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CARACTERÍSTICAS DO CAPRIL

5.4. Associações de infecção e falhas reprodutivas

A tabela 17 apresenta as medidas descritivas das taxas de positividade para a CAE, anticorpos anti-T. gondii e anti-N. caninum nos caprinos, de acordo com a ocorrência de falhas reprodutivas nos capris.

Tabela 17. Medidas descritivas das freqüências de anticorpos anti-CAEV, anti-Toxoplasma gondii e anti-

Neospora caninum em caprinos do estado de São Paulo, segundo a ocorrência de falhas reprodutivas nos

capris. Botucatu. 2005

Falhas reprodutivas nos capris Variável Medida descritiva

Não Sim Resultado do teste estatístico A Vm 0,00 14,67 Me 20,00 57,82 VM 49,15 69,84 X 19,90 49,04 CAE S 18,68 20,96 A P <0,05 (Não < Sim) A Vm 0,00 4,76 Me 6,41 13,01 VM 35,90 77,14 T. gondii X 11,32 19,14 A P >0,05

A Vm 0,00 0,00 Me 5,13 17,10 VM 78,21 81,25 X 18,23 27,63 N. caninum S 27,59 27,53 A P >0,05 (Não = Sim) Vm: valor mínimo VM: valor máximo Me: mediana X: média s: desvio padrão

De acordo com os resultados da análise estatística para a ocorrência de falhas reprodutivas na presença isolada das

enfermidades, houve associação significativa entre falhas reprodutivas e CAE (P <0,05), mas não com infecção por T. gondii e N. caninum (P >0,05).

A tabela 18 apresenta as medidas descritivas das associações de ocorrência de falhas reprodutivas nos capris com a co-infecção pelo vírus da CAE e T. gondii.

Tabela 18. Medidas descritivas da associação da resposta dos caprinos do estado de São Paulo ao CAEV e Toxoplasma

gondii, de acordo com a ocorrência de falhas reprodutivas nos capris. Botucatu. 2005

Falhas reprodutivas nos capris

Associação Medida

Descritiva Não Sim

Resultado do teste estatístico A Vm 21,79 12,50 Me 60,00 30,91 VM 94,59 84,00 X 63,22 40,69 CAE (-) / T. gondii (-) S 24,77 25,85 P >0,05 (Não = Sim) A Vm 0,00 0,00 Me 5,13 8,05 VM 78,21 27,14 X 16,88 10,27 CAE (-) / T. gondii (+) S 28,00 9,33 P >0,05 (Não = Sim) A Vm 0,00 6,25 Me 20,00 30,11 VM 45,76 63,49 CAE (+) / T. gondii (-) X 18,55 31,68 P >0,05

A Vm 0,00 0,00 Me 0,00 9,23 VM 6,06 56,25 X 1,35 17,36 CAE (+) / T. gondii (+) S 2,43 18,51 P <0,01 (Não < Sim)

Vm: valor mínimo VM: valor máximo Me: mediana X: média s: desvio padrão

Os resultados da análise estatística dos dados da tabela 18 mostram que a variável “falhas reprodutivas” não foi influenciada pela positividade isolada ou pela não ocorrência de anticorpos para as enfermidades (P >0,05). No entanto, quando há co-infecção dos caprinos pelo vírus da CAE e pelo T. gondii as ocorrências de falhas reprodutivas foram significativamente maiores (P<0,01).

A tabela 19 apresenta as medidas descritivas das associações de infecção pelo vírus da CAE e pelo N. caninum com a ocorrência de falhas reprodutivas nos capris.

