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1950

Neste capitulo busca-se caracterizar as instituições públicas de Ensino Básico profissional técnico agrícola brasileiro, em particular a EPA de Macaíba/RN, enquanto estrutura física de funcionamento buscando identificar as edificações originárias do Campo de Demonstração Agrícola e usufruto da Escola Prática de Agricultura.

De forma peculiar, as Escolas de Ensino Agrícola brasileiras foram implantadas em fazendas já existentes nos municípios, pela Lei n. 8.319/1910. Tal ocorrência se deu também com a EPA, a qual absorve arquitetura preexistente advinda de um passado que é remetido tanto ao período do Engenho Jundiaí, quanto da Fazenda Jundiaí, regulamentada como Fazenda Modelo pelo Dec. 63/1917-RN, quando da instalação do Campo de Demonstração Agrícola de Macaíba/RN.

4.1. AS ESTRUTURAS DE FUNCIONAMENTO DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO BÁSICO PROFISSIONAL TÉCNICO AGRÍCOLA BRASILEIRO

Retomando o Decreto 8.319, de 20 de outubro de 1910, que normatiza a instrução técnica profissional relativa à agricultura e às indústrias correlativas, compreendendo o ensino agrícola, medicina veterinária, zootecnia e indústrias rurais (BRASIL, 1910). Tratar- se-á neste tópico das condições requeridas neste instrumento normativo para instalação e funcionamento de instituições de ensino profissional agrícola brasileiro, ou seja, destinavam- se aos campos de demonstração e de experimentação, incluindo a instalação em fazendas experimentais. O Artigo 550 deste Decreto determina que Governo Federal prestaria auxilio para a fundação de uma Escola Prática de Agricultura, em cada um dos Estados da República e no Distrito Federal, na forma estabelecida no art. 547.

De forma geral, as instituições de ensino profissional brasileiras para atender a clientela escolar deveriam enquadrar em exigências gerais desse Decreto, a saber:

● Dispor os campos de demonstração de áreas necessárias a fim de propiciar e divulgar os conhecimentos práticos de agricultura, assim como deveriam ser estabelecidos em terrenos que reúnam as condições exigidas, pois seriam geograficamente divididos em parcelas distintas, visto destinarem-se a

demonstração do produto, bem como servir de testemunho do cultivo de acordo com o método adotado;

● Oferecer os campos de demonstração de instalações adequadas para bonificação dos produtos de suas culturas, de uma galeria de máquinas agrícolas, de depósitos de estrumes, sementes e adubos, também de instalações necessárias para criação de pequenos animais domésticos, apicultura e sericicultura;

● Dispor os campos experimentais de condições adequadas e acessíveis para o desenvolvimento das atividades práticas do ensino prático da agricultura, em seus diferentes ramos, por meio de demonstrações e culturas das plantas úteis, em especial àquelas comuns à região em que se acharem estabelecidas e com auxílio de práticas referentes à zootecnia e às indústrias rurais;

● Oferecer as fazendas experimentais qualidades satisfatórias para as explorações agrícolas, de caráter particular com todas as dependências e instalações próprias a uma fazenda modelo, para que se obtenha o maior rendimento possível de cultura do solo, da pecuária e das indústrias rurais, e regidas por um serviço completo de contabilidade agrícola.

Ressaltando essa normatização que as fazendas experimentais deveriam possuir além da área destinada aos campos de experiência e demonstração, a superfície necessária para as culturas normais das plantas que tiverem servido de objeto, às suas experiências e demonstrações. Dessa forma, as fazendas experimentais deveriam estar estruturadas com as seguintes divisões: agricultura, zootecnia, indústrias rurais. Tais divisões compreendendo suas respectivas instalações.

A divisão de agricultura englobaria as seguintes estruturas e equipamentos: depósito de máquinas e utensílios agrícolas; aparelhos e utensílios necessários ao beneficiamento dos produtos agrícolas; instalação para depósito de sementes, adubos, produtos agrícolas, celeiro para grãos, estrumeira, instalações para animais de trabalho e mais dependências; campos de experiência; campos de demonstração; prados naturais e artificiais; terrenos de cultura; horta, jardim e pomar; reserva de terrenos de mata.

A seção de zootecnia abrangeria as seguintes dependências: Instalações para criação de animais de acordo com os fins a que se destina a fazenda, instalações para agricultura, sericicultura, dentre outras.

A seção de indústrias rurais comportaria as instalações de laticínios, a indústria de destilação, fecularia, conservação e embalagem de frutas, e outras necessárias, conforme o programa de organização da escola a que deve ser anexa à fazenda.

Quanto as estações de ensaio de máquinas determinavam esse decreto a fim de avaliação por meio de estudos e experimentação dirigidos por pessoal competente, a quantidade e a qualidade de trabalho mecânico executado pelas máquinas agrícolas, devendo, portanto, ser provida de máquinas, utensílios, aparelhos e instalações necessárias para os trabalhos, para os ensaios de resistências dos materiais empregados, de área de terreno apropriado ao ensaio das máquinas agrícolas e uma galeria de máquinas. Também, nas estações de ensaio de máquinas, se faziam necessários uma seção de desenho e um atelier fotográfico, considerados suportes aos serviços que lhes eram peculiares, assim como atender as requisições dos agricultores e profissionais da indústria rural relativamente a assuntos que se prestavam aos fins de sua organização.

Em síntese, esta caracterização explicitada na forma de instrução normativa legal, verifica-se que vários dos espaços edificados e/ou instalações acima citados permanecem em utilidade na atual EAJ dando assistência ao ensino agrícola, que ao longo dos anos vem trazendo para a atualidade tanto as inovações tecnológicas quanto novas estruturas arquitetônicas, essenciais ao desenvolvimento desta economia primária.

Diante do exposto, retoma-se a Magalhães (2004) pelas relações estabelecidas para as instituições educativas são entendidas como organismos vivos que estão imersas em um complexo normativo e a uma estrutura organizacional tanto no âmbito nacional quanto internacional.

Dando prosseguimento, no tópico seguinte serão descritas as edificações advindas da implantação do Campo de Demonstração Agrícola de Jundiaí, as quais estão nominados no documento intitulado Inventário dos Bens Móveis, Imóveis e Semoventes da Escola Prática de Agricultura, elaborado por Dr. Nilo de Albuquerque Melo no ano de 1952.

4.2. AS EDIFICAÇÕES ORIGINÁRIAS DO CAMPO DE DEMONSTRAÇÃO AGRÍCOLA/MACAÍBA

Conforme mencionado anteriormente, a estrutura arquitetônica da atual EAJ é composta por um legado arquitetônico procedente da Fazenda Jundiaí (1909), quando de sua aquisição pelo Estado; da instalação do Campo de Demonstração Agrícola (1913), em atendimento ao Decreto 8.319/1910; quanto da EPA (1949) que somente ao final da década

de 1940 introduz novas estruturas necessárias ao funcionamento deste espaço em permanente mudanças educacionais no ensino agrícola, podendo ainda ser oriunda de construções realizadas quando aqui se implantaram escolas primárias, a exemplo da Escola Rudimentar “Dr. Gomes da Silva” e da Escola Isolada de Jundiay.

Neste tópico torna-se imperativo a explanação dos imóveis constantes do Inventário dos Bens Móveis, Imóveis e Semoventes, elaborado pelo primeiro Diretor da EPA, o Dr. Nilo de Albuquerque Melo, que neste documento – fonte documental desta pesquisa – especifica os imóveis da Fazenda Jundiaí. Tais edificações que aqui foram instaladas em período anterior a 1949, mas que foi e ainda é fundamental para os trabalhos da EPA e mesmo que algum deles tenha sofrido intervenções físicas, torna-se possível seu levantamento uma vez que ainda vem sendo utilizados pela atual EAJ e desde o ano de 1967, acompanhadas e atualizadas estas estruturas pela Superintendência de Infraestrutura da UFRN.

Os imóveis descritos no inventário como pertencentes à Fazenda Jundiaí estão descritos no Quadro 05 com características de quantidades e dimensões das respectivas benfeitorias:

Quadro 05 – Descrição dos imóveis contidos no inventário

IMÓVEL QUANTIDADE DIMENSÕES

Estábulos 2 Área de 832 m2 e 180 m2

Pocilga 1 Área de 100 m2

Silo de alvenaria 1 11m de altura e 5,35 m de diâmetro Banheiro carrapaticida 1 Área de 42 m2

Galpão 1 Área de 36 m2

Capela 1 Área de 12,0 x 6,0 = 72 m2

Garagem 1 Área de 4,30 x 8,60 =36,98 m2

Sobrado com 15 compartimentos,

banheiro e W.C. 1 Murado

Porão com 6 compartimentos 1 Área 20 x 10 = 200 m2

Casas 19, sendo:

1 com área de 131,35 m2

2 com área de mais de 100 m2

1 com área de 90 m2 2 com área de 70 m2 6 com área de 60 m2 1 com área de 50 m2 5 com área de 40 m2 1 com área de 35 m² Armazéns 4, sendo: 1 com área de 314 m2 1 com área de 250 m2 1 com área de 176,96 m2 1 com área de 131,08 m2

Caixa d’água de alvenaria e tijolo 1

Área de 6,80 X 4,70 x 3,0 m, acoplados a canos de ferro e Eternit numa

Aviário 1, contendo:

1 casa para incubação, com área de 8,90 x 5,40 = 48,06 m²

1 casa para pinteiro, medindo 6,80 x 16,36 = 111, 24 m²

10 casas colônia medindo 5,25 x 2,25 = 11,81 m²

5 casas para reprodutoras, medindo 5,40 x 2,30 = 12,42 m²

4 casas para poedeiras, com área de 12,65 x 5,40 = 68,31 m²

1 muro de alvenaria com área de 730,0 x 2,0 = 1460 m²

Fonte: Adaptado pela autora com base no Inventário dos Bens Móveis, Imóveis e Semoventes, elaborado por

Dr. Nilo de Albuquerque Melo em 1952.

Além das benfeitorias descritas no Quadro 05, consta no Inventário do Engenho Jundiaí 69 casas de taipa, onde algumas receberam melhorias realizadas na primeira gestão do Dr. Nilo Albuquerque, enquanto as demais foram demolidas. De cercanias, pertencia a Fazenda Jundiaí 7.000 braças em arame farpado, sendo registrados no Inventário 1.260 hectares de terra que se distribui em 260 hectares de terreno de várzea e 1.000 em terreno de ariscos, onde se inclui 2 açudes, matas cultivadas, pomares e campineiros, além de 1 vertente. Na Fazenda Jundiaí, também constam 91 semoventes, sendo: 7 bois mansos para tração, 3 cavalos e 1 égua acompanhada de 1 poldra, 3 muares fêmeas (burras) e 3 machos (burros), além de 14 bovinos holandeses, 15 bovinos mestiços, 5 asininos, 8 suínos e 31 coelhos. Sobre as aves, o Inventário registra 735 galináceos, 169 perus, 74 marrecos de Pequim, 45 marrecos ruão, e 3 gansos.

Diante do exposto, considera-se que foi possível realizar neste capitulo as condições disponíveis que permitiram a instalação da EPA em 1949, com destaque o tópico sobre a descrição do patrimônio edificado advindo da Fazenda Jundiaí (1909) e conforme descrito no Inventário desta Escola realizado em 1952 sob a responsabilidade de seu 1º Diretor Dr. Nilo Albuquerque.

5. ADMINISTRAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA ESCOLA