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O processo migratório Europa-Brasil tornou-se uma alternativa eficaz para colonizar o País e, sobretudo, o Rio Grande do Sul, porção meridional do território nacional. Essa detinha vastas extensões de terras a serem ocupadas, embora já houvessem se inserido imigrantes alemães a partir de 1824. O progresso obtido com a chegada dos alemães foi notório na Província do Rio Grande de São Pedro31.

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De 1807 a 1824 o Rio Grande do Sul foi elevado a Capitania Geral de São Pedro. E, de 1824 a 1889, constituiu a Província do Rio Grande de São Pedro do Sul. (FEE, 1981).

Houve um significativo crescimento da população e desenvolvimento da atividade agrícola, além da pecuária já implantada na porção centro-sul.

Dessa forma, o número de municípios crescia naturalmente, aumentando a cada nova divisão administrativa. Os quatro municípios iniciais criados em 1809, tornaram-se cinco em 1822, as vésperas da inserção alemã na então Capitania Geral de São Pedro, mais a Província das Missões. Quando se iniciou a Revolução Farroupilha, em 1835, o território riograndense estava dividido em catorze municípios, sendo que, na década anterior a imigração italiana, em 1860, os municípios existentes na Província já somavam vinte e oito. (FEE, 1985). (Quadro 6).

Pode-se observar que, os municípios criados até 1860 já apresentavam inúmeras vilas e povoados que, posteriormente, se tornariam sedes municipais. O surto de expansão socioeconômico experimentado até então, apresentou significativo aumento, à medida que novos contingentes populacionais adentravam a Província.

No entanto, a homogeneidade das colônias fundadas, essencialmente, com imigrantes de origem alemã e a necessidade de aumentar a expansão da agricultura em pequena propriedade, fizeram com que o Governo Imperial criasse uma série de colônias sul-rio-grandenses a serem ocupadas pelos imigrantes italianos. (THOMAS, 1976).

Para tanto, entre 1870 e 1872, o Governo Imperial decidiu povoar outras áreas da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul para intensificar a produção nacional e executar o princípio de ocupação do solo. (GOBBATO, 2002).

Dessa forma, prosseguiu o processo migratório, onde os italianos passaram a suplantar os alemães em número. A finalidade a que se destinaram era idêntica a dos alemães, ou seja, desenvolver os lotes através de atividades agrícolas, como exigia a legislação32.

A Itália como fornecedora de imigrantes para o Brasil teve, assim como na Alemanha, uma situação conturbada na qual predominava a miséria, a fome e os conflitos, que expulsavam a população rural do campo, aumentando a pobreza da população. (GARDELIN, 2002).

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Municípios Povoados Porto Alegre Porto Alegre (capital), Nossa

Senhora dos Anjos da Aldeia (Gravataí), Pedras Brancas (Guaíba), Barra (Barra do Ribeiro), São Sebastião do Caí, Viamão, Santa Cristina do Pinhal

Alegrete Rosário, São João Batista do Quaraí

Bagé Dom Pedrito

Cachoeira Cidade de Cachoeira

Caçapava Vila de Caçapava, Santo Antonio das Lavras, São Sepé

Canguçu Vila de Canguçu, Cerrito (Freire) Conceição do Arroio Vila da Conceição do Arroio

(Osório), São Domingos das Torres (Torres)

Cruz Alta Campo Novo, Santo Ângelo, São Marinho, Vilinha (Palmeira das Missões) Dores do Camaquã Vila de Dores do Camaquã (hoje

Vasconcelos), São João Batista do Camaquã

Encruzilhada Vila de Encruzilhada

Itaqui Vila de Itaqui, São Francisco de Assis, Santiago do Boqueirão

Jaguarão Cidade de Jaguarão, Arroio Grande, São João Batista do Erval, Santa Isabel dos Canutos (anta Isabel do Sul).

