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6 PRINCIPAIS VERTENTES DA ARTE CONTEMPORÂNEA

6.7 Land art

A land art (arte da terra) também surge no final dos anos 1960. Ela se caracteriza pela utilização dos meios da natureza como suporte, ou seja, como espaço e como material para a expressão artística. Geralmente, as obras assumem grandes dimensões e só podem ser compreendidas a partir de fotografias ou vídeos. A land art extrapola os limites das galerias de arte e museus. Entre os principais artistas dessa vertente, estão: Robert Smithson, Richard Serra e Walter de Maria. (SOUZA,2019)

30 7 OBRAS EM DESTAQUE

O pluralismo de estilos da arte contemporânea se expressa em um grande número de obras. Muitas delas se destacaram e foram importantes para as definições dos novos rumos que a arte assumiu na segunda metade do século XX. A seguir, você vai conhecer algumas obras representativas dos estilos listados na seção anterior. (SOUZA,2019)

Na Figura 5, você pode ver a obra minimalista do artista Carl Andre. Nela, blocos de madeira são organizados e dispostos em composições que se repetem. A obra explora a composição e a relação com o espaço, se afastando de qualquer elemento que seja decorativo ou irrelevante (FARTHING, 2009).

Na Figura 6, você pode ver um exemplar da op art, da artista Bridget Riley. A ilusão de óptica e a ideia de movimento se dão por meio da distorção dos círculos da pintura da artista. A obra feita em duas dimensões dá a ilusão de movimento e de três dimensões. (SOUZA,2019)

31 Na Figura 7, você pode ver a obra cinética do artista venezuelano Jesus Rafael Soto. Ela consiste em um cubo construído com fios de nylon, que remetem a vibrações e movimentos à medida que o espectador circunda o espaço em torno do objeto (ARCHER, 2011).

Na Figura 8, você pode ver a obra conceitual do artista alemão Joseph Beuys. Ela consiste em um trenó com um kit de sobrevivência, que remetem a uma experiência do artista ao ser resgatado após um acidente de avião. A ideia que o artista quer passar se sobrepõe ao objeto final, que é uma composição com objetos já existentes. (SOUZA,2019)

Na Figura 9, você pode ver a obra de arte povera do artista italiano Giovanni Anselmo, que consiste em dois blocos de granito unidos com folhas de alface entre

32 eles. À medida que a folha murchava e secava, o bloco menor se desprendia e caía. Então, as folhas eram substituídas e o processo se iniciava novamente (FARTHING, 2009).

33 Na Figura 10, você pode ver um exemplo de body art na obra de Yves Klein. A obra foi executada por mulheres cobertas de tinta que imprimiram marcas na tela com seus corpos. A performance da execução foi feita em frente a um público espectador, que se tornou parte da própria obra. (SOUZA,2019)

34 Na Figura 11, você pode ver a obra de land art do artista Robert Smithson, que construiu um molhe na forma de espiral de 457 m de extensão e 4,6 m de largura com basalto, sal e barro, em um lago de Utah, nos Estados Unidos. A obra permite a interação com os espectadores, que podem andar sobre ela. Contudo, só pode ser compreendida em seu todo à distância. Como você pode notar, Smithson retira a arte dos ambientes restritos das galerias e museus, levando-a para grandes espaços abertos (FARTHING, 2009).

A Figura 12 mostra a obra do artista brasileiro Hélio Oiticica. Ela consiste em uma instalação de placas de madeira colorida suspensas que formam um núcleo que pode ser penetrado pelo observador. A intenção é explorar as sensações e as formas visuais de diferentes ângulos. (SOUZA,2019)

35 8 ARTE CONTEMPORÂNEA: ALGUMAS CARACTERÍSTICAS E

TENDÊNCIAS

Você deve saber que o contemporâneo demarca o tempo presente. No entanto, pensar as artes que figuram sob o termo contemporâneo é uma tarefa difícil, pois, por mais que utilizemos definições conceituais que possam representar boa parte da produção artista contemporânea, sempre corremos o risco de não dar conta de outras, que superam tais perspectivas. Afinal, a arte contemporânea não é apenas a arte produzida no tempo presente, uma vez que apresenta uma nova relação com a produção artística, distinta daquela perseguida pelos artistas modernistas. (BATISTA, 2019)

