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As bases político-administrativas do processo migratório no Rio Grande do

No início do século XIX o Rio Grande do Sul foi elevado à condição de Capitania. Tal fato representou sua estruturação territorial-administrativa através da primeira divisão municipal, a qual se constituiu de quatro vilas que serviram como ponto de partida para a subdivisão que configura o Estado atualmente. Originaram- se os municípios de Porto Alegre, Rio Grande, Rio Pardo e Santo Antonio da Patrulha, compostos por freguesias, capelas e povoados. (FEE, 1981).

A principal característica espacial destes primeiros municípios era a vasta extensão territorial, pois a Capitania foi dividida em apenas quatro vilas com população dispersa. Dessa forma, percebe-se que, apesar dos esforços para povoar as terras sulinas, estas continuavam, ainda, compostas por “vazios” demográficos, principalmente na metade norte, que constitui, na atualidade, o Planalto sul-rio- grandense. Esse compartimento geomorfológico se caracterizou como uma barreira natural a ser transposta pela corrente povoadora.

Procurando sanar esta problemática, o Governo Imperial promoveu o povoamento dessas áreas através de incentivos para a vinda de imigrantes para a Capitania Geral de São Pedro do Rio Grande, a qual possuía grandes extensões de terras devolutas.

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As informações referentes às bases político-administrativas do processo de imigração no Brasil seguiram, basicamente, as colocações de Jean Roche (1969). O autor expõe, cronologicamente, a legislação brasileira para os imigrantes, desde o início do fluxo populacional até sua extinção, reconstituindo as ações da política brasileira, mediante a exposição das leis. No período que compreende desde o Império até a República. Salienta-se que, outros autores também abordam essa temática, mas sempre se referindo a obra de Roche, principalmente, por tratar-se de uma obra completa no que diz respeito a esse assunto, englobando o período mais significativo da colonização. Dessa forma, teve-se como fonte de referência, basicamente, Roche (1969) para a organização da matriz teórica desse subitem.

Pode-se dizer que, no Brasil, o território gaúcho era o “estado” mais favorável à colonização. Tal situação resulta das suas características físicas, ou seja, das condições naturais do território gaúcho, como estar fora da zona equatorial, ter estações bem definidas, com verão quente e inverno frio. Salienta-se também a abundância de recursos hídricos. Assim, na Capitania Geral de São Pedro do Rio Grande a colonização poderia se estender por diversas áreas e, o imigrante não teria dificuldades de adaptação, devido às semelhanças físicas com sua terra natal. (DÉNIS, 1951).

Os imigrantes representaram para a Capitania Geral de São Pedro sua efetiva ocupação, principalmente, na porção norte e nordeste, até então relegada pelo latifúndio pastoril, que prevaleceu nos campos da Campanha, estendendo-se até Pelotas.

O processo migratório Europa-Brasil inseriu o País e, mais especificamente, o Rio Grande do Sul, nos grandes fluxos populacionais (inserção de etnias), os quais passam a ser compostos por um mosaico étno-cultural, fruto da diversidade.

A necessidade de “abrir as fronteiras” para estrangeiros surgiu da iminência da abolição da escravatura no Brasil, a qual exigia a substituição da mão-de-obra escrava pelo trabalho assalariado. Além de servir aos interesses da Coroa em povoar áreas desabitadas. No primeiro caso insere-se São Paulo27 e, no segundo, o Rio Grande do Sul. Conforme enfatiza Giron (1992), imigrantismo e abolicionismo são aspectos da mesma questão, uma vez que, ambas referem-se à problemática da mão-de-obra.

Seguindo essa linha de pensamento, Pesavento (1992, p. 157), destaca que

Para um País de imigração como Brasil, o fenômeno se vincula ao momento fundamental em que se dá no âmbito nacional, a transição das relações escravistas para as relações assalariadas. Trata-se da internalização do capitalismo no Brasil, quando historicamente, o capital passa a apropriar-se da produção em nível mundial. Fundamentalmente, o imigrante estrangeiro destinou-se a fornecer força de trabalho em substituição ao braço escravo nas lavouras de café.

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Também Caio Prado Júnior (1970), considera que o termo imigração é mais usual para designar a atividade assalariada junto a grande lavoura, ou seja, os imigrantes tornaram-se um grande contingente de trabalhadores aptos a resolverem o problema da mão-de-obra nas lavouras de café paulistas. Desse modo, os imigrantes que se destinavam ao Rio Grande do Sul tinham como objetivo formar colônias agrícolas de acordo com a legislação e, portanto, colonos. Enquanto que, o imigrantes destinados a São Paulo foram, na verdade, contratados para o trabalho assalariado, dispondo apenas de um pequena parcela de terra para cultivar (subsistência).

