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VALORIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE, EM BELÉM DO PARÁ, DE 1997 A 2004.

2.2 Um governo de Frente Popular no contexto do capital

2.2.2 As bases programáticas do governo de Frente Popular, em Belém.

Os programas de governo de 1996 e de 2000, apresentados pela Frente Belém Popular, esboçavam, para as políticas sociais, planos de ações na área da saúde, com diretrizes de atenção à saúde da mulher e da criança, saúde mental, saúde do trabalhador e saúde bucal. Na educação, o programa apresentou a discussão sobre a democratização de acesso e permanência com sucesso, na escola, a gestão democrática e a valorização dos profissionais da educação, dentre inúmeros outros pontos importantes, que apresentaremos nesta subseção.

Sobre o desenvolvimento econômico, o ponto mais forte do Programa de 1996, foi a discussão sobre a geração de emprego e renda, principalmente com programa de transferência de renda, na forma de Bolsa Escola, destinada às famílias cadastradas que não possuíam renda. Essa medida administrativa visava garantir o acesso à educação de crianças em situação de risco.

O Programa Bolsa Escola é um pacto entre o Governo Municipal e a população de Belém. O Programa consiste em garantir à família, cuja renda per capita seja inferior ou igual a ½ salário mínimo, residente em Belém pelo menos três anos, receber um salário mínimo por mês, tendo como contrapartida manter suas crianças e adolescentes na faixa de 04 a 14 anos na escola com freqüência mínima de 90% e fora do trabalho infantil. (BELÉM, 1999, p. 10).

Esse programa foi uma marca importante, durante as duas gestões do governo de Frente Popular, em Belém, e, também, é parte dos mecanismos instituídos por organismos internacionais, como o Banco Mundial, que orientam a adoção de programas compensatórios para parcela da população miserável. Ou seja, há uma acentuada ênfase na política de focalização social, na educação.

Ao instituir a bolsa-escola, como política não universalizante, o governa mantém a exclusão social, obrigando o indivíduo e sua família a aguardar a transferência mensal de

renda feita pelo Estado, ao mesmo tempo em que diminuem as possibilidades de acesso ao trabalho. Essa obrigação, pela espera, era importante para o governo, que pagava um salário mínimo mensal vigente, a quem fosse selecionado, no crivo da disputa entre os mais pobres, cujo critério se relacionava à condição de desempregado e à existência de filho(os) matriculado(s) na rede municipal de ensino.

Segundo as ‘Diretrizes Programáticas da Frente Belém Popular - 2001/2004’, “o

Governo do Povo através da marca Dar Um Futuro a Criança implantou a Bolsa Escola que já beneficiou mais de 26.713 (vinte e seis mil, setecentos e treze) crianças.” (FRENTE BELÉM POPULAR, 2001, p. 10).

Vale ressaltar os preceitos que norteiam a concepção de um programa de focalização, como o da bolsa-escola:

A focalização dos recursos disponíveis nos setores de extrema pobreza justifica a tese de Milton Friedmann para o qual a responsabilidade da esfera pública deve abarcar apenas os programas dirigidos aos segmentos estritamente pobres. (SIMIONATTO; NOGUEIRA, 2001, p. 23).

Os autores destacam que o fato de serem “programas” já envolve limitações no sentido da universalização, principalmente, quando tais programas são dirigidos aos seguimentos pobres o que obviamente, e que isso não significa tirar dos ricos para dar aos pobres, num papel robinwoodiano, mas ampará-los na pobreza. Os programas são parte de políticas mais gerais com referência a algum aspecto da realidade; não são políticas gerais e universalizantes, a partir de concepções estratégicas sobre o desenvolvimento das ações do governo, na educação, por exemplo.

O governo de Frente Popular desenvolveu mecanismos de participação como, por exemplo, o orçamento participativo (OP) que pretendia, segundo o Programa de Governo da Frente Belém Popular (1996), estimular a atuação dos cidadãos, por meio de representações surgidas em plenárias temáticas e regionais, que constituíam os diversos Fóruns de Delegados, que se reuniam em encontros semestrais para sugerir e debater as demandas de seus setores. Tais demandas eram enviadas para aprovação da Câmara de Vereadores, como proposta para a Lei Orçamentária, que deveria ser acompanhada, desde a aprovação até a execução, pelos conselheiros e delegados eleitos.

A partir daí, discutiam o espaço urbano de Belém, quando surgiam inúmeras propostas, como as de estímulo a sistemas de cooperativas habitacionais, saneamento, abastecimento de água e drenagem em áreas de baixada; questões do meio ambiente e de transporte coletivo. Enfim, discutiam políticas de infra-estrutura.

Esse mecanismo de participação, instituído pelo governo municipal de Belém, em 1997, balizou a administração pública, acentuando o debate sobre a gestão regionalizada, com descentralização organizacional e o estabelecimento de fóruns de diversos setores e canais de participação via Orçamento Participativo – OP, onde a população era chamada a reunir-se em assembléias de bairros, a fim de discutir ações estruturais que a prefeitura poderia realizar.

No segundo mandato do governo de Frente Popular, em Belém, houve uma redefinição de forma do OP, que passou a integrar o Congresso da Cidade, e este, na visão do governo, era “o mais amplo espaço de planejamento” (RODRIGUES; NOVAES, 2002).

De fato, o governo municipal atuou no sentido de democratizar o estado, incorporando, em alguma medida, a nova cultura de busca de consenso trazida com a lógica neoliberal. A busca de consenso sobre um programa que deveria, na concepção governamental, ser assumida por todos os agentes sociais; ou seja, os setores eram chamados a compreender os limites impostos pela sociedade do capital a um governo que se postulava como oposição ao regime do capital.

As contradições do governo também eram facilmente percebidas quando, por exemplo, da discussão de sua política salarial. Na medida em que o neoliberalismo impunha mecanismos de contenção de gastos com pessoal, para assegurar o ajuste fiscal, a prefeitura anunciava não poder reajustar os salários e, portanto, não poder atender às reivindicações salariais dos movimentos sociais, porque estaria impedido pela Lei de Responsabilidade Fiscal18. Uma Lei que estabelecia limites, segundo Bemerguy (2001), principalmente, à

contratação de pessoal pelo Estado, ao aumento do valor real da massa dos salários do funcionalismo, ao endividamento público e aos gastos sociais. Essa discussão esteve presente na maioria das mesas de negociação salarial entre representantes da prefeitura e sindicatos, como o SINTEPP.

18 Lei Complementar nº 101, de 4 de março de 2000, que, no campo normativo, tem o objetivo de regulamentar

Verificamos que o denominado Governo do Povo orientou a política salarial a partir dos mecanismos inibidores de reajuste no vencimento, com base na Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa opção governamental, certamente, foi um impeditivo de avanços na política de valorização profissional da educação.

Cabe uma verificação, mesmo que parcial, sobre o orçamento do governo municipal de Belém, no que concerne à receita geral e às despesas com pagamento de pessoal da rede, considerando alguma referência à educação.

TABELA 4

( #$

)*+ ,

ANO RECEITAS DESPESAS COM

PESSOAL ** %

1997 215.935.514,84 112.918.519,87 52,29% 1998 262.544.727,34 129.100.519,87 49,17% 1999 250.508.742,96 149.059.463,42 59,50% * Prefeitura Municipal de Belém (PA).

** Despesas com servidores no teto permitido em lei. Fonte: Jornal do IPAMB, 1999.

O quadro disponibilizado pela PMB, em seu jornal informativo, apresenta o orçamento e os gastos com pessoal, no período indicado, demonstrando que o dito Governo do Povo gastou, com o pagamento do funcionalismo público municipal, o correspondente ao teto estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal, que exige com pagamento de pessoal até 60% do total da receita, significando o cumprimento dessa norma.

Essa decisão exige uma consideração sobre os limites assumidos pelo governo, nessa política: ela considera a impossibilidade orçamentária para o cumprimento de exigências necessárias ao desenvolvimento qualitativo de direitos previstos no Estatuto do Magistério, como por exemplo, o pagamento da carreira docente. Essa opção orçamentária também considera a legitimação, por parte do governo de Frente Popular, das exigências dos parâmetros do sistema capitalista para o funcionalismo público.

Da mesma forma, é sugestiva a análise sobre o desenvolvimento da receita para o pagamento dos salários para os trabalhadores da educação, quando observamos os valores

apresentados, pela Prefeitura de Belém, no ano de 1999, último ano do primeiro mandato do governo. TABELA 5 - )*+ ./*/( 0 % # MESES Nº SERVIDORES ESTATUTÁRIOS DA SEMEC VALOR BRUTO DA FOLHA DA SEMEC TOTAL GERAL MENSAL DA PMB % JANEIRO 4.224 2.860.220,23 11.090.955,69 25,7% FEVEREIRO 4.177 2.470.211,92 10.835.491,77 22,7% MARÇO 4.235 2.588.162,25 10.993.844,24 23,5% Fonte: CINBESA, 1999

A tabela trabalha com o montante do pagamento dos salários do pessoal da ativa da SEMEC e demonstra, a partir do total da folha de pagamento de toda a rede, que os valores gastos com o salário dos trabalhadores da educação não atingiu 26% da folha mensal.

Dessa forma, cabe uma visão ainda mais detalhada sobre os gastos com a SEMEC.

TABELA 6

( #$ ! #$

)*+ 12 3