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As Constituições do Brasil (1824-1988)

TECNOLOGIA 33 2.1 ACORDOS INTERNACIONAIS

2 MARCO REGULATÓRIO DOS CONTRATOS DE TECNOLOGIA

2.1 ACORDOS INTERNACIONAIS

2.2.1 As Constituições do Brasil (1824-1988)

De acordo com Pimentel (1994, p. 120), a Constituição é a norma que determina os contornos da política econômica, onde se insere a tecnologia e “as diretrizes de sua utilização pelos agentes do sistema econômico”. Das oito Constituições que existem no Brasil, de 1824 a 1988, somente a Constituição de 1937 “não incluiu expressamente os privilégios industriais entre as garantias aos direitos individuais”.

A Constituição do Império de 1824 determinava em seu artigo 179, inciso XXVI, a proteção das descobertas e das produções aos inventores, por meio da concessão de um privilégio exclusivo temporário ou da indenização em caso de “interesse do Estado em tornar de domínio público o invento” (PIMENTEL, 1994, p. 122). Segundo Gama Cerqueira (1946, p. 31)

[...] essa Constituição proclamou, com antecipação de meio século, o princípio da propriedade do inventor, que somente em 1878, o Congresso Internacional da Propriedade Industrial, reunido em Paris, definitivamente assentara.

Acrescenta Pimentel (1994) que a primeira Constituição não tratava, ainda, sobre a proteção às marcas e outras garantias e prerrogativas industriais. Na primeira Constituição Republicana, outorgada em 24 de fevereiro de 1891, reiterou-se a garantia à proteção

9 Exemplo claro disso é que a Portaria 436, de 30 de dezembro de 1958, do Ministério da Fazenda, a qual fixa percentuais máximos para a dedução de

royalties, não prevê a biotecnologia como ramo de atuação. Entretanto, a

biotecnologia é uma das áreas mais crescentes no Brasil, principalmente em razão da sua riqueza de recursos naturais.

dos inventos, sendo inserida a propriedade das marcas de fábrica, além da proteção aos autores de obras literárias e artísticas, de acordo com os direitos autorais, conforme artigo 72, §§ 25, 26 e 27.

A Constituição da República de 1934, promulgada em 16 de julho, manteve a proteção às obras literárias, artísticas e científicas, aos inventos industriais e às marcas de indústria e comércio. Contudo, ao contrário das demais Constituições, a Constituição de 1937, do Estado Novo, ao estabelecer os direitos e garantias individuais em seu artigo 122, não fez referência expressa aos direitos de propriedade dos inventores, das marcas e ao uso do nome comercial, “não registrando a garantia aos direitos industriais em nenhum dos outros títulos, ou dispositivos do texto” (PIMENTEL, 1994, p. 124)10.

Em 18 de setembro de 1946, foi promulgada a Constituição de 1946, a qual restabeleceu a regulamentação proteção às obras literárias, artísticas e científicas, aos inventos industriais, às marcas de indústria e comércio e ao uso do nome comercial, em consonância com as disposições contidas nas Constituições de 1891 e 1934 (§§17, 18 e 19 do artigo 141).

Durante o regime militar, outorgou-se a Constituição de 1967, cujo texto manteve as garantias à propriedade intelectual e industrial previstas na Constituição de 1946, conforme §§24 e 25 do artigo 150, “sem prever a hipótese de indenização pela vulgarização dos inventos, rompendo com a tradição que vinha das anteriores, desde a Constituição do Império” (PIMENTEL, 1994, p. 125)11. A Constituição de 1967 apenas menciona

que o Poder Público incentivará a pesquisa científica e tecnológica, dentro da ideia de cultura.

A atual Constituição Federal de 1988 determina, no inciso II do artigo 3º, a garantia do desenvolvimento nacional como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil. O artigo 5º consagra os direitos e garantias fundamentais, incluindo expressamente a proteção aos direitos autorais (incisos XXVII e XXVIII) e à propriedade industrial:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros

10 Não obstante, no ano de 1945 foi instituído o primeiro Código da Propriedade Industrial, pelo Decreto-Lei 7.903, de 27 de agosto, cuja legislação vem tratar especificamente da proteção e regulação dos direitos e obrigações relativos à propriedade industrial no país.

11 No decorrer deste período, o então o Departamento Nacional da Propriedade Industrial foi substituído pelo atual INPI, bem como o CPI de 1945 foi revogado pelo de 1971.

e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País. (BRASIL, 1988) A CF/1988 determina, em seu artigo 170, que a ordem econômica, “fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social”. Dentre os princípios da ordem econômica a serem observados está o da “livre concorrência” (inciso IV). Este princípio é utilizado nas ações judiciais estudadas no último capítulo para fundamentar a impossibilidade de o INPI realizar o exame de mérito nos contratos de tecnologia.

Em relação ao abuso de poder econômico, o §4º do artigo 173 da CF/1988 determina que a “lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros” (BRASIL, 1988).

No tocante à tecnologia e inovação, no ano de 2015 foi promulgada a Emenda Constitucional 85, de 26 de fevereiro, a qual veio a modificar e incluir artigos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 no sentido de prever expressamente a palavra “inovação” no texto constitucional, que até então somente se referia à ciência e tecnologia.

O inciso V do artigo 23 atualmente dispõe que é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios “proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação” (BRASIL, 2015).

De acordo com a atual redação dos artigos 218 e 219 da CF/1988 (BRASIL, 2015):

Art. 218. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa, a capacitação científica e tecnológica e a inovação. § 1º A pesquisa científica básica e tecnológica receberá tratamento prioritário do Estado, tendo em

vista o bem público e o progresso da ciência, tecnologia e inovação.

[...]

Art. 219. O mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e socioeconômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica do País, nos termos de lei federal.

Parágrafo único. O Estado estimulará a

formação e o fortalecimento da inovação nas empresas, bem como nos demais entes, públicos ou privados, a constituição e a manutenção de parques e polos tecnológicos e de demais ambientes promotores da inovação, a atuação dos inventores independentes e a criação, absorção, difusão e transferência de tecnologia.

(grifou-se)

Colhe-se do parágrafo único do artigo 219 (inserido pela Emenda Constitucional 85/2015), a determinação expressa de estímulo à transferência de tecnologia pelo Estado, como tema diretamente atrelado à pesquisa científica básica e tecnológica, considerados prioritários para o desenvolvimento do país.

Além da constatação de que a regulamentação da propriedade intelectual e industrial está presente nas Constituições do Brasil desde o período Imperial (1824) até o atual (1988), com exceção da Constituição de 1937, nota-se que a CF/1988 realça a importância da ciência, da tecnologia e da inovação.

A inserção, em texto constitucional, de um capítulo dedicado a tratar exclusivamente da CT&I, principalmente após a Emenda de 2015, demonstra o seu papel crucial na pesquisa científica básica e tecnológica e, consequentemente, no desenvolvimento científico, tecnológico, social e econômico do País. Nesse sentido, a criação, absorção, difusão e transferência de tecnologia estão intimamente relacionadas com essa política prioritária do Estado de estímulo à CT&I, o que torna ainda mais relevante o estudo do tema.

2.2.2 Criação do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Lei