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Capítulo II A cultura dos professores: do individualismo à colaboração

1. O individualismo

2.2. As Comunidades de Prática

O termo “Comunidades de prática” deve-se a Etienne Wenger, licenciado e mestre em engenharia informática e doutorado em inteligência artificial, autor que concentrou os seus estudos na forma como os indivíduos trabalham e aprendem em conjunto. Foi introduzido pela primeira vez em 1991 em conjunto com Jean Lave, uma professora de Educação e Geografia da Universidade de Berkeley num livro intitulado “Situated Learning: legitimate peripheral participation” publicado pela Cambridge University Press.

Pressupõe, segundo Valadares (2011, cit in Ferreira e Valadares (2011), um grupo de pessoas que desenvolvendo diariamente determinadas práticas que são similares entre si, se reúne para discutir aspetos relacionados com as mesmas, e em resultado dessa discussão e partilha de ideias, desenvolver o conhecimento acerca delas. A ideia chave é a ligação dos membros devido a problemas comuns, para as quais tentam encontrar em conjunto soluções.

Os membros de uma comunidade de prática partilham por isso, objetivos e interesses similares, empregam práticas comuns, trabalham com as mesmas ferramentas e expressam-se numa linguagem comum, promovendo a aquisição de conhecimento partilhado e aprendizagem situada (Lave e Wenger, 1991, cit in Ferreira e Valadares, 2011).

Esta perspetiva social sobre o processo de aprendizagem apoia o desenvolvimento profissional dos professores, Ferreira e Valadares (2011), referem que neste processo "nós aprendemos mais e melhor sobre as nossas práticas se nos envolvermos em comunidades com outras pessoas que também as desenvolvem e se refletirmos e negociarmos ideias acerca dessas mesmas práticas" (p. 37).

Segundo Wenger, Mc. Dermott e Snyder (2002), citados em Ferreira e Valadares (2011, p. 22) uma Comunidade de Prática é identificada por três elementos essenciais:

Domínio - é o tópico em que a comunidade se foca, aquilo que permite que se crie uma base comum para o trabalho na comunidade e o desenvolvimento de uma identidade e vai acompanhando a evolução do mundo social e da própria comunidade;

Comunidade – conjunto de pessoas que estão envolvidas na troca e partilha de ideias sobre as suas práticas no seio de uma comunidade de prática e que vão construindo relações entre si, desenvolvendo um sentido de envolvimento e de pertença, vão aprendendo conjuntamente e construindo socialmente o conhecimento. Os diversos membros podem no entanto, assumir papéis distintos;

Prática – são as ideias negociadas e partilhadas entre os elementos da comunidade, toda a informação que circula e que engloba também todos os documentos partilhados entre os mesmos; ela é a fonte de coerência da comunidade.

Segundo os mesmos autores (p. 24) existem três princípios inerentes à criação das comunidades de prática, sendo eles:

1- A Aprendizagem é inerente à natureza e à vida humana - O ser humano nasce com uma curiosidade natural em aprender sobre si próprio e sobre o mundo que o rodeia. Essa aprendizagem apesar de ser uma construção pessoal é também um acontecimento social.

2- A vivência comunitária é fundamental para a aprendizagem - É no contacto com os outros que o Ser Humano se constrói e se produz o conhecimento de cada

pessoa, e é através de vivências e de acontecimentos sociais que se realizam diversas aprendizagens;

3- A Aprendizagem é o fruto de um envolvimento social alicerçado em práticas - A qualidade da aprendizagem de um ser humano é influenciada pela forma como se aprende, ou seja, se o conhecimento adquirido é efetivamente experienciado no real, ou se apenas, diz respeito a algo não vivenciado e mais teórico. É por isso, através da prática e da ação, que as aprendizagens serão feitas de modo significativo. Discutem- se problemas que proveem da experiência direta dos indivíduos, das práticas vivenciadas e que partem do real.

De acordo com Wenger (2001), uma comunidade de prática pode caracterizar-se a partir de três dimensões: o conteúdo a que diz respeito – ou seja, aquilo que une os diversos membros e que é objeto contínuo de negociação entre eles; como funciona – o empenhamento mútuo de todos participantes e a forma como interagem; o que produziu – aquilo que os membros produziram efetivamente em conjunto (ex: rotinas, sensibilidades, artefactos, vocabulário, estilos).

Segundo Ferreira e Valadares (2011) a construção de comunidades de prática permitirá a cooperação e a partilha de informação, bem como, uma respetiva reflexão, entre os elementos que dela fazem parte, e poderá constituir uma forma de melhorar o funcionamento das escolas numa perspetiva de uma educação de qualidade para todos.

Segundo Wenger, na sua entrevista a Neves (2001), para um profissional, é também essencial pertencer a uma Comunidade de Prática pois é muito difícil saber tudo, sendo necessário ter colegas com quem falar sobre os problemas, a quem pedir ajuda e informação. Também se diferencia de uma equipa porque é definida por um tópico de interesse, em vez de uma tarefa a realizar, também não é uma rede informal porque tem um tópico, tem uma identidade.

O mesmo autor (referido em Ferreira e Valadares, 2011), refere que estas comunidades possuem a chave para uma transformação verdadeira, através do efeito real na vida das pessoas, podendo ainda estabelecer redes, que podem levar a colaboração entre diferentes comunidades de prática, promovendo assim a partilha de

boas práticas e de recursos, resolvendo problemas que não podem ser resolvidos por uma única instituição.

Existem ainda vários estudos que investigaram as práticas colaborativas de professores, Silva (2011) conclui no seu estudo que as participantes do estudo valorizam o trabalho colaborativo entre pares como forma de garantirem um trabalho de qualidade com os alunos, e que perspetivam vantagens neste tipo de trabalho, tais como a promoção da reflexão, a partilha de saberes, materiais a resolução de problemas da sua prática.

Capítulo III - Grupos Cooperativos do Movimento da Escola Moderna