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Capítulo 2: Fundamentação Teórica

10. Menosprezar a pergunta do estudante ou ridicularizar a sua resposta.

2.3 As Comunidades de Prática (CoP)

Na década de 1960, Freire (1998) já destacava que “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo. Os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo” (p. 68). Conscientes do princípio que o conhecimento nasce das dinâmicas de interação social, percebemos que a aquisição de conhecimentos é mais facilmente incorporada através da participação em grupos cujos membros já têm algumas competências desenvolvidas através da prática num determinado contexto. Nestes ambientes presenciais ou virtuais, a colaboração reforça a construção solidária de conhecimentos que serão partilhados entre os participantes do grupo. Através do diálogo horizontal, ou seja, o diálogo informal, franco e claro, sem hierarquias, as informações são partilhadas, discutidas e os conhecimentos processados e aplicados na resolução de problemas comuns aos participantes (Canha & Alarcão, 2010).

O conceito de comunidade é largamente aplicado em campos diversos da investigação científica se adequa aos objetos de estudo a Sociologia, Biologia ou Ecologia, cuja conceituação também é específica a cada área. Weber (1973) compreende comunidade como “uma relação social quando a atitude na ação social – no caso particular, em termo médio ou no tipo puro – inspira-se no sentimento subjetivo (afetivo ou tradicional dos partícipes da constituição de um todo)” (p. 140). Na sociedade atual, o conceito de comunidade sofre modificações ao se desprender do conceito de territorialidade. A interação online promoveu a desvinculação dos critérios geográficos para caracterizar o conceito de comunidade. As relações destas decorrentes são mais importantes que o lugar ou o espaço onde ocorrem (Santos, 1995). Com a formação das redes virtuais de comunicação, as pessoas interagem e convivem, formando comunidades sem necessitar estar fisicamente no mesmo espaço. Atualmente, o conceito de comunidade é reconstruído, modificando as características

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tradicionais da comunidade – como a vizinhança, o agregado e a categoria (Vila Nova, 2004). Nas comunidades mediatizadas por computador o internauta tem a possibilidade de participar de várias redes sociais simultaneamente, inclusive de criar suas próprias redes de relacionamento, devido a rapidez nos contatos, que podem ocorrer através da utilização de ferramentas de comunicação assíncronas (que não dependem da presença online ao mesmo tempo) ou síncronas (que ocorrem em tempo real).

A comunidade mediatizada pelas TIC funciona como um filtro entre a imensidão de informações e conteúdos disponíveis no ciberespaço e os interesses do internauta. Ou seja, o usuário irá participar de comunidades com as quais tenha interesses ou objetivos comuns. A sua participação é geralmente ativa, uma vez que essas ferramentas facilitam a produção e partilha de conteúdo, que são veiculados livremente em diversos sites da internet.

Contudo, nem todo conjunto de internautas caracteriza uma comunidade. Para ser classificada como comunidade online (formada por pessoas que se conhecem e convivem pessoalmente e utilizam as ferramentas TIC como estratégia de expansão dos espaços de convivência) ou como comunidade virtual (formada por pessoas que só se relacionam através das mídias interativas) (Martins, 2007). Deve apresentar, conforme Peruzzo (2002), as seguintes características: a) participação habitual, b) sentimento de pertença, c) caráter cooperativo e de compromisso, d) confiança e aceitação das regras impostas pelo grupo, e) identidade, f) reconhecimento pelo grupo, g) interação, h) linguagem comum. Percebe-se que estas características correspondem também à convivência em comum de participantes de comunidades reais. Igualmente, é possível participar de várias comunidades simultaneamente. Contudo, há que se perceber a importância de desenvolver o comportamento adequado a cada papel que o indivíduo desempenhe em cada comunidade específica. Exemplificando, quando faz parte de uma comunidade de adeptos de uma equipe de futebol, o participante irá comportar-se de maneira diversa de quando participa de uma comunidade religiosa. São ambientes diferentes, cujo comportamento adequado é definido tacitamente pelo grupo (Lapantine, 2003).