Tabela 19. Medidas descritivas da associação da resposta dos caprinos do estado de São Paulo ao CAEV e Neospora

caninum, segundo a ocorrência de falhas reprodutivas nos capris. Botucatu. 2005

Falhas reprodutivas nos capris

Associação Medida

Descritiva Não Sim

Resultado do teste estatístico A Vm 49,15 10,00 Me 64,10 35,91 VM 91,89 80,00 X 69,02 42,06 CAE (-) / N. caninum (-) S 15,98 21,81 P <0,05 (Não > Sim) A Vm 0,00 0,00 Me 6,41 5,44 VM 35,90 32,86 X 11,08 8,90 CAE (-) / N. caninum (+) S 12,29 10,07 P >0,05 (Não = Sim) A Vm 0,00 8,00 Me 20,00 43,83 P >0,05

X 19,66 38,80 N. caninum (-) S 18,24 21,95 (Não = Sim) A Vm 0,00 1,33 Me 0,00 7,27 VM 1,69 44,29 X 0,24 10,24 CAE (+) / N. caninum (+) S 0,64 12,30 P <0,001 (Não < Sim)

Vm: valor mínimo VM: valor máximo Me: mediana X: média s: desvio padrão

Os dados apresentados na tabela 19 revelam que a

positividade isolada de anticorpos para o vírus da CAE ou para o T.

gondii não influenciou na ocorrência de falhas reprodutivas (P >0,05).

No caso de co-infecção dos caprinos pelo vírus da CAE e pela N.

caninum as falhas reprodutivas nos capris acometidos são

significativamente maiores (P<0,01).

A tabela 20 mostra as medidas descritivas das ocorrências conjuntas de respostas dos animais às três enfermidades associadas a falhas reprodutivas nos capris.

Tabela 20. Medidas descritivas da freqüência de respostas positivas dos caprinos do estado de São Paulo, de acordo com

a ocorrência de falhas reprodutivas nos capris. Botucatu. 2005

Falhas reprodutivas nos capris Presença de

anticorpos Medida descritiva Não Sim

Resultado do teste estatístico A Vm 17,95 7,14 Me 49,15 29,56 VM 91,89 73,33 X 58,11 35,78 Nenhum agente S 25,18 23,38 A P >0,05 (Não = Sim) A Vm 5,41 17,14 Me 42,42 33,92 VM 50,00 63,49 X 34,33 37,79 Um agente S 17,44 17,12 A P >0,05 (Não = Sim)

Vm 0,00 6,67 Me 4,00 17,58 VM 32,05 56,25 X 7,56 21,25 Dois agentes S 11,25 15,90 A P <0,05 (Não < Sim) A Vm 0,00 0,00 Me 0,00 1,19 VM 0,00 34,29 X 0,00 5,18 Três agentes S 0,00 10,55 A P <0,05 (Não < Sim) Vm: valor mínimo VM: valor máximo Me: mediana X: média s: desvio padrão

A análise estatística dos resultados descritos pela tabela 20 mostra que não há diferença significativa nos capris com e sem falhas reprodutivas, seja para os animais sem anticorpos para os agentes estudados ou quando há resposta isolada para apenas um deles (P>0,05). Entretanto, quando houve resposta para dois ou três dos agentes estudados, verificou-se maior ocorrência de problemas reprodutivos.

5.5. “Status sanitário”

A tabela 21 apresenta as medidas descritivas do “status sanitário (%)”, segundo a ocorrência de falhas reprodutivas. Tabela 21. Medidas descritivas do “status sanitário (%)” dos capris do estado de São Paulo, segundo a

ocorrência de falhas reprodutivas. Botucatu. 2005

Falhas reprodutivas nos capris Medidas descritivas Não Sim Resultado do teste estatístico A Vm 61,97 32,38 Me 81,35 71,04 VM 96,40 88,89 X 83,51 68,06 A P< 0,05

Vm: valor mínimo VM: valor máximo Me: mediana X: média s: desvio padrão

O resultado da análise estatística mostrou o efeito

significativo do “status sanitário” nas falhas reprodutivas (P<0,05). Nos capris com falhas reprodutivas o “status sanitário” mediano foi de 71,04%, com valores variando de 32,38% a 88,89%. Nas propriedades sem falhas reprodutivas estes valores foram, respectivamente: mediana de 81,35%, com variação de 61,97% a 96,40%, significativamente

superiores aos seus respectivos pares nos capris com falhas reprodutivas.

