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Capítulo V Metodologia de Investigação

5. Técnica de análise de dados: análise de conteúdo

A análise de dados de um estudo de caso, como refere Tesch (1990), pode ser de três tipologias: (1) interpretativa, visa analisar ao pormenor os dados recolhidos tentando organizá-los e classificá-los em categorias que possam ser exploradas e explicar o objeto de estudo; (2) estrutural, analisa os dados tentando encontrar padrões que clarifiquem e/ou expliquem a problemática em estudo; e (3) reflexiva, visa essencialmente interpretar ou avaliar a problemática estudada, através do julgamento ou intuição do investigador.

A análise tenta, segundo Stake (2012, p. 87), "dar significado às primeiras impressões assim como às compilações finais", para isso fraciona as impressões e observações, que através da análise e interpretação promovem a compreensão. Para essa análise e interpretação, o mesmo autor refere que existem duas estratégias de chegar aos significados do estudo que são dependentes uma da outra, que são a "interpretação direta" e a "agregação de circunstâncias", sendo que o investigador fraciona a circunstância tentando depois reconstruí-la mais significativamente.

Esta busca de significado, segundo ainda Stake (2012), é na maioria das vezes uma busca de padrões ou correspondências que podem já ser conhecidos ou que simplesmente aparecem ao longo da análise dos dados.

A análise de conteúdo é também definida por Bardin (2015, p. 11), como "um conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais subtis em constante aperfeiçoamento, que se aplicam a «discursos» (conteúdos e continentes) extremamente diversificados", a mesma autora refere ainda que existe sempre um fator comum em qualquer uma destas técnicas que se baseiam na dedução, através da inferência, sendo necessário um esforço de interpretação pois a análise de conteúdo move-se entre o "rigor da objetividade e da fecundidade da subjetividade", reforçando ainda a definição como sendo "um conjunto de técnicas de análise das comunicações" (p. 33).

Nesta investigação os protocolos das entrevistas foram alvo de análise de conteúdo de acordo com os princípios de Bardin (2015, p. 38), que define como regras, no entanto raramente aplicáveis, para a categorização fragmentada da comunicação, devendo estas ser: (1) homogéneas. onde não se misturam temas; (2) exaustivas,

devendo-se "esgotar a totalidade do «texto»"; (3) exclusivas, cada elemento do conteúdo deve ser único e não replicado em duas categorias diferentes; (4) objetivas, em que codificadores distintos devem obter os mesmos resultados; (5) adequadas ou pertinentes, adaptando ao conteúdo e ao objetivo.

O analista é também considerado, segundo a mesma autora (p. 38) "aquele que delimita as unidades de codificação, ou as de registo.", promovendo uma "análise categorial" que leva à obtenção de unidades de registo e à sua classificação segundo a frequência com que itens de sentido aparecem no texto. Neste caso é utilizado o método das "categorias", que são como gavetas, e possibilita a "classificação dos elementos de significação constitutivos da mensagem". Esta técnica baseia-se na classificação dos diferentes elementos nas variadas gavetas, através de critérios que possibilitem ordenar com sentido a confusão inicial. Estes critérios de classificação dependem daquilo que se procura e que é esperado encontrar e que possibilitem deduzir diversos dados.

Estes dados depois de tratados é que se tornam interessantes, e os saberes provenientes desta dedução podem ser de variadas naturezas, nomeadamente psicológicos, sociológicos, económicos, históricos, entre outros.

A classificação em categorias, segundo Bogdan e Biklen (1994), pode ser feita tendo em conta onze tipo de famílias: (1) códigos de contexto, que provem do material que permite contextualizar o estudo; (2) códigos de definição da situação, cujo objetivo é organizar conjuntos de dados que descrevam o modo como os sujeitos definem a situação; (3) perspetivas tidas pelos sujeitos, ou seja, códigos orientados para o pensamento comum e partilhado por alguns ou todos os participantes; (4) pensamentos dos sujeitos sobre pessoas e objetos, através da perceção que os participantes têm dos outros; (5) códigos de processo, que apoiam a categorização da sequência dos acontecimentos; (6) códigos de atividade, que classificam comportamentos que ocorrem regularmente; (7) códigos de acontecimento, sobre atividades específicas que acontecem no ambiente ou vida dos participantes; (8) códigos de estratégia, que englobam as táticas, métodos, caminhos, técnicas, manobras, tramas ou modos como os sujeitos realizam diversas coisas; (9) códigos de relação e de estrutura social, engloba padrões regulares de comportamento entre pessoas que não é definido pelo mapa organizacional, podendo ser definidos formal

ou informalmente; (10) códigos de métodos, que identificam material importante para os procedimentos, problemas, alegrias, dilemas, entre outros; (11) sistemas de codificação preestabelecidos, que têm em conta uma lista de tópicos, que se tornam categorias de classificação, estabelecidas por acordo.

A análise categorial, segundo Guerra (2006, p. 80), é ainda explicativa de um fenómeno que se pretende explicar, sendo no entanto "mais abstrata e não exclusiva".

Assim, a análise de conteúdo, segundo Bardin (2015) visa "a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não)." (p. 40).

A "descrição" (p. 41) é a primeira etapa necessária, onde se enumeram as características do texto após resumo e tratamento do mesmo, seguindo para a "inferência", dedução lógica, através da qual se admite uma proposição por se encontrar ligada a outras preposições aceites como verdadeiras, que permite passar de modo explícito e controlado para a "interpretação", que dá significado às características encontradas.

As inferências geralmente respondem a dois tipos de problemas (p. 41): (1) "o que é que levou a determinado enunciado?", portanto, às causas ou antecedentes; (2) "quais as consequências que determinado enunciado vai provavelmente provocar?", ou seja, aos efeitos que podem ocorrer.

O analista tenta compreender o sentido das mensagens, "mas também e principalmente desviar o olhar para uma outra significação" (p. 43), atingindo, através de significantes ou significados, outros significados secundários que podem ter diferentes naturezas, tal como os saberes provenientes da dedução anteriormente referidos.

Nesta tentativa de compreensão das mensagens é importante ter em consideração as significações/conteúdo, e a distribuição destes conteúdos, através de índices formais e análise de co-ocorrências, pois o que a análise de conteúdo pretende é conhecer o que está por trás das palavras que estuda, procurando outras realidades através das mensagens.

Na análise de conteúdo, Stake (2012, p.91) corrobora o que Bardin afirma, referindo que o investigador pode realizar uma "grelha de análise categorial, privilegiando a repetição de frequência dos temas, com todas as entrevistas juntas", mas que para enriquecer as informações que os dados nos dão deve também referenciar "quantitativamente co-ocorrências", referindo no entanto que se deve completar a análise com outras técnicas de decifração e, cada uma das entrevistas, propondo assim dois níveis de análise, com fases sucessivas, "a decifração estrutural", centrada em cada entrevista, e seguida pela "transversalidade temática" que procura a estruturação específica que rege o "processo mental do entrevistado.".

Em suma, segundo Bardin (2015, p. 44), a análise de conteúdo define-se como:

"Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens."