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VALORIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE, EM BELÉM DO PARÁ, DE 1997 A 2004.

2.1 A capital do estado do Pará em disputa.

A cidade de Belém, também conhecida como “cidade das mangueiras”13, cantada em versos e prosas por ser a cidade do cheiro-cheiroso do Pará, de uma densa riqueza cultural e do Círio de Nazaré14 que, hoje, é uma das maiores festas religiosas do país, foi também palco

de numerosos conflitos sociais, econômicos e políticos.

Um grande exemplo que marcou a história da capital e que tem reflexos até os nossos dias foi a Revolução dos Cabanos15, ocorrida de 1835 a 1840, que demonstrou a relação pouco harmoniosa da cidade de Belém com a metrópole, Portugal, mas também ressaltou as

13 Devido à quantidade de mangueiras encontradas em suas ruas.

14 Uma das maiores festas religiosas do Brasil, o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, considerado o Natal dos

paraenses, é realizado no segundo domingo de outubro, com grande procissão em direção à Basílica de Nazaré, cumprindo um ritual de mais de 200 anos.

15 Esse nome indicava a origem social de seus integrantes, os cabanos, moradores de casas de palha chamadas

inquietudes de um povo que vivia subjugado pelo poder imperial, como salienta o sociólogo Di Paolo (1990):

Belém do Pará viveu na sombra da história oficial desde sua fundação até a metade do século XVIII por conta do forte abandono de Lisboa. Em 1655 foi elevada à categoria de cidade. Assim, sua vida administrativa não decorreu tranqüila: seus primeiros cem anos foram constantemente agitados. Mas, neste período incubado de sua história, modelaram-se as relações sociais da estrutura política e econômica da Amazônia: uma história marcada pelo colonialismo selvagem dos conquistadores e pelas lutas dos índios em defesa de sua terra e de sua dignidade. (DI PAOLO, 1990, p. 63).

Esse pequeno relato histórico demonstra que Belém foi uma cidade onde, desde o início, seu povo viveu condenado à precariedade econômica e ao abandono por parte do poder oficial, e que isso estimulou, sobremaneira, a revolta dos cabanos, em 1835. Essa luta, a Cabanagem, foi uma luta popular que, pela sua importância histórica, tornou-se referência para o governo da Frente Belém Popular, a partir de 1997, que nomeou o seu principal projeto educacional Escola Cabana, como pontua, no prefácio, o Caderno de Educação nº 1, da Secretaria Municipal de Educação:

A Escola Cabana resgata no seu nome a Cabanagem. [...] A Cabanagem foi um dos mais legítimos, revolucionários e populares movimentos que marcaram o século XIX em nosso país. [...] A Cabanagem é uma página especial desta história. Depois de abrir mão de sua autonomia para constituir um só país, o povo paraense viu desfazerem-se todos os sonhos de liberdade, democracia e inclusão social que a incorporação ao Império Brasileiro trazia. Os mesmos governantes, inclusive de origem portuguesa, continuavam a mandar, com os mesmos privilégios e métodos. O povo humilde e valoroso de nossas cabanas, principalmente dos lugares à beira de nossos rios se levantaram em armas, milhares, como uma onda humana clamando por justiça, fim da escravidão e participação política. (PMB: SEMEC, 1999, p. 1).

O projeto Escola Cabana, desenvolvido em Belém, foi ousado e iniciou com muito esforço de ambos os setores, governo e trabalhadores da educação, pois, realmente, foi um projeto que exigiu muitas mudanças pedagógicas e políticas em diversos aspectos do ensino- aprendizagem, com inúmeras limitações em sua materialização, porque não poderia ser feito só por alguns coordenadores pedagógicos iluminados, mas deveria sê-lo por todo o corpo de trabalhadores envolvidos, tanto no ensino, quanto na aprendizagem.