Houve um controle por parte do Governo Imperial, inicialmente, sobre a questão migratória, regulamentando-a via legislação específica. Na concepção de Roche (1969), foi um processo de colonização dirigida ou, nas palavras de Seyferth (1988), foi uma colonização concebida e dirigida pelo Governo.

O controle dessa questão abarcou do recrutamento até a instalação definitiva em lotes já pré-determinados. As políticas públicas que orientaram a entrada de imigrantes no País refletiram os acontecimentos mais significativos para a história do Brasil Colônia e da Capitania Geral de São Pedro, ora incentivando, ora suprimindo direitos e, tiveram início no Império estendendo-se até a fase republicana.

Nesse sentido, Roche (1969), dividiu a colonização em duas fases, com cinco períodos ao todo. A primeira fase teve início em 1824 estendendo-se até a queda do Império (1889), e subdividiu-se em três períodos: (a) primeiro (1824-1848), estabeleceu a legislação inicial para a inserção dos imigrantes; (b) segundo (1848- 1874), caracterizou-se por ser uma colonização provincial; (c) terceiro (1874-1889), representa o colapso da colonização, devido ao descaso do Governo Local em relação aos imigrantes. (Quadro 1).

A segunda fase, sob domínio da República, ocorreu a partir de 1889 e contemplou os dois períodos seguintes aos da primeira fase: (d) quarto (1890-1914), também denominado de segunda colonização provincial e (e) quinto (a partir de 1914), caracterizado pela liquidação da imigração. (Quadro 2).

Conforme salienta Seyferth (1988), a colonização quanto aos seus objetivos foi concebida e dirigida pelo Governo, cujo interesse era implantar um regime de pequenas propriedades agrícolas, produtoras de alimentos, em áreas não ocupadas pela grande propriedade”.

O caráter da colonização no Rio Grande do Sul, além da ocupação dos vazios espaciais, centrava-se em contrapor as grandes áreas criadoras de gado via implantação da atividade agrícola em pequenos lotes de terra. Portanto, ser imigrante no Rio Grande do Sul implicou em ser colono. Deve-se a essa relação o uso comum, quase como sinônimo das palavras imigração/colonização para o território gaúcho.

Seguindo essa linha de pensamento de Roche (1969, p. 03), salienta que “[...] o emprego da palavra colonização pelos brasileiros não provém, pois, de uma confusão, mas de uma subordinação do imigrante à colonização, que é o fim dela”.

A palavra colonização teve vários significados entre os séculos XIX e XX, mas sempre atrelada a agricultura, pois essa era o fim primordial do processo de colonização. No século XIX, colonizar consistia em introduzir com novos habitantes, a mão-de-obra inexistente no lugar para fins agrícolas. Já, no século XX, procurando inovar a definição jurídica do imigrante, a legislação estabelece como critério a intenção do estrangeiro em se estabelecer num ponto do território e exercer uma profissão, de preferência agrícola. Os colonos foram os primeiros agricultores e artesãos rurais, ou seja, homens ligados à terra que exploravam, segundo a legislação. (ROCHE, 1969).

Para Seyferth (1988), os imigrantes assimilaram a identidade colonial, tornando-se imigrantes/colonos. Não havia controle sobre o processo migratório, pois já encontraram tudo pré-determinado pela legislação: o local de destino, a função e as obrigações a serem cumpridas, ou seja, privilegiava-se a implantação e o desenvolvimento da atividade agrícola.

A correlação entre imigração e colonização deve-se ao fato de que a primeira resolverá o problema da mão-de-obra e a segunda contrapõe a pequena propriedade ao latifúndio, permitindo uma vigilância contínua e um isolamento que garantiriam a segurança nacional. (GIRON, 1992).

Etimologicamente, colonizar é transformar em colônia, habitar como colonos. (AURÉLIO, 1986). Ou, promover a colonização. Migrar para um território e nele se estabelecer como seus primeiros ou principais habitantes. (MICHAELIS, 1998).

FASES DA COLONIZAÇÃO PERÍODO DA COLONIZAÇÃO

1ª Fase (1824-1889)

(a) 1824-1848: legislação inicial da

imigração;

(b) 1848-1874: colonização provincial; (c) 1874-1889: colapso da colonização

(descaso do Governo local).

2ª Fase

(a partir de 1889)

(d) 1889-1914: segunda colonização

provincial;

(e) a partir de 1914: liquidação da

imigração.

Quadro 2: Fases da colonização segundo Roche, 1969. Fonte: Roche, 1969.

Org.: BRUM NETO, 2007.

A colonização seguiu um critério específico que organizou seu caminho na busca dos imigrantes, ou seja, “quem seriam” os mesmos. O fracasso da tentativa

com os imigrantes açorianos fez com que o Governo Imperial buscasse candidatos, não portugueses, mas ainda na Europa28, devido à situação conflitante instalada nesse continente, em virtude dos inúmeros conflitos por unificações (reivindicação de nacionalidades) e do excedente populacional.

Nesse sentido, Pesavento (1992, p. 156), afirma a relação entre o processo migratório e o capitalismo, quando considera a imigração como um

Fenômeno iniciado no século XIX correspondeu, para os países de emigração, a um estágio de expansão do capital que trouxe, entre outros efeitos, a expulsão do camponês da terra e a destruição do pequeno artesanato, contrapartida da concentração dos meios produtivos. Formou- se assim, em determinadas nações, um excedente populacional que, sem terra e sem trabalho, convertia-se num foco de tensão social. Para o governo de tais países, tornou-se uma necessidade o envio destas populações para o exterior. Isto tanto implicava um desafogo para o Estado, que não conseguia absorver, no processo industrial em desenvolvimento, toda esta mão-de-obra excedente, quanto implicava uma perspectiva de retorno de capitais, pela formação de núcleos nacionais no exterior, que se ligariam por relações comerciais à pátria de origem.

Tendo em vista os acontecimentos em escala mundial, com o advento do capitalismo, acelerando a reorganização do espaço e das relações de produção, altamente excludente, teve início um período de grandes mobilidades populacionais no Globo. Do ponto de vista cultural, pode-se dizer que houve uma transposição de culturas no espaço, em grande escala, principalmente ao se considerar os fluxos Europa-América.

Na concepção de Waibel (1949), apud Bernardes (1997), era necessário encontrar um novo tipo de colonos, pequenos proprietários livres que cultivassem as terras de mata e que não tivessem interessados no trabalho escravo e na criação de gado.

Desse modo, a fome, a miséria e as guerras “construíram” o candidato a colono na Europa, nem sempre agricultor, como exigia a legislação. Inicialmente, foram aliciados na Alemanha, depois na Itália e, em outras nações em menor número. Com foco definido, o Governo contratou agentes diretos para o recrutamento nos países de origem dos imigrantes, oferecendo inúmeras vantagens, com intuito de tornar o Brasil uma terra repleta de “atrativos”. Para uma população

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De maneira geral, a Europa forneceu grandes contingentes populacionais para o Brasil. Inicialmente, por ser uma colônia portuguesa, teve nessa etnia uma grande contribuição para a sua formação sociocultural, além dos espanhóis, vizinhos/rivais ao mesmo tempo, constituíram significativa inserção cultural em terras brasileiras. E, por fim, a grande massa de imigrantes, sobretudo, alemães e italianos que vieram, para o Brasil com objetivo estabelecido de colonizá-lo.

carente e sem muita expectativa de melhoria nas condições de vida, o Brasil tornou “a terra prometida”.

Para Giron (1992, p. 49), “A emigração servirá para aliviar as tensões internas causadas pelas estruturas econômicas rígidas, pela ausência de capitais e pela manutenção das mesmas relações de produção”.

Para efetivar a imigração e solucionar o problema da mão-de-obra livre, o Governo Imperial organizou a empresa para a importação de colonos europeus. Inicialmente, essa tarefa destinava-se às empresas particulares, posteriormente, no período em que se intensificou a imigração, tornou-se indispensável o financiamento e os subsídios governamentais. (GIRON, 1992).

As concessões visavam atrair mais facilmente os imigrantes, propondo-lhes naturalização, liberdade religiosa, propriedade de 77 ha/família, animais para a criação (eqüinos e bovinos), ajuda em moeda corrente por um ano, isenção de impostos e prestação de serviços por dez anos. Paralelamente aos benefícios concedidos, o Governo impôs a condição de inalienabilidade de suas terras por dez anos. (ROCHE, 1969).

