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2 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS, CIDADANIA E DIREITO

2.4 AS CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS

A Declaração de Hamburgo sobre a Aprendizagem de Adultos, de 1997, foi o documento de referência resultante da V Conferência Internacional sobre Educação de Adultos (CONFINTEA V), definindo a educação de adultos como todo processo de aprendizagem, formal11 ou informal12, em que pessoas consideradas

adultas pela sociedade, ou fora da idade regular de suas séries de estudos, desenvolvam suas habilidades, enriqueçam seus conhecimentos e aperfeiçoem suas qualidades técnicas e profissionais, direcionando-as para a satisfação de suas necessidades e as de sua sociedade.

Podendo ser oferecidas em locais diversificados como centros comunitários, igrejas, sindicatos, instalações de trabalho, cursos noturnos etc. Seus níveis distintos vão do ensino fundamental a formação profissional. Nos últimos anos, o termo “educação de adultos” vem sendo acompanhado por “aprendizagem de adultos”, dando maior ênfase à demanda do que ao processo de oferta dessa

11 Como educação formal compreendemos um modelo educacional que é titulado por instituição

pública e compreende o sistema educativo institucionalizado cronologicamente graduado e hierarquicamente estruturado Depende de uma diretriz educacional centralizada como currículo.

12 Como educação informal compreendemos um processo diluído circunstancial que se desenrola no

decurso de encontros, leituras, e acontecimentos, recebida no decurso do quotidiano e nos contatos com grupos sociais, atividades de tempos livres, não intencional e sistematizada, como educação familiar.

educação. O acesso à educação e aprendizagem para adultos é um aspecto fundamental ao direito à educação e facilita o exercício ao direito de participar na vida científica, artística, cultural, econômica e política.

A Declaração de Hamburgo sobre a Aprendizagem de Adultos encara a educação de adultos como um poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da justiça, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconômico e científico, além de ser um requisito fundamental para a construção de um mundo onde a violência cede lugar ao diálogo e à cultura de paz baseada na justiça, afirmando identidades e dando significado a vida. Esta educação é vista como um componente da aprendizagem ao longo da vida e vem ganhando importância cada vez maior, tendo em vista a pressão crescente no sentido de se enfrentar os desafios e questões que mudam de maneira rápida e complexa, situações de pobreza, exclusão, migração, degradação ambiental e mudança climática, falta de alimento e de recursos naturais, o HIV/Aids e outras doenças, e o advento das novas tecnologias que hoje permeiam todos os campos da vida.

Na V Conferência Internacional de Educação de Adultos, em Hamburgo (1997) se ressaltou preocupações com os povos indígenas e camponeses que observava a re-conceitualização da educação com novos paradigmas, conteúdos e métodos de educação direcionados para Educação de Jovens e Adultos, frente aos problemas da globalização e o aumento dos níveis de pobreza. Basearam-se nos princípios de diversidade, igualdade, educação e cultura, direitos à cultura adaptadas às suas necessidades, proporcionando outros níveis de educação e capacitação, assim como a inserção no campo do trabalho, contribuindo para o desenvolvimento social, econômico e cultural dos grupos citados, estimulando também a participação da sociedade civil em todas as esferas da vida.

Em dados atuais, o Relatório Global13 sobre aprendizagem e educação de adultos, elaborado pela UNESCO na VI CONFITEA em 2009:

13 Primeiro e único Relatório Global sobre Aprendizagem e Educação de Adultos é baseado em 154

relatórios regionais produzidos pelos países membros da UNESCO, sobre a situação da educação e da aprendizagem de adultos, cinco Relatórios Regionais de Síntese e literatura secundária. Sua finalidade é proporcionar uma visão geral das tendências na educação e aprendizagem de alunos, assim como identificar os principais desafios.

Después de casi dos décadas de metas destinadas a la ‘reducción del analfabetismo’ dentro de la agenda de la EPT (1990-2000-2015), una nueva ola de ‘erradicación Del analfabetismo’ se ha apoderado de la región.26 Por un lado, dicho impulso está vinculado a la emergencia de (y cooperación entre) varios gobiernos progresistas, reavivándose así El vínculo tradicional entre campañas de alfabetización y procesos progresistas o revolucionarios. Por otro lado, está la emergencia de nuevos actores supranacionales e internacionales involucrados en la alfabetización de adultos en la región, en particular El gobierno cubano y su programa ‘Yo Sí Puedo’ y la OEI y el Plan Iberoamericano de Alfabetización y Educación Básica de Jóvenes y Adultos (PIA). La Década de las Naciones Unidas para la Alfabetización (2003-2012), coordinada por la UNESCO a nivel mundial, podría asimismo estar propiciando un marco internacional para este ‘retorno’ de la alfabetización. “La alfabetización recupera el valor del uso de la lengua en contextos significativos; la alfabetización es um medio o estrategia, pero no el propósito de la EPJA; menos aún el propósito de la EPJA es eliminar o reducir El analfabetismo mostrando logros cuantitativos”, se enfatizaba en el Marco de Acción Regional de la Educación de Personas Jóvenes y Adultas en América Latina y el Caribe 2000-2010, 2000:16. 27 (Relatório da CONFITEA VI, 2009, p.27).

