à mão e sem preocupação com o perfeccionismo. (BATISTA, 2020) A primeira exposição de Pop Art de Warhol, realizada em 1962, consistia em pinturas de diversas latas individuais de sopa Campbell dispostas sobre prateleiras. As suas pinturas posteriores também versavam sobre a reprodução de produtos voltados ao consumo, tais como garrafas de Coca-Cola, caixas de Brillo ou imagens de pessoas famosas. As obras partiam da ideia de que a arte deveria ser uma mercadoria como os objetos que ela representava. As ideias de Warhol sobre a influência da cultura de massa na vida das pessoas não ficavam restritas às suas produções artísticas. Ele fez diversas declarações. Disse, por exemplo, que:

[...] queria ser uma máquina, [...] que no futuro todas as pessoas seriam famosas por quinze minutos e [...] que todos nós bebemos Coca-Cola e nenhuma soma de dinheiro dará ao presidente dos EUA uma garrafa melhor do que aquela que o vagabundo de esquina bebe (ARCHER, 2012, p. 11).

O artista Roy Lichtenstein criticava abertamente o Expressionismo Abstrato ao produzir pinturas detalhadas voltadas à comercialização. As suas obras retratam quadros de histórias em quadrinhos, ilustrando a futilidade desse tipo de arte, que transformava a violência e a guerra em temas para heróis agressivos. As pinturas de Lichtenstein possuem uma aplicação técnica extremamente elaborada que simula a textura industrial com que os quadrinhos eram impressos. (BATISTA, 2020)

Como o resultado era tão seco e “não emocional”, era possível acreditar que não fora realizada absolutamente nenhuma interpretação. Seus quadros, à primeira vista, pareciam ter um estilo tão mecânico quanto o material original, embora seja evidente [...] a ideia da arte como atividade

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expressiva das emoções, está sendo considerada de modo irônico (ARCHER, 2012, p. 6).

Na obra Moça chorando (Figura 4), você pode observar as principais características do trabalho de Lichtenstein. Com referências aos personagens de histórias em quadrinhos, o artista dá continuidade ao trabalho estético desse tipo de produção, que apresenta contornos definidos e cores chapadas. A representação das mulheres é idealizada tanto em relação ao corpo quanto ao rosto delicado e sensual, com nariz arrebitado e lábios carnudos. (BATISTA, 2020)

Em 1961, Claes Oldenburg transformou o seu estúdio numa loja chamada O armazém para vender uma série de esculturas inspiradas em objetos do cotidiano. Inicialmente, ele fazia reproduções de itens de vestuários num processo escultórico; as esculturas eram pintadas com esmalte, simulando o estilo expressionista. Contudo, aos poucos o artista começou a construir as suas esculturas com um processo de manufatura diferente do tratamento convencional. Ele fazia réplicas gigantes dos objetos a partir do emprego de estofamento e acabamento com costura. Desse modo, estava inovando o processo escultórico, moldando os objetos de dentro para fora (ARCHER, 2012).

58 Floor Burger (Figura 5) é um exemplar das obras do artista. Nela, você pode perceber a ruptura com a técnica e com o tema da escultura convencional, pois Oldenburg retrata um alimento em dimensões exageradas. Além disso, a estrutura da escultura é mole, contrariando a ideia de escultura como algo rígido e permanente. (BATISTA, 2020)