A tabela 22 ilustra o “status sanitário” de cada capril, de acordo com a freqüência de respostas positivas ao CAEV, T. gondii e

N. caninum.

Tabela 22. “Status sanitário” dos capris do estado de São Paulo, de acordo com a freqüência de respostas

positivas às enfermidades. Botucatu. 2005

Ocorrência de positividade Capril

Nenhuma Uma Duas Três

Falhas

Reprodutivas Sanitário Status (%)

A

1 44,53 39,84 14,84 0,78 Sim 76,03 2 26,98 63,49 7,94 1,59 Sim 71,95 3 84,62 15,38 0,00 0,00 Não 94,87

5 73,33 20,00 6,67 0,00 Sim 88,89 6 91,89 5,41 2,70 0,00 Não 96,40 7 27,03 54,05 18,92 0,00 Sim 69,37 8 17,95 50,00 32,05 0,00 Não 61,97 9 7,14 17,14 41,43 34,29 Sim 32,38 10 64,00 28,00 8,00 0,00 Sim 85,33 11 12,50 25,00 56,25 6,25 Sim 47,92 12 11,63 58,14 23,26 6,98 Sim 58,15 13 49,15 45,76 5,08 0,00 Não 81,35 14 48,48 42,42 9,09 0,00 Não 79,79 15 58,62 24,14 17,24 0,00 Sim 80,46 16 66,67 33,33 0,00 0,00 Não 88,89 17 48,00 48,00 4,00 0,00 Não 81,33

A figura 4 ilustra o “status sanitário” de cada capril, de acordo com o intervalo da freqüência de respostas positivas ao CAEV, T. gondii e N. caninum.

-53 -52 -51 -50 -49 -48 -47 -46 -45 Longitude W -25 -24 -23 -22 -21 -20 La titude S Graus N Status sanitário

Municípios não pesquisados 32 - 44,99 45 - 57,99 58 - 70,99 71 - 83,99 84 - 96,99 Botucatu Pardinho Lençóis Paulista Batatais Jaboticabal Moji-Guaçu Pirassununga São Sebastião da Grama Serra Negra S. José dos Campos Monteiro Lobato Piquete Itapetininga Araçoiaba da Serra

Piedade CotiaSão Paulo

0 1 2

Figura 4. Mapa indicando o “status sanitário” dos capris conforme freqüência de positividade para toxoplasmose,

6. DISCUSSÃO

Conhecer a ocorrência e epidemiologia de doenças infecto- contagiosas é de fundamental importância para o planejamento de saúde. No caso da toxoplasmose e neosporose em caprinos essa necessidade é bastante acentuada. Uma vez que o rebanho caprino do estado de São Paulo está aumentando e essas doenças podem comprometer a saúde dos animais, são necessárias estratégias de prevenção e controle dessas enfermidades, visando evitar a

interrupção ou quebra da produção, que gera aumento de custos para os produtores.

Prejuízos diretos e permanentes significam perdas de animais e redução do lucro. Por outro lado, perdas indiretas também são significativas, conseqüência da desvalorização dos rebanhos e da imposição de barreiras comerciais e sanitárias, principalmente às enfermidades de caráter zoonótico (Modolo, 2004).

6.1. Toxoplasma gondii

Entre os animais de produção, os caprinos são os mais seriamente acometidos pela toxoplasmose. A doença ocasiona perdas reprodutivas e morte de animais jovens e adultos, além de ser importante zoonose. Sua ocorrência e os fatores de risco de

transmissão devem ser conhecidos para que se tomem as medidas necessárias para a prevenção da infecção.

Em diversas regiões do mundo a ocorrência da toxoplasmose varia de 0 a 100% segundo vários fatores de risco, entre eles presença de felinos e tipo de manejo (Dubey, 1987).

