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Na UBA, as assessorias pedagógicas datam do início da década de 1980, período de redemocratização do país. Nessa ocasião, foram criadas comissões de assessores compostas por licenciados em Ciências da Educação e psicopedagogos, entre outros profissionais, com o intuito de apoiar os docentes no que se referia às revisões dos currículos dos cursos, após a recuperação democrática, e acompanhar os docentes universitários. Além disso, as assessorias

tiveram também, como demanda inicial, ajudar a resolver problemas de orientação vocacional, de aprendizagem dos estudantes e o elevado índice de repetência e abandono nos cursos de graduação. Segundo Volpato (2015, p. 153), “a relação com a formação dos docentes e a pesquisa sobre os problemas de aprendizagem dos estudantes estavam fortemente presentes no momento de implantação das assessorias, o que coincidiu com o compromisso da universidade para todos”.

Embora tradicionalmente a formação para o ensino universitário seja realizada junto ao trabalho desenvolvido nas “cátedras”, sob a tutela e a orientação dos professores mais experientes, o Estatuto Universitário29 da UBA prevê uma atenção especial para a formação de professores assistentes que, por meio de estudos sistemáticos, recebem o diploma de

docente autorizado, reconhecido pela Resolução do Conselho Superior de cada faculdade.

Além disso, algumas faculdades contam com programas de atualização, que oferecem seminários ou oficinas destinados à formação de professores. Durante a última década, foram criados, em quase todas as universidades nacionais argentinas, estudos sistemáticos voltados à formação dos docentes universitários, como mestrados, cursos de especializações e programas de atualização.

Cumpre ressaltar que as assessorias pedagógicas na UBA estão organizadas por unidades acadêmicas (faculdades), ou seja, a criação das assessorias está atrelada ao grau de importância que os gestores dessas faculdades dão a esse tipo de atividade e à formação para os seus docentes. Na pesquisa realizada por Volpato (2015), uma das entrevistadas que desempenha o papel de assessora destaca que há um desejo da secretaria acadêmica da UBA em ter alguma linha de ação comum para a formação docente, porém não há nenhum tipo de normativa nem de marco regulatório da assessoria nas universidades argentinas. Em cada faculdade, a assessoria pedagógica tem uma inserção institucional distinta.

Em pesquisa realizada sobre as assessorias pedagógicas na Argentina, Hevia (2000) elencou algumas ações realizadas pelos assessores pedagógicos e destacou a grande variedade de atividades e dispositivos destinados à formação do docente universitário. Há um predomínio de cursos, oficinas, jornadas e grupos de reflexão, além do apoio a cátedras e/ou aos docentes. Em algumas ocasiões, essas ações são dirigidas aos docentes em serviço. Em outras, constituem propostas formativas para aqueles que desejam ser professores. Com

29 O Estatuto Universitário, quando se refere à formação dos docentes autorizados, menciona, em seu Artigo 60,

a realização da Carrera Docente como modo de certificação e autorização para lecionar. “Art. 60. Los

docentes autorizados colaboran con los profesores en las tareas universitarias. El título de docente autorizado es otorgado por el Consejo Superior a quienes hayan completado la carrera docente de acuerdo con la reglamentación de cada Facultad.”

menor frequência, estão destinadas a docentes de outros níveis educativos vinculados à universidade. A autora destaca que, na maioria das vezes, essas múltiplas modalidades se complementam e se enriquecem mutuamente (HEVIA, 2000).

A função de assessor pedagógico é afetada por uma tensão proveniente do seu pertencimento a um campo disciplinar diferente ao âmbito da faculdade em que atua. O desconhecimento, por parte do assessor, dos saberes próprios dos docentes com os quais interagirá, assim como de suas diferentes formas de produção e compartilhamento, constitui barreiras a serem superadas. Hevia (2000, p. 89) argumenta que “el necessário acercamiento

a la ‘outra disciplina’ constituye um desafio prioritário de difícil resolución, ya que implica el mutuo reconocimiento, la aceptación y la negociación constante”.

Ainda no que se refere à formação dos assessores pedagógicos, uma outra barreira, apresentada por Volpato (2015), recai sobre a baixa titulação acadêmica. Muitos assessores não possuem o mestrado em docência universitária (oferecido, muitas vezes, pelas próprias instituições em que atuam), o que gera certa resistência a participar e a valorizar as atividades e propostas pedagógicas ofertadas pela assessoria por parte dos docentes de outras áreas, principalmente, por aqueles que possuem maior experiência e/ou maior titulação acadêmica.

Para Faranda e Finkelstein (2000), a assessoria pedagógica supõe um intercâmbio cujo processo se vincula a sujeitos de diferentes campos disciplinares que estabelecem determinadas relações de conhecimento. No imaginário de alguns professores, a figura do assessor surge como um avaliador e regulador do trabalho desenvolvido em sala de aula. Nessa posição, os professores acabam por não demonstrar suas dificuldades ou fragilidades em relação às práticas pedagógicas, o que dificulta o trabalho do assessor em identificar as reais demandas para o desenvolvimento de suas ações. Isso pode ser exemplificado pelas palavras das autoras:

El asesor no posee la totalidad del saber especifico de la disciplina que caracteriza a la unidad, pero funciona en el imaginario como evaluador o agente de control de calidad, lo que lo sitúa en una posición valorativa respecto de las prácticas pedagógicas vigentes en la instituición. Se produce entonces una situación ambivalente, ya que los docentes o bien se reservan información con respecto a las dificultades que tienen – e la medida que lo invisten de funciones de evaluador – o manejan un discurso donde revalorizan su propia tarea, re-niegan de los problemas y se trata de convencer al asesor de lo bien que se realiza la tarea. Esto hace que el asesor se pregunte frecuentemente para qué está en la institución y cuál es la verdadera demanda (FARANDA; FINKELSTEIN, 2000, p. 136).