Passo Fundo Vila de Passo Fundo, Nonoai, Soledade

Pelotas Cidade de Pelotas

Piratini Vila de Piratini, Cacimbinhas (Pinheiro Machado)

Rio Grande Cidade de Rio Grande, Santa Vitória do Palmar

Rio Pardo Cidade de Rio Pardo, Santa Cruz do Sul

Santa Maria Vila de Santa Maria, Rincão de São Pedro

Santana do Livramento Vila de Santana do Livramento Santo Antonio da Patrulha Vila de Santo Antonio da Patrulha,

São Francisco de Paula de Cima da Serra, Taquara, Vacaria, Lagoa Vermelha

São Borja Vila de São Borja, São Luis Gonzaga

São Gabriel Cidade de São Gabriel, São Vicente (General Vargas)

São José do Norte Vila de São José do Norte, Estreito, Mostardas

São Leopoldo Vila de São Leopoldo, Novo Hamburgo, Sapiranga, São José do Hortêncio

Taquari Vila de Taquari, Estrela, Arroio do Meio, Santo Inácio (Lajeado)

Triunfo Vila de Triunfo, São João do Montenegro, Santo Amaro, São Sebastião Mártir (Venâncio Aires)

Uruguaiana Vila de Uruguaiana.

Quadro 6: Divisão político-administrativa da Província da Capitania Geral de São Pedro em 1860 Fonte: FEE, 1981.

Org.: BRUM NETO, H.

A migração Itália-Brasil relaciona-se a alguns fatores primordiais que possibilitaram originar os fluxos populacionais entre esses dois países, como afirma Giron (1992, p. 65)

A conjuntura da Europa Ocidental, no último quartel do século XIX, reestruturou-se, as transformações socioeconômicas e políticas apresentavam condições propicias para a migração da população carente, alijada do progresso da “Idade do Ouro” do continente. A situação apresentava-se mais propícia ao movimento internacional da força de trabalho nas regiões onde a miséria e a falta de um mercado de trabalho, que pudesse assimilar a mão-de-obra excedente, somavam-se a instabilidade política. Este era o caso da Itália. O movimento emigratório vai propiciar, por outro lado, uma movimentação de capitais apreciável. A emigração passa a ser um fenômeno desejável, tanto para acalmar os grupos políticos antagônicos, como para desafogar o País da pressão social, criada pelo crescimento demográfico e pela capacidade de absorção, pelo mercado, da mão-de-obra disponível.

Diante dessa situação, a propaganda dos agentes incentivando a migração da Europa para a América, com promessas de melhores condições de vida aumentou o interesse dos italianos em emigrar da Itália. O Brasil e, particularmente, a Província do Rio Grande de São Pedro do Sul apresentavam situação oposta à encontrada na Itália. Destaca-se a disponibilidade de terras, a necessidade de mão-de-obra, o desenvolvimento da agricultura e os incentivos políticos e econômicos do Governo Imperial. Nesse sentido, Giron (1992, p. 65) constata que “[...] um fluxo ligando o condicionamento emigratório da Itália e a necessidade de imigrantes no Brasil serviria aos interesses socioeconômicos dos dois países. O ônus da imigração ficou com este e os lucros da emigração com aquela”.

O Brasil necessitava de contingentes populacionais para ocupar os “vazios” demográficos, enquanto isso, na Itália, havia um excedente populacional pronto para

emigrar em buscar de melhores condições de vida. Tal situação representou a expulsão da porção mais carente da população italiana. Desse modo, o “problema” italiano, ou seja, o excesso populacional tornou-se a solução para a ocupação do território brasileiro.

Tendo como base os problemas políticos, econômicos e sociais na Itália, as principais localidades italianas que cederam imigrantes centraram-se, sobretudo, no norte, onde a crise era maior. Com destaque para a região como o Vale do Pó, principalmente, nas províncias de Vêneto, Bellum, Treviso, Piemonte e Toscana. (GARDELIN, 2002).

Na Província do Rio Grande de São Pedro do Sul, os imigrantes ocuparam a Serra Gaúcha, porção do território situada no Planalto da Bacia do Paraná e no seu Rebordo. Referindo-se a essa porção do território gaúcho, Gobbato (2002), diz que a mesma foi escolhida por ser de propriedade do Governo e mais próxima de Porto Alegre. A proximidade com a capital facilitaria o deslocamento até as colônias e a comercialização da produção.

Conforme salienta Giron (1992, p. 61), “[...] em 1872 a população da Província possuía 5/6 concentrados na Depressão e no Litoral e apenas 1/6 na Encosta Inferior do planalto”. Sabe-se que, as áreas mais planas foram povoadas inicialmente, pelos portugueses, espanhóis, africanos e açorianos. Os alemães expandiram-se pelos vales da Depressão até as encostas inferiores da Serra Geral, não adentrando as maiores altitudes. Coube aos italianos, então, a colonização da Encosta Superior da Serra.