Na ocasião, foi elaborado um documento de recomendações e compromissos, o Marco de Ação de Belém,14 que enfatiza a necessidade de se fortalecer a cooperação internacional em áreas que vão desde o reconhecimento das qualificações ao compartilhamento de experiências e práticas inovadoras, garantia de qualidade, acesso equitativo, apoio para as línguas indígenas e educação para migrantes. Essas medidas obrigam os países a aumentar o seu investimento em Educação de Jovens e Adultos para, no mínimo, 6% do PIB, bem como promover e estabelecer novos mecanismos de financiamento alternativos.

Esta Sexta Conferência Internacional de Educação de Adultos (CONFINTEA) foi encerrada com um apelo aos governos dos países signatários para levarem em frente, com senso de urgência e em ritmo acelerado, a agenda de educação e aprendizagem de adultos, e redobrarem os esforços para cumprir as metas de alfabetização determinadas em Dakar, desde 2000. A Conferência ressaltou ainda que educação e aprendizagem de adultos permanecem cronicamente desvalorizadas e sem os recursos financeiros necessários, e afirma que o reconhecimento alcançado com a CONFINTEA V não abriu o caminho para

14 Aprovado durante a Sexta Conferência Internacional de Educação de Adultos – CONFINTEA VI, o

Marco de Ação de Belém é resultado do longo processo participativo de mobilização e preparação nacional e internacional, que teve início em 2007. Organiza as suas recomendações em torno de sete eixos fundamentais: alfabetização de adultos; políticas; governança; financiamento; participação, inclusão e equidade; qualidade e monitoramento da implementação do Marco de Ação. Destaca a sua compreensão da natureza intersetorial e integrada da educação e aprendizagem de jovens e adultos, a relevância social dos processos formais, não formais e informais e a sua contribuição fundamental para o futuro sustentável do planeta. (UNESCO, Relatório Global sobre Aprendizagem e Educação de Adultos)

uma ação política eficaz em termos de priorização, integração e alocação de recursos adequados, seja em âmbito nacional ou internacional. Também chamou atenção para a falta de oportunidades de atualização profissional para educadores, além de mecanismos de monitoramento, avaliação e retorno insuficientes.

Dentro desta perspectiva, ficaria difícil vislumbrar acesso à cidadania e aquisição de direitos, já que os governos não promovem políticas públicas efetivas para aprendizagem de jovens e adultos, avançando da retórica para a ação. De acordo com este Relatório, o Brasil ainda encontra-se “no meio do caminho”, fazendo parte do terceiro grupo de ação de Educação para todos e perspectivas de alcançar as metas para fortalecer os índices de desenvolvimento.

Dentre as metas do milênio regionais para educação está no Projeto Regional de Educação para América Latina e Caribe (PRELAC),15 trazendo diferentes recortes geopolíticos com quatro referências estratégicas de metas e prazos. Um deles é o Foco 3 – “Estímulo cultural nas escolas para que as comunidades tornem-se mais participativas através da aprendizagem formal”, o que vem somar e solidificar os objetivos deste trabalho dissertativo.

Portanto, a educação cidadã promove maior autonomia dos sujeitos, qualificando-os através do saber e não através de valores, conforme observamos em Brandão (2002, p. 56) “que através do investimento produtivo do trabalho qualificado obtido pela boa educação, que a pessoa educada se revela um sujeito cidadão”. E que apesar da educação ter como destinatário essencial o desenvolvimento econômico, observado e perseguido pelas instituições internacionais, também deve estar atrelado ao desenvolvimento humano, com base na pedagogia crítica.

[...] não há um verdadeiro desenvolvimento econômico e humano sem ampliação do poder simbólico da educação na sociedade. Criam-se pontes entre os lugares físicos de uma nação, edificam-se usinas e levantam-se paredões de represas para que os rios da terra dobrem ou tripliquem seu poder de transformar as suas águas em formas de energia. Mas nada disso se consolida como um bem de mercado ou, melhor ainda, como a realização social, se não se criam pontes interiores entre pessoas e o conhecimento. Há uma energia essencial ao desenvolvimento e à transformação e ela está no interior das pessoas. O seu fator de mobilidade é o conhecimento e o seu veículo é a Educação. (BRANDÃO, 2002, p. 189).

15 De acordo com a UNESCO Tal projeto anuncia propor mudanças substantivas nas políticas

públicas para tornar efetiva a proposta de Educação para Todos e atender, assim, as demandas de desenvolvimento humano da região no século XXI.

E é deste tipo de educação que abordamos neste trabalho, uma educação voltada para formação humana, contínua, que permanentemente permeia o cotidiano dos sujeitos sociais, num processo criativo e reflexivo. Não é mera formação e simples habilitação funcional, e sim, educação permanente, uma prática social para a vida. Uma educação que não pode ser instrumental, neutra, universal e objetiva, deve estimular os sentidos, ideologias e críticas, devendo ser uma educação voltada para aquisição e manutenção da cidadania.