A perspectiva de melhores condições devida atraiu muitos imigrantes, principalmente, em virtude da possibilidade de serem proprietários, já que muitos foram expulsos das suas terras devido aos conflitos ocorridos em sua terra natal. Entretanto, nem sempre as promessas foram cumpridas. Tal fato originou contradições entre a legislação brasileira e as promessas feitas aos estrangeiros pelos agentes da imigração.

A propaganda dos agentes, no exterior, muitas vezes, mascarava as reais condições dos imigrantes no Brasil. Esses, por sua vez, enfrentavam problemas na instalação, demarcação dos lotes, ou com a demora de expedição dos títulos de propriedade, dívidas coloniais. e excessivo número de imigrantes numa mesma colônia, às vezes maior do que o próprio número de lotes. Essas dificuldades contribuíram para dificultar a vinda dos imigrantes, incentivados a serem colonos. (ROCHE, 1969).

Ressalta-se que, a Constituição do Império era contrária a concessão imediata da nacionalidade brasileira aos imigrantes. Além disso, estabelecia a religião Católica como a oficial do Estado. Destaca-se que, em 1827, essas duas cláusulas foram retiradas do contrato que regia as leis da imigração, além de suprimir a ajuda financeira aos colonos a partir de 1830. (ROCHE, 1969).

O início do processo colonizador já apresentava alguns problemas, pois nem todos os imigrantes receberam os mesmos benefícios. Como salienta Roche (1969), aos primeiros lotes de imigrantes foram concedidas terras sem atraso, enquanto os demais encontraram dificuldades para se instalar. Essas centravam-se, primeiramente, na espera por um lote, que às vezes durava meses, depois tinham que aprender a usar os materiais e, por fim, a desmatar e cultivar suas terras.

Destaca-se que, nem todos os imigrantes que vieram para o Rio Grande do Sul eram agricultores, como exigia a legislação brasileira. A vocação agrícola afirmada por muitos “colonos” era a possibilidade de fugir das dificuldades em seus países de origem e reconstruir a vida na “terra prometida”: a América.

Além das dificuldades práticas, encontradas no cotidiano dos imigrantes em solo brasileiro somaram-se os problemas oriundos do campo político. Desse modo, a colonização foi, praticamente, suspensa nesse momento histórico da Colônia brasileira com a iminência de uma revolução no sul. Para Roche (1969, p. 99), “[...] as crises políticas que sobrevieram no Rio de Janeiro e, depois no Rio Grande do Sul paralisaram a colonização a partir de 1830 [...] a Lei do Orçamento, de 15 de dezembro de 1830, suprimia todos os créditos para a colonização estrangeira”.

Nesse contexto, resgata-se a concepção de Lando; Barros (1992, p. 28)

Ao ser posta em execução esta lei, o Governo devia grande soma aos imigrantes, além de instrumentos de trabalho e animais, prometidos quando da sua chegada à colônia. Além disso, o trabalho de demarcação de terras (que se iniciara para por fim ao descontentamento dos colonos) teve de ser interrompido, em conseqüência da referida lei, que impedia a Província de realizar qualquer empreendimento em prol da imigração.

A impossibilidade do colono de naturalizar-se e, assim, adquirir direitos relativos à vida comunitária e política constituiu-se em um entrave para a imigração, a qual teve na Lei de 23 de Outubro de 1832 uma solução. Nesse sentido, Roche (1969), salienta que a promulgação da referida Lei dispôs sobre a naturalização para os imigrantes que já estavam no país a quatro anos, como proprietários de terras ou exercendo outra função útil. Essa lei exigia comprovação de idade, de residência, de propriedade e o pagamento de uma taxa para que o colono pudesse se naturalizar.

A legislação brasileira evidenciou a oposição à política imperial de colonização. A idéia inicial, do imigrante como solução, tornando-se colono, para desenvolver a agricultura e efetivar a mão-de-obra livre e branca, não necessariamente, agradou a todos os setores que detinham o poder no Brasil.

O Ato Adicional de 12 de Agosto 1834 transferiu para as províncias a competência sobre a colonização. No entanto, a contradição reside no fato das províncias não possuírem patrimônio próprio e, por conseqüência, não poderia fundar colônias agrícolas. (ROCHE, 1969).

Tal situação demonstra as contradições da legislação e a falta de organização de políticas migratórias por parte do Estado. Houve um desinteresse do legislador em amparar legalmente o imigrante, pois a cada nova lei, as exigências se tornavam maiores e os direitos cada vez menores.