Para dar conta das novas produções artísticas surgidas a partir dos anos 1980, foi inventado o termo arte pós-moderna. Danto (2006) afirma que a utilização desse termo poderia deixar de lado diversas produções contemporâneas, devido à falta de unidade estilística nas obras dos artistas que não seguem mais os princípios da arte moderna. De acordo com Canton (2009a, p. 49):

Diferentemente da tradição do novo, que engendrou experiências que tomaram corpo a partir do século XX com as vanguardas, a arte

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contemporânea que surge na continuidade da era moderna se materializa a partir de uma negociação constante entre arte e vida, vida e arte. Nesse campo de forças, artistas contemporâneos buscam um sentido, mas o que finca seus valores e potencializa a arte contemporânea são as inter-relações entre as diferentes áreas do conhecimento humano.

As experiências da Pop Art, “[...] cujas obras utilizavam temas extraídos da banalidade dos Estados Unidos urbano [...]” (ARCHER, 2012, p. 6), que rompia com a ideia de arte como expressão ao buscar um arranjo artístico mecanizado tanto na técnica quanto na forma. Assim como as produções dos artistas conceituais, como, por exemplo, a obra A Base do Mundo (Figura 1), de Piero Manzoni, dificultaram a distinção entre os objetos da arte e os objetos do mundo.

Essa obra consiste em um pedestal, comumente utilizado como base para esculturas. O pedestal de Manzoni, aparentemente, está sem uma escultura para torná-lo útil, mas, em sua face, há a seguinte frase: “Base do mundo, base mágica n° 3 de Piero Manzoni, 1961, Homenagem a Galileu [...]” (FERVENZA, 2006, p. 83). Logo, percebemos que a obra conceitual de Manzoni, ao utilizar uma base de escultura com o título “Base do Mundo”, está transformando o mundo em arte. De fato, ao refletirmos sobre a arte contemporânea, torna-se difícil distinguir a arte da vida, pois ambas estão intimamente interligadas.

37 Em consequência da ampliação do conceito artístico, resultante das correntes modernistas, hoje, não há “[...] nenhuma limitação a priori de como as obras de arte devem parecer, elas podem assumir a aparência de qualquer coisa. Isso por si só se deu por encerrada a agenda modernista [...]” (DANTO, 2006, p. 19). Enquanto a arte acadêmica contava com princípios estéticos e temáticos para definir qual era a arte, a arte modernista, por sua vez, construía o conceito de arte a partir de narrativas de grupo, ou seja, os artistas produziam a partir de princípios estéticos comuns na arte contemporânea, tanto com a normatização estética quanto com a eleição de princípios estéticos comuns.

Danto (2006), ao ilustrar as descontinuidades na arte, afirma que o renascimento inaugurou a era da arte ao criar a figura do artista e as teorias que distanciavam o fazer artístico (artes liberais) do fazer artesanal, que não exigia reflexões filosóficas. Isso não significa que antes da era da arte não existisse arte. Na verdade, o que não existia era o conceito de arte, visto que as imagens elaboradas eram puramente religiosas e os monges e padres que as construíam seguiam regras iconográficas. Outra descontinuidade ocorreu na década de 1980, a qual causou a morte da arte inaugurada no Renascimento. As figuras do artista genial, da obra prima, da originalidade, da perfeição técnica, dentre outras facetas, são abandonadas pela maioria dos artistas. (BATISTA, 2019)

Assim como existe arte antes da era da arte, também é igualmente válida a afirmativa de que existe arte após a era da arte. Entretanto, sua ruptura é tão drástica que torna a constituição de arte imprecisa, convergindo para “[...] um período de incrível produtividade experimental no campo das artes visuais, sem

38 nenhuma direção narrativa única a partir da qual outras pudessem ser excluídas, estabilizando-se como norma [...]” (DANTO, 2006, p. 16).

Entretanto, a falta de definição do que seja ou não arte não torna a produção artística da atualidade um completo caos, uma vez que os artistas inter-relacionam seus trabalhos com as produções das vanguardas e dão continuidade a alguns preceitos estéticos surgidos nas décadas anteriores. A arte contemporânea, ao contrário dos movimentos modernistas e, principalmente, dos movimentos de vanguardas, não nega o passado da história da arte. (BATISTA, 2019)

Ao não apresentar rupturas e estar em desenvolvimento em um período de liberdades, seja na temática ou na técnica, a arte contemporânea se utiliza de produções de diferentes períodos da história ao produzir colagens. Tais colagens se apropriam de obras canônicas sem manter qualquer relação entre as referências utilizadas, além da intensão do artista. A arte contemporânea atribui “[...] um valor positivo ao remake, de articular usos, relacionar formas, em lugar da heroica busca do inédito e do sublime que caracteriza o modernismo [...]” (BOURRIAUD, 2009a, p. 45).