Uma outra tensão presente na carreira do assessor diz respeito à concepção predominante entre os professores de que, para ensinar, basta dominar o conteúdo. Essa

compreensão, segundo Faranda e Finkelstein (2000), acaba concentrando as demandas nos aspectos técnicos instrumentais, na busca por fórmulas perfeitas de como ensinar, e ficam excluídas as discussões mais voltadas para a compreensão do processo de ensino e aprendizagem.

Os trabalhos de Volpato (2015) e de Faranda e Finkelstein (2000) analisam várias experiências formativas ofertadas pela UBA. Para complementar esses estudos, realizamos uma pesquisa nos portais das faculdades da universidade. Dessa maneira, conseguimos mapear várias iniciativas voltadas para a formação docente ligadas aos setores pedagógicos da UBA, tanto nas assessorias quanto em algum órgão equivalente30. Dentre as atividades institucionalizadas, identificamos cinco cursos de Carrera Docente, com duração de dois anos, que formam docentes para atuarem nas suas áreas de formação, e integram os saberes pedagógicos e disciplinares do conteúdo, e três cursos de especialização em docência universitária. Apresentamos, a seguir, um quadro síntese com as experiências da UBA.

Quadro 17 - Experiências formativas na UBA por faculdades

Faculdade Ação formativa

Agronomia Carrera Docente

Ciências Econômicas Especialización Docencia Universitaria (460h) e Formación Docente

Ciências Sociais Programa de Atualización Docente (128h)

Direito Carrera e Formación Docente

Filosofia e Letras Inexistente

Medicina Carrera Docente (Curso de Formacíon docente en Ciências de la Salud (272h) + Práctica Docente en terreno (200h)

Psicologia Cursos de Actualizacíon Didactica

Arquitetura, Desenho e Urbanismo

Especialista en Docencia para Arquitectura, Diseño y Urbanismo

Ciências Exatas e Naturais

Existe a secretaria acadêmica que desenvolve algumas atividades voltadas para o apoio pedagógico ao professor, mas não há um cursos sistematizado

Ciências Veterinárias Carrera Docente: Especialización en Docencia Universitaria para Ciencias Veterinarias y Biológicas

Farmácia e Bioquímica Carrera Docente

Engenharia Possui um setor de apoio chamado Dirección de Desarrollo Educativo, mas não há um curso sistematizado de formação

Odontologia Area de Educación Odontologica y asistencia pedagógica Carrera Docente

Fonte: Elaborado pela autora

A partir desse levantamento, é possível notar que há uma preocupação da UBA quanto à formação dos seus docentes. Ao longo das últimas décadas, cada unidade acadêmica ofereceu respostas diferentes a essa demanda, a partir de distintas ações formativas, como a

30 Nas faculdades, as assessorias se constituem como órgãos/cátedras ou espaços institucionalizados de forma

oferta da especialização em Docencia Universitaria e a criação das assessorias pedagógicas, ou de outro órgão equivalente, que desenvolvem ações formativas para as Carreras Docentes. Assim, conforme análise de documentos disponibilizados na página eletrônica da instituição, a existência de ofertas diversificadas e o desenvolvimento do campo temático e de um corpo teórico sobre a docência superior estimularam a necessidade de propor ações articuladas para a formação e o desenvolvimento dos professores da UBA. É nesse contexto que se cria a

Maestría en Docencia Universitaria. Ressalta-se que, atualmente, muitas especializações

ofertadas por algumas unidades acadêmicas se articulam com o mestrado em Docencia

Universitária, como a especialização oferecida pela Facultad de Ciencias Veterinarias. Dessa

maneira, as atividades desenvolvidas na especialização podem ser aceitas como parte dos estudos correspondentes ao mestrado.

Lucarelli (2015), em pesquisa realizada sobre as assessorias pedagógicas na Argentina, conclui que os assessores buscam fixar seu lugar institucional por meio de diferentes ações de formação e de investigação, o que permite a compreensão desses processos e possibilita a construção de um campo da Pedagogia e Didática Universitária. Em suas palavras:

El asesor pedagógico en las universidades nacionales argentinas busca afianzar su lugar institucional a través del entramado de acciones que van desde la intervención directa en los procesos del aula y de la institución en su conjunto, a la investigación que le permite comprender el significado de esos procesos, posibilitando así, desde la acción y la reflexión sistemática, aportar a la construcción del campo de la Pedagogía y la Didáctica Universitarias

(LUCARELLI, 2015, p. 112).

Como já mencionado neste trabalho, temos, como campo de pesquisa, a análise das ações de desenvolvimento profissional docente em três faculdades da UBA: a Facultad de

Farmacia y Bioquímica, a Facultad de Odontología e a Facultad de Derecho. Nas próximas

seções, apresentaremos as atividades formativas ofertadas em cada uma dessas faculdades.