• Nenhum resultado encontrado

6 JOGANDO EM PARCERIAS: O FUNCIONAMENTO DO GRUPO DE ESTUDOS

6.1 AS CONDIÇÕES MAIS AMPLAS DO DIZER DE CADA UM

Esses relatos foram escritos em duas fases diferentes do Projeto Paraguaçu. Já explicitei os dois momentos, Jogando na roda para os leitores, mas não custa nada pincelar novamente.

Os seis primeiros relatos (NE, JM, NA, SH, AL e AU) estão imersos na primeira fase, correspondente aos anos de 2001 e 2002, em que propostas dos grupos humanos de Santiago do Iguape emergiam. Outra marca dessa primeira fase era a experimentação das Atividades Curriculares em Comunidade (ACC).

Algumas das propostas sugeridas pela ‘’comunidade’’ e concretizadas conjuntamente (ou pelo menos rascunhadas) foram: a construção de uma biblioteca comunitária, a organização de uma cooperativa de pescadores, a aproximação com os professores, a elaboração de um jornal regional do Vale do Iguape.

Procuramos dar conta dessas possibilidades de ação simultaneamente. O ‘’Dia da Biblioteca no Iguape’’, o evento de lançamento da campanha para construção conjunta da idéia e do espaço, foi marcado por atividades variadas desenvolvidas em parceria, dentre as quais, uma peça de teatro de um grupo denominado ‘’Raízes do Iguape’’, versando sobre a importância do livro e da leitura; uma oficina de argila em frente a Igreja Matriz de Santiago do Iguape; uma

performance corporal elaborada conjuntamente pelo professor e um dos estudantes de dança afro do local e mais um outro estudante da Universidade, utilizando a lama e colares de peixe (sustento da região); uma oficina de pintura; de fotografia; de poesia; uma roda de capoeira com os dois grupos do local e uma ‘’apresentação’’ da Cia de Dança Afro-brasileira do Vale do Iguape. Porém, alguns conflitos estancaram essa iniciativa. A principal questão era a que as pessoas dos grupos humanos não tinham encarnado a idéia e nós terminamos sendo associados por uma das partes em desacordo. As rixas políticas atravessaram a iniciativa.

A organização da cooperativa de pescadores contou com um número razoável de pescadores que chegou a somar em algumas reuniões, mas a centralização em um deles que nem era pescador ativo terminou inviabilizando o processo. Além disso, não havia Colônia de Pescadores perto da região.

A aproximação com os professores das escolas Rural (ensino fundamental) e Estadual (ensino médio) foi embebida de muita euforia nos encontros iniciais, porém, tal como as outras iniciativas, não passou disso.

E a elaboração do Jornal Regional do Vale do Iguape (‘’O Iguape’’) que contou com uma comissão editorial do local e com dois números iniciais financiados pela Universidade não teve fôlego para seguir caminho. O dinheiro dos outros números deveria ser arrecadado pelos moradores, o que não aconteceu, barrando a sua continuidade.

Chegou-se, inclusive, a conclusão de que as quatro associações presentes na ‘’comunidade’’ de Iguape (Associação dos Moradores de Santiago do Iguape, Associação Beneficente Amigos do Iguape, Associação de Produtores e Agricultores e Associação de Agricultores e Produtores) poderiam se unir para facilitar o desenrolar das atividades. A reunião foi convocada pelos líderes das próprias associações e nós, do Paraguaçu, fomos convidados a participar juntamente com outros interessados. Esta aconteceu na sede da Associação Beneficente Amigos do Iguape. A reunião contou com um clima bastante tenso, porque, como já foi dito anteriormente, as divergências políticas pessoais eram (e continuam sendo) fortes o suficiente para inviabilizar iniciativas dessa dimensão.

esfriamento nas relações de convivência. Nada parecia vibrar da forma como esperávamos. A expectativa era grande, mas o ritmo de desenvolvimento das propostas era outro. Também os rumos tomados pela ACC garantiram um certo arrefecimento da nossa euforia.

Os períodos de greve iam e vinham e, com eles, a possibilidade de privatização rondava os corredores da UFBA e as medidas do governo caminhavam para isso.

No ambiente da extensão, a tentativa era de criar outras oportunidades para os estudantes universitários. As ACC tinham pela frente um longo processo de definição de suas fronteiras. Afinal, essas atividades estavam em consonância com a disseminação dos não-lugares, ou queriam romper com essa realidade contemporânea? A penetração nos currículos de graduação de uma atividade que pretendia seguir os fios do novelo UFBA em Campo incomodou alguns setores da instituição ligados a experiências iniciais de trabalho de campo. Outros, porém, viram nas ACC a oportunidade de alguns estudantes também participarem de vivências desse tipo. O fato é que, para se inserir na graduação, as ACC tiveram que se adaptar ao controle que uma disciplina está sujeita. A partir dessa exigência, a coordenação desse programa buscou alguns critérios que flexibilizassem a burocracia surgida desde então: algumas pessoas dos grupos humanos do interior ou da própria Salvador foram escolhidas para fazer parte dos projetos oficialmente com direito a bolsa.

Saltando como no jogo de amarelinha, vou me ater aos outros dois relatos (IV e GL) que foram mais recentes que os anteriores, já que os textos estão relacionados aos acontecimentos que se precipitaram no ano de 2003. Portanto, já tínhamos quatro anos de convivência em Santiago do Iguape. Esses quatro anos permitiram já a transição para uma outra fase do projeto em que ações foram apontadas pelos grupos humanos da Universidade contando com a reflexão conjunta da comunidade. Jogando na roda: o Projeto Paraguaçu tem, a partir desses relatos escolhidos, uma outra configuração, Anexos-J, mas que depende dos fatos vivenciados no primeiro momento. Nada é jogado fora.

pessoas ou grupos de pessoas de Santiago do Iguape e povoados circunvizinhos. Posso citar tais atividades, caso seja do agrado de quem lê : a fabricação do dendê, a capoeira, a pesca, a construção naval artesanal e a dança afro-brasileira. As oficinas teriam como centralidade as próprias pessoas do local e envolveriam uma intenção maior de montar um Arranjo Produtivo Local.

Dentro dessa perspectiva, os dois estudantes refletem sobre diversas questões associadas ao discurso alimentado dentro do Projeto Paraguaçu.

6.2 O MEU OLHAR SOBRE COMO CADA UM ORGANIZOU O SEU DIZER (AS