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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI TEORIA DA ARTE GUARULHOS SP

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

TEORIA DA ARTE

GUARULHOS – SP

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2 SUMÁRIO

1 O QUE É A ARTE? ... 4

2 A ARTE COMO UM REFLEXO DA CULTURA E DA SOCIEDADE ... 9

3 QUANDO A ARTE SURGIU? ... 11

3.1 A arte no Paleolítico: o naturalismo ... 11

3.2 A arte no Neolítico: um novo estilo ... 15

3.3 A arte na Idade dos Metais: um novo material ... 18

4 TIPOS DE ARTE ... 19

5 FORMAÇÃO DA ARTE CONTEMPORÂNEA ... 22

6 PRINCIPAIS VERTENTES DA ARTE CONTEMPORÂNEA ... 26

6.1 Minimalismo...27

6.2 Op art...27

6.3 Arte cinética...27

6.4 Arte conceitual ... 28

6.5 Arte povera...28

6.6 Body art...28

6.7 Land art...29

7 OBRAS EM DESTAQUE ... 30

8 ARTE CONTEMPORÂNEA: ALGUMAS CARACTERÍSTICAS E TENDÊNCIAS.35 9 ARTE CONCEITUAL E SEUS SIGNIFICADOS ... 41

10 ARTE CONTEMPORÂNEA E SEUS DESDOBRAMENTOS ... 45

11 A POP ART E O SEU DESENVOLVIMENTO ... 49

12 OS ARTISTAS DA POP ART ... 53

13 A POP ART NO BRASIL ... 58

14 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO EM ARTE ... 62

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3 15 A ARTE NA CULTURA E NO CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL ... 66 16 RELAÇÕES ENTRE A EDUCAÇÃO ESTÉTICA E A EDUCAÇÃO ARTÍSTICA.70 17BIBLIOGRAFIA ... 76

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4 1 O QUE É A ARTE?

Para o crítico inglês John Ruskin (apud PROENÇA, 2009, p. 6), “[...] as grandes nações escrevem sua autobiografia em três volumes: o livro de suas ações, o livro de suas palavras e o livro de sua arte”. Ele ainda acrescenta que “[...] nenhum desses três livros pode ser compreendido sem que se tenham lido os outros dois, mas desses três, o único em que se pode confiar é o último”.

Partindo dessa colocação, você pode entender a arte como reflexo da sociedade, ou seja, como algo profundamente ligado à cultura e aos sentimentos de um povo. É por isso que, aos olhos de Ruskin, o livro da arte é o mais confiável.

Por meio da arte, o homem pode se manifestar expressivamente e registrar a sua vida em diferentes aspectos. Ele pode, por exemplo, retratar uma festa, um nascimento, um trabalho, uma manifestação religiosa, assim como momentos de ilusão, ou ainda devaneios, sátiras e críticas. Em geral, as atividades humanas em algum momento foram elementos de representação artística, nas mais diversas linguagens, temas e técnicas de produção. (SANTOS, 2019)

A palavra “arte” vem do latim ars e corresponde ao termo grego tékhne (“técnica”), que significa “[...] toda atividade humana submetida a regras em vista da fabricação de alguma coisa” (CHAUÍ, 2003 apud FERREIRA, 2011, p. 61). A arte é um meio de fazer, de produzir. Nesse sentido, ela pressupõe um conhecimento prévio inerente ao ser humano. Veja:

A arte é muitas coisas. Uma das coisas que a arte é, parece, é uma transformação simbólica do mundo. Quer dizer: o artista cria um mundo outro — mais bonito ou mais intenso ou mais significativo, ou mais ordenado — por cima da realidade imediata [...]. Naturalmente, esse mundo do outro que o artista cria ou inventa nasce de sua cultura, de sua experiência de vida, das ideias que ele tem na cabeça, enfim, de sua visão de mundo [...] (GULLAR apud FERREIRA, 2011, p. 61).

A arte, apesar de ser um conceito subjetivo, pode ser compreendida como um saber. Ela alia conhecimentos teóricos e práticos de modo a expressar os sentimentos de um povo intrínsecos ao seu contexto social. (SANTOS, 2019)

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5 As obras de arte apresentam diferentes temas. Você pode considerar que elas:

 Retratam elementos naturais, como é o caso das pinturas nas cavernas de Altamira, na Espanha (Figura 1); (SANTOS, 2019)

 Expressam os sentimentos religiosos do homem, tal como o quadro Natividade, do pintor renascentista Sandro Botticelli (Figura 2), ou a máscara do Deus-Morcego criada por uma antiga civilização pré- colombiana do México (Figura 3); (SANTOS, 2019)

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 Retratam situações sociais, como A família de Retirantes, do pintor brasileiro Candido Portinari (Figura 4). (SANTOS, 2019)

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 Sugerem diferentes impressões a quem as contempla, como as pinturas de Tomie Ohtake (Figura 5). (SANTOS, 2019)

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9 2 A ARTE COMO UM REFLEXO DA CULTURA E DA SOCIEDADE

A obra de arte se situa entre o particular e o universal da experiência humana. Cada obra é tanto um produto cultural de determinada época quanto uma criação singular da imaginação humana, cujo valor é universal. A obra de arte revela para o artista e ao mesmo tempo para o espectador uma possibilidade de existência e comunicação, além dos fatos e relações habitualmente conhecidos. (SANTOS, 2019)

Dessa maneira, a criação artística pode se distinguir das demais modalidades de conhecimento por promover a comunicação entre os seres humanos, com a utilização particular das suas formas de linguagem. (SANTOS, 2019)

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10 Para Arthur Schopenhauer (2003), filósofo alemão do século XIX, caberia à arte expor ideias e assim explorar o verdadeiro conteúdo do mundo. A arte, para ele, se definiria como a “exposição de ideias” ou o modo de consideração das coisas independentemente do princípio da razão. Ela seria o conhecimento cristalino dos graus de objetivação da vontade. Pela arte, o gênio, faculdade comum a todos em menor ou maior grau, intuiria “[...] o essencial propriamente dito do mundo, o conteúdo verdadeiro de seus fenômenos [...]” (SCHOPENHAUER, 2003, p. 15). Ou seja, para o filósofo, a arte seria a maneira mais efetiva de explorar o conteúdo do mundo.

Além disso, a arte pode ser entendida como um modo privilegiado de conhecimento e aproximação entre indivíduos de diferentes culturas. Afinal, ela favorece o reconhecimento das diferenças e semelhanças, expressas nos produtos artísticos e concepções estéticas, num plano mais profundo que o do discurso verbal. (SANTOS, 2019)

Por meio da análise de objetos e imagens produzidas pelo homem no decorrer dos tempos, você pode, além de obter um retrato das transformações, ver os registros das descobertas proporcionadas pela ciência, sistematizadas pela geografia, registradas pela história, desenvolvidas pela matemática. Por meio da história da arte, é possível compreender a relação do homem com o seu tema e o seu espaço. (SANTOS, 2019)

As manifestações artísticas são exemplos da diversidade cultural dos diferentes povos, expressando a riqueza criadora dos artistas de todos os tempos e lugares. Os trabalhos de arte muitas vezes expressam as questões humanas, tais como problemas sociais e políticos, sonhos, medos, perguntas e inquietações das mais diversas. Também documentam fatos históricos e manifestações culturais particulares. Como afirma Ferreira (2011, p. 67):

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O artista, através de sua obra de arte autêntica, pode protestar contra as barbáries do mundo, transformando a submissão em ato de luta, buscando resgatar a dignidade humana, o ser humano pleno, rumo a uma sociedade melhor, mais justa e mais democrática, onde todos possam ter acesso aos bens culturais de consumo e ao lazer.

Nesse sentido, a arte não se restringe a produzir o belo ou o útil, o prazer.

Mas do que isso, a “[...] arte pode contribuir para a compreensão do mundo real e expressão da verdade” (FERREIRA, 2011, p. 67).

