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CARACTERÍSTICAS DO CAPRIL

6.4. Artrite-encefalite caprina e co-infecção com T gondii e N.

caninum

De acordo com a tabela 14, a taxa de positividade da CAE nos caprinos estudados foi de 37,92%, com variação de ocorrência de 0% a 69,84% nos capris. Apenas uma propriedade não apresentou soropositividade, o que confirma os achados de Leite et al. (2004), demonstrando que a CAE encontra-se altamente difundida no estado de São Paulo. Apesar disso, não há muitas informações a respeito das conseqüências da disseminação dessa doença nas propriedades, assim como no âmbito nacional (Leite et al., 2004).

Vários são os registros de literatura sobre a ocorrência de infecções intercorrentes com os lentivírus humano e felino, o que torna- se importante devido ao caráter imunossupressivo desses agentes. Eles podem levar a infecções secundárias por oportunistas, como é o caso do protozoário parasita T. gondii (Heidel et al., 1990; Lappin et al., 1995). No entanto, em relação ao lentivírus dos caprinos (CAEV) não foram encontradas citações literárias.

No que se refere à co-infecção com T. gondii, os resultados estatísticos (tabela 15) revelam que a ocorrência de positividade para toxoplasmose não se mostrou diferente quer o animal fosse CAE

positivo ou negativo. Quando comparados a investigações sobre co- infecção pelo lentivírus felino e T. gondii, esses dados discordam dos obtidos por Witt et al. (1989), Venturini et al. (1997) e Lucas et al. (1998). Esses autores verificaram maior freqüência de gatos com títulos de anticorpos anti-T. gondii em animais infectados pelo vírus da

imunodeficiência felina (VIF) quando comparados com felinos sem a infecção viral.

Quanto à concomitância de infecção pelo CAEV e N.

verificados nesta pesquisa: não houve diferença estatisticamente significativa entre a ocorrência de positividade para anticorpos anti-N.

caninum, fosse o animal CAE positivo ou negativo (tabela 16).

Apesar de não haver registro na literatura sobre neosporose concomitante a agentes virais, há pesquisas relatando co-infecção em cães por N. caninum e Leishmania infantum (Tarantino et al., 2001). Segundo os autores, L. infantum pode levar à imunossupressão, podendo contribuir para o desenvolvimento de outros agentes.

Pesquisando anticorpos anti-N. caninum e anti-L. infantum em cães na Itália, Cringoli et al. (2002) concluíram que o maior fator de risco para a sorologia positiva para N. caninum foi a ocorrência de leishmaniose. Assim também, para a sorologia positiva para L. infantum o maior fator de risco foi a neosporose.

A ocorrência de anticorpos anti-T. gondii em caprinos sem associação a problemas clínicos é um achado bastante comum

(Machado & Lima, 1987; Opel et al., 1991; Silva et al., 2003). Do mesmo modo, apesar das altas taxas de prevalência de anticorpos anti-T.

gondii em seres humanos, a doença toxoplasmose, propriamente dita,

é relativamente rara no homem, ocorrendo apenas em cerca de 10% a 20% dos casos (Bonametti et al., 1997; Viegas et al., 2002). No

entanto, em indivíduos infectados pelo HIV, o aparecimento de sintomas decorrentes de infecção por T. gondii é bastante comum, sendo a toxoplasmose importante causa de mortalidade e morbidade nesses pacientes (Macedo, 1994).

Igualmente, nos felinos, quando comparada às taxas de infecção verificadas por levantamentos sorológicos, a toxoplasmose- doença não é muito freqüente. Mas, de acordo com Heidel et al. (1990), a infecção desses animais pelo VIF leva a uma alteração em

seus mecanismos de defesa, podendo reativar a infecção latente, resultando em quadros sintomáticos de toxoplasmose.

Nesta pesquisa, a correlação entre a positividade isolada para os três agentes estudados (T. gondii, N. caninum e CAEV) e a ocorrência de problemas reprodutivos não foi significativa (P>0,05) para toxoplasmose ou neosporose (tabela 17). No entanto, quando há co-infecção dos caprinos pelo vírus da CAE e pelo T. gondii ou pela N.

caninum, as ocorrências de falhas reprodutivas são significativas

(P<0,01 - tabelas 18 e 19). Esses achados sugerem que a infecção pelo CAEV predispõe os caprinos a desenvolver sintomatologia clínica. Para Zink et al. (1990) isso é explicado, em parte, pelo efeito depressivo que esses lentivírus podem produzir sobre o sistema imunológico dos

hospedeiros.

