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CAPÍTULO IV O CONTRIBUTO PEDAGÓGICO DE DOMINGOS MACHADO

4.5. Contextualização operacional

4.5.7. As competências essenciais

O Decreto-Lei nº6/2001, de 18 de Janeiro, surge na tentativa de reorganização do currículo no sentido de “…reforçar a articulação entre os três ciclos que o compõem, quer no plano curricular quer na organização de processos de acompanhamento e indução que assegurem, sem perda das respectivas identidades e objectivos, uma maior qualidade das aprendizagens” (Decreto-Lei nº6/2001, de 18 de Janeiro). Este decreto consagra ainda no currículo o aparecimento de três novas áreas curriculares não disciplinares que são área de projecto, estudo acompanhado e formação cívica, bem como “…o desenvolvimento da educação artística e da educação para a cidadania…” (Decreto-Lei nº6/2001, de 18 de Janeiro).

As competências essenciais surgem neste contexto. Assim, o referido Decreto-Lei, apresenta o currículo nacional como sendo “…o conjunto de aprendizagens e competências, integrando os conhecimentos, as capacidades, as atitudes e os valores…” que serão desenvolvidos ao longo dos nove anos

de escolaridade básica, e em acordo com os objectivos da Lei de Bases do Sistema Educativo, Lei nº46/86, de 14 de Outubro. Estas competências pretendem constituir uma nova forma de pensar ou, pelo menos, diferente, em relação aos objectivos gerais atrás falados, sem no entanto deixar estes de parte. Conhecimento, capacidades e atitudes são as três ideias base desta nova concepção, onde sai valorizado o “saber em acção ou em uso” (M.E./D.E.B., 2001, p.9). O referido documento diz ainda que “a aquisição progressiva de conhecimentos é relevante se for integrada num conjunto mais amplo de aprendizagens e enquadrada por uma perspectiva que coloca em primeiro plano o desenvolvimento de capacidades de pensamento e de atitudes favoráveis à aprendizagem” (M.E./D.E.B., 2001, p.9). Surge também e em definitivo, a relação de competência com literacia, onde se pretende que o aluno adquira capacidades de comunicação e interpretação, usando para tal, as linguagens específicas das áreas artísticas.

Neste contexto, procedemos a um levantamento de objectivos onde o Ensino Artístico está presente, na perspectiva de análise, sem contudo esse aprofundamento ser demasiado exaustivo, pois além de se tratar de um documento recente que ainda está a ser implementado, e com bastantes percalços políticos, neste trabalho apenas pretendemos traçar em linhas gerais, as potencialidades pedagógicas do trabalho de Domingos Machado.

As competências essenciais base da reorganização curricular em curso, vêm assim, dar uma nova visão e favorecer uma atitude diferente no ensino básico. O ensino básico deixa de estar subordinado à concretização de uma série de objectivos mínimos e passa a pautar-se pela integração de determinados “conhecimentos, capacidades e atitudes” a que o aluno deverá ser chamado e estimulado a desenvolver ao longo dos seus nove anos de ensino básico. Tenta-se o afastamento de conhecimentos de carácter mais teórico, onde se baseavam os objectivos mínimos e valorizam-se esses mesmos conhecimentos, na sua aplicação, a situações concretas e experimentais nas mais diversas situações da cada área disciplinar ou não disciplinar, sejam elas curriculares ou não curriculares.

Estas competências essenciais dividem-se naquelas que são consideradas “gerais” e que “…correspondem a um perfil à saída do ensino básico…” (M.E./D.E.B., 2001, p.10) e as “específicas”, correspondentes a cada

área disciplinar. Este documento realça ainda a importância fundamental da abordagem de temas transversais às várias áreas disciplinares, da utilização e recurso das novas tecnologias da informação e comunicação (T.I.C.) e das actividades de enriquecimento curricular ou como eram chamadas, actividades de complemento curricular, de carácter não obrigatório.

Esta breve contextualização à nova visão do currículo nacional do ensino básico, irá servir-nos de base para uma nova concepção de Ensino Artístico, pois este obtém um papel de relevo. Como refere o M.E./D.E.B., pretende-se a obtenção de determinado conjunto de conhecimentos de carácter geral, baseado na compreensão, interpretação e resolução de problemas, como a sua interligação a situações novas e concretas (2001, p.9). Neste sentido, podemos ler que: ”As artes são elementos indispensáveis no desenvolvimento da expressão pessoal, social e cultural do aluno. São formas de saber que articulam imaginação, razão e emoção. Elas perpassam as vidas das pessoas, trazendo novas perspectivas, formas e densidades ao ambiente e à sociedade em que se vive” (M.E./D.E.B., 2001, p.149).

Não queremos, contudo, no presente trabalho, uma separação dos Objectivos Gerais de Ciclo com as novas Competências Gerais, onde os pontos em comum são muitos, e a sua separação é de dúbia pertinência e eficácia, onde de 96 Objectivos Gerais de Ciclo, passamos a ter 10 Competências consideradas gerais. É de notar que o sentido dos Objectivos Gerais de Ciclo era o mesmo que o das Competências Gerais, isto é, “…um elemento de trabalho central no processo de desenvolvimento do currículo” (M.E./D.E.B., 2001, p.10), e orientam o que um aluno deverá atingir no final da sua escolaridade obrigatória. De facto, esta redução significativa em número, para as Competências Gerais, tem a aparente vantagem de uma maior articulação das diferentes áreas disciplinares e não disciplinares, pois no documento do M.E./D.E.B., é apresentado para cada uma destas 10 competências, a sua “operacionalização transversal” bem como uma série de “acções a desenvolver por cada professor”. É aqui que as semelhanças para com os Objectivos Gerais de Ciclo se acentuam. Assim, o Ensino Artístico parece ganhar ainda maior relevo, quando este, se consegue mover no seio destas Competências Gerais, de forma capaz e eficazmente integradora.

São competências gerais as seguintes:

1. Mobilizar saberes culturais, científicos e tecnológicos para compreender a realidade e para abordar situações e problemas do quotidiano;

2. Usar adequadamente linguagens das diferentes áreas do saber cultural, científico e tecnológico para se expressar;

3. Usar correctamente a língua portuguesa para comunicar de forma adequada e para estruturar pensamento próprio;

4. Usar línguas estrangeiras para comunicar adequadamente em situações do quotidiano e para apropriação de informação;

5. Adoptar metodologias personalizadas de trabalho e de aprendizagem adequadas a objectivos visados;

6. Pesquisar, seleccionar e organizar informação para a transformar em conhecimento mobilizável;

7. Adoptar estratégias adequadas à resolução de problemas e à tomada de decisões;

8. Realizar actividades de forma autónoma, responsável e criativa; 9. Cooperar com os outros em tarefas e projectos comuns;

10. Relacionar harmoniosamente o corpo com o espaço, numa perspectiva pessoal e interpessoal promotora da saúde e da qualidade de vida.

Podemos observar, de forma praticamente directa, a preocupação em relacionar constantemente e em paralelo, cultura, ciência e tecnologia, tudo a par de uma utilização correcta da língua. Esta observação é importante neste contexto, pois permite inferir que o saber cultural perpassa todas as áreas do saber.

As competências específicas no ensino artístico desenvolvem-se em torno de quatro grandes centros, à semelhança das seis categorias já descritas nos Objectivos Gerais de Ciclo. O quadro abaixo representado, agrupa essas competências específicas, em torno dos respectivos centros, onde mais uma vez, é notória a relação directa entre essas competências e o levantamento feito nos Objectivos Gerais de Ciclo:

Tabela X – Competências específicas no Ensino Artístico

Centros Competências específicas

Apropriação das linguagens elementares das artes

1. Adquirir conceitos;

2. Identificar conceitos em obras artísticas; 3. Aplicar os conhecimentos em novas situações;

4. Descodificar diferentes linguagens e códigos das artes;

5. Identificar técnicas e instrumentos e ser capaz de os aplicar com correcção e oportunidade;

6. Compreender o fenómeno artístico numa perspectiva científica;

7. Mobilizar todos os sentidos na percepção do mundo envolvente;

8. Aplicar adequadamente vocabulário específico.

Desenvolvimento da capacidade de expressão e

comunicação

1. Aplicar as linguagens e código de comunicação de ontem e de hoje;

2. Ser capaz de interagir com os outros sem perder a individualidade e a autenticidade;

3. Ser capaz de se pronunciar criticamente em relação à sua produção e à dos outros;

4. Relacionar-se emotivamente com a obra de arte, manifestando preferências para além dos aspectos técnicos e conceptuais;

5. Desenvolver a motricidade na utilização de diferentes técnicas artísticas;

6. Utilizar as tecnologias de informação e comunicação na prática artística;

7. Intervir em iniciativas para a defesa do ambiente, do património cultural e do consumidor no sentido da melhoria da qualidade de vida;

8. Participar activamente no processo de produção artística;

9. Compreender os estereótipos como elementos facilitadores, mas também empobrecedores da comunicação;

10. Ter em conta a opinião dos outros, quando justificada, numa atitude de construção de consensos como forma de aprendizagem em comum;

11. Cumprir normas democraticamente estabelecidas para o trabalho de grupo, gerir materiais e equipamentos colectivos, partilhar espaços de trabalho e ser capaz de avaliar esses procedimentos.

Desenvolvimento da criatividade

1. Valorizar a expressão espontânea;

2. Procurar soluções originais, diversificadas, alternativas para os problemas;

3. Seleccionar a informação em função do problema; 4. Escolher técnicas e instrumentos com intenção

expressiva;

5. Inventar símbolos/códigos para representar o material artístico;

6. Participar em momentos de improvisação no processo de criação artística.

Compreensão das artes no

culturas e épocas;

3. Comparar diferentes formas de expressão artística; 4. Valorizar o património artístico;

5. Desenvolver projectos de pesquisa em artes;

6. Perceber a evolução das artes em consequência do avanço tecnológico;

7. Perceber o valor das artes nas várias culturas e sociedades e no dia-a-dia das pessoas;

8. Vivenciar acontecimentos artísticos em contacto directo (espectáculos, exposições…);

9. Conhecer ambientes de trabalho relacionados com actividades artísticas (oficinas de artistas, artesãos, estúdios de gravação, oficinas de construção de instrumentos, salas de ensaio…) e suas problemáticas/especificidades (valores, atitudes, vocabulários específico).

Podemos concluir, sem grande margem de dúvida, que Domingos Machado tem na sua obra e no seu museu, uma grande trabalho pedagógico, que é transversal a todos os ciclos do ensino e que se integra em todas as vertentes de que temos vindo a referir. Esta vertente não se fica por aqui, pois as Actividades de Complemento Curricular, também fazem parte das nossas escolas e são uma área de eleição nesta articulação, onde as experiências de aprendizagem que na educação básica “…o aluno deve ter oportunidade de vivenciar aprendizagens diversificadas, conducentes ao desenvolvimento das competências artísticas e, simultaneamente, ao fortalecimento da sua construção identitária” (M.E./D.E.B., 2001, p.150), e que são mais um factor fundamental e de maior valia no enquadramento da nossa investigação.

Assim, dedicámos um ponto a esta componente, por ser tão convergente com os nossos objectivos.