3 QUANDO A ARTE SURGIU?

Como você pode notar, o ser humano, seja de que época for, sempre produziu e se cercou de artefatos e utensílios para o uso cotidiano e para a expressão de seus sentimentos diante da vida. Os primeiros registros da cultura humana datam da Pré-História. Foram encontrados objetos, pinturas e gravações no interior de muitas cavernas espalhadas pelo mundo. Por meio deles, antropólogos e historiadores puderam reconstituir a vida dos ancestrais pré- históricos do homem. (SANTOS, 2019)

Devido à sua longa duração, a Pré-História foi dividida por historiadores, segundo Proença (2009), nos seguintes períodos:

 Paleolítico (Idade da Pedra Lascada) — do surgimento do ser humano até cerca de 12 mil anos atrás;

 Neolítico (Idade da Pedra Polida) — de 12 até 6 mil anos atrás;

 Idade dos Metais — de 6 mil anos atrás até o desenvolvimento da escrita.

3.1 A arte no Paleolítico: o naturalismo

Esse período também é chamado de Idade da Pedra Lascada. Nele, grupos de homens produziam armas e instrumentos de pedra, que eram lascadas para adquirirem bordas cortantes. As primeiras manifestações artísticas desse período

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12 em que se têm registro são as pinturas encontradas nas cavernas de Chavet e Lascaux, na França (Figura 6), e de Altamira, na Espanha. (SANTOS, 2019)

As primeiras expressões de arte consistiam em traços feitos nas paredes das cavernas ou em mãos em negativo (Figura 7). Somente depois de muito tempo é que o ser humano da Pré-História passou a desenhar e a pintar animais.

(SANTOS, 2019)

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13 Os desenhos e as pinturas desse período apresentam como principal característica o naturalismo, pois a natureza e os seres vivos eram representados tal como vistos pelo homem paleolítico. Diferentemente do que aconteceu em outros períodos, o artista retratava somente o que via. As chamadas pinturas rupestres (do latim rupes, “rocha”) representavam animais, muitas vezes aqueles que eram temidos, como o bisão (Figura 8). (SANTOS, 2019)

Para produzir pinturas como a da Figura 8, eram utilizados óxidos minerais, ossos carbonizados, carvão, vegetais, além de sangue de animais. O ser humano das cavernas esmagava os elementos sólidos e os dissolvia na gordura dos animais

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14 caçados. Inicialmente, utilizava os próprios dedos para pintar. No entanto, também há indícios do emprego de pincéis produzidos com penas e pelos. (SANTOS, 2019) Outro aspecto que chama a atenção nesse período são as esculturas. Elas retratam predominantemente figuras femininas, como a Vênus de Willendorf (Figura 9). A pequena escultura de pedra foi encontrada pelo arqueólogo Josef Szombathy, perto de Willendorf, na Áustria, em 1908. (SANTOS, 2019)

Na Figura 9, você pode observar alguns aspectos: não há diferenciação evidente da cabeça em relação ao pescoço, os seios são volumosos, assim como o ventre e as nádegas, que têm forma arredondada. (SANTOS, 2019)

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15 3.2 A arte no Neolítico: um novo estilo

O Neolítico também foi denominado Idade da Pedra Polida. Nesse período, os homens produziam armas e instrumentos polindo as pedras por atrito, deixando- as, assim, mais afiadas e eficientes. Foi nessa época que aconteceu a chamada Revolução Neolítica. Segundo Proença (2009), ela marcou o início da agricultura e da domesticação de animais. Isso permitiu ao homem substituir a vida nômade por uma vida mais estável. Como você pode imaginar, essa mudança alterou profundamente a história humana. Com a fixação dos grupos, a população cresceu rapidamente e desenvolveu seus primeiros núcleos familiares. Além disso, ocorreu a divisão de trabalho nas comunidades. Você deve considerar que:

Há, então, uma diferença básica entre o Paleolítico e o Neolítico, embora o homem ainda dependesse da pedra como o material de seus principais utensílios e armas. A nova forma de vida deu origem a um grande número de habilidades e invenções, muito antes do surgimento dos metais: a cerâmica, a tecelagem e a fiação, métodos básicos de construção arquitetônica. Sabemos tudo isso a partir dos povoados do Neolítico que foram revelados por escavações (JANSON; JANSON, 1996, p. 17).

A importante passagem da caça para a agricultura de subsistência provavelmente foi a causa de profundas alterações na maneira de o homem ver a si próprio e o mundo. Segundo Janson e Janson (1996, p. 17), “[...] deveria haver, aqui, um enorme capítulo sobre o desenvolvimento da arte que, no entanto, se perdeu, simplesmente por que os artistas do Neolítico trabalhavam com madeira e outros materiais perecíveis”. No entanto, há uma exceção: Stonehenge, o grande círculo de pedra localizado no sul da Inglaterra (Figuras 10 e 11).

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16 O Stonehenge é considerado o mais bem preservado dos monumentos megalíticos ou "de grandes pedras". Aparentemente, ele é de cunho religioso, já que o esforço contínuo necessário para construí-lo só poderia ter sido mantido pela fé. Sua estrutura inteira volta-se para o ponto exato em que o Sol se levanta no dia mais longo do ano, o que leva a crer que deve ter se prestado a um ritual de adoração do Sol (JANSON; JANSON, 1996, p. 18).

As conquistas técnicas do homem neolítico certamente se refletiram nas suas pinturas, pois o estilo naturalista deu lugar a um estilo mais simples e

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17 geométrico. O novo estilo mais sugeria do que representava fielmente os seres (Figura 12). (SANTOS, 2019)

Você pode observar que essas pinturas do Neolítico não buscavam imitar a natureza; suas figuras possuem poucos traços e poucas cores. Além das formas representadas, os temas também sofreram mudanças: as atividades cotidianas e coletivas passaram a ser representadas. Note que na cena representada na Figura 13 há a clara intenção de transmitir a ideia de movimento, de dar vida à cena representada por meio da posição das pernas e dos braços. (SANTOS, 2019)

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18 3.3 A arte na Idade dos Metais: um novo material

Na Idade dos Metais, com a dominação do fogo, o artista passou a trabalhar com o metal e a produzir peças mais complexas e elaboradas. Para a produção de esculturas de metal, ele utilizava principalmente a técnica com a forma de barro e a técnica da cera perdida. As primeiras esculturas foram encontradas na Escandinávia e na Sardenha, representando guerreiros e mulheres e documentando costumes do período (Figura 14). (SANTOS, 2019)

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19 4 TIPOS DE ARTE

Para se manifestar artisticamente, o homem usa o som (música), a linguagem verbal oral ou escrita (literatura), a linguagem visual e a linguagem

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20 corporal (dança). Ele pode, ainda, expressar-se por meio da combinação de várias linguagens. É possível classificar a arte de diversas maneiras. Para Schopenhauer (apud BARBOZA, 2001, p. 94), por exemplo, haveria uma hierarquia entre as artes:

a menos relevante seria a arquitetura, seguida pela escultura, pela pintura, pela poesia e, por fim, pela música, a mais interessante das expressões. Portanto, segundo ele, entre as artes estaria a arquitetura, capaz de lidar com formas e proporções, expondo ainda o conflito entre gravidade e resistência. Para a boa e bela arquitetura, seria necessário traduzir a tensão da natureza com o material típico, a pedra. Na hierarquia do filósofo, a jardinagem ainda estaria numa posição superior à da arquitetura.

Em patamares mais elevados que a arquitetura e a jardinagem estariam a escultura e a pintura histórica, capazes de representar a fisionomia e o corpo humano com genuína beleza estética. Nessa hierarquia, a poesia estaria em posição superior à das artes plásticas e seria inferior somente à música. A poesia, para Schopenhauer (2003), possibilita a exposição da vontade em sua objetivação mais elevada, permitindo uma dinâmica narrativa das ações e semblantes superior à das artes plásticas. A última arte na hierarquia e a mais excelsa de todas elas seria a música, pois se conhece aí “não a cópia, repetição de alguma ideia das coisas do mundo”, mas a “linguagem universal” da coisa em si.

De modo geral, você pode considerar a classificação das artes apresentada a seguir. (SANTOS, 2019)

Artes plásticas: englobam alguns tipos de artes visuais. Referem- se a expressões artísticas que utilizam técnicas de produção que manipulam materiais para construir formas e imagens. A ideia é que tais formas e imagens revelem uma nova concepção estética e a visão poética do artista plástico. Entre as artes plásticas, estão:

arquitetura, pintura, desenho, escultura, gravura e fotografia.

Artes cênicas: consistem no estudo das expressões performáticas apresentadas em um palco e relacionadas com a dança, o teatro, a linguagem verbal ou a música.

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Artes visuais: são todas as artes que apresentam realidade ou imaginação percebida pelo olhar como processo criativo.

Arquitetura: é a arte de projetar e edificar espaços a partir da harmonia de proporções, da seleção de materiais e de soluções estruturais em vista da plástica arquitetônica.

Escultura: é a técnica de representar figuras ou de organizar formas em três dimensões, esculpindo ou combinando elementos.

Pintura: é caracterizada pela técnica de aplicar tintas sobre uma superfície, geralmente plana, representando figuras conhecidas ou imaginárias, cuja cor é um elemento básico. Exemplos: quadros, painéis, murais.

Música: é a combinação harmoniosa e expressiva de sons e ritmos, cuja compreensão se dá na esfera do sensível e do intuitivo, por meio da audição. É a arte de se exprimir por meio de sons, cuja forma e conteúdo variam de acordo com cada cultura e contexto social. Essa prática cultural foi desenvolvida em diferentes sociedades desde a Pré-História.

Teatro: é o ofício ou arte de atuar, que percorreu a história da humanidade, unindo por vezes dança e música. O teatro surge com a evolução dos rituais relacionados à caça e à colheita (agricultura).

Posteriormente, os ritos teatrais remetem a cerimônias dramáticas, com expressões de cunho espiritual.

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Poesia (literatura): utiliza recursos linguísticos e estéticos para a expressão dos sentimentos, questões humanas e/ou situações cotidianas. Tem como objetivo retratar o real ou o imaginário, de forma lírica, veiculando informações ao receptor.

Cinema: denominado “sétima arte”, surge com os irmãos Lumière, na França, em 1895, a partir do cinematógrafo, inspirado na ideia de domínio fotográfico e de síntese do movimento com a proposição sonora. Aos poucos, a arte foi retratando grandes eventos sociais.

Hoje, cada vez mais filmes e documentários transmitem e veiculam imagens e mensagem para informar e provocar seus espectadores.

Como você viu, o artista pode se expressar de diversas maneiras, seja pela linguagem visual, pela linguagem cênica ou pela linguagem plástica, ou ainda pela mistura de várias linguagens. Assim, as diferentes manifestações de arte estão profundamente ligadas à cultura de um povo, pois ora retratam elementos do meio natural (como nas pinturas pré-históricas), ora retratam temas religiosos, situações sociais, etc. As manifestações artísticas revelam a visão do homem sobre o espaço, assim como a sua relação com o seu meio e o seu tempo. Ou seja, as obras de arte são reflexos da cultura e da história. (SANTOS, 2019)

5 FORMAÇÃO DA ARTE CONTEMPORÂNEA

A arte contemporânea contempla a produção artística produzida no mundo a partir da segunda metade do século XX até os dias de hoje. Caracterizada por uma grande diversidade de linguagens, a arte contemporânea amplia o conceito de arte, proporcionando à artista liberdade total para criar e se expressar de toda forma e com todo tipo de material. (SOUZA,2019)

A Segunda Guerra Mundial trouxe grandes transformações para o mundo.

A partir dela, ocorreram a expansão do capitalismo, o desenvolvimento da globalização, o surgimento de uma sociedade de consumo, o desenvolvimento tecnológico e a disseminação dos meios de comunicação de massa (rádio,

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23 televisão, cinema, etc.). Esse período também consolidou a hegemonia econômica e cultural dos Estados Unidos, transferindo o eixo das artes de Paris para Nova Iorque, com o expressionismo abstrato do artista Jackson Pollock (ARGAN, 1992).

A arte contemporânea reúne um grande número de estilos vinculados a formas inovadoras de expressão. A arte se aproxima da realidade e provoca discussões e reflexões sobre a sociedade e sobre si mesma. Além disso, hoje se propõe o rompimento com as ideias tradicionais de arte (pintura e escultura). Isso resulta numa expressão em que o que importa é a ideia e o processo artístico, não o objeto ou a imagem final. A relação do espectador com a obra também se altera.

O mero observador se torna participante ativo da obra. É o que ocorre, por exemplo, em instalações e performances, que passam a fazer parte da linguagem da arte contemporânea (BARROSO, 2018).

Você pode considerar as seguintes vertentes da arte contemporânea:

expressionismo abstrato, pop arte, minimalismo, action painting, arte cinética, arte conceitual, arte povera, body art, hiper-realismo, land art, neoconcretismo, op art, street art, entre outros. (SOUZA,2019)

O expressionismo abstrato de Jackson Pollock introduziu uma nova técnica na pintura, a drip painting (pintura de gotejamento). O artista derrama e respinga a tinta sobre a tela, que fica na horizontal. Pollock ainda foi pioneiro em criar com a action painting (ou pintura de ação), em que o gestual da técnica da pintura passa a fazer parte da própria obra. Veja, na Figura 1, a obra Trilhas Onduladas, de Pollock (FARTHING, 2009).

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24 Uma grande influência da arte contemporânea são os movimentos de vanguarda da Europa da primeira metade do século XX. Eles romperam com a estética clássica das artes. Nesse contexto, se destaca principalmente o movimento dadaísta, que iniciou a discussão sobre o conceito e a função da arte. Marcel Duchamp revolucionou o conceito de arte ao utilizar objetos ready-made, como o mictório de sua obra A fonte, de 1917, que você pode ver na Figura 2. Pela primeira vez na história da arte, a ideia e o conceito tinham mais valor do que a estética e a imagem. (SOUZA,2019)

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25 Em meio às discussões sobre o papel da arte, a pop art surge como um dos primeiros movimentos que rompem com os conceitos estabelecidos. Artistas como Andy Warhol utilizam objetos e linguagens típicos das propagandas de massa de produtos de consumo e os transformam em arte. Observe, na Figura 3, a obra Caixas de Brillo. Para criá-la, Warhol empilhou caixas de sabão em pó para uma exposição, discutindo a questão da arte enquanto mercadoria e questionando o próprio conceito de arte (ARCHER, 2011).

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26 Como você pôde ver, a arte contemporânea explora as mais variadas formas de expressão. Ela expandiu o campo da arte para além da pintura e da escultura. Assim, surgiram, por exemplo: instalações, videoarte, videoinstalação, assemblage (colagens com objetos em três dimensões), performance, body art (arte no corpo), arte digital, entre outros. (SOUZA,2019)

6 PRINCIPAIS VERTENTES DA ARTE CONTEMPORÂNEA

A arte contemporânea tem como característica a pluralidade de estilos e formas de expressão. A seguir, você vai ver algumas das principais vertentes da arte contemporânea e as suas características centrais. (SOUZA,2019)

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27 6.1 Minimalismo

O minimalismo surgiu na década de 1960, em Nova Iorque, em contraposição ao expressionismo abstrato de Pollock. Ele se caracteriza pelo uso da instalação como forma de expressão. Ou seja, o espaço e o entorno passam a fazer parte do conceito da obra. Além disso, o minimalismo organiza formas geométricas simples e puras em sequências que compõem e transformam o espaço. Entre os principais artistas minimalistas, você pode considerar: Donald Judd, Carl Andre, Sol LeWitt, Robert Morris e Dan Flavin. (SOUZA,2019)

6.2 Op art

A denominação op art deriva do termo em inglês optical art, que significa arte óptica. Esse estilo ganhou força na metade dos anos 1950. Ele se caracteriza por explorar as características e falhas da visão humana por meio da ilusão de óptica. Geralmente, se expressa por meio de figuras geométricas abstratas na pintura. A principal intenção da op art é representar o movimento. Entre os principais artistas, estão: Ad Reinhardt, Kenneth Noland e Bridget Riley. (SOUZA,2019)