Para a Capitania, elevada em 1824 a condição de Província do Rio Grande de São Pedro do Sul, particularmente, o Ato Adicional veio acompanhado da iminência da Revolução Farroupilha (1835-1945), que de certa forma, paralisou a questão da colonização por dez anos.

A Guerra dos Farrapos interrompeu o fluxo imigratório em 1830 e este só foi retomado com mais intensidade a partir de 1845. (SEYFERTH, 1988). O movimento revolucionário, além de inviabilizar a imigração, em virtude dos conflitos, dificultou os serviços de estatística, devido à incerteza administrativa das terras gaúchas, pertencentes ora ao Império, ora aos revolucionários. (FEE, 1981).

Os imigrantes que já se encontravam assentados em solo gaúcho, sobretudo alemães, viram-se em meio do conflito deflagrado entre os farrapos e os imperialistas. A situação de guerra foi um dos principais motivos que os trouxeram para o Brasil, sendo que, naquele momento, passaram a vivenciar a mesma situação de seu país de origem.

Ao findar a Revolução Farroupilha, o processo migratório inseriu-se no segundo período da primeira fase (1848-1874), ficando a cargo da colonização provincial. Desse modo, Roche (1969, p. 101) enfatiza que “A colonização regeu-se por duas séries de leis votadas pela Assembléia Geral e pela Assembléia Provincial”. (Quadro 1).

A Lei Geral de 28 de Outubro de 1848 estabeleceu que cada província recebesse do Império 36 léguas quadradas de terras devolutas, exclusivamente reservadas a colonização. O trabalho escravo não era permitido nas mesmas e, a exploração das terras deveria ocorrer no máximo em cinco anos, a fim de que os colonos se tornarem proprietários. (ROCHE, 1969).

Essa Lei procurou de certa forma, transpor os obstáculos à colonização e acabar com as contradições da legislação29, pois permitiu a criação de colônias provinciais e regeu o domínio territorial da Província até a Proclamação da República.

Com intuito de regulamentar a aquisição de terras devolutas, a Lei de 18 de setembro de 1850 estabelece que o único título válido fosse à compra e não mais a concessão de terra. Nesse sentido, Giron (1992, p. 53), diz que

A terra, que antes de 1850 era símbolo de status social, após a Lei nº. 601 de 18 de setembro de 1850, passa a ser tratada como mercadoria, e, como tal, será transacionada. Esta Lei dispõe sobre o aproveitamento das terras devolutas do Império, fixando as diretrizes, tanto para a legalização das sesmarias já existentes, como para a estruturação das colônias para nacionais e estrangeiros. A partir de sua promulgação, as terras só poderão ser adquiridas mediante a compra. Ao mesmo tempo em que fixa a forma do pagamento das terras cria a Repartição Geral das terras. Esta seria a responsável pela formação e administração das colônias, venda das terras e legalização das mesmas.

Essa Lei constituiu-se num marco divisor para os imigrantes, pois os colonos que vieram para a Província do Rio Grande de São Pedro do Sul antes de 1950 tiveram a oportunidade de receber os lotes via concessão. Neste caso, era determinado um prazo para a exploração do mesmo, mas não era cobrado um preço pela terra, apenas deveriam torná-la produtiva, via agricultura. Já, os imigrantes que vieram após 1950, além das obrigações anteriores, como ter que desbravar e explorar os lotes, a Lei Geral de 1850 imbuiu a obrigação de torná-la produtiva e lucrativa, para que se pudesse pagar pela mesma, sob o risco de perdê-la.

Através dessa Lei houve um grande número de colônias particulares fundadas devido a sua interpretação especiosa. As exigências para a legitimação da posse da terra eram poucas e as legitimações de complacência permitiram a apropriação de milhares de hectares. (ROCHE, 1969).

No que se refere ao processo de colonização regido pela Província, Roche (1969, p. 102) salienta que

No momento em que a Província tomou a colonização sobre si, julgou-se necessário favorecê-la, pois a escravatura passava por uma crise e a agricultura suscitava grandes esperanças. A Província sente, pois, a necessidade de dar a colonização ampla base regulamentar.

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A contradição refere-se ao Ato Adicional de 12 de Agosto de 1834, que tornou a competência da colonização a cargo da província, sendo que essa não possuía patrimônio próprio. Pois as terras eram de propriedade do Império.

Neste sentido, o autor enfatiza a criação de duas leis. A primeira refere-se à