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As astreintes e a previsão no Projeto de Lei do novo Código de Processo

2 O SISTEMA PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO E O SUBJETIVISMO NA

2.4 As astreintes e a previsão no Projeto de Lei do novo Código de Processo

Atuando como importante meio de coerção do devedor, as astreintes no vigente Código de Processo Civil brasileiro encontra tímida disposição de artigos, denotando, com isto, a insuficiência de regulamentação legal do instituto, razão pela o projeto de Lei n.º 8046/2010, anteprojeto do novo Código de Processo Civil, apresenta ampliação da legislação sobre a sistemática da multa, visando contribuir com maior previsibilidade, segurança e efetividade da medida em face das decisões judiciais.

Os artigos no projeto do novo Código de Processo Civil tratando do instituto das astreintes dispõem o seguinte:

Art. 521.Para cumprimento da sentença condenatória de prestação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do credor.

§ 1º Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre outras medidas, a imposição de multa por período de atraso, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, o desfazimento de obras, a intervenção judicial em atividade empresarial ou similar e o impedimento de atividade nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força policial.

§ 2º O descumprimento injustificado da ordem judicial fará o executado incidir nas penas de litigância de má-fé, sem prejuízo de responder por crime de desobediência.

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Art, 461(...) § 6o O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso verifique que se tornou insuficiente ou excessiva.

Art. 522.A multa periódica imposta ao devedor independe de pedido do credor e poderá se dar em liminar, na sentença ou na execução, desde que seja suficiente e compatível com a obrigação e que se determine prazo razoável para o cumprimento do preceito.

§ 1º A multa fixada liminarmente ou na sentença se aplica na execução provisória, devendo ser depositada em juízo, permitido o seu levantamento após o trânsito em julgado ou na pendência de agravo de admissão contra decisão denegatória de seguimento de recurso especial ou extraordinário.

2º O requerimento de execução da multa abrange aquelas que se vencerem ao longo do processo, enquanto não cumprida pelo réu a decisão que a cominou.

§ 3º O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que: I – se tornou insuficiente ou excessiva;

II – o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obrigação ou justa causa para o descumprimento.

§ 4º A multa periódica incidirá enquanto não for cumprida a decisão que a tiver cominado.

§ 5º O valor da multa será devido ao exequente até o montante equivalente ao valor da obrigação, destinando-se o excedente à unidade da Federação onde se situa o juízo no qual tramita o processo ou à União, sendo inscrito como dívida ativa.

§ 6º Sendo o valor da obrigação inestimável, deverá o juiz estabelecer o montante que será devido ao autor, incidindo a regra do § 5º no que diz respeito à parte excedente.

§ 7º Quando o executado for a Fazenda Pública, a parcela excedente ao valor da obrigação principal a que se refere o § 5º, será destinada a entidade pública ou privada, com finalidade social.

Cumpre frisar que as disposições relativas às obrigações de fazer ou de não fazer, pelo novo Código de Processo Civil, serão também aplicadas às obrigações de entregar coisa.

Conforme se verifica, uma novidade diz com a titularidade do crédito resultante da imposição da multa diária, sugerindo que seja ela do autor até o valor correspondente ao da obrigação objeto da demanda, e do Estado no que exceder tal montante, visando obstar o enriquecimento desproporcional de uma das partes. Outrossim, os valores deverão ser depositados em juízo, sendo permitido o levantamento somente após o trânsito em julgado ou na pendência de agravo de admissão contra decisão denegatória de seguimento de recurso especial ou extraordinário.

CONCLUSÃO

Constata-se com o presente trabalho, a existência no sistema processual brasileiro de uma excelente técnica de tutela coercitiva chamada de astreintes, cuja função precípua é garantir o cumprimento das decisões judiciais, salvaguardando o direito pleiteado, através do estímulo do renitente ao cumprimento da obrigação.

Nesse sentido, é que a multa coercitiva, como visto, é de fundamental importância no desempenho e garantia da efetividade processual, aproximando a instrumentalidade do processo ao resultado prático equivalente ao cumprimento espontâneo da obrigação pela parte. Contudo, a aplicação desse instituto deve ser pautado com critérios de razoabilidade e proporcionalidade em atenção ao caso concreto.

Isso porque, conforme restou evidenciado, a efetividade processual está intimamente interligada a uma segura e correta escolha da medida coercitiva pelo julgador, exigindo as astreintes, se assim escolhida, uma criteriosa análise da situação fática, realizada através da ponderação criteriosa dos princípios, sobretudo dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, a fim de, como dito, estimular o cumprimento do obrigado, e ao mesmo tempo, evitar o enriquecimento ilícito de uma das partes.

Como visto, são os princípios que englobam e sistematizam os principais e mais elementares direitos fundamentais a serem observados na realização e no desenrolar de todo e qualquer processo (judicial ou administrativo). Relativamente

ao instituto da multa coercitiva, são empregados como parâmetros norteadores e garantidores da máxima eficácia do cumprimento da ordem judicial, a conferir êxito na demanda.

Da mesma forma, identificou-se, diante da ausência de qualquer critério pré- estabelecido para a determinação do quantum a ser fixado a título de multa, que os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade caracterizam, efetivamente, a melhor alternativa no sentido de assegurar o cumprimento do comando judicial, e a garantia da prestação jurisdicional com o cumprimento da obrigação pelo devedor.

Ademais, todos os fatores envolvidos para aplicação de uma multa coercitiva – valor, tempo, capacidade intimidatória, bem jurídico tutelado, realização prática da tutela específica – se analisados em conjunto aos princípios que o tema trazido a baila exige, obviamente resultarão em maior eficácia das decisões judiciais.

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