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3 UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO POPULAR

3.1 CONCEITOS DE EDUCAÇÃO POPULAR

A principal característica da escola pautada na Educação Popular é interagir o saber da comunidade como matéria prima para o ensino. É aprender a partir do conhecimento do sujeito e ensinar a partir de palavras e temas geradores do cotidiano dele. Podendo definir a Educação Popular como uma teoria de conhecimento referenciada na realidade, com metodologias incentivadoras à participação e ao empoderamento das pessoas permeado por uma base política estimuladora de transformações sociais e orientado por anseios humanos de liberdade, justiça, igualdade e felicidade. Muitas vezes a educação acaba por tomar domínios restritos, determinados socialmente, quando deveriam atender às necessidades do contexto, do cotidiano do aluno, enfim, da culturado educando.

Para pensar em Educação Popular, é necessário, portanto, repensar a educação. A educação, quando se fala no panorama social, é a condição da permanente recriação da própria cultura sendo, por isso, a razão da dominação da cultura entre outros. Já no panorama individual, a educação é a condição de criação do indivíduo, é a relação de saber das trocas entre pessoas. Ao que se refere a Brandão (1995), houve primeiro um saber de todos que se tornou sábio e erudito e que, por oposição, estabelece como popular o saber do consenso onde se originou, tratando o erudito como a forma própria, centralizada e associada a especialistas da educação enquanto vê o popular como o conhecimento difuso, interior da vida subalterna.

Essa grande separação entre o conhecimento dito erudito e o dito popular leva à marginalização dos oprimidos, das classes subalternas da sociedade desigual. É para contrariar isso que surge a Educação Popular. A Educação Popular é uma educação comprometida e participativa orientada pela perspectiva de realização de todos os direitos do povo. Sua principal característica é a interação o saber da comunidade como matéria prima para o ensino.

O processo-ensino-aprendizagem é visto como ato de conhecimento e transformação social, sendo pautada na perspectiva politica. É diferente da Educação Tradicional porque não é uma educação imposta, já que se baseia no saber da comunidade e incentiva o diálogo; e é diferente de uma Educação Informal

porque possui uma relação horizontal entre educador e educando. A Educação Popular visa a formação de sujeitos com conhecimento e consciência cidadã e a organização do trabalho político para afirmação do sujeito.

Sendo assim, uma estratégia de construção da participação popular para o redirecionamento da vida social objetivado trabalhar as necessidades populares. O resultado desse tipo de educação é observado quando o sujeito pode situar-se bem no contexto de interesse. A Educação Popular não se restrige pelos contextos, busca caracterizá-los naquilo que ele precisa ser trabalhado, mas as aplicações mais comuns ocorrem nos assentamentos rurais, em instituições sócio-educativas, em aldeias indígenas e no ensino de jovens e adultos. São estes espaços que apresentam uma necessidade natural de trabalhar com educacão popular. Assim, a educacao popular contribui com os movimentos socias e colocando a discussão de direitos, diferenças e compromissos sociais.

A Educação Popular tem como sua base histórica na educação freiriana a qual o educador Paulo Freire tenta promover uma interação orgânica com o popular, possibilitando uma série de reflexões sobre a realidade social. Na educação popular ficam impresso os argumentos, questionamentos e alternativas empregadas na criação e recriação desta realidade.

A educação vem oscilando entre dois pólos efetivos de concepção de educação, o de dominação e o de emancipação, o que denota um grande abismo entre as necessidades básicas cada vez mais incapazes de serem satisfeitas pelo sistema escolar, sobretudo na realidade da América Latina em que os acessos a educação básica se mostra de forma desigual e mesmo desleal.

Nesta lógica opressora que a Educação Popular emerge, na construção de uma sociedade de classes estabelecida mesmo nos dias atuais. Pois a liberdade proposta na ideologia capitalista não se perfaz, acabam por velar relações de exploração e dominação ainda muito presentes em nossas realidades sociais, maquiando um sistema de organização social que respeita os direitos fundamentais da pessoa humana e uma pseuda mobilidade social que transparece depender mais da vontade individual do que de uma ordem hegemônica estabelecida. Em função desta perspectiva que outras propostas e programas de educação emergem, seja de alfabetização, seja de educação de adultos, mas, propostas pela organização da sociedade civil.