6.3 Arte cinética

A arte cinética surgiu em Paris, na década de 1950. Ela se caracteriza por explorar o movimento, principalmente nas esculturas. Está ligada à op art por explorar também a ilusão de óptica na busca pelo movimento. Pode utilizar diversos materiais para o movimento da estrutura, como motores, eletromagnetismo, vento, água e interação com o público. Entre os principais artistas da arte cinética, você pode incluir: Victor Vasarely, Pol Bury, Yaacov Agam, Jean Tinguely e Jesus Rafael Soto. (SOUZA,2019)

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28 6.4 Arte conceitual

A arte conceitual surgiu em meados de 1960, na Europa e nos Estados Unidos. Ela se caracteriza por valorizar mais o conceito e as ideias do que o objeto em si. A arte deixa de ser visual e passa a ser uma ideia, uma expressão, um questionamento. Os artistas utilizam as mais variadas formas de expressão e os mais variados materiais, como fotografia, filmes, fotocópias, etc. Entre os artistas que se destacam na arte conceitual, estão: Barbara Kruger, Jasper Johns, Joseph Beuys, Joseph Kosuth e Daniel Buren. (SOUZA,2019)

6.5 Arte povera

A arte povera (arte pobre) surgiu na Itália, na década de 1960. Ela se caracteriza pelo empobrecimento da arte por meio do uso de materiais simples e naturais, como madeiras, folhas, areia e até sucata. A arte povera faz uma crítica à sociedade de consumo e destaca a efemeridade da arte contemporânea, bem como a sua desvinculação com o mercado das artes. Os principais artistas da arte povera incluem: Giovanni Anselmo, Jannis Kounellis, Richard Long e Giuseppe Penone.

(SOUZA,2019)

6.6 Body art

A body art (arte do corpo) surge no final dos anos 1960 em contraposição ao minimalismo e à arte conceitual. Ela se caracteriza pela utilização do corpo como forma de expressão ou como suporte para a expressão da arte. Utiliza frequentemente a performance como forma de expressão. Ou seja, a execução da obra se torna parte dela, e esse processo pode ser desenvolvido para um público que assiste ou que interage com a criação do artista. Uma série de obras provocativas da body art foi criada para questionar guerras. Tais obras incluíam automutilação e autoflagelação dos artistas. Entre os principais nomes da body art,

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29 você pode considerar: Yves Klein, Bruce Nauman, Piero Manzoni e Vito Acconci.

(SOUZA,2019)

6.7 Land art

A land art (arte da terra) também surge no final dos anos 1960. Ela se caracteriza pela utilização dos meios da natureza como suporte, ou seja, como espaço e como material para a expressão artística. Geralmente, as obras assumem grandes dimensões e só podem ser compreendidas a partir de fotografias ou vídeos.

A land art extrapola os limites das galerias de arte e museus. Entre os principais artistas dessa vertente, estão: Robert Smithson, Richard Serra e Walter de Maria.

(SOUZA,2019)

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30 7 OBRAS EM DESTAQUE

O pluralismo de estilos da arte contemporânea se expressa em um grande número de obras. Muitas delas se destacaram e foram importantes para as definições dos novos rumos que a arte assumiu na segunda metade do século XX.

A seguir, você vai conhecer algumas obras representativas dos estilos listados na seção anterior. (SOUZA,2019)

Na Figura 5, você pode ver a obra minimalista do artista Carl Andre. Nela, blocos de madeira são organizados e dispostos em composições que se repetem.

A obra explora a composição e a relação com o espaço, se afastando de qualquer elemento que seja decorativo ou irrelevante (FARTHING, 2009).

Na Figura 6, você pode ver um exemplar da op art, da artista Bridget Riley.

A ilusão de óptica e a ideia de movimento se dão por meio da distorção dos círculos da pintura da artista. A obra feita em duas dimensões dá a ilusão de movimento e de três dimensões. (SOUZA,2019)

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31 Na Figura 7, você pode ver a obra cinética do artista venezuelano Jesus Rafael Soto. Ela consiste em um cubo construído com fios de nylon, que remetem a vibrações e movimentos à medida que o espectador circunda o espaço em torno do objeto (ARCHER, 2011).

Na Figura 8, você pode ver a obra conceitual do artista alemão Joseph Beuys. Ela consiste em um trenó com um kit de sobrevivência, que remetem a uma experiência do artista ao ser resgatado após um acidente de avião. A ideia que o artista quer passar se sobrepõe ao objeto final, que é uma composição com objetos já existentes. (SOUZA,2019)

Na Figura 9, você pode ver a obra de arte povera do artista italiano Giovanni Anselmo, que consiste em dois blocos de granito unidos com folhas de alface entre

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32 eles. À medida que a folha murchava e secava, o bloco menor se desprendia e caía.

Então, as folhas eram substituídas e o processo se iniciava novamente (FARTHING, 2009).

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33 Na Figura 10, você pode ver um exemplo de body art na obra de Yves Klein.

A obra foi executada por mulheres cobertas de tinta que imprimiram marcas na tela com seus corpos. A performance da execução foi feita em frente a um público espectador, que se tornou parte da própria obra. (SOUZA,2019)

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34 Na Figura 11, você pode ver a obra de land art do artista Robert Smithson, que construiu um molhe na forma de espiral de 457 m de extensão e 4,6 m de largura com basalto, sal e barro, em um lago de Utah, nos Estados Unidos. A obra permite a interação com os espectadores, que podem andar sobre ela. Contudo, só pode ser compreendida em seu todo à distância. Como você pode notar, Smithson retira a arte dos ambientes restritos das galerias e museus, levando-a para grandes espaços abertos (FARTHING, 2009).

A Figura 12 mostra a obra do artista brasileiro Hélio Oiticica. Ela consiste em uma instalação de placas de madeira colorida suspensas que formam um núcleo que pode ser penetrado pelo observador. A intenção é explorar as sensações e as formas visuais de diferentes ângulos. (SOUZA,2019)

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35 8 ARTE CONTEMPORÂNEA: ALGUMAS CARACTERÍSTICAS E

TENDÊNCIAS

Você deve saber que o contemporâneo demarca o tempo presente. No entanto, pensar as artes que figuram sob o termo contemporâneo é uma tarefa difícil, pois, por mais que utilizemos definições conceituais que possam representar boa parte da produção artista contemporânea, sempre corremos o risco de não dar conta de outras, que superam tais perspectivas. Afinal, a arte contemporânea não é apenas a arte produzida no tempo presente, uma vez que apresenta uma nova relação com a produção artística, distinta daquela perseguida pelos artistas modernistas. (BATISTA, 2019)

Para dar conta das novas produções artísticas surgidas a partir dos anos 1980, foi inventado o termo arte pós-moderna. Danto (2006) afirma que a utilização desse termo poderia deixar de lado diversas produções contemporâneas, devido à falta de unidade estilística nas obras dos artistas que não seguem mais os princípios da arte moderna. De acordo com Canton (2009a, p. 49):

Diferentemente da tradição do novo, que engendrou experiências que tomaram corpo a partir do século XX com as vanguardas, a arte

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contemporânea que surge na continuidade da era moderna se materializa a partir de uma negociação constante entre arte e vida, vida e arte. Nesse campo de forças, artistas contemporâneos buscam um sentido, mas o que finca seus valores e potencializa a arte contemporânea são as inter- relações entre as diferentes áreas do conhecimento humano.

As experiências da Pop Art, “[...] cujas obras utilizavam temas extraídos da banalidade dos Estados Unidos urbano [...]” (ARCHER, 2012, p. 6), que rompia com a ideia de arte como expressão ao buscar um arranjo artístico mecanizado tanto na técnica quanto na forma. Assim como as produções dos artistas conceituais, como, por exemplo, a obra A Base do Mundo (Figura 1), de Piero Manzoni, dificultaram a distinção entre os objetos da arte e os objetos do mundo.