Neste estudo, de um total de 923 caprinos testados, 216

apresentaram-se soropositivos pela RIFI (≥16), com uma ocorrência de 23,40%. Isto significa que esses animais foram infectados pelo T. gondii e, conseqüentemente, produziram anticorpos contra o agente. Na literatura, há poucas referências sobre a positividade de anticorpos anti-T. gondii no estado de São Paulo, sendo bastante recentes os

estudos realizados. Figliuolo et al. (2004) verificaram soropositividade de 28,68%, resultado superior ao deste estudo, principalmente se for

levado em consideração que, apesar da mesma técnica diagnóstica, o ponto de corte utilizado pela autora foi de 1:64, superior ao deste trabalho. Assim, animais com títulos de anticorpos 16 podem não ter sido diagnosticados naquele estudo, o que aumentaria ainda mais a diferença nas prevalências encontradas. Por outro lado, também em São Paulo, Meireles et al. (2003) e Mainard et al. (2003) obtiveram 17% de soropositividade pelo ELISA e 14,5% pela RIFI (16), respectivamente.

Em outros estados brasileiros foram realizados diversos estudos sobre a ocorrência da toxoplasmose. Em Minas Gerais, Chiari et al. (1987) relataram soropositividade de 68% dos caprinos testados pela RIFI (≥16), valor muito superior ao do presente estudo. Do mesmo

modo, Machado & Lima (1987) detectaram, pela RIFI (≥1:16), 36,8% de soros reagentes. No estado do Paraná, Sella et al. (1994) verificaram 30,71% de caprinos positivos pela RIFI, com títulos iguais ou superiores a 1:64, e 13,07% com títulos entre 1:16 e 1:64, os quais consideraram

inespecíficos. Na Bahia, Gondin et al. (1999) relataram a ocorrência de toxoplasmose em 28,93% dos caprinos testados pelo LAT ≥1:64. Em um estudo realizado por Silva et al. (2003), no estado do Pernambuco, a partir de amostras de soros obtidas no ano de 1997, verificou-se, pela RIFI, uma positividade de 40,4%, também bastante superior à do presente trabalho.

Prevalências inferiores às encontradas neste estudo foram verificadas por Araújo et al. (1984) na região da grande Porto Alegre, RS - 16,1% de soros reagentes, com títulos iguais ou superiores a 1:64, empregando o teste de HI - e Figueiredo et al. (2001), em trabalho realizado em Uberlândia, MG, com índices de soroprevalência que variaram de 19%, utilizando o teste de HI, a 19,5%, com RIFI e ELISA (≥64). Estes observam que apesar de não ser tão alta como em algumas regiões, esta prevalência de anticorpos anti-T. gondii não significa que a infecção esteja sob controle.

Independente dos testes e critérios diagnósticos utilizados, verifica-se pela literatura que a toxoplasmose encontra-se difundida nas cidades do estado de São Paulo, em outros estados do Brasil e no mundo.

Os resultados obtidos neste trabalho foram semelhantes aos relatados por Ruppanner et al. (1978), na Califórnia (EUA). De um total de 1054 amostras de soros caprinos, eles encontraram uma

positividade de 23% pela HI ≥64. Também nos EUA, em um estudo de prevalência de toxoplasmose em caprinos na região nordeste entre 1982 e 1984, de um total de 1000 caprinos verificou-se, pelo teste de aglutinação modificado (MAT), uma positividade de 22,1% nas

diluições 1:40 e 1:400 (Dubey & Adams, 1990). Os autores acreditam que a soropositividade poderia ter sido maior caso o ponto de corte fosse menor que 1:40. Um dado que reforça essa hipótese é que quando utilizou o MAT com diluição inicial de 1:16, Dubey (1985) obteve 22,7% de positividade em soros caprinos de Montana (EUA). Destes, 13% apresentaram títulos 16.

Taxas de positividade bastante superiores às obtidas no presente estudo foram relatadas por Opel et al. (1991), na Nova

Zelândia, onde verificou-se positividade em 62% das amostras pela RIFI ≥64.

Em Bangladesh, Samad et al. (1997) obtiveram 12,8% de positividade (LAT≥64) de um total de 528 caprinos destinados ao

abate. Embora inferior ao encontrado neste e em vários outros estudos, esse resultado também deve ser visto com cuidado. A carne de

animais infectados é uma das mais importantes fontes potenciais de toxoplasmose e, naquele país, seu consumo é bastante comum. Assim, qualquer índice de positividade representa um risco para a saúde pública.

Resultados inferiores aos obtidos nesta pesquisa também foram verificados por Nieto & Melendez (1998), em zonas áridas da Venezuela. Os autores encontraram positividade em 6,3% dos caprinos testados pela HI ≥ 64.

Com relação aos títulos de anticorpos anti-T. gondii, de acordo com a tabela 2, entre os animais soropositivos houve uma distribuição preferencial pelos títulos 64 e 256, sendo a taxa de negatividade significativamente maior que a de positividade

(P<0,0001). Resultados semelhantes a estes foram obtidos por Araújo et al. (1984) e por Machado & Lima (1987). Figliuolo et al. (2004)

encontrou resultados discordantes, verificando uma maior freqüência de títulos superiores a 1024.

Segundo Robert et al. (1981), altos títulos de anticorpos

podem ser encontrados nas infecções agudas de toxoplasmose e na reativação da infecção devido a condições de imunossupressão. No entanto, de acordo com Chiari et al. (1987) e Dubey (1987) a presença de altos títulos de anticorpos anti-T. gondii em caprinos não pode ser

considerada diagnóstico de infecção recente, uma vez que eles podem se manter estáveis por longos períodos, independentemente da ocorrência de sintomas.

Pela distribuição das freqüências de positividade nos capris estudados (tabela 3), verificou-se diferença significativa (P<0,0001) nas ocorrências de anticorpos anti-T. gondii, que variaram de 0% a 81,25%. Resultados diferentes foram obtidos por Figliuolo et al. (2004), que detectou pelo menos um animal positivo para T. gondii nas 19

propriedades testadas, com variação de 3,34% a 100% de positividade, e por Silva et al. (2003), que verificaram taxas de positividade variando de 15,9% a 87,5%. Faz-se importante considerar que a biossegurança interna das propriedades e o tipo de criação podem influenciar na prevalência da toxoplasmose.

No estudo realizado por Machado & Lima (1987), a freqüência de anticorpos anti-T. gondii foi associada à forma de exploração dos animais. Foram encontrados 36,1% de positividade em rebanhos leiteiros, 11,4% em criações extensivas de animais para abate e 62,9% em explorações mercantis simples, para alimentação e renda familiar alternativa. Nestas, o elevado número de habitantes por área, o

convívio com inúmeras outras espécies animais e as más condições sanitárias, ambientais e alimentares, inclusive com a utilização de sobras de alimentos, aumentaram o risco de infecção.

No presente estudo, não foi possível associar as freqüências de anticorpos ao tipo de exploração e manejo dos animais, pois todas as propriedades estudadas eram voltadas para a produção de leite com manejo intensivo. Porém, Machado & Lima (1987) e Opel et al. (1991) sugerem que quando os caprinos recebem alimentos

rebanho, uma vez que propriedades leiteiras têm maior densidade populacional.

A tabela 4 mostra que não foi verificada associação entre a positividade para toxoplasmose e o sexo dos caprinos, corroborando resultados obtidos por Sella et al. (1994) e por Machado & Lima (1987). Por outro lado, resultados discordantes foram verificados por Silva et al. (2003), que encontraram uma porcentagem de fêmeas sororeagentes significativamente maior que a de machos: 43,88% contra 21,21%. Já Dubey & Adams (1990) verificaram maior porcentagem de machos que fêmeas soropositivas ao T. gondii, embora tenham concluído que o número de machos estudados foi pequeno para que se pudesse fazer comparações.

No que diz respeito à idade dos animais (tabela 5), observou- se uma associação positiva entre o aumento da faixa etária e a

positividade de anticorpos. Constatação semelhante também foi observada por Machado & Lima (1987), Dubey & Adams (1990), Opel et al. (1991), Sella (1994), Nieto & Melendez (1998), Figueiredo et al. (2001) e Figliuolo et al. (2004). Machado & Lima (1987) explicam que isto acontece, provavelmente, pela maior chance de exposição dos caprinos ao agente.

Na presente pesquisa verificou-se associação entre a presença de gatos nos capris e a ocorrência de anticorpos anti-T.

gondii (tabela 6). Nas propriedades onde foi relatada a presença de

hospedeiros definitivos, a variação na freqüência de animais positivos ao T. gondii foi de 3,39% a 81,25% (quadro 1). Onde não houve esse tipo de relato a variação foi de 0% a 5,13%. Resultados diferentes foram verificados por Figliuolo (2003): em capris sem presença de gatos o autor encontrou positividade variando de 20% a 60%.

Apesar da baixa freqüência de animais positivos ao T. gondii nos capris sem gatos, os números devem ser considerados, pois além dos oocistos liberados com as fezes dos felídeos - contaminando água e pastagens –existe a possibilidade de transmissão do T. gondii de outras formas.

Segundo Vitor et al. (1991), na natureza a transmissão de T.

gondii ocorre de um hospedeiro para outro pela contaminação com

taquizoítos presentes em secreções e excreções de hospedeiros

infectados. De acordo com os autores, a literatura não faz referência à freqüência de eliminação do T. gondii pela saliva. Entretanto, isso pode assumir importância entre animais confinados, principalmente pelo hábito de lamber um ao outro ou mesmo pelo uso conjunto dos bebedouros e comedouros, o que facilita a infecção por ingestão. Conforme estudos de Chiari et al. (1987), em alguns dos rebanhos

estudados, a infecção pode ter acontecido durante a fase intrauterina ou pela ingestão de excreções contaminadas com taquizoítos de T.

gondii.

Nesta pesquisa, devido à precária organização de algumas propriedades não foi possível obter dados individuais dos caprinos. Isto impossibilitou a associação de cada animal aos fatores de risco para a ocorrência da toxoplasmose, como procedência ou introdução de animais contaminados nos rebanhos. Araújo et al. (1984) recomendam a realização de testes sorológicos nos animais (principalmente os

reprodutores) antes de serem introduzidos nos rebanhos. Em tese eles poderiam transmitir a doença, uma vez que T. gondii já foi isolado de sêmen caprino (Dubey & Sharma, 1980).

Por falta de administração sanitária em alguns capris não foi possível obter o histórico reprodutivo de todas as cabras. Assim, a

soropositividade dos caprinos foi associada à ocorrência de falhas reprodutivas nos capris. A tabela 7 mostra que não houve associação entre positividade de anticorpos anti-T. gondii e ocorrência de falhas reprodutivas, o que está de acordo com Opel et al. (1991), que

encontraram títulos maiores que 64 para T. gondii em 185 soros de caprinos sem sinais clínicos, na Nova Zelândia. Resultados semelhantes também foram encontrados por Machado & Lima (1987) e por Silva et al. (2003), que verificaram em caprinos e ovinos porcentagem de soro- reação menor nos grupos em que perdas reprodutivas foram

relatadas.

6.2. Toxoplasmose caprina e saúde pública

Diante da importância da toxoplasmose caprina para a saúde pública, a investigação do risco que produtos de origem caprina podem oferecer à população humana é fundamental. O hábito alimentar de consumir carne e outros produtos de origem

caprina crus ou mal cozidos tem grande significado na epidemiologia da toxoplasmose (Bonametti et al., 1997).