O artista brasileiro Vik Muniz utilizou materiais inusitados para reproduzir obras de arte mundialmente reconhecida. Na obra Medusa Marinara (Figura 2), o artista utilizou macarrão para reproduzir a obra Medusa, de Caravaggio. Ele não inventou a imagem, apenas aplicou um novo arranjo ao dispor elementos incomuns à obra de Caravaggio, famoso artista barroco. (BATISTA, 2019)

39 Segundo Bourriaud (2009b, p. 13):

[...] essas práticas artísticas [...] mostram uma vontade de inscrever a obra de arte numa rede de signos e significações, em vez de considerá-la como forma autônoma ou original. Não se trata mais de fazer tábula rasa ou de criar a partir de um material virgem, e sim de encontrar um modo de inserções nos inúmeros fluxos da produção.

Outro aspecto relevante na arte contemporânea é a participação do público na constituição de algumas propostas. Nesse tipo de arte, o público abandona o papel passivo de apreciador para integrarem e transformarem a dinâmica artística. Nessa proposta, cabe ao artista a tarefa de criar espaços/situações que instiguem as relações entre as pessoas. A arte relacional está presente nas obras do artista Gonzales-Torres, como pode ser visto na proposta Untitled (Portrait of Ross in L.A.), de 1991, em que o artista dispôs em uma sala o seu peso e o de seu companheiro em balas. O público poderia se servir das balas, que eram repostas diariamente, totalizando 175 quilos. Quando as pessoas se serviam, eram informadas de que estavam ingerindo balas de portadores de Aids. (BATISTA, 2019)

Nessa proposta, a produção artística não é o amontoado de balas, mas sim o processo de participação do público. Tal participação acontece em um momento específico e, ao contrário das pinturas, esculturas, fotografias, etc., precisam se servir do registro como forma de documentação. Na contemporaneidade, muitas obras são efêmeras e sua duração só é imortalizada pelo registro. (BATISTA, 2019)

40 O uso da fotografia como arte também é comum entre os artistas contemporâneos. Por ter uma relação com a verdade, acaba causando mais incômodo no público, pois esse é um dos objetivos da arte contemporânea. A arte não é utilizada para confortar, e para causar estranhamento e colocar as pessoas em condições desconfortáveis. (BATISTA, 2019)

A obra fotográfica O Cristo do mijo (1987), de Andres Serrano (1950), causou muita revolta, pois o artista explorou várias imagens fotográficas envolvendo fluidos humanos. Nessa obra, o artista fez uma fotografia de um crucifixo submerso em urina. Houve uma série de questionamentos por parte da sociedade, que discutira sobre “[...] as questões do racismo e do machismo bem como blasfêmia e homofobia [...]” (ARCHER, 2012, p. 215).

Outro fator importante na produção de arte contemporânea é a utilização de meios tecnológicos para a manipulação de imagens e vídeos ou para a manipulação de espaços virtuais, como ocorre no site JODI, criado por Joan Heemskerk e Dirk Paes Man, em 1994. Esse site rompe com todas as expectativas de um ambiente virtual convencional, propiciando uma visão da linguagem computacional, aliada à experiência de um devir em que o internauta acessa os links sem saber a que local virtual será remetido. (BATISTA, 2019)

A arte contemporânea criou novos métodos de produção artística que não necessitam resultar na construção de um objeto, pois podem levar os espectadores a participar, em vez de apenas observar. As propostas artísticas surgem da subjetividade dos artistas e seus campos de experiências, não estando atreladas a grupos de artistas vanguardistas, como acontecia na arte moderna. O artista pode atuar politicamente para denunciar um problema social ou pode apresentar uma

41 visão diferente sobre alguma questão, que pode ser interna ou externa. Para fazer arte, podem ser usados quaisquer materiais, o que, às vezes, pode resultar em obras efêmeras. (BATISTA, 2019)