Essa obra consiste em um pedestal, comumente utilizado como base para esculturas. O pedestal de Manzoni, aparentemente, está sem uma escultura para torná-lo útil, mas, em sua face, há a seguinte frase: “Base do mundo, base mágica n° 3 de Piero Manzoni, 1961, Homenagem a Galileu [...]” (FERVENZA, 2006, p. 83).

Logo, percebemos que a obra conceitual de Manzoni, ao utilizar uma base de escultura com o título “Base do Mundo”, está transformando o mundo em arte. De fato, ao refletirmos sobre a arte contemporânea, torna-se difícil distinguir a arte da vida, pois ambas estão intimamente interligadas.

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37 Em consequência da ampliação do conceito artístico, resultante das correntes modernistas, hoje, não há “[...] nenhuma limitação a priori de como as obras de arte devem parecer, elas podem assumir a aparência de qualquer coisa.

Isso por si só se deu por encerrada a agenda modernista [...]” (DANTO, 2006, p.

19). Enquanto a arte acadêmica contava com princípios estéticos e temáticos para definir qual era a arte, a arte modernista, por sua vez, construía o conceito de arte a partir de narrativas de grupo, ou seja, os artistas produziam a partir de princípios estéticos comuns na arte contemporânea, tanto com a normatização estética quanto com a eleição de princípios estéticos comuns.

Danto (2006), ao ilustrar as descontinuidades na arte, afirma que o renascimento inaugurou a era da arte ao criar a figura do artista e as teorias que distanciavam o fazer artístico (artes liberais) do fazer artesanal, que não exigia reflexões filosóficas. Isso não significa que antes da era da arte não existisse arte.

Na verdade, o que não existia era o conceito de arte, visto que as imagens elaboradas eram puramente religiosas e os monges e padres que as construíam seguiam regras iconográficas. Outra descontinuidade ocorreu na década de 1980, a qual causou a morte da arte inaugurada no Renascimento. As figuras do artista genial, da obra prima, da originalidade, da perfeição técnica, dentre outras facetas, são abandonadas pela maioria dos artistas. (BATISTA, 2019)

Assim como existe arte antes da era da arte, também é igualmente válida a afirmativa de que existe arte após a era da arte. Entretanto, sua ruptura é tão drástica que torna a constituição de arte imprecisa, convergindo para “[...] um período de incrível produtividade experimental no campo das artes visuais, sem

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38 nenhuma direção narrativa única a partir da qual outras pudessem ser excluídas, estabilizando-se como norma [...]” (DANTO, 2006, p. 16).

Entretanto, a falta de definição do que seja ou não arte não torna a produção artística da atualidade um completo caos, uma vez que os artistas inter-relacionam seus trabalhos com as produções das vanguardas e dão continuidade a alguns preceitos estéticos surgidos nas décadas anteriores. A arte contemporânea, ao contrário dos movimentos modernistas e, principalmente, dos movimentos de vanguardas, não nega o passado da história da arte. (BATISTA, 2019)

Ao não apresentar rupturas e estar em desenvolvimento em um período de liberdades, seja na temática ou na técnica, a arte contemporânea se utiliza de produções de diferentes períodos da história ao produzir colagens. Tais colagens se apropriam de obras canônicas sem manter qualquer relação entre as referências utilizadas, além da intensão do artista. A arte contemporânea atribui “[...] um valor positivo ao remake, de articular usos, relacionar formas, em lugar da heroica busca do inédito e do sublime que caracteriza o modernismo [...]” (BOURRIAUD, 2009a, p. 45).

O artista brasileiro Vik Muniz utilizou materiais inusitados para reproduzir obras de arte mundialmente reconhecida. Na obra Medusa Marinara (Figura 2), o artista utilizou macarrão para reproduzir a obra Medusa, de Caravaggio. Ele não inventou a imagem, apenas aplicou um novo arranjo ao dispor elementos incomuns à obra de Caravaggio, famoso artista barroco. (BATISTA, 2019)

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39 Segundo Bourriaud (2009b, p. 13):

[...] essas práticas artísticas [...] mostram uma vontade de inscrever a obra de arte numa rede de signos e significações, em vez de considerá-la como forma autônoma ou original. Não se trata mais de fazer tábula rasa ou de criar a partir de um material virgem, e sim de encontrar um modo de inserções nos inúmeros fluxos da produção.

Outro aspecto relevante na arte contemporânea é a participação do público na constituição de algumas propostas. Nesse tipo de arte, o público abandona o papel passivo de apreciador para integrarem e transformarem a dinâmica artística.

Nessa proposta, cabe ao artista a tarefa de criar espaços/situações que instiguem as relações entre as pessoas. A arte relacional está presente nas obras do artista Gonzales-Torres, como pode ser visto na proposta Untitled (Portrait of Ross in L.A.), de 1991, em que o artista dispôs em uma sala o seu peso e o de seu companheiro em balas. O público poderia se servir das balas, que eram repostas diariamente, totalizando 175 quilos. Quando as pessoas se serviam, eram informadas de que estavam ingerindo balas de portadores de Aids. (BATISTA, 2019)

Nessa proposta, a produção artística não é o amontoado de balas, mas sim o processo de participação do público. Tal participação acontece em um momento específico e, ao contrário das pinturas, esculturas, fotografias, etc., precisam se servir do registro como forma de documentação. Na contemporaneidade, muitas obras são efêmeras e sua duração só é imortalizada pelo registro. (BATISTA, 2019)

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40 O uso da fotografia como arte também é comum entre os artistas contemporâneos. Por ter uma relação com a verdade, acaba causando mais incômodo no público, pois esse é um dos objetivos da arte contemporânea. A arte não é utilizada para confortar, e para causar estranhamento e colocar as pessoas em condições desconfortáveis. (BATISTA, 2019)

A obra fotográfica O Cristo do mijo (1987), de Andres Serrano (1950), causou muita revolta, pois o artista explorou várias imagens fotográficas envolvendo fluidos humanos. Nessa obra, o artista fez uma fotografia de um crucifixo submerso em urina. Houve uma série de questionamentos por parte da sociedade, que discutira sobre “[...] as questões do racismo e do machismo bem como blasfêmia e homofobia [...]” (ARCHER, 2012, p. 215).

Outro fator importante na produção de arte contemporânea é a utilização de meios tecnológicos para a manipulação de imagens e vídeos ou para a manipulação de espaços virtuais, como ocorre no site JODI, criado por Joan Heemskerk e Dirk Paes Man, em 1994. Esse site rompe com todas as expectativas de um ambiente virtual convencional, propiciando uma visão da linguagem computacional, aliada à experiência de um devir em que o internauta acessa os links sem saber a que local virtual será remetido. (BATISTA, 2019)

A arte contemporânea criou novos métodos de produção artística que não necessitam resultar na construção de um objeto, pois podem levar os espectadores a participar, em vez de apenas observar. As propostas artísticas surgem da subjetividade dos artistas e seus campos de experiências, não estando atreladas a grupos de artistas vanguardistas, como acontecia na arte moderna. O artista pode atuar politicamente para denunciar um problema social ou pode apresentar uma

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41 visão diferente sobre alguma questão, que pode ser interna ou externa. Para fazer arte, podem ser usados quaisquer materiais, o que, às vezes, pode resultar em obras efêmeras. (BATISTA, 2019)

9 ARTE CONCEITUAL E SEUS SIGNIFICADOS

A arte conceitual tem como centralidade o questionamento dos limites do que pode ou não ser considerado arte. Ela rompe com muitas ideias que foram construídas durante séculos sobre os objetivos, as técnicas e os meios de produção da arte. Nesse novo conceito, o artista não precisa construir suas obras, pois não é a materialidade ou o rigor técnico que qualificarão o objeto como arte, mas sim o conceito elaborado pelo artista. (BATISTA, 2019)

O termo arte conceitual foi utilizado pela primeira vez, em 1967, em um texto do artista Sol LeWitt (1928–2007), no qual ele explicitava alguns dos princípios comuns utilizados pelos artistas conceituais. LeWitt afirmava que a arte conceitual valorizava mais a ideia ou conceito do que a matéria. “[...] Quando um artista utiliza uma forma conceitual de arte, isto significa que todo o planejamento e as decisões são feitas de antemão, e a execução é uma questão de procedimento rotineiro. A ideia se torna uma máquina que faz a arte [...]” (ARCHER, 2012, p. 56).