Pela análise estatística dos dados da tabela 20, percebe-se que há associação entre problemas reprodutivos e concomitância de infecções. Quando não se verificou ocorrência de anticorpos para os agentes ou a resposta foi isolada para apenas um deles, não houve diferença significativa nos grupos “com” e “sem” falhas reprodutivas (P>0,05). Nos casos de concomitância de infecção, por duas ou três enfermidades, houve diferença, com freqüências maiores de infecção naqueles com falhas reprodutivas (P<0,05).

6.5. “Status sanitário”

Tendo em vista a importância das três enfermidades estudadas, os dados obtidos ao longo do trabalho e a

representatividade do universo pesquisado, decidiu-se elaborar um instrumento que permitisse fácil visualização da qualidade sanitária das propriedades. Assim, desenvolveu-se um indicador quantitativo de saúde nos capris: o “status sanitário”. Variando de 0% a 100%, o indicador classifica as propriedades de acordo com a positividade encontrada: quanto maior a ocorrência de animais positivos para qualquer uma das doenças ou para concomitância de infecções, menor o “status sanitário” da propriedade.

Pela análise dos resultados da tabela 21, verifica-se que a ocorrência de falhas reprodutivas é proporcional ao “status sanitário” da propriedade. Nos capris sem falhas esse indicador é

significativamente superior (P<0,05) que nos capris com falhas reprodutivas: 61,97% a 96,40% e 32,38% a 88,89%, respectivamente (tabela 21).

A tabela 22 mostra a grande variação no “status sanitário” das propriedades. Observa-se que não houve índices 0% ou 100%, ou seja, total negatividade ou positividade dos capris às infecções

estudadas. Isto também pode ser verificado na figura 4, que ilustra o “status sanitário” de cada capril estudado e sua distribuição no estado de São Paulo.

A globalização tem alterado hábitos alimentares,

intensificado e diversificado as exigências sanitárias. Isso sugere uma nova atuação do médico veterinário: não mais de assistência

emergencial ou curativa, mas trabalhando no planejamento de saúde animal na origem da cadeia de produção. Por outro lado, exige

conscientização dos produtores, que pela prevenção das

enfermidades poderão transformar seus produtos em fator positivo para a saúde animal e pública (Modolo, 2004).

O “status sanitário” criado a partir desta pesquisa poderá facilitar essas ações, e facilmente ser utilizado em outros estudos, com outras variáveis, enfermidades, e até espécies diferentes. Contribui, assim, para uma das mais importantes necessidades do homem: ter uma fonte confiável de alimentos.

No caso dos caprinos, este estudo demonstra que são

necessárias intervenções imediatas visando a prevenção e o controle das enfermidades pesquisadas, visto sua grande difusão, com altas taxas de positividade nos rebanhos do estado de São Paulo e também devido o crescente consumo de alimentos de origem caprina.

7. CONCLUSÕES

Os resultados obtidos nos capris pesquisados permitem concluir que:

1. As infecções por T. gondii e N. caninum em caprinos encontram- se amplamente disseminadas no estado de São Paulo.

2. O sexo dos caprinos não influenciou na ocorrência de soropositividade para ambas as infecções.

3. Houve associação positiva do aumento da idade e da freqüência de animais com presença de anticorpos anti-T.

gondii, mas não anti-N. caninum.

4. A presença de gatos e cães nos capris implicou aumento da ocorrência de anticorpos para T. gondii e N. caninum,

respectivamente.

5. A ocorrência de problemas reprodutivos nas propriedades não variou em função da ocorrência isolada de anticorpos para ambos os agentes etiológicos.

6. A presença de anticorpos para o vírus da artrite-encefalite caprina não influenciou na ocorrência de anticorpos anti-T.

gondii e anti-N. caninum.

7. A co-infecção dos caprinos pelo vírus da CAE e T. gondii ou N.

caninum esteve significativamente associada com ocorrência

de falhas reprodutivas nos capris.

8. A ocorrência de falhas reprodutivas foi positivamente associada à infecção por dois ou três agentes.

9. O desenvolvimento de um indicador quantitativo de saúde nos capris (“status sanitário”) permitiu classificar as propriedades de acordo com a positividade encontrada para as infecções

estudadas, sendo significativamente superior nas propriedades sem falhas reprodutivas em relação aos capris onde houve relato desse tipo de ocorrência.

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