As orientações de educação popular que ora se percebe como mecanismos de integração na perspectiva de educação para todos, extensiva de cidadania, objetivando eliminar a marginalidade social e superar o sub- desenvolvimento, ora orientadora das classes populares na busca de mobilização de setores dessa classe, num nacional-desenvolvimentismo, que homogeneíza os interesses divergentes buscando a autonomia, o nacional e o popular, ora orientando para libertação na busca de fortalecer o povo, valorizar a cultura popular, a conscientização, a capacitação, a participação, numa troca de saberes entre agentes e membros das classes populares, realizando reformas estruturais na ordem capitalista visando uma transformação.

A inserção crítica das massas na realidade é feita através destas orientações que se concretizam por intermédio da práxis, unindo teoria e prática que superaria a pedagogia do oprimido, que desvela o mundo da opressão caminhando em direção a transformação, para uma pedagogia dos homens libertos em suas consciências, transformando a realidade opressora. Obra realizada pelos intelectuais orgânicos externos ou internos às classes populares, integrando coerentemente teoria e prática. Que Wanderley (2010) aponta três características necessárias a esta educação:

Uma educação de classe – exige uma consciência dos interesses das classes populares; histórica – depende do avanço das forças produtivas; política – se conjuga com outras dimensões da luta global das classes populares; transformadora e libertadora – luta por mudanças qualitativas e reformas estruturais; democrática – antiautoritária, antimassificadora, antielitista; relaciona a teoria com a prática; relaciona a educação com o trabalho; objetiva a realização de um poder popular (WANDERLEY, 2010, p.22).

Uma visão ousada e ambiciosa que avançou em sua perspectiva por compreender que não atingiria sua concretização plena, sobretudo, em circunstâncias sócio-políticas e econômicas anteriores em nosso país, e mesmo atuais. Não descartando esta matriz, esta concepção de educação foi rediscutida emergindo uma nova hegemonia do saber popular, a qual a classe trabalhadora constituiria uma acumulação de poder popular, com base na cultura popular, numa produção orgânica de classes, com uma progressiva participação do trabalhado do educador no ”trânsito de sujeitos populares, de agentes econômicos para agentes

políticos”, numa relação da prática pedagógica entre educandos e educadores comprometidos com a causa popular.

Tendências de educação sucessivas a Freiriana são as propostas por Brandão: propondo educação popular como um movimento de trabalho pedagógico dirigido ao povo como instrumento de conscientização, realizando um esforço de convergência entre educadores e movimentos sociais populares, sendo uma educação que realizada pelo próprio povo ao pensar seu trabalho político, na construção de seu próprio conhecimento. Essas pespectivas são fonte de reflexão e de ação dos múltiplos grupos e movimentos sociais urbanos e rurais por seu impacto político-pedagógico. Uma educação massiva, aberta para o mundo, voltada para ação de frente para o novo, afetando as mais diversas dimensões da pessoa humana, num processo permanente de formação.

Esta educação permanente constitui um processo ininterrupto de aprofundamento na experiência pessoal e na vida coletiva traduzida numa dimensão educativa de cada ação e de cada ato, necessitando ser universalizante, e amplamente democrática que por muitas das vezes ultrapassa, transcende o sistema escolar, permeando seus vários níveis e espaços numa troca de saber, que não está limitada a educação de jovens e adultos, mas que pode fazer parte da educação primária, secundária para todo e qualquer cidadão, tanto no sistema formal de ensino como no não-formal.

Conforme abordado na CEAAL, a educação popular constitui uma prática referida ao fazer e ao saber das organizações populares, na busca do fortalecimento dos sujeitos coletivos através da sua ação-reflexão para contribuição do fortalecimento da própria sociedade civil, num crescente desenvolvimento econômico com justiça social. Uma perspectiva de educação cidadão que visa contribuir com desenvolvimento de estratégias cidadãs de intervenção nas agendas públicas, promovendo a apropriação crítica dos temas referentes a questões de cidadania.

Educação popular deve promover o desenvolvimento de aprendizagem para compreensão da realidade complexa que o cidadão está inserido e seus modos de intervenção, numa pedagogia do público, do coletivo, da decisão, da preocupação com o comum.

3.2 CONSTRUÇÃO DE SABERES: EDUCAÇÃO POPULAR E ORGANIZAÇÃO COLETIVA