As comunidades apresentam especificidades. Nenhuma comunidade é igual à outra, pois as pessoas que as compõe são singulares e estão imersas em um contexto social, histórico e cultural específico (Laraia, 2001). De acordo com os objetivos da convivência e com o tipo de interação desenvolvido, as comunidades podem ser:

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a) Comunidade de interesse, cujas interações se restringem à busca de informações superficiais sem haver uma partilha de significativa de conhecimentos.

b) Comunidade de aprendizagem, voltadas para construir e partilhar conhecimentos de natureza colaborativa, formada por professores e alunos, e conduzida através de um planejamento didático.

c) Comunidade de prática, que são grupos profissionais que partilham do mesmo trabalho e que juntos, buscam soluções para problemas comuns a todos.

Meirinhos (2006) explica que “o objetivo de uma comunidade virtual deste tipo é melhorar as condições de exercícios de sua profissão, pela partilha, pelo auxílio mútuo e processos de aprendizagem colaborativa” (p. 135).

As comunidades de Prática (CoP) são formações que congregam profissionais que partilham conhecimentos num domínio específico e das experiências decorrentes, aprendendo coletivamente através da reflexão (Paloff & Pratt, 2007). Em outras palavras, estas formações são definidas pela convivência de pessoas que desenvolvem atividades específicas e tem interesses em comum. Percebe-se que a comunidade de prática tem a função de prover processos de aprendizagem em serviço, a partir da reflexão duma prática.

As empresas perceberam que a gestão do conhecimento é estratégica no desenvolvimento das organizações, de forma que as CoP foram rapidamente adaptadas ao mundo empresarial. Assim, tendo como principal objetivo promover a aprendizagem a partir dos problemas comuns ao cotidiano das práticas do grupo de trabalho, as CoP apoiam-se na constatação de que somos seres sociais e a aprendizagem se dá através da socialização. Em conjunto, os grupos de trabalho se desenvolvem de maneira equitativa, tendo em vista a melhoria do rendimento da equipe através do desenvolvimento de competências (Wenger, 2000). Há conhecimentos – sejam tácitos ou explícitos - que só se aprende na prática, e as comunidades são suportes à propagação da cultura organizacional, bem como da propagação das inovações, num desenvolvimento contínuo de competências, configurando o que os especialistas em gestão classificam como capital social ou humano da organização (APDSI, 2009).

Assim como nos demais espaços de vivência humana, nas organizações é possível participar de várias comunidades ao mesmo tempo, e o intercâmbio de saberes entre estas somente enriquece a prática coletiva (Senge, 1999). Contudo, o melhor aproveitamento dos conhecimentos se dá na medida em que há "um ajustamento nas representações", especificamente na propagação do conhecimento tácito. A compreensão do colaborador em

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determinada situação deve ser discutida e analisada para que se encontre um denominador comum da compreensão do grupo. Geralmente, estas situações geram conflitos, que devem ser mediados para que a discussão se encaminhe para a solução de problemas (Drucker, 2006). Frequentemente, no âmbito empresarial, os especialistas temem compartilhar seus saberes por receio de perder o poder e a autoridade em sua área ou na liderança de sua equipe. Porém, nem toda equipe de trabalho constitui uma CoP. Segundo Au, Reiner e Urbanowisk (2005) para participar de um CoP não é preciso somente ter o mesmo trabalho, é preciso que os membros interajam e aprendam juntos. Wenger (2000; 2006) defende três dimensões para identificá-las:

1) Envolvimento mútuo, cuja participação se desenvolve em torno das ações de profissionais que tem um conhecimento específico de sua prática. Esse envolvimento exige uma negociação de significados bem como o desenvolvimento da consciência de que a CoP sobrevive através da partilha. É preciso saber doar e receber, assim, os contributos circularão e enriquecerão as relações no interior da CoP.

2) Empreendimento comum, refere-se as tarefas e ao ambiente comum partilhados pelos profissionais. Nestes ambientes, os profissionais compartilham experiências e dúvidas, para discutir ou solucionar problemas comuns a todo o grupo. As relações são construídas sobre a necessidade de aprender uns com os outros.

3) Repertório partilhado. A experiência prática num determinado contexto é que cria a identidade da comunidade. A partilha de repertório visa o enfrentamento dos problemas comuns ao domínio, bem como propagação de estratégias para a resolução destes.

Meirinhos (2006) explica que tudo que for criado em termos de materiais, artefatos, suportes físicos e estratégias, bem como conceitos pode ser partilhado aos membros, ampliando e diversificando os repertórios individuais. Esta socialização de saberes é a razão de ser das CoP. Filipe (2008) reforça essa importância: "é a partilha de ideias e de objectivos comuns que se forjam os relacionamentos de colaboração duradouros” (p. 37).

Trayner, Smith e Bettoni (2008) reforçam os pressupostos de Wenger ao explicar que nas CoP a construção da identidade ou sentimento de pertença depende do reconhecimento do indivíduo pelos demais componentes desta estrutura. A participação deste na comunidade implica em mudanças ou adequações do seu próprio comportamento, bem como interferem no comportamento coletivo.

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As CoP podem surgir formalmente, conforme algumas estruturas empresariais, ou podem surgir informalmente, pelo contato direto ou mediadas por computador. Todavia, mesmo nas estruturas formais, a aprendizagem colaborativa, meta primordial da CoP, deve ocorrer de maneira informal. Meirinhos (2006) defende:

As comunidades de prática são estruturas emergentes. Como tal, não está claro onde começam e onde terminam e não se pode planificar o seu nascimento e seu desenvolvimento. Emergem, se existir vontade dos participantes de aprender em conjunto e desenvolvem-se, se os processos de aprendizagem colaborativa se mantiverem activos."(p. 137)

Compreendemos que o surgimento das CoP depende do ânimo do grupo, que se movimentam no sentido de construir um espaço de partilha. Sintetizamos na figura a seguir os sete princípios essenciais para criar e manter uma CoP, idealizados por Wenger, McDermott e Snyder (2002) na obra “Cultivating communities for practice: a guide to menaging knowledge”.

Fig. 3 Sete Princípios para criar ou manter uma CoP

Insta salientar que os princípios apresentados não podem ser considerados uma receita de sucesso. Todavia são tópicos relevantes para que a CoP seja bem sucedida. Igualmente, apesar de enumerados, os princípios não obedecem a uma hierarquia de valores, todos são

2. Mantem Diálogo aberto nas dimensões internas e externas 1.Apresenta Design favorável à evolução 3. Incentiva diversos níveis de participação 4. Desenvolve espaços públicos e privados de interação 6.Desenvolve uma visão própria assente nas crenças e valores do grupo 5.Cria um ambiente atrativo e de confiança para as interações 7. Tem ritmo próprio

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fundamentais para o bom andamento do projeto. O desenho da CoP deve prezar pela flexibilidade, com vistas a proceder mudanças necessárias e adaptações contextuais. Assim, com as intensas e constantes mudanças verificadas no mundo do trabalho, estas formações não correm o risco de obsolescência. Além disso, a CoP deve ser entendida como um organismo vivo e como tal vive em constante transformações, atravessando fases que vão de seu nascimento, até à sua dissolução (Wenger, 2006).

Para promover a aprendizagem através da comunidade de prática é essencial a abertura e manutenção do diálogo, seja em âmbito interno, entre os membros da CoP, seja com o ambiente externo à estrutura. Por ser uma formação cuja atividade se fundamenta na prática, há aspectos estratégicos que não podem ser divulgados ou discutidos com elementos externos à organização (Coll & Monereo, 2010). Contudo, é importante salientar que o isolamento não favorece a construção de conhecimentos, sendo fundamental o contato com o mundo exterior, outras CoPs, outras dinâmicas de trabalho.

A experiência com o desenvolvimento de CoP tem atestado que é necessário prover diversos níveis de participação. Da mesma forma que nas comunidades clássicas, nas CoP nem todos os participantes contribuem da mesma forma e com a mesma intensidade. Por ser uma estrutura que surge a partir do engajamento de seus participantes, emerge a liderança orgânica, ou seja, criada e legitimada pelo próprio grupo. As comunidades dependem da liderança interna, apesar do caráter espontâneo da sua formação. Souza-Silva (2009) explica que é na perspectiva da participação que se desenvolve o sentimento de pertença, essencial para construção da identidade coletiva. A participação voluntária caracteriza a informalidade das CoP, ambientes muito favoráveis para o desenvolvimento conjunto de competências no próprio ambiente de trabalho e ao longo da vida do profissional (Sahin, Sait, & Yelken, 2010; Tomey et al., 2005).

Nestas estruturas, uns irão participar mais ativamente, contribuindo, partilhando com grande frequência. Já outros terão comportamento mais discreto, acompanhando e opinando esporadicamente. Ainda existirão aqueles que se integram, mas que não participam. Meirinhos (2006) classifica os participantes da CoP em quatro tipos, de acordo com a sua atuação: i) Coordenador ou liderança. ii) Core Group, que corresponde a 15% do total de participantes de uma comunidade. São aqueles que estão mais engajados e que participam com maior frequência, assumindo a responsabilidade de manter a CoP em funcionamento, incentivando a adesão dos demais. iii) Membros ativos, que participam, comentando as

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iniciativas dos dois tipos de participação anteriormente citados. iv) Membros Periféricos, ou seja, aqueles que fazem parte, mas que a participação eventual é muito discreta.

Para incentivar uma maior participação é preciso prover um ambiente amistoso e atrativo, o participante necessita sentir-se à vontade para expor suas dúvidas e contribuir socializando experiências, longe das pressões comuns ao ambiente hierarquizado de trabalho. Se os membros se sentem confiantes e apoiados e se percebem que suas perguntas são discutidas (e respondidas) pelo grupo, acabam por perceber que a CoP é útil para sua carreira e que nesta pode encontrar um ponto de apoio no seu desenvolvimento e na melhoria do seu rendimento profissional. Costa (2005) enfatiza que

Um dos aspectos essenciais para a consolidação de comunidades pessoais ou redes sociais é, sem dúvida, o sentimento de confiança mútua que precisa existir em maior ou menor escala entre as pessoas. A construção dessa confiança está diretamente relacionada com a capacidade que cada um teria de entrar em relação com os outros, de perceber o outro e incluí-lo em seu universo de referência (pp. 9-10).

Estas discussões devem ser desenvolvidas em ambientes públicos ou privados, conforme a necessidade da comunidade. Contudo, é fundamental o planejamento e a ocorrência de eventos públicos, que além de conferir maior visibilidade à CoP, reforça a sua credibilidade na organização enquanto estratégia de aprendizagem, reforça o sentimento de pertença dos participantes.

As atividades promovidas pela CoP devem respeitar o ritmo de cada comunidade. Implantar um ritmo muito acelerado, com inúmeras atividades pode provocar a evasão dos membros que irão se sentir incapazes de acompanhar os trabalhos e assumir responsabilidades sobressalentes. Neste aspecto é importante a atuação do gestor ou do grupo de gestão da CoP, tanto no planejamento de atividades quanto na distribuição do poder pelos membros. Mediar não é controlar. O gestor deve atuar como organizador das ideias e partilhas, sua atuação deve ser fundamentada nos valores do grupo (Senge, 1999). Assim, poderá contribuir para a construção coletiva da visão e da missão da CoP, respeitando as crenças dos participantes. De acordo com Au et al., (2005) cabe à liderança da CoP desenvolver estratégias que despertem o interesse e a mantenham a atenção dos participantes nas discussões da CoP, além de incentivar a boa vontade no julgamento da posição do outro, estabelecendo uma cultura da colaboração, que suporta as críticas e se dispõe a ouvir as sugestões e acatar as ideias de

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mudança. Nesta dinâmica, os gestores precisam facilitar o acesso aos canais de partilha, sem temer a discussão.

CoP online e o desenvolvimento de competências do docente

A adesão ao uso de ferramentas informáticas tem ampliado os espaços de interação entre pessoas que têm interesses comuns. A comunicação mediada por computador tem sido largamente empregada em diversas áreas, inclusive com bastante expressão na formação para o trabalho (Recurero, 2009b). Para além da transmissão de dados e valores e sistemas de intranet empresarial, cursos online têm sido uma excelente alternativa para desenvolver competências profissionais essenciais para o exercício das profissões no contexto atual. Nesta dinâmica, as CoP online apresentam-se como uma alternativa de incentivar a formação contínua do profissional, integrando-o aos seus companheiros de trabalho numa perspectiva de fomento à aprendizagem.

As CoP online trazem a vantagem de ultrapassar a barreira de espaço para promover a interação entre os participantes. Além disso, podem facilitar a integração de novos membros e divulgar boas práticas, além de fomentar a inovação dos processos de produção. Contribuem também como um meio mais rápido de resolver problemas, uma vez que a discussão em busca das possíveis soluções pode ser feita através de ferramentas de comunicação síncrona ou assíncrona, permitindo as contribuições mais diversas (Costa, 2005; Filipe, 2008).