Ainda que a principal atividade desenvolvida nas propriedades estudadas fosse a exploração leiteira, a carne de animais infectados constitui uma das mais importantes fontes potenciais de transmissão de toxoplasmose para o homem(Sibley, 2003). Assim, aplicando um inquérito epidemiológico junto aos

responsáveis pelas criações visitadas, foram obtidas informações sobre a comercialização dos produtos de origem caprina, ilustradas na

figura 3. A análise conjunta dos dados das figuras 2 e 3 mostra que há possibilidades diferentes de risco de transmissão da infecção para o homem. Há capris que não apresentaram animais positivos para anticorpos anti-T. gondii e somente comercializavam leite

pasteurizado. Portanto, teoricamente não ofereceriam risco de transmissão da toxoplasmose à saúde pública. Num outro extremo, estão aqueles com elevadas freqüências de anticorpos anti-T. gondii e que comercializavam leite “in natura” e carne de caprinos, os quais, se contaminados poderiam oferecer risco aos consumidores que os

ingerissem sem tratamento térmico adequado.

6.3. Neospora caninum

Quanto à neosporose, a freqüência de soropositividade dos 923 caprinos testados pela NAT (≥25) foi de 17,44%(IC95%: 14,99% - 19,89%).

Na literatura consultada, foi encontrada apenas uma única referência bibliográfica de prevalência de anticorpos anti-Neospora

caninum em caprinos (Figliuolo et al., 2004). O estudo foi realizado com

rebanhos do estado de São Paulo e mostrou resultado bastante inferior a este: 6,34% dos caprinos foram sororeagentes ao N. caninum. No entanto, deve-se levar em consideração que a técnica utilizada pela autora foi a RIFI e o ponto de corte ≥50 foi superior ao do presente estudo. Em função disso, animais com títulos inferiores poderiam ter deixado de ser diagnosticados. Deste modo, a comparação de valores de soroprevalência utilizando técnicas com sensibilidade, especificidade e valor preditivo, pontos de corte e equipamentos laboratoriais diferentes, deve ser feita com cuidado, evitando falhas de interpretação que podem decorrer das variações durante o processo diagnóstico.

Com relação aos títulos de anticorpos anti-N. caninum, 10,51% dos animais apresentaram título 25; 3,79% - 100; 3,14% ≥500, mostrando uma distribuição preferencial pelo título 25 (tabela 8).

Resultados diferentes foram obtidos por Figliuolo et al. (2004), que verificou uma maior freqüência de títulos superiores a 200.

Semelhante ao observado nas taxas de positividade para a toxoplasmose nos capris trabalhados, houve grande variação de

ocorrência de anticorpos anti-N. caninum (0% a 76,06%, com P<0,0001- tabela 9). Das 17 propriedades, apenas uma não apresentou animais soropositivos para N. caninum, resultado diferente do obtido por Figliuolo et al. (2004), que testou 19 propriedades , encontrando animais soropositivos em apenas oito (42,1%).

No presente estudo, não foi verificada associação significante entre presença de anticorpos anti-N. caninum e sexo ou faixas etárias (tabelas 10 e 11), concordando com os resultados obtidos por Figliuolo et al. (2004).

Outro dado aqui obtido diz respeito à maior freqüência de animais positivos para N. caninum quando relatada presença de cães na propriedade (tabela 12). Dos capris pesquisados, dez tinham cães e apresentaram taxas de positividade variando de 4,77% a 76,06%

(quadro 2). Nas outras sete, onde não foi relatada a presença do hospedeiro definitivo, a variação na positividade de anticorpos anti-N.

caninum foi de 0% a 35,9%. Esses resultados diferem dos verificados

por Figliuolo et al. (2004), que não encontrou associação entre a presença de cães errantes e/ou domiciliados nas propriedades estudadas e a prevalência de N. caninum.

Semelhante ao observado nos capris com positividade para toxoplasmose, não foi verificada diferença significativa quanto à ocorrência de anticorpos anti-N. caninum nas propriedades que apresentaram problemas reprodutivos (tabela 13), o que vai ao encontro dos achados de Figliuolo (2003).

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