Relativo ao acesso dos imigrantes italianos a esses compartimentos geomorfológicos, Thomas (1976, p. 22), salienta que “[...] encontraram maiores dificuldades do que os alemães. Isto foi provocado pelo penoso acesso aos seus lotes devido ao terreno acidentado”. Tal dificuldade deve-se a necessidade de transpor o Rebordo do Planalto da Bacia do Paraná, cujos desníveis são característicos.

Esses compartimentos geoemorfológicos representaram uma verdadeira “barreira natural” ao povoamento das terras altas do Planalto, pelos povos que integravam a Província do Rio Grande de São Pedro até a inserção italiana, que representou a efetiva ocupação da porção nordeste do território gaúcho.

A paisagem colonial do nordeste gaúcho é enfatizada por Giron (1992, p. 61), quando a autora diz que

A região colonial, situada na encosta superior do planalto, entre os vales do rio Caí e do rio das Antas, limitava-se ao norte com os Campos de Cima da Serra, ao sul com as colônias alemãs, isto é, do vale do rio das Antas ao do Caí. A região serve como divisor de águas dos afluentes da Bacia Central e dos da Bacia do Rio Uruguai. As altitudes variam de 600 a 900 metros, sendo que, em altitudes superiores a 300 metros, existia densa floresta de pinhais, enquanto ao longo das margens escarpadas dos vales da garganta dos rios do Planalto, existiam mata de galeria. A existência destas impediu a tomada dos agricultores dos vales e dos pastores das pradarias, reservando a região para outros tipos de povoadores.

Seguindo essa linha de pensamento, Roche (1969), salienta que as colônias italianas se estabeleceram na borda superior da Serra, onde o solo estava exposto à erosão mais intensa devido a umidade. Situação que submetia a produção agrícola a condições mais severas que as experimentadas pelas colônias teuto-brasileiras.

Mesmo assim, foram fundadas as três primeiras colônias italianas na Província, em 1874: Caxias, Conde D’eu (Garibaldi) e Dona Isabel (Bento Gonçalves). A estrutura dos núcleos ocorreu com base na origem de seus habitantes e, também, pelo dialeto que falavam. (GARDELIN, 2002).

Teve início, então, a inserção “em massa” de uma etnia essencial para a formação do Rio Grande do Sul, a italiana. Um povo trabalhador, que trouxe, além do passado de miséria para contar, muita vontade de melhorar suas condições de vida através do trabalho, ou seja, vieram para “fazer a América”. Nem mesmo as dificuldades impostas pelo ambiente natural foram empecilhos para a reconstrução das suas vidas na nova terra. Atualmente, a chamada “Serra Gaúcha” é uma das porções do Estado mais desenvolvida em termos econômicos, alicerçadas pelas atividades ditas “coloniais”, com destaque para a produção de uva, vinho e o turismo. Além disso, a “região colonial antiga” do Rio Grande do Sul compreende o segundo maior parque industrial do Estado, tendo como pólo Caxias do Sul, uma das três primeiras colônias italianas instaladas em solo gaúcho.

Referindo-se a ocupação da Serra gaúcha, Roche (1969, p. 51) enfatiza

A floresta de araucária, que se estende entre Caxias e Marcelino Ramos, isto é, entre o vale superior do Caí e do Pelotas, na zona setentrional do Planalto, foi explorada antes por lenhadores, depois por colonos de origem italiana, que partiram das colônias estabelecidas desde 1874 na parte superior da borda da Serra, entre os vales dos rios Caí e Taquari-Antas.

Os italianos colonizaram as áreas até então preteridas, inicialmente, pelos portugueses e açorianos e, posteriormente, pelos alemães. Efetivaram o povoamento da Serra, caracterizado pela declividade acentuada e de difícil acesso.

A conjuntura de fatores que organizaram essa porção do espaço gaúcho proporcionou a construção de uma paisagem típica, na qual os códigos culturais italianos materializaram-se no espaço, impressos como uma “marca”, ou seja, são visíveis no espaço.

O êxito obtido pelas primeiras colônias italianas fez com que logo surgissem outras, como Silveira Martins, Alfredo Chaves (Veranópolis), Antônio Prado, Guaporé e Vila Nova. (THOMAS, 1976).

Destaca-se a fundação da colônia de Silveira Martins (1889), na porção central da Província, composta por vários núcleos que originaram os atuais sete municípios que a compõe. A partir de Silveira Martins, núcleo inicial, denominado inicialmente de Cittá Bianca, surgiram mais seis povoados: Núcleo do Norte (denominado também de Nova Udine e, atualmente, Ivorá), Nova Palma, Dona Francisca, São João do Polêsine, Faxinal do Soturno e Pinhal Grande. Ressalta-se que, esses núcleos da colonização italiana no centro do Rio Grande do Sul, constitui-se, hoje, a Quarta Colônia de Imigração Italiana do Rio Grande do Sul.

A prosperidade dos primeiros núcleos coloniais originou as vilas e, depois, as cidades, onde o imigrante italiano atuou como agente modelador da paisagem, tornando-a uma forte expressão da sua cultura, tanto na zona rural quanto na urbana. (BRUM NETO, 2004).

Mesmo longe da “Serra Gaúcha”, a Quarta Colônia guardou os traços comuns a cultura italiana, além da colonização em áreas mais declivosas, pois abrange tanto o Rebordo como o Planalto da Bacia do Paraná. Em geral, as sedes municipais foram instaladas em vales, entre as montanhas, com uma paisagem típica semelhante àquelas encontradas na tradicional região colonial italiana do Rio Grande do Sul.

Além disso, destaca-se que, a formação de um núcleo colonial no centro do Estado facilitou a propagação da cultura italiana nas proximidades, bem como sua integração com as demais etnias que já estavam instaladas nessa porção do espaço gaúcho. A partir da Quarta Colônia vários municípios próximos receberam imigrantes ou mesmo seus descendentes, como Jaguari, Restinga Seca, Santa Maria, São Sepé, Caçapava do Sul, dentre outros.

A partir da inserção italiana no Rio Grande do Sul, vários costumes até então desconhecidos passaram a fazer parte do cotidiano dos gaúchos. Novas formas de organização do espaço via costumes típicos, materializaram-se no espaço e

tornaram-se conhecidos dos demais povos que já habitavam o território gaúcho. Dentre alguns costumes, Gardelin (2002), salienta as particularidades quanto à organização da casa italiana. As casas, geralmente, eram construídas com tábuas verticais sob alicerce de basalto, que servia de porão, que era utilizado como adega, atestando a importância da vinha para o italiano. Entretanto, o autor diz que, inicialmente, a casa era mais rudimentar, em virtude das próprias condições a que o colono estava submetido. Chegou ao Brasil, praticamente, sem condições econômicas, pois fugira da miséria na Itália. No território gaúcho recebeu somente as ferramentas necessárias para exploração do lote e algumas instruções quanto ao uso dessas ferramentas e a exploração inicial do lote.

Destaca-se que, a casa colonial “típica” somente pode ser materializada quando o imigrante teve condições socioeconômicas para realizar a construção da mesma. Tanto que, na colônia de Silveira Martins, a denominação inicial foi Cittá

Bianca, devido à precariedade das instalações iniciais a que os imigrantes estavam

submetidos, em cabanas cobertas por lençóis brancos.

Assim como o alemão, o italiano teve que se adaptarem as condições iniciais da formação das colônias, ou seja, tudo deveria ser construído, pois a única coisa que existia era a mata. Com uma ressalva, o italiano, diferente do alemão, recebeu lotes de terra em terreno mais declivoso e, portanto, mais difícil de ser colonizado, ou seja, cultivado.

No momento da instalação no lote, obviamente, a primeira atitude foi construir um “abrigo”, ou seja, uma forma mais primitiva de habitação até que tivessem condições de melhorá-la. Nesse sentido, Gardelin (2002), descreve a casa inicial como sendo de bambu, com apenas quatro paredes, sem divisão interna, coberta com tábuas. Posteriormente, é que utilizou-se telhas para a cobertura.

A casa em estilo colonial italiano possuía características singulares, com destaque para a cozinha, que era separada do restante da casa, uma vez que, constituía a “casa de comer”. Essa parte da casa italiana destinava-se a atividades como cozinhar, tomar banho, lavar roupas, orar e para reuniões. A outra construção, separada da cozinha, constituía a residência. (GARDELIN, 2002).

Considerando-se as atividades diárias do colono italiano em virtude do trabalho a ser realizado, infere-se que, a casa de comer era ocupada na maior parte do tempo, devido às atividades realizadas na mesma. Tal fato demonstra a

importância da cozinha para essa etnia, geralmente, compondo a maior peça da casa.

Ressalta-se que, a atividade agrícola ocupava grande parte do tempo do imigrante italiano, que já se dedicava à agricultura em seu país de origem. Com o sucesso da colonização, deram continuidade a essa atividade, tendo como principais culturas a vinha, o trigo, o milho e o arroz. Além desses produtos, cultivavam a mandioca e o feijão para subsistência, sendo que a atividade agrícola era desenvolvida por toda a família. Praticavam, também, o sistema de rotação de culturas, visando manter a fertilidade do solo. (GARDELIN, 2002).

A videira acompanhou o colono italiano desde a sua chegada ao Sul do Brasil e passou a ser cultivada em território gaúcho, assim como o faziam em sua terra de origem. Tal cultura tornou-se um marco referencial da etnia italiana no Rio Grande do Sul, capaz de identificá-los mediante uma atividade específica. Com a implantação e o desenvolvimento da indústria do vinho no Estado, a uva tornou-se a marca característica das colônias ítalo-brasileiras. Os primeiros parreirais foram implantados nas proximidades das residências, facilitando, o acesso às mesmas, situação que permanece ainda hoje e pode ser observada, principalmente, no vale dos vinhedos, na Serra Gaúcha.

A produção de vinho artesanal, requeria que a uva fosse esmagada com os pés, em caixas denominadas “largar” (mais largas na parte superior e estreitas na parte inferior, onde apresentavam orifícios para que saísse o líquido). O vinho da colônia, não possuía mistura de outras substâncias e, nem de álcool33, sendo presença constante na mesa do imigrante italiano. (GARDELIN, 2002).

A materialização da atividade vitivinícola praticada pelos colonos italianos é enfatizada por Denis (1951, p. 237), quando afirma que “[...] é no planalto interior que se estendem os vinhedos. Nos vales, dispersos nos campos, vêem-se casas brancas e um povoado semelhante a uma aldeia européia”.

Vivenciando uma nova realidade, os colonos tiveram que se adaptar ao meio, devido às condições de tempo específicas impostas pela posição geográfica e, também, pelo relevo onde estava assentada sua colônia. Tendo como base a sazonalidade, costumavam podar as videiras em agosto, para que a brotação ocorresse somente na primavera, pois a ocorrência de geadas durante o inverno

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Com alto teor alcoólico, o imigrante italiano produzia a “graspa”, aguardente feita a partir da casca da uva e, muito consumida durante as festividades típicas da colônia.

poderia queimar os brotos, o que viria a prejudicar a safra de uva. (GARDELIN, 2002).

A uva tornou-se um dos produtos característicos dos colonos, ocupando grandes extensões de terras nos núcleos formados pelos imigrantes italianos. Mas a agricultura desenvolvida na Serra Gaúcha também primou pela diversificação, através dos cultivos para a subsistência e para a comercialização do excedente em feiras livres nas proximidades da colônia, que gerava a renda para o pequeno agricultor ao longo do ano.

Com o desenvolvimento e organização dos lotes, os imigrantes puderam retomar as práticas cotidianas mais comuns da sua cultura, com algumas alterações nos seus hábitos. A transposição no espaço via migração pressupõe a readaptação ao novo meio34. Desse modo, destaca-se a culinária italiana, código cultural que também teve que adaptar-se a nova realidade, pois nem sempre os ingredientes utilizados na Itália eram encontrados no Brasil, acarretando a readaptação de alguns pratos típicos.

De acordo com Gardelin (2000), a gastronomia italiana tem como destaque os pães, as massas e a polenta. A polenta chamada de colonial, conhecida no Rio Grande do Sul, não era a mesma consumida em seu país de origem. Embora, na Itália houvesse comidas à base de milho, eram diferentes da nostra polenta. O que os imigrantes conheciam era a “mosa”, uma mistura de farinha de milho, água, sal e leite, de consistência mais mole, à qual se acrescentava queijo ralado. Além disso, era muito conhecida na península itálica a canjica, preparada com milho quebrado e descascado no pilão, cozido com leite, onde acrescentavam sal ou açúcar, ou ambos.

Pode-se constatar que, houve um esforço por parte do imigrante em adaptar- se a nova realidade, através da miscigenação entre os costumes de sua origem e, os que adotaram em função das dificuldades que se apresentavam, bem como os obstáculos que tinham que transpor para realizarem efetivamente a colonização em