Acerca do fomento das CoP, Wenger (2006) defende que estas estruturas de suporte à aprendizagem colaborativa têm sido frequentemente aplicadas na formação de professores, numa perspectiva de formação em serviço. As comunidades de prática afetam a aprendizagem em três âmbitos:

os intervenientes da escola participem ativamente da construção do conhecimento?

participantes com a prática real através de formas periféricas da participação em comunidades mais amplas além dos muros da escola?

participantes: Como fazer da CoP um instrumento no despertar do interesse dos estudantes por determinados temas, para além das vivências na escola?

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Estes recursos vêm sendo largamente explorados pelas grandes empresas e gradativamente profissionais de saúde e da engenharia tem desenvolvido estratégias de formação coletiva através das CoP online. As investigações em educação têm demonstrado que há uma maior concentração de práticas no uso destas estruturas de aprendizagem colaborativa enquanto estratégia didática proposta pelo professor para a construção de conhecimentos pelo estudante. Contudo, percebe-se que na educação ainda há uma grande resistência na aplicação destas tecnologias para o desenvolvimento de competências profissionais do professor.

Neste cenário, as TIC apresentam um potencial de dinamização destas comunidades, mediando interações, dispensando a presença física do professor, e, preservando a essência da filosofia deste tipo de formação que é a partilha e a aprendizagem colaborativa. Normalmente, os professores têm o tempo preenchido por atividades de planejamento, execução e avaliação. As CoP online são alternativas exequíveis, pois ultrapassam a barreira tempo-espaço, não sendo necessário marcar excessivos encontros presenciais, o que torna inviável a participação ampla, pois nem todos têm a mesma disponibilidade ao mesmo tempo (APDSI, 2009). Assim, as CoP online atendem ao perfil deste profissional, que pode aproveitar o tempo livre entre outras atividades para micro aprendizagens.

As investigações de Clark e Hollingsworthb (2002) indicam que esse processo interativo promove mudanças nas crenças e atitudes do professor. Contudo, elas só são significativas quando este percebe os resultados positivos na aprendizagem do estudante, ou seja, depois que testa as estratégias (inovadoras) e obtém resultados positivos, assim ocorrem mudanças nos valores e atitudes. Desta forma, segundo estes autores, as ações de formação promovidas pela CoP devem contemplar quatro domínios distintos: a) Domínio pessoal (conhecimentos crenças e atitudes do professor), b) Domínio da prática profissional, c) Domínio da consequência (resultados) e d) Domínio externo (fontes de estímulo, informação e apoio). (p. 950) Esse modelo é importante, pois nos mostra a fundamental eficácia da formação em serviço, pois é do domínio pessoal e profissional que a mudança se opera, ou seja, é na relação com o mundo escolar que se transformam as concepções profissionais do professor. A introdução de novas metodologias de aprendizagem deve ser feita aproveitando a sinergia do grupo, onde todos crescem e renovam suas práticas, apoiando-se mutuamente. Porém, para tanto “trata de fazer uma verdadeira revolução para os professores que até então preferiam cultivar o individualismo e que apenas raramente conseguiam cooperar de maneira eficaz.” (Thurler, 2002, p. 90). A partir da cooperação é possível desenvolver competências pedagógicas essenciais. Na formação contínua clássica, os professores são submetidos a

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formações pré-concebidas sem consulta de suas necessidades, e até mesmo, planejadas fora do ambiente escolar. Além disso, os professores são frequentemente submetidos a sessões esparsas de formação, executadas sem uma continuidade, cuja aplicação prática é mínima, pouco contribuindo para sua reflexão da prática ou renovação do seu repertório pedagógico. Portanto, as CoP online apresentam-se como uma alternativa a ser explorada para a construção destas competências, uma vez que são formadas por pessoas que estão engajadas na aprendizagem de um domínio específico do conhecimento. São profissionais que discutem práticas, compartilham experiências e buscam soluções para problemas em comum. Ou seja, nestes ambientes, todo o participante tem um papel contribuinte para o processo de construção do conhecimento. Dias (2001) esclarece que nas comunidades de prática o foco da aprendizagem é coletivo: “os processos de aprendizagem orientados mais para a comunidade do que para o indivíduo, na medida em que a construção do conhecimento é uma elaboração conjunta de todos os membros” (p. 3).