As produções de arte conceitual não buscam expressar sentimentos, pois voltam-se à exploração das relações entre os objetos de modo intelectual. Por isso, podemos dizer que a arte conceitual se desenvolve na contramão do que as pessoas costumam aceitar como obra de arte. Como não é necessário que o artista produza sua obra, desaparece a ideia de originalidade. Freire (2006, pp. 8–9) apresenta algumas das rupturas presentes na arte conceitual: em “[...] vez de permanência, a transitoriedade; a unicidade se esvai frente a reprodutibilidade, contra a autonomia, a contextualização; a autoria se esfacela frente às poéticas de apropriação; a função intelectual é determinante na recepção [...]”.

Entretanto, nem todas essas rupturas eram novidade no cenário artístico, e podemos perceber alguns desses princípios nos readymade, construídos nas primeiras décadas do século XX por Marcel Duchamp, resultantes da combinação

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42 de objetos produzidos em série. “Com os readymade, Duchamp pedia que o observador pensasse sobre o que definia a singularidade da obra de arte em meio à multiplicidade de todos os outros objetos [...]” (ARCHER, 2012, p. 3).

A arte conceitual surgiu como uma ruptura à consideração da arte enquanto mercadoria. Um ótimo exemplo dessa ruptura foi a obra Merda de Artista, de Piero Manzoni (1933–1963), que produziu 90 latinhas supostamente cheias de fezes do artista que deveriam ser vendidas pelo mesmo peso em ouro. “Como se acreditava que abrir as latas significaria destruir o valor da obra, durante muito tempo não se soube ao certo o que as latinhas continham de fato [...]” (FARTHING, 2011, p. 501), entretanto, após serem vendidas algumas das latas no ano de 2007, o colaborador de Manzoni declarou que as latas estavam cheias de gesso.

Todavia, a arte conceitual não ficava restrita à produção de objetos como os readymade ou as latas supostamente com fezes de artista. Era comum a organização de situações simbólicas, como a proposta do artista e professor John Baldessari (1931), na qual ele, estando impossibilitado de viajar para uma exposição de arte em que participaria, acabou instruindo seus alunos a escreverem nas paredes da galeria a frase “Eu não vou criar mais arte chata”. Os alunos aceitaram a proposta e, como se fosse um castigo, deixaram as paredes completamente cobertas pelas palavras (FARTHING, 2011).

O artista On Kawara (1932–2014), por sua vez, produziu registros para informar que continuava vivo. Suas obras consistiam em telegramas com a frase afirmativa “I am still alive” (Eu ainda estou vivo). Na década de 1970, ele enviava esses telegramas aos amigos, familiares, merchands e galeristas para informá-los de que continuava vivo. Desse modo, a arte deixa de ser um produto para refletir a vida do artista e o contexto que o cerca, e a ideia de arte enquanto pintura ou escultura dá lugar a novas possibilidades. De acordo com Archer (2012, p. 78): “[...]

o conceitualismo é frequentemente identificado como um período durante o qual a arte se tornou insubstancial. Onde antes havia pinturas e esculturas, agora havia itens de documentação, mapas, fotografias, lista de instruções [...]”.

As obras não podem ser experimentadas sensorialmente em sua inteireza, mas podem ser experimentadas a partir de sua documentação. Desse modo, os

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43 registros de documentação se integram ao fazer artístico, porém não substituem a experiência ocorrida, apenas dão materialidade e permanência ao transitório. A ruptura com os meios tradicionais é central para a arte conceitual, conforme salienta o artista Joseph Kusoth (ARCHER, 2012, p. 80–81):

Ser um artista hoje significa um meio de questionar a natureza da arte. Se alguém questiona a natureza da pintura, não pode estar questionando a natureza da arte. Se um artista aceita a pintura (ou escultura), está aceitando a tradição que a acompanha. Isto se deve ao fato de que a palavra “arte” é geral, e a palavra “pintura” é específica. A pintura é um tipo de arte, se se fazem pinturas, já está se aceitando (e não questionando) a natureza da arte. Assim, está-se aceitando que a natureza da arte é a tradição europeia de uma dicotomia pintura-escultura.

O questionamento sobre os limites da arte e a sua proposição enquanto jogo linguístico ficou aparente na obra Uma e três cadeiras (1965), de Joseph Kosuth (1945) (Figura 3). A obra consiste na exposição de uma cadeira juntamente com uma fotografia em preto e branco do mesmo tamanho do objeto e uma descrição retirada do dicionário sobre o conceito de cadeira. De acordo com Archer (2012, p. 82), “[...] a definição nomeia o objeto diante de nós, diz-nos o que ele é, mas também designa uma categoria da qual a ‘cadeira real’ é apenas um exemplo individual [...]”.

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44 Freire (2006) salienta que essa relação da arte conceitual com a filosofia da linguagem é algo mais relacionado à arte anglo-saxã, pois a arte conceitual latino- americana está intrinsecamente ligada à realidade política social de seu contexto de produção. No caso do Brasil, a arte conceitual contestou as ações da ditadura militar que, por meio do AI-5, reprimiu a produção e a circulação artística, o que desencadeou um boicote internacional e nacional às Bienais de Arte de São Paulo que ocorreram entre 1968 e 1983.

Os artistas Hélio Oiticica, Guilherme Vaz, Arthur Barrio e Cildo Meireles participaram da exposição no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), em 1970, com obras conceituais. O artista Cildo Meireles, por exemplo, participou com o projeto intitulado Inserções em circuitos ideológicos (Figura 4), que ainda estava em desenvolvimento. Meireles utilizava os sistemas de circulação comuns à população como meio para divulgar frases de protesto às barbaridades do governo ditatorial brasileiro. Foram estampadas em garrafas de Coca-Cola retornáveis e cédulas de dinheiro frases de protesto, tais como “yankees, go home! ”, para criticar o colonialismo norte americano, ou “Quem matou Herzog? ”, para expor o assassinato do jornalista e a dissimulação do regime militar ao forjar seu suicídio.

No caso do projeto Coca-Cola, as impressões foram produzidas no corpo das garrafas com a cor branca, dificultando a sua leitura quando elas estavam vazias e revelando seu conteúdo quando estavam cheias. (BATISTA, 2019)

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45 A arte conceitual abriu caminho para as novas experimentações artísticas que ocorriam no cenário artístico do século passado. Tanto a performance quanto as instalações se beneficiaram desse modo questionador de produzir arte.

Atualmente, são incontáveis os números de artistas que valorizam mais as ideias do que o processo artístico e trabalham seguindo alguns dos princípios da arte conceitual. (BATISTA, 2019)

10 ARTE CONTEMPORÂNEA E SEUS DESDOBRAMENTOS

A arte contemporânea traz no seu bojo a superação da divisão entre as linguagens artísticas tradicionais (artes visuais, música, dança, teatro), ao criar formas que, muitas vezes, tornam-se indistinguíveis da vida cotidiana, visto que o importante não é o material ou a técnica utilizada, mas o arranjo poético realizado pelo artista. Entretanto, há algumas formas comuns entre os artistas contemporâneos que consistem no uso de performances, fotografias, videoarte, instalações, land art, intervenção urbana, entre outras. Archer (2012) afirma que, atualmente, há a popularização desse tipo arte, voltada à externalização dos problemas sociais, principalmente as opressões, o racismo e os problemas advindos das discriminações de gênero/sexualidade.

A arte contemporânea, ao se aglutinar à vida, acaba causando muito incômodo e dando visibilidade aos problemas sociais, como ocorreu na performance La Bête. (BATISTA, 2019)

Em 2017, o artista Wagner Schwartz realizou a performance La Bête no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e foi acusado de pedofilia, pois,

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46 durante a performance, ele ficava nu, e as pessoas eram convidadas a intervir sobre seu corpo, modificando suas posições corporais, e uma criança tocou no seu pé, com o consenso de sua mãe. Essa performance causou muitas discussões nas redes sociais, uns defendiam a liberdade artística, outros questionavam a presença da nudez nos museus, e, ainda, havia pessoas que questionavam a idoneidade do artista, que permitiu que a criança tocasse seu corpo. Ao contrário de muitas outras produções artísticas, a de Wagner Schwartz não tinha intensão de debater tais temas, pois sua proposta era apresentar o corpo como um objeto que pode ser modificado pela participação do público. Schwartz se inspirou na série Bichos (1965), da artista Lygia Clark (1920–1988), que consistia em uma série de formas geométricas unidas por dobradiças, e o público poderia alterar sua disposição por meio da participação. (BATISTA, 2019)

Entretanto, há produções artísticas que têm a intensão de debater diretamente sobre as questões sociais. As fotografias de Rosana Paulino, por exemplo, fazem uma crítica à posição da mulher na sociedade, ao racismo, à escravidão. São fotografias impressas sobre um tecido disposto em um bastidor e com bordados sobre a boca, os olhos ou a garganta. O bastidor é uma referência à própria história da arte, em que se usava esse formato de telas para pintar figuras de santas. O bordado, atividade legada às mulheres, lhes imputa às atividades domésticas e lhes tolhe a liberdade de falar, ver, gritar, etc. (Figura 5). (BATISTA, 2019)

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47 Eduardo Srur também busca debater questões sociais por meio de suas intervenções urbanas. Ele tem por objetivo a “[...] crítica social, como os caiaques espalhados pelo rio Pinheiro para alertar sobre o descarte de lixo indevido e as gigantes garrafas pet colocadas às margens do rio Tietê [...]” (SANT’ANNA, 2009, p. 33). Esse tipo de obra possibilita aos moradores da cidade dar novos significados ao espaço onde vivem e sair da anestesia diária a que a rotina pode conduzi-los (Figura 6).

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48 A artista iraniana Shirin Neshat, radicada nos Estado Unidos, faz críticas ao androcentrismo na sociedade iraniana por meio de fotografias e videoartes. Na videoinstalação Arrebatamento (1999), a artista dispõe duas projeções onde “[...] os homens e mulheres iranianos aparecem em telas separadas; a obra enfatiza a desigualdade entre os sexos no Irã [...]” (FARTHING, 2011, p. 529). Para assistir aos vídeos, o visitante deve se virar o tempo todo, pois os dois vídeos são exibidos ao mesmo tempo.

Obras que debatem sobre questões sociais, como as de Rosana Paulino, Eduardo Srur e Shirin Neshat, são constantes no cenário artístico atual, que acaba

“[...] misturando cada vez mais questões artísticas, estéticas e conceituais aos meandros do cotidiano, em todas as instâncias: o corpo, a política, a ecologia, a ética, as imagens geradas na mídia etc.” (CANTON, 2009b, p. 9).

As instalações são tipos de arte que buscam dispor objetos sobre um espaço de modo simbólico e “[...] transformam o espaço de exposição num ambiente imersivo”. O artista Hélio Oiticica (1937–1980) construía espaços em labirinto para o participante entrar e experimentar o espaço por meio do tato, do olfato, da visão e do gosto. Já o casal de artistas Christo (1935) e Jeanne-Claude

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49 (1935–2009) costumavam embrulhar objetos, como, por exemplo, na obra Reichstag embrulhado, em Berlim, eles revestiram o parlamento alemão com uma capa de plástico revestido de alumínio e cordas.

Também há uma série de artistas contemporâneos que realizam transformações em ambientes naturais que precisam ser fotografadas para registro.

O artista Robert Smithson (1938–1976) foi um expoente desse tipo de arte, conhecido como Land Arte. Na obra Quebra mar em espiral, ele construiu uma “[...]

calçada em espiral feita com pedras de basalto negro e terra, que avança para dentro do Grande Lago de Utah, que se tornara vermelho pela ação de algas, bactérias e crustáceos [...]” (FARTHING, 2011, p. 532). Com o passar do tempo, o espiral ficou submerso pelo lago e recebeu sedimentação de sal, tornando-se esbranquiçado.

A arte contemporânea promove encontros do ser humano com as questões de seu tempo e funciona como um ponto de questionamento da relação entre as pessoas e o mundo. Contudo, também apresenta uma abertura muito grande quando se trata de processos artísticos, chegando a ser possível afirmar que tudo o que existe no mundo pode resultar em arte. Para Bourriaud (2009b), o artista de hoje busca trabalhar com uma infinidade de objetos em circulação no mercado, e não trata mais de criar algo a partir da matéria bruta. Assim, o artista pode ser comparado ao DJ, ao programador ou ao internauta, “[...] cujas tarefas consiste em selecionar objetos culturais e inseri-los em contextos definidos [...]” (BOURRIAUD, 2009b, p. 9). Por fim, a produção artística não precisa resultar em um produto, podendo, inclusive, ser inacabada ou servir para gerar a participação do público.

11 A POP ART E O SEU DESENVOLVIMENTO

A Pop Art foi o movimento de transição entre a arte moderna, ainda guiada pelos movimentos de vanguarda, e a arte pós-moderna, centrada na integração entre as diferentes correntes artísticas e as imagens da atualidade. O termo inglês pop art pode ser traduzido como “arte popular”. Entretanto, a Pop Art não trata das mesmas questões que costumam ser englobadas pela expressão “arte popular”.

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50 Afinal, a Pop Art trabalha com imagens da cultura de massa, enquanto a arte popular refere-se à arte produzida por comunidades específicas. (BATISTA, 2020)

De acordo com Archer (2012), as experimentações artísticas do final da década de 1950 que prezavam pelo corriqueiro e pelo acaso convergiram em dois movimentos artísticos: o Minimalismo e a Pop Art. Enquanto o Minimalismo trabalhava com uma abordagem formal, evitando os excessos ao produzir uma arte impessoal, a Pop Art utilizava imagens da cultura de massa para criar produções mecânicas e sem expressão, uma espécie de reprodução voltada ao consumo.

No que diz respeito aos temas da Pop Art, sua própria banalidade era uma afronta aos críticos. Sem uma evidência mais clara de que o material havia passado por algum tipo de transformação ao ser incorporado à arte, não se podia dizer que a própria arte ofereceria qualquer coisa que a vida já não proporcionasse (ARCHER, 2012, p. 11).

A utilização de técnicas como a serigrafia e a pintura detalhista convergia para uma ruptura com a arte expressionista abstrata. A serigrafia era utilizada, por exemplo, por Andy Warhol (1928–1987), que reproduzia a mesma figura muitas vezes. Já a pintura detalhista era utilizada, por exemplo, por Roy Lichtenstein (1936–1997), que reproduzia quadros de histórias em quadrinhos. Ainda em tom vanguardista, os expoentes da Pop Art buscavam uma arte fria que omitisse o trabalho singular do artista e revelasse uma nova relação entre ele e a sociedade.

A ideia era aproximar a arte do público por meio do uso de imagens da cultura de massa, comuns à maioria das pessoas. (BATISTA, 2020)

A ruptura com o Expressionismo pode ser percebida numa série de obras produzidas por Roy Lichtenstein em 1965 com o título Pinceladas (Figura 1). O artista empregava a sua técnica apurada de detalhamento inspirada nas histórias em quadrinhos para reproduzir pinceladas orgânicas, comuns nas obras expressionistas, a fim de demonstrar que aquele tipo de registro não se referia ao estado emocional absoluto. Lichtenstein evidenciou que o Expressionismo Abstrato se estruturava a partir de um conjunto de símbolos que as pessoas costumavam associar à expressão de sentimentos. (BATISTA, 2020)

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51 A Pop Art tornou o cenário artístico mais dinâmico, possibilitando a livre comercialização das obras. Os artistas aceitaram a arte como produto, e a imprensa divulgava a ideia de uma arte divertida. A oposição à arte expressionista abstrata parecia ser a melhor saída para o artista da época, que não precisava continuar contestando a burguesia por meio de atitudes boêmias. Lembre-se de que as vanguardas artísticas buscavam uma arte de ruptura com os sistemas sociais, principalmente de ruptura com a burguesia. Os artistas viviam uma imensa contradição: ao mesmo tempo em que negavam a ordem social estabelecida, precisavam ser aceitos para conseguirem comercializar as suas obras. Entretanto, a partir da Pop Art, os artistas passaram a viver entre os burgueses, pois não tinham medo de serem confundidos com eles. Como certa vez “[...] disse Warhol (apud WOLFE, 2009, p. 93) [...]: nada é mais burguês do que ter medo de ser burguês”.

Além de contestar o Expressionismo Abstrato que tomava conta do mercado norte-americano, a Pop Art buscava romper com a distinção entre cultura de elite e cultura de massa. Tal ruptura, contudo, não foi bem-sucedida. Afinal, as pinturas criadas na Pop Art não atingiam o grande público e recebiam um alto valor agregado quando eram comercializadas nas galerias de arte, devido à sua autenticidade. Seria mais coerente dizer que a Pop Art contaminou a cultura de elite com a cultura de massa. (BATISTA, 2020)

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52 Em suma, a Pop Art surgiu como uma arte jovem e de ampliação da atuação do artista, que poderia utilizar qualquer imagem que a cultura de massa lhe oferecesse. Nas palavras do artista Richard Hamilton (apud FARTHING, 2011, p.

484–485), a Pop Art buscava ser: “[...] popular (feita para o grande público); efêmera (extinção em curto prazo); descartável (facilmente esquecível); barata; produzida em massa; jovem (dirigida para a juventude); espirituosa; sexy; ‘macetada’;

glamourosa; big business”. Como você pode perceber, produzir arte para o consumo deixou de ser um problema ético entre os artistas.

Os artistas de vanguarda se opunham ao consumismo e à cultura de massa.

Já os artistas da Pop Art não se preocupavam com a separação entre a arte e o consumo. Na verdade, os artistas da Pop Art se interessavam por uma nova abordagem, baseada em princípios estéticos que utilizavam as referências da cultura de massa para criar uma arte desprovida de crítica social. É claro, contudo, que houve produções artísticas que foram exceções ao fazer críticas ao consumismo e à massificação. (BATISTA, 2020)

A primeira escova de dente (1962), do pintor britânico Boshier, parte de uma série de trabalhos inspirados por um comercial de TV para uma pasta de dentes listrada, parecia criticar a propaganda e a sociedade de consumo. Ao trocar latas de sopa e ídolos da cultura pop como Elvis Presley e Marylin Monroe pela cadeira elétrica e uma batida de carros, Andy Warhol estava, evidentemente, chamando atenção para o lado obscuro da moderna experiência americana (FARTHING, 2011, p. 485–

486).

A obra Cadeira Elétrica (Figura 2), de Andy Warhol, consiste na reprodução da imagem de uma cadeira elétrica em diferentes cores. O artista cria uma imagem bela e atraente de uma cadeira elétrica, como deve ser qualquer anúncio de publicidade. Assim, um objeto repugnante, utilizado para matar seres humanos, assume o assunto principal de uma pintura pop e leva o público a questionar os produtos que os anúncios publicitários camuflam ao tentarem construir novas necessidades de consumo. (BATISTA, 2020)

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53 A Pop Art começou a decair ainda no final da década de 1960. Ela se constituiu como uma referência da arte pós-moderna ao questionar a relação do artista com o mercado da arte num mundo repleto de propagandas e imagens vinculadas à sociedade de consumo. Pode-se dizer que a Pop Art liberou o artista do puritanismo que buscava um distanciamento entre a arte e o mercado. Dessa perspectiva, o artista poderia experimentar todas as imagens do mundo para criar arte sem se preocupar com a expressão ou com a produção de crítica social.

(BATISTA, 2020)

12 OS ARTISTAS DA POP ART

A Pop Art não foi um movimento coerente. Assim, cada artista explorava à sua maneira as imagens midiáticas e os produtos de consumo de massa. Alguns produziam colagens de imagens advindas de revistas ou anúncios publicitários, enquanto outros utilizavam técnicas de serigrafia, pintura ou escultura a fim de representar objetos de consumo. Os primeiros artistas a trabalhar com a nova estética foram os ingleses, mas os norte-americanos deram grande repercussão ao movimento. (BATISTA, 2020)

Richard Hamilton (1922–2011) participava do Grupo Independente, que havia se formado em Londres para discutir arte contemporânea na década de 1920.

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54 O interesse comum entre os integrantes do grupo era a cultura de massa e a sua reprodutibilidade (FARTHING, 2011). Hamilton elaborou uma colagem com o título O que é que torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes? (Figura 3), consagrando-se como um dos artistas pioneiros de um novo modo de pensar as contaminações entre arte erudita e cultura de massa.

A obra de Hamilton é referência para o surgimento da Pop Art. Nela, o artista utiliza colagens de revistas americanas para produzir um lar totalmente vinculado aos novos ideais pop, que focavam na representação de uma arte jovem e sexy que fosse descartável. Na imagem, um fisiculturista segura um pirulito vermelho de dimensão colossal numa sala repleta de utensílios ultramodernos; uma mulher nua aparenta estar sentada no sofá numa pose sexy, enquanto outra vestida faz a limpeza do ambiente; por trás da televisão, há quadros dependurados na parede, e um deles refere-se a um recorte de história em quadrinhos. Além disso, a translucidez da janela da sala permite a visualização de um ambiente moderno, repleto de propagandas nas fachadas dos estabelecimentos. (BATISTA, 2020)

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55 Hamilton ilustrou como a intimidade do lar das pessoas estava sendo reconfigurada a partir da invasão das imagens midiáticas de consumo. A transformação não se dava apenas nos objetos de consumo, mas no próprio corpo dos sujeitos, que precisavam ser magros e ter músculos definidos, símbolos de sensualidade e sexualidade. Em Swingeing London III, Richard Hamilton continuou revelando o seu interesse pela dimensão doméstica. A obra retrata a prisão de Mick Jagger e de Robert Fraser devido às drogas. Hamilton utilizou uma fotografia jornalística como base para a pintura. (BATISTA, 2020)

O uso da arte como forma de expor uma realidade comum à sociedade de consumo não esteve presente apenas nos trabalhos de Hamilton, pois outros artistas também utilizaram a Pop Art de modo crítico. Além de Richard Hamilton, os artistas ingleses Derek Boshier (1937), David Hockney (1937), Patrick Caulfield (1936–2005) e Peter Blake (1932) tiveram grande destaque. Entretanto, foi nos Estados Unidos que essa corrente ganhou força e deu origem aos artistas mais reconhecidos do período: Tom Wesselmann (1931–2004), Jasper Johns (1930), Robert Rauschenberg (1925–2008), Andy Warhol, Roy Lichtenstein e Claes Oldenburg (1929). (BATISTA, 2020)

Andy Warhol foi o artista símbolo da Pop Art. Ele contestava os valores expressivos da arte, trabalhando com imagens massificadas por meio de uma técnica impessoal, a serigrafia. As suas obras eram feitas numa espécie de linha de produção que repetia diversas vezes a mesma imagem, omitindo o gesto artístico da pincelada tão valorizada na arte moderna, principalmente no Expressionismo Abstrato. (BATISTA, 2020)

Warhol [...] procurou eliminar de sua obra os valores artísticos tradicionais.

Em seu estúdio de Nova York, provocativamente batizado de “A Fábrica”, ele se propôs a produzir imagens por meio de processos impessoais (como a serigrafia), proclamando que elas não tinham nenhum valor, salvo o monetário no inflacionado mercado da arte (FARTHING, 2011, p. 487).

No estúdio A Fábrica, o artista contava com a ajuda de assistentes para dar conta da produção em série de imagens, num processo muito similar à linha de produção fabril. Entretanto, mesmo produzindo as suas obras em larga escala, Warhol fazia questão de definir onde colocar cada cor e de deixar erros no processo

Referências

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