As considerações sobre esse envolvimento do denominado Governo do Povo com os aspectos da Cabanagem são importantes para a análise das principais características do

governo e da situação do povo de Belém, na década de 1990. Essa importância emerge menos pelas perspectivas históricas de uma nova revolução popular na cidade – considerando que a vitória do governo da Frente Belém Popular foi uma vitória eleitoral e que o denominado Governo do Povo não se engajava na perspectiva de ser um governo do povo pobre, mas um governo de todos – e mais pelo fato de a cidade das mangueiras ainda apresentar índices enormes de descasos sociais e fortes embates políticos.

O resgate histórico da memória da luta do povo cabano e da Cabanagem, pelo novo governo, sem dúvida merece ser ressaltada, na medida em que a cultura das lutas populares e da resistência, desenvolvida pelo povo mais pobre no estado do Pará, esteve marcada por conflitos tão fortes, na história brasileira, que os inúmeros governantes trataram de suplantar tais referências.

2.1.1 A localização político-administrativa e social da cidade de Belém e do estado

do Pará

A cidade de Belém está situada na Região Amazônica. Uma região que tem uma área de 5.217.423 km², ou 61% do território brasileiro, e possui a maior bacia hidrográfica do mundo (que se estende por sete países vizinhos), tendo no rio Amazonas (7.100 km de extensão) o seu eixo, para o qual convergem mais de sete mil afluentes.

É uma região composta por 9 (nove) estados, sendo 7 (sete) localizados na Região Norte, que tem a mais baixa taxa de urbanização do país (57,8%, comparada à média nacional, de 75,5%). Por outro lado, a Região Norte, que é parte da grande Região Amazônica, teve uma taxa de crescimento anual de 3,9%, entre 1980 e 1991, e de 2,4%, no período 1991/199616. Esses são os maiores índices nacionais registrados pelo Fórum da Amazônia Oriental – FAOR (Texto online, s.d.).

Segundo dados do IBGE (2001), o Pará é o segundo maior estado da Região Norte. Tem uma área de 1.253.165 Km², a maior parte dessa extensão é coberta por florestas (73%).

16 É importante ressaltar que esta pesquisa trabalha, cronologicamente, com um período que vai de 1996 a 2004 e

Possui uma população de 6.192.307 habitantes; uma densidade demográfica de 4,94 habitantes e uma taxa de crescimento em torno de 2,94% ao ano.

O estado foi contemplado com a construção de grandes indústrias de minério e, principalmente, de capitalização de recursos hídricos, como a Hidroelétrica de Tucuruí que, segundo Novaes e Chaves (2006), responde por 90% da energia consumida no Pará, oferecendo apoio e infra-estrutura aos grandes projetos minerais na região.

Contraditoriamente, apesar de deter as maiores reservas de água doce do mundo e ser o quinto maior produtor de energia elétrica do planeta, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (2001), apesar de os 143 municípios do Pará contarem, por exemplo, com serviços de abastecimento de água, o total de domicílios contemplados, no estado, é de apenas 42%. Além disso, a captação e a qualidade da água ainda deixam a desejar, pois a Companhia de Saneamento do Pará (COSANPA) atende a apenas 1% da população total do estado com a coleta de esgoto sanitário. Os avanços no serviço de esgoto sanitário não foram muito significativos, pois constatou-se que mais da metade dos domicílios não contava sequer com um banheiro.

O estado do Pará possui a maior economia da região, segundo os dados da pesquisa de Novaes e Chaves (2006), com significativa participação no Produto Interno Bruto (PIB) total da Amazônia Legal: 31,4%. E dentro do estado, a cidade de Belém possui a terceira colocação entre os municípios com maiores participações no PIB per capita, com US$ 6.782.

O crescimento econômico da região, no entanto, foi direcionado essencialmente para o mercado externo, gerando reduzidos efeitos de multiplicação de renda e emprego no contexto regional. Apesar da implantação dos grandes projetos econômicos voltados para a industrialização de minérios, a maior parte das atividades econômicas desenvolvidas na região e que representam um montante considerável de geração de renda e emprego, com grande potencial de expansão, é constituída de pequenos negócios, desde a pequena produção agrícola até a transformação de bens primários em pequenas unidades produtivas (setor alimentar, de fármacos, de cosméticos, de metais, de madeira, etc.) ou de comércio. (NOVAES; CHAVES, 2006, p. 27).

Essas informações demonstram que o estado do Pará tem, na produção agrícola e no desenvolvimento do setor de serviço, um potencial considerável, que poderia ser direcionado para a ampliação da geração de emprego e renda.

Na grande Belém, os dados do IBGE (2003) mostraram que, enquanto as taxas médias de desemprego giravam em torno de 18,6% , o desemprego entre os jovens alcançou taxas de 32,00%. Essa situação tende a piorar, uma vez que a população juvenil vem crescendo a uma taxa média de 1,68% ao ano – taxa superior à de expansão do emprego.

Nesse sentido, vale ressaltar que há contradições entre a produção de riquezas geradas, no estado, e a situação social que aflige a população urbana e rural, no sentido de acesso aos bens econômicos produzidos.

Assim, mesmo com o potencial de produção econômica, o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, que expressa o acesso da sociedade a recursos básicos como poder de compra da coletividade, que se refere ao PIB per capita corrigido pelo custo de vida; o acesso à vida longa e saudável de todas as pessoas (expectativa de vida) e o acesso à educação (medida pela taxa de alfabetização de adultos), ainda está abaixo da média nacional como mostra tabela abaixo:

TABELA 2

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Regiões IDH municipal IDH educação IDH longevidade IDH Renda

Brasil 0,766 0,849 0,727 0,723 Região Norte 0,640 0,679 0,654 0,559 Pará 0,723 0,815 0,725 0,629 Fonte: INEP, 2006.

O que necessita de maior atenção é a situação da renda, na Região Norte, que é a menor de toda a média nacional. Além dos problemas na educação e na saúde, a Amazônia Legal tem também apresentado deficiências em outros indicadores sociais, tais como habitação, emprego, saneamento e segurança pública. Ressaltam, inclusive, no Pará, os conflitos fundiários e todos os problemas a eles associados.

Na área educacional, o analfabetismo ainda é grande, considerando que no Brasil, em 2004, 10,5% da população com 10 anos ou mais de idade era analfabeta, o que equivale a 15.755.656 brasileiros. Na Região Norte o número de analfabetos era de 1.308.829 da população residente. As taxas de

analfabetismo funcional das pessoas de 15 anos ou mais de idade é mais alta, com 24,8% no Brasil, 23,8% na Região Norte e 26,3% no Pará. (NOVAES; CHAVES, 2006, p. 30).

A capital, Belém, tem uma área territorial de 1.064,918 Km². Seu corpo populacional no, Censo de 2000, era de 1,28 milhões de habitantes. Apresentava um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,806 (PNUD, 2000) e um Produto Interno Bruto (PIB) de R$7.286.512.179,00. Os dados do IBGE mostram um nível de desenvolvimento abaixo da média nacional, que chega a 3%, apesar de apresentar um PIB razoável, no sentido de arrecadação financeira.

Em termos econômicos, Belém, segundo Martins (2003), ainda que com um PIB e uma renda média familiar das mais baixas entre as capitais brasileiras, é um importante centro regional, centralizando toda a atividade comercial e de serviços especializados de ampla região, particularmente no que se refere à indústria extrativa, no estado do Pará. Isso envolve desde serviços de informática a financeiros, médico-hospitalares e educacionais, delineando, assim, sua principal atividade econômica, tanto em termos de movimentação de recursos quanto de emprego. Também são consideráveis a produção de açaí, de hortifrutigranjeiros e a indústria de móveis.

A tabela 3 resume a distribuição de renda, em Belém do Pará, e a qualidade de vida, a partir do levantamento apresentado por Martins (2003).

TABELA 3

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