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As Comunidades Eclesiais de Base-CEBs na Diocese de Guarabira

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DA PESQUISA

A IGREJA E A LUTA PELA TERRA NA DIOCESE DE GUARABIRA-PB

2.2. A Igreja e a Luta pela terra na diocese de Guarabira

2.2.1. As Comunidades Eclesiais de Base-CEBs na Diocese de Guarabira

As CEBs representaram uma forma de organização comunitária que não seguiam um modelo rígido ou pré-determinado. Atuavam nas comunidades camponesas, urbanas e indígenas, estabelecendo uma relação concreta entre a palavra do evangelho e a vida dos sujeitos. Por sua própria natureza são fundamentadas no método conhecido como ver-julgar-agir, ou seja, não bastava apenas realizar uma constatação dos problemas das comunidades, mas compreendê-los bem (suas origens e suas formas de resolução), para intervir organizadamente para mudar aquela situação (BETO, 1981).

Segundo o Jornal Folha do Povo de Deus, na região episcopal do Brejo, já existiam em 1980, quarenta e seis comunidades autônomas46 que objetivavam descentralizar o papel e a ação da paróquia nos diversos municípios que compunham a

46 Há estimativas de que em nível nacional existiam cerca de 80 mil comunidades eclesiais de Base,

região e converter a Igreja naquilo que estava sendo conhecido como a “Igreja Viva”47.

Já em dezembro de 1981, esse número aumenta para “umas 350 comunidades eclesiais de base quer nas cidades quer nos sítios” (Entrevista com D. Marcelo. Jornal O SÃO PAULO, 1981).

Nas CEBs, os grupos de animadores eram responsáveis pelas reuniões e celebrações com o povo, como mostra o Jornal Folha do Povo de Deus:

Bem mais importantes são as reuniões „normais semanais‟ para o culto e/ou para os problemas locais que surgem na vida do povo, saúde, escola, trabalho, terra, água salário, migrações, etc [...] Nas comunidades mais desenvolvidas tem ações comunitárias, esforços organizativos em sindicatos, grupos de agricultores, grupos para a discussão de um problema surgido, grupo de reflexão. Para o crescimento destas comunidades, há encontro mensal de animador e (para avaliar o trabalho realizado, ou acontecimentos e para assumir os novos compromissos). De três em três meses, há um encontro para formação e aprofundamento (Jornal Folha do Povo de Deus, 27/12/1980).

Conforme explica Betto (1981), as CEBs, primeiro, são „Comunidades‟, porque reúnem pessoas com a mesma fé, pertencem a mesma Igreja e moram na mesma região. Movidas por estas coisas em comum, essas pessoas agem por interesses comunitários (ex. o acesso a terra). Segundo, são „eclesiais‟, porque são congregadas na Igreja como núcleos básicos de comunidade de fé. Por fim, são de „Base‟ porque são constituídas de pessoas que trabalham com as próprias mãos: as donas de casa, os operários, os indígenas, os assalariados agrícolas, os posseiros, os arrendatários, entre outros que representam a camada oprimida da sociedade brasileira.

As celebrações das CEBs aconteciam, geralmente, em lugares que contextualizassem os problemas enfrentados pelos povos em determinado momento (em nosso caso, os camponeses). Em uma cena do documentário – “Igreja da Libertação”, do cineasta Silvio Da Rin, pudemos acompanhar os passos de uma celebração típica das realizadas pelas CEBs, na região de Guarabira, município de Riachão-PB. (Figura 2).

47 “A Igreja – não se limitará a intensificar e organizar a opção pastoral dentro do templo, mas está

preparando a Igreja viva, constituída por pessoas, por grupos e por comunidades ”(D. Marcelo Cavalheira. Documento sem ano).

Figura 2. Agricultores reunidos no açude, no atual Assentamento Baxio de Riaçhão-PB.

Fonte: Imagem extraída do documentário Igreja da Libertação do Cineasta Silvio Da Rin.

No primeiro momento da cena do documentário ilustrado pela figura 1, um agricultor de chapéu de couro fala aos seus companheiros sobre os problemas causados pela falta de água e de terra no Nordeste, com o intuito de mostrar a todos ali presentes que não se tratava de um problema exclusivamente do lugar deles (tirar da sua inércia geográfica). Depois, a agricultoraMaria das Neves realizou uma leitura da bíblia para ressaltar a importância da união e da ação em conjunto. Por fim, realizava-se a oração do “pai nosso” onde todos de mãos dadas celebravam a fé e a luta pela sobrevivência. O mais curioso é que a reunião acontecia na terra e às margens de um açude, do qual todos os agricultores ali presentes tinham sido impedidos de pegar água. Relembrando as palavras de Betto (1980): “O texto bíblico faz a comunidade emergir da consciência de sua situação geográfica para a consciência de sua situação histórica”. Portanto, nesse caso dos conflitos por terra na diocese de Guarabira contribuiu para mobilização dos sujeitos oprimidos e não para sua inércia desmotivada.

O que desencadeou das atividades iniciadas pelas CBEs gerou uma demanda cada vez maior por trabalho de formação, seja de lideranças dos movimentos populares, seja de educadores para manter o processo formativo já iniciado. A partir disso o

formação do Serviço de Educação Popular/SEDUP pôde contribuir significativamente nesse processo.

2.2.2. O Serviço de Educação Popular-SEDUP em Guarabira

Para o processo de conscientização, a formação educacional básica e a educação política foram determinantes na organização dos trabalhadores do campo na região de Guarabira. Aqui, surge outra via de ação pastoral da Igreja Católica na busca de contribuir com a formação das massas e dos futuros militantes na luta pelos direitos populares. Nesse contexto, nasceu o Serviço de Educação Popular/SEDUP (1981), que desenvolvendo um método de ensino/aprendizagem próprio, fundamentado nas ideias de Paulo Freire, se constituiu pela utilização da realidade “nua e crua” vivida pelos trabalhadores para fins pedagógicos.

O próprio Dom Marcelo, em entrevista ao jornal “O São Paulo”, define a iniciativa da seguinte maneira:

O SEDUP [...] visa quer as demandas do povo, quer às necessidades dos animadores das comunidades eclesiais de base ou setores de evangelização (como os de agricultores, de jovens, de professores primários, de crianças, de doentes, de outras categorias). Assim, podemos oferecer treinamentos, avaliações, debates, utilizando os mais variados meios de comunicação, como filmes, slides, cartazes etc. vamos aprendendo com o povo o conteúdo e o método desses estudos. Ninguém ensina a ninguém, ninguém é libertador de ninguém (Jornal O São Paulo. Entrevista com Dom Marcelo, em dezembro de 1981).

O depoimento da Irmã Valeria Rezende que foi uma das fundadoras do Serviço contribui para que entendamos esse processo de formação do SEDUP, devido a crescente necessidade que as frentes de lutas exigiam:

chegou uma hora que a gente, com o pessoal da CPT, [...] a gente chegou a conclusão: nós temos de criar um órgão de educação popular com uma equipe maior que possa atender as demandas de formação especificas que vão surgindo pelos trabalhos de todas essas outras coisas. Dá pra entender? Tinha a CPT que ia lá pra ver a questão da terra. Mas tinha mil problemas de terra pipocando por aqui. Tinha o CODH que ia lá para ver a questão legal dos direitos do pessoal. Cada coisa que começava a tomar corpo pedia atividade de formação mais a médio prazo [...] formação de lideres, formação sobre leis, depois foi preciso alfabetização, começou a se fazer o movimento de oposição sindical, [...] precisava de formação sindical. Então, em